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    06 de janeiro de 2024, sábado.

    Vitor arregalou os olhos momentaneamente, assustando-se com o rapaz que acabara de chegar. 

    — Eu só achei que ela estivesse precisando de ajuda… — Respondeu o rapaz de olhos castanhos, dando de ombros e se afastando ligeiramente de Victor. 

    — Você é o namorado dela? — Caio perguntou, quase por impulso, num tom que deixou Victor irritado. 

    Victor abriu a boca para responder, mas imediatamente percebeu algo: Isso não era a verdade? Ele realmente não era o namorado dela. O que Aki achava disso? No dia anterior, no bar, ele havia dito isso para ajudá-la, só que dessa vez não tinha o mesmo perigo. 

    Pensando em várias possibilidades, ele olhou para Aki. Ela o olhou de volta, enquanto se movia, ficando ao seu lado, pouco atrás dele. 

    — Isso não importa… Caiam fora…

    “Eu tenho esse direito? Ela parecia preocupada, mas…” Os pensamentos conflituosos inundavam sua mente. 

    Aki continuou perdida na situação. Eles estavam falando em português e ela não entendia. Podia interpretar apenas pela expressão e tom das palavras. 

    — Foi mal, só queríamos ajudar… — Vitor respondeu, tentando manter a situação calma. — Ela não tinha aliança no dedo, nem vimos ela com você… Então, ela é sua namorada? Deveria se preocupar com esses detalhes para evitar certas situações… 

    O rapaz com camisa de animes tentou se explicar, apesar do tom de desdém. Victor concordou com a cabeça. 

    — Certo… Foi um mal entendido, ok? Falou!

    Ele se virou para a japonesa, segurando sua mão, automaticamente, e a conduziu para uma distância dos dois jovens. 

    Aki sentia o calor da mão de Victor e seu coração ainda parecia aumentar o ritmo, o que ela pensava ser impossível. 

    “Meu coração vai explodir! Ah!” Ela gritou em pensamentos, nervosa com tudo isso. Aki entendeu que Victor havia a salvado e não se incomodou em nada com a atitude dele. 

    Porém, sentia vergonha com aquela situação. Ela não queria parecer uma boba, só porque estava num local desconhecido. 

    Muitos pensamentos preencheram sua mente, enquanto ela acompanhava o ritmo dos passos de Victor para outro local do parque. Eles pararam debaixo de uma árvore, mais afastados da multidão. 

    — Você está bem? Eh, me desculpe! — Victor falou assim que a encarou, com uma pequena hesitação, ao perceber que pegar sua mão daquela forma foi meio… atrevido.

    Embora fosse comum para ele segurar a mão de uma mulher, por já ter feito isso várias vezes com sua ex-esposa, também sabia que, para Aki, aquilo poderia soar diferente. 

    Por mais que já tivesse aceitado seus sentimentos pela mulher à sua frente, não era como se fosse mais fácil. Ainda existiam barreiras para serem quebradas. 

    “Já briguei ontem para defender ela, embora o álcool tenha ajudado… E agora, quase eu fui egoísta demais! Ou não seria?” Victor pensava. Vários pensamentos vinham e ele tentava focar-se em saber se ela estava bem. 

    — Eu estou bem… — Respondeu, desviando o olhar e enrolando o indicador em uma mecha do cabelo. — Graças a você… — Balbuciou. 

    Victor formou um sorriso, achando fofo aquela cena. “Calma… Não haja por impulso…” Ele respirou fundo para acalmar-se. 

    — A culpa foi minha por te deixar sozinha aqui… Está muito cheio e claro que iriam aparecer gaviões… — Victor comentou, quase como se falasse sozinho… 

    — Gaviões? — Aki indagou, sem entender.

    Victor balançou a cabeça, rindo discretamente. Após explicá-la, percebeu que o seu rosto estava enrubescido. 

    — Mas é claro que alguém se aproximaria. Uma garota linda, parada sozinha nessa multidão… — Provocou, olhando-a com falsa zombaria. 

    Apesar de usar a brincadeira para disfarçar, um ato relativamente comum entre os dois, Victor sentiu uma alegria crescente em poder elogiá-la abertamente. 

    — Você faz isso de propósito, né? — Indagou, olhando para o lado… 

    — Talvez… — Victor finalizou, procurando seu olhar, mas ela fingiu não ver, envergonhada. 

    Victor riu, pedindo desculpas pela brincadeira. 

    — Apesar disso, o que eu disse é verdade… — Ele comentou, após perceber que pediu desculpas. 

    Aki sentiu suas bochechas arderem e sentiu-se aliviada quando chegaram na fila da roda-gigante. Ela usou esse momento para comentar sobre a altura do brinquedo. 

    Embora fosse menor que o elevador, na altura, era muito maior que a de Nagano, que eles foram. 

    A japonesa olhou para Victor, perguntando se não daria medo estar lá no topo. 

    — Para quem já foi no Elevador, essa roda-gigante é como uma brincadeira. 

    Os dois continuaram conversando, até que finalmente chegou a vez deles entrarem na cabine. 

    Era espaçosa, maior que a de Nagano. Sentaram-se de frente um pro outro. Aki apoiou seu braço no encosto acolchoado, observando a paisagem, enquanto o brinquedo começava a girar. 

    Um silêncio breve, mas o suficiente para deixar o clima tenso, nasceu naquele pequeno espaço. Durante alguns segundos foi assim. 

    A verdade é que Victor se perdeu em pensamentos, observando Aki. E ela, distraída com os arredores, também não havia percebido. 

    Quando ambos se deram conta da falta de conversa, tiveram um sentimento estranho. Victor foi quem “quebrou o gelo”. 

    — Olha, a Lagoa fica bonita daqui, não acha? — Ele apontou. 

    A lagoa refletia luzes douradas e prateadas dos arredores, como um espelho natural e trêmulo. A igrejinha se destacava com seu azul delicado, iluminada de forma suave, como se fosse um pequeno santuário às margens do lago. 

    Mais ao fundo, mas ainda possível ver no reflexo da água, estava o estádio “Mineirão”, conforme Victor havia lhe dito. Uma estrutura imponente, com suas luzes formando uma espécie de arco; uma coroa brilhante repousada sob as árvores. Essa era a impressão que Aki tinha.

    — É muito bonito… — Comentou, distraída com a paisagem. 

    Victor não disse nada, apenas admirou o horizonte junto dela. Apesar do silêncio entre os dois, era completamente diferente em suas mentes. 

    Cada um dos dois estavam sendo bombardeados pelos seus próprios pensamentos. Aki pensava que o clima estava mais… Algo que ela não sabia dizer ou definir. Talvez calmo? Ou seria mais tenso? Quiçá estivesse mais romântico… Ela não conseguia se organizar, e isso causou o seu silêncio. 

    Victor também estava divagando, embora preocupado, de certa forma. “O que eu devo falar agora? Tô agindo igual um adolescente! Aff!” Exclamava mentalmente. “Toda minha experiência de vida não está me ajudando agora… talvez esteja me atrapalhando…” Imaginou. 

    Por mais que ele soubesse como agir ali, algo o impedia. Victor queria poder agir naturalmente, mas sentia que isso desencadearia uma situação, quem sabe, embaraçosa. Tentava pensar em como agir sem parecer estar se aproveitando do momento. 

    Era verdade que ele queria se aproximar de Aki, mais do que um amigo. Porém, também se decidiu que esperaria uma oportunidade melhor, de preferência, no Japão, de forma mais natural. Somente ali, no Brasil, havia aceito seus sentimentos, só que isso não deixavam as coisas mais fáceis para ele. 

    Um turbilhão de situações, cenários, acontecimentos, lembranças, propostas, planejamentos… tudo se misturava como uma bomba, prestes a explodir, dentro de seu coração. Ele queria poder abraçar Aki… mais do que isso… 

    “Calma, Victor! Você não é assim! Se recomponha!” Continuava analisando, mas logo, chegaram outros pensamentos: “Na verdade, o que eu sou, atualmente? Como eu sou? O que eu tenho feito?” 

    O tempo passou mais rápido do que puderam perceber, e quando perceberam, já estavam no topo da roda-gigante. Aki inclinou-se para o lado do encosto.

    — Parece a mesma visão de quando estávamos no “É – lê – vaa – dou” — Falou, parando na última palavra, falando pausadamente, como se pensasse antes de pronunciar. 

    Victor riu, logo se desculpando. 

    — Sim, parece. Mas, é mais baixo. E não dá aquela adrenalina… — Comentou, despretensiosamente, observando Aki por um momento. 

    Seu rosto delicado contrastando com o fundo enegrecido da noite, iluminada suavemente pelas luzes ao redor, fez seu coração saltar.

    “Aquele dia eu não consegui pedir a selfie, mas… dessa vez, eu consigo!”

    — Aki… — Ele a chamou, após um breve silêncio. Ele arredou no banco circular, ficando mais próxima dela e tirando o seu celular do bolso. — Vamos tirar uma selfie? 

    Aki não esperava o convite, embora, em algum lugar dentro de si, realmente queria fazer algo assim.

    — Claro! — Respondeu, num tom empolgado, mas tímido. 

    Victor ficou ao seu lado, seus corpos quase encostando. Os poucos centímetros de distância não eram suficientes para impedir de sentirem o calor um do outro. 

    Apesar de ventar, devido, principalmente, à altura que estavam, o clima em si estava quente. Era pleno verão no Brasil. 

    O rapaz ergueu o braço, ajustando o ângulo, enquanto inclinou-se levemente em direção a Aki, enquadrando-os na paisagem ao fundo, mas antes comentou:

    Os dois fizeram uma pose e ele fez o clique. Apesar de estar sentindo uma timidez grande, Aki estava se esforçando para não demonstrar isso. 

    Victor analisava a fotografia, após baixar o aparelho. 

    — Deixa eu ver também. — Ela comentou, com certa empolgação e ansiedade. 

    Ao pegar o celular, percebeu que, quem visse de fora a fotografia, imaginaria que eram namorados. Sua mente como um turbilhão, imaginando vários cenários e possíveis comentários, enquanto sentiu seu rosto queimar. 

    — Realmente ficou legal. O que achou? Nossa primeira foto numa roda-gigante. Terão outras? — Aki brincou, rindo, apesar da timidez em dizer em voz alta. 

    — Está linda! — Respondeu, automaticamente.

    Ao perceber que podia soar com duplo sentido, ele pensou em corrigir, mas preferiu deixar assim, observando a reação dela, e continuou: — Aquele dia em Nagano, eu queria tirar uma selfie… mas fiquei com… talvez, medo? Não sei. Achei que você não fosse gostar. 

    Ela mexeu em seu cabelo, ajustando uma mecha, e comentou, quase inaudível: 

    — Sobre Nagano, era só ter pedido. Eu não ia negar… — Comentou, baixinho. — E a foto ficou realmente linda. — Sua voz carregava hesitação. 

    Victor a interrompeu ao ouvir aquelas palavras:

    — Não falava da foto em si… — Ele a olha nos olhos. 

    A curta distância e o olhar sereno dele, fizeram seu coração bater ainda mais rápido do que ela pensou que poderia bater. Um sentimento cresceu em seu peito, como se espalhasse por todo seu corpo à partir dali. 

    Uma sensação trêmula… de queimação e de frio… uma mistura maluca, gostosa e inquietante. Aki pensou em desviar o olhar, mas o que sentia era hipnotizante, como se a obrigasse a manter o olhar nele. 

    Sua mão que apoiava no encosto se moveu, sem um comando consciente, inclinando o corpo para o lado dele, enquanto o contato foi inevitável. 

    Ela o abraçou. Seus corpos agora em contato. Aki queria recuar, mas não queria. Queria apertar mais forte, mas não conseguiu. 

    Victor, porém, apesar de surpreso, retribuiu o gesto, a apertando gentilmente. O abraço caloroso se estendeu por alguns instantes. 

    “Onde isso vai parar?” Pensou Victor, percebendo que aquilo estava “perigoso”. Seu corpo estava numa explosão e misto de emoções, até mesmo alguma coisa que ele não sabia explicar. 

    Ele se afastou lentamente, ao serem despertos pelo movimento do brinquedo, que voltou a girar. Mesmo assim, continuaram próximos, eles se olhavam fixamente, a uma curta distância. 

    “Victor… eu…” Aki pensava, tentando falar algo, mas não conseguia. Apenas queria que o tempo parasse naquele momento. Continuar ali. “Está linda”. Essas palavras continuavam ressoando em sua mente. 

    Seus lábios se moveram, como se fosse dizer algo, mas nenhum som saiu. Seu corpo pedia para se aproximar mais… Estava relutante. 

    Mas foram despertos novamente, quando o telefone de Aki tocou. Natsu estava ligando para ela pelo aplicativo de mensagens.

    Num susto, ela rapidamente endireitou seu corpo, bem como Victor. Aki tentou ajustar seu short, puxando a barra para baixo o máximo que pôde. Victor se virou para o horizonte. 

    Ela atendeu. Era uma chamada de vídeo. 

    — Fala maninha! Como você está? — Perguntou Natsu, logo que ela aceitou.

    — Oi, Natsu! Estou bem e você?

    — Estou bem, obrigado. — Ele respondeu, aproximando o celular mais próximo do rosto, como se tentasse ver algo com mais detalhes. — Onde necessariamente você está? 

    Natsu indagou, com falsa desconfiança. 

    — Não me diga que eu atrapalhei um momento romântico entre você e o Victor? Me perdoa, maninha! — Natsu falou apressadamente, num tom claro de zombaria. 

    — Para com isso, seu idiota! — Aki exclamou. Logo, explicou onde estavam. 

    — Numa roda-gigante, é? Essa não… atrapalhei o beijo no alto dela? Hahaha. 

    — Nada disso! — Aki exclamou, gaguejando. 

    — Sei… cadê o Victor? 

    Aki então virou o celular para ele. 

    — E aí, cunhado! Quanto tempo! 

    — Você está passando vergonha, Natsu. — Victor respondeu, no mesmo tom, e rindo. 

    Eles conversaram mais alguns momentos, até a roda-gigante completar o loop. Aki aproveitou e mostrou para Natsu vários brinquedos, inclusive o Elevador e o Kamikaze. 

    Após um tempo, se despediram, e Victor e Aki acharam melhor ir embora. O parque estava muito cheio e, se não fosse os fones de ouvido que compartilharam, seria impossível compreender o que Natsu falava, por causa do barulho do ambiente.

    Então caminharam até o carro e foram para o hotel.

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