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    06 de janeiro de 2024, sábado.

    Victor e Aki caminhavam lado a lado, na orla da Lagoa da Pampulha. O reflexo prateado da água era incrível, único. 

    Mesmo que os dois estivessem acostumados a verem lagos no Japão, tinha algo ali que a tornava diferente. Seria a nostalgia, para Victor e o fator “novo” para Aki?

    Ou simplesmente o fato da imensidão de água que era refletida. Bem maior que os que eles costumavam ver no Japão. A lagoa se estendia por longos quilômetros, fazendo parecer a margem de um rio.

    Mesmo com o entardecer, o sol ainda castigava. O boné se fez muito útil, limitando os raios de sol de chegar até os olhos. Mesmo que Victor tivesse oferecido, Aki rejeitou usar óculos escuro, dizendo que não gostava muito. 

    Victor não insistiu, mesmo sabendo que seria melhor. Ele já havia convencido ela a usar aquelas roupas que ela não tinha costume. Não quis abusar da sorte.

    Eles caminham, enquanto conversam, fazendo comentários sobre a viagem, sobre a paisagem, e Victor conta curiosidades locais. Até que chegaram na igreja São Francisco de Assis, a famosa igrejinha da Pampulha. 

    Enquanto rodeavam a igreja, admirando seus detalhes. A fachada azul-claro, coberta por azulejos e os desenhos que se formavam no painel principal. As curvas da construção chamaram atenção da garota. 

    — Esse templo é bem diferente do que aqueles do Japão. — Comentou, ainda admirada. 

    Victor faz alguns comentários que sabia sobre o monumento, lembrando que o seu arquiteto foi o mesmo que planejou a “Cidade Administrativa”. 

    Mais algum tempo de caminhada e Aki percebeu uma enorme construção, tão alta quanto a, já alta, roda-gigante, daquele parque. 

    — Uau, que alto! — Exclamou, com empolgação. Ela estava admirada com aquele brinquedo de formato cilíndrico. 

    — Você gostou do “Elevador”? — Victor perguntou.

    — “Ele – vá – dou” — Ela gaguejou, tentando repetir. 

    Victor arqueou os lábios num sorriso. Era muito fofo a forma com que ela tentava pronunciar palavras novas, misturado com seu sotaque. 

    — Quase isso… Significa “elevador”. É um brinquedo bem radical. 

    Após Victor explicar, de forma simples, como funcionava, Aki sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao imaginar a sensação. 

    — Eu quero ir! — Ela disse, animada. 

    Então, caminharam rumo ao parque. 

    — Essa é a nossa segunda vez num parque. Vamos aproveitar tanto quanto na primeira vez? — Victor brincou.

    Aki sorriu. 

    — Certo. 

    Logo que entraram, Aki já percebeu alguns olhares em sua direção. 

    “Será que estou estranha com essa roupa?” Se perguntava, receosa. 

    — Acho que uma japonesa num parque de diversões, logo hoje, que está bem cheio, chama um pouco de atenção… — Victor comentou, tentando tranquilizá-la. 

    — Eu acho que estou estranha com essa roupa. — Ela respondeu, hesitante. 

    Victor parou abruptamente, a encarando:

    — Não fale isso. Você está muito bonita. — Ele a elogiou. — Quero dizer, só ficam curiosos por você ser japonesa. 

    Aki sentiu seu coração acelerado com as palavras, embora fosse reconfortante. Ela pensou em segurar as mãos de Victor, para se sentir mais segura, talvez. Ela não sabia porque estava com essa vontade.

    Mas logo sentiu um calor e aperto em seus dedos, suavemente. Era a mão de Victor. 

    Ele hesitou por um momento, e viu que ela ficou envergonhada. “Devia ter perguntado a ela primeiro. Agora não dá pra voltar atrás.” Pensou.

    — Aqui está cheio. Isso é para não nos perdermos. — Comentou, desviando o olhar, despistadamente. 

    Continuaram caminhando assim, até fazerem a primeira parada. Era uma loja que vendia espetinhos de morango com calda de chocolate. 

    Eles comeram, cada um o seu próprio. 

    — Isso estava delicioso! — Comentou, satisfeita. 

    — Realmente, esses doces são muito bons. 

    Victor ainda falou um pouco de outros doces que poderiam comer, deixando Aki empolgada. 

    Passearam pelo parque, mas não foram em muitos brinquedos. Estava muito cheio, e preferiram apenas apreciar o sorriso inocente e divertido das crianças, enquanto eles, mais velhos, iriam apenas em três brinquedos específicos, recomendados por Victor. Dois deles, Aki nunca tinha ido ou visto pessoalmente. 

    O primeiro brinquedo que foram era o Kamikaze. Após Aki ver a imponência do brinquedo e como funcionava, seu coração batia muito rápido, ansiosa e hesitante. 

    — Isso é seguro? — Comentou, quando já estavam próximos de entrar. 

    — Podemos voltar se você não estiver se sentindo bem. Mas é seguro. Só é… radical. — Victor disse, com confiança. 

    Aki confiava nele, sentia-se segura, principalmente quando ele segurava suas mãos. Mas parecia um desafio imenso encarar aqueles minutos dentro do brinquedo. 

    — Tudo bem, vamos. 

    Logo chegou a vez deles. Sentaram-se lado a lado, com o funcionário do parque conferindo os cintos e a grade de proteção. 

    Aki estava nervosa, ansiosa e com um pouco de medo. Victor segurou sua mão e ela olhou para ele, instantaneamente. 

    — Relaxa. Vamos nos divertir. — Victor mostrou um sorriso e Aki retribuiu, apertando sua mão. 

    O brinquedo começou o movimento de “vai e vem”, balançando horizontalmente, cada vez indo mais alto. 

    Embora fosse divertido, era assustador. Ela forçou seus pensamentos em se divertir, tentando ignorar o medo. Mas era uma tarefa difícil. 

    Em meio a gritos de adrenalina e euforia, de outras pessoas, era possível também ver o parque duma perspectiva diferente. 

    O vento balançava os cabelos dela violentamente quando a cabine subia e depois descia, como se brincasse com eles. 

    Já era final de tarde, e o céu estava tingido de um tom alaranjado, com poucas nuvens acidentadas cobrindo-o parcialmente. 

    Aki tentava processar tudo isso, toda essa emoção, quando, finalmente, o brinquedo atingiu seu ápice, parando de cabeça para baixo. 

    Aki gritou, assim como todos no brinquedo. Era inevitável, dada a adrenalina e as sensações que sentiam ali. 

    Os longos cabelos dela haviam se soltado do rabo de cavalo e agora estavam caídos. Sentia seu estômago revirar, não de nojo, ou enjôo, mas de emoção. 

    Aqueles poucos segundos pareceram minutos, quando o carrinho finalmente completou a volta e desceu, realizando outro loop. 

    Quando o brinquedo finalmente parou e todos desceram, Aki não sabia descrever como se sentia. 

    — Gostou? — Victor comentou, com certa satisfação, em ver o rosto de Aki. Era uma expressão diferente do que ele estava acostumado. 

    — Foi… radical. — Ela respondeu, procurando palavras para tentar se expressar. 

    Foi então que ela se lembrou de quando seu rabo de cavalo se desfez e, rapidamente, pegou seu celular e reparou seu cabelo bagunçado. 

    Ela pergunta onde fica o banheiro e Victor leva ela até próximo, onde ela entra, para arrumar seu cabelo. 

    Não muito tempo depois, Victor e Aki estavam na fila do elevador. O brinquedo tinha uma imponência, pelo seu tamanho. Os gritos durante sua queda fazia tudo parecer ainda mais radical. Aki sentiu um frio na espinha quando viu o brinquedo funcionar pela primeira vez. 

    Ela tentou não pensar muito sobre, mantendo uma conversa com Victor, evitando comentar daquele brinquedo. Já estava muito ansiosa e não queria sentir-se com medo. 

    Logo, os dois já estavam dentro de suas respectivas cadeiras, protegidas pelas travas de segurança e cinto. Tiveram que deixar seus pertences no guarda-volume do brinquedo, pois não podiam subir nele com qualquer objeto. 

    Após o preparativo, o brinquedo começou a subir. O ranger do movimento fazia o coração de Aki acelerar cada vez mais. Ou essa era a sensação que ela sentia. Parecia que a cada centímetro pra cima, ele batia mais rápido. 

    — Aproveite a vista quando parar. Temos alguns segundos antes de descer. — Victor comentou despreocupadamente, como se fosse algo normal. 

    Aki concordou, mas era difícil manter os olhos abertos, de certa forma. Tudo parecia diminuir a cada instante, o chão estava distante e as pessoas pareciam minúsculas. 

    O vento soprava forte naquela altura. Ao olhar para o lado, percebeu que estavam mais altos que a roda-gigante, que já era grande. 

    Quando o brinquedo parou, foi que ela percebeu o quão incrível era aquela vista. A lagoa refletindo o brilho alaranjado, dos últimos momentos dos raios de sol. O estádio que Victor comentou no fundo, e um vislumbre de toda a cidade e região. 

    — Estou com medo! — Ela gritou, quando sua ficha caiu. Somente agora de onde estava, com todas informações a bombardeando simultâneamente. 

    — Não precis… — Antes que Victor terminasse a frase, o brinquedo desceu. 

    Num instante, Aki estava no topo do brinquedo, tendo uma vista de quase tudo ao redor e transbordando de medo, ao perceber isso, e um momento depois, ela estava chegando ao chão, com o brinquedo aterrissando. 

    Mal teve tempo de raciocinar o que estava acontecendo, quando gritou inconscientemente, assim como todos os passageiros do brinquedo. 

    — Você está bem? — Victor perguntou, com o brinquedo se ajustando à base. 

    — Estou, eu acho. — Aki respondeu, ainda processando o ocorrido. 

    “Parece que minha alma saiu do corpo e voltou.” Ela riu, internamente, pensando sobre. 

    Apesar do medo e da adrenalina, foi divertido. 

    — Vamos comer algo? — Victor a chamou, enquanto caminhavam. 

    — Vamos. 

    Victor a levou até uma das barraquinhas do parque e ela experimentou churros e uma maçã do amor do Brasil. O sabor era um pouco diferente do que ela costumava comer no Japão. 

    Victor comprou para ela um algodão-doce, dizendo ser um presente por ela ter aceitado ir no elevador, embora ela insistisse que foi algo que ela queria. 

    Já estava escuro e o parque lotado. Crianças corriam de um lado para o outro, enquanto outras lotavam as filas e espaços disponíveis ali. 

    Havia também muitos jovens, e adultos que acompanhavam as crianças, além de casais. 

    Victor pediu para Aki esperar um momento, enquanto ele ia ao banheiro. Ela sentou-se no banco mais próximo, disponível, do lugar.

    Ela pegou seu celular e respondeu algumas mensagens, quando dois jovens se aproximaram dela. 

    Um, vestido com uma camisa de animes, tinha a pele parda e olhos castanhos-escuros. 

    — Olá! Você fala português? — Perguntou. Vendo a reação da garota, supôs que não, e tentou dialogar em inglês, repetindo a frase, mas mudando para “inglês”.

    — Sim. — Ela respondeu, hesitante. 

    — Ótimo. Não precisa ficar com medo. Vimos você sozinha e só ficamos preocupados. O que uma garota tão bonita e japonesa, faz aqui, sozinha?

    — Eu não estou sozinha. Estou esperando o Victor. — Respondeu. 

    — Vitor? Está me esperando? — Ele respondeu, com um tom de brincadeira. Coincidentemente, esse era seu nome. — Eu também me chamo Vitor, e esse aqui é o Caio. Ele é meu amigo. Mas não sabe falar inglês. — Continuou, com certo desânimo nessa última parte. 

    Aki já estava de pé, e por estar num local totalmente desconhecido, estava sem saber como reagir. Não sentia maldade no tom do rapaz, mas pensava que talvez não fosse só gentileza. 

    — Não era você, me desculpe… — Respondeu, hesitante.

    — Certo, foi só uma brincadeira. Você tem namorado? — Essa pergunta foi o suficiente para Aki compreender melhor a situação. 

    “Aparece logo, Victor…” Pensava, enquanto respondeu:

    — Na verdade, não… ainda… Mas… Eu não quero parecer rude… não estou me sentindo à vontade. — Respondeu, fazendo intervalos durante a frase, pensando no que falaria. 

    Vitor dá um passo, encurtando a distância. 

    — Você não precisa ficar assim. Somos legais. Você precisa de algo?

    A insistência do homem fez Aki sentir uma mistura de raiva e tensão, então, não respondeu nada.

    — Olha, posso te pagar algo? — Insistiu. 

    Aki ficou calada e durante esse intervalo, Vitor sentiu uma mão segurando seu ombro. Victor havia chegado. 

    — Posso te ajudar, amigo? — Perguntou, com um tom não muito amigável. Percebendo a forma como Aki estava, já havia entendido a situação. 

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