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    11 de janeiro de 2024, quinta-feira.

    Mais um dia raiou. Victor e Aki se preparam para outro passeio. Dessa vez, Victor disse que lhe apresentaria um lugar chamado “Mercado Central”, mas não traduziu o significado para ela. Foram com um motorista de aplicativo, pois Victor explicou que essa região da cidade era difícil de estacionar o veículo, por causa da alta quantidade de carros que trafegam no Centro. 

    Após vários minutos, depois de terem embarcado no carro, finalmente Aki estava dentro do Mercado Central — e Victor revelou o nome para ela. 

    — Esse lugar faz jus ao nome. Você encontra de tudo aqui. — Victor explicou, enquanto iniciavam a caminhada naquela imensidão de variedades. 

    Para se comunicarem verbalmente, era necessário aumentar o tom de voz ou se aproximar mais do outro, pois o barulho de passos de várias pessoas se misturando ao murmúrio do ambiente, além do som das caixas de som do próprio local e a gritaria dos comerciantes chamando clientes, tornava quase impossível manter um tom de voz baixo. 

    Aki prestava atenção em vários detalhes, tentando absorver o máximo de informações possíveis. Algumas placas, com nomes em inglês, ela entendia. Já as que estavam em português, só era possível entender com a explicação de Victor — ou o que ela entendesse pelas imagens. 

    — Eu vou te mostrar uma coisa muito legal. Vem! — Victor disse, segurando-a pela mão e a conduzindo. 

    Apesar de estarem numa multidão, o que fazia Aki ficar com vergonha de segurar a mão de Victor, ela não reclamou. Afinal, também era uma garantia para não acabarem se perdendo — ou talvez isso fosse só uma desculpa para ela não negar o toque dele. 

    Fato era que, independente do motivo verdadeiro, ela se sentia confortável naquela situação. E isso, ela não podia negar. Ainda mais quando levava em consideração o fato de estar do outro lado do mundo. 

    Enquanto era conduzida pelos corredores apertados e cheios de gente, Aki sentia diversos odores diferentes. Principalmente ao se aproximarem da área concentrada de alimentação. O barulho do ambiente agora incluía o tintilar de talheres, além do som de frituras e mais conversas. 

    Victor parou numa loja, com uma fachada simples, com desenhos que lembravam mochi no cardápio na parede. O cheiro era irresistível, um odor gostoso, ela não sabia o que era exatamente, mas supôs que teria a ver com queijo. 

    Foi quando, como um estalo, ela se lembrou do “Pão de Queijo”. Imediatamente, por impulso, ela cutucou Victor e lhe perguntou: 

    — Por acaso, isso é o “pão de queijo”?! — Sua voz soou animada. Uma pergunta que parecia mais uma afirmação. 

    — Você adivinhou. Isso mesmo. — Victor respondeu, enquanto virou-se para o atendente: um homem de pele parda, magro e alto. — Dois pães de queijo, por favor. 

    — É pra já. Você gostaria desses da estufa ou quer da nova remessa? Fica pronto em três minutinhos. — O homem respondeu. 

    Ele optou em esperar. Queria dar uma verdadeira experiência para Aki do pão de queijo, já que era, basicamente, o que os conectaram, de alguma forma. 

    Não era a primeira vez que Victor se perguntava: “E se ela não tivesse confundido o pão de queijo com mochi? Eu teria continuado conversando com ela?”

    Victor acabou percebendo, ao longo do tempo, que essa confusão dela, que gerou a sua reação inesperada, fora o motivo que o fez se permitir se aproximar dela, mesmo que fosse de forma inconsciente. Aquela pequena risada fez uma rachadura na armadura impenetrável que ele havia criado. E a cada vez que se encontravam, em momentos de trabalho ou pessoal, Aki conseguiu golpear em cima dessa brecha, que foi se abrindo, até que ele percebesse que ela havia quebrado aquela carapaça. Agora, ele estava desejando passar toda sua vida ao lado dela. 

    Então, havia se decidido, em determinado momento, antes mesmo de aceitar o que ele sentia, que queria fazê-la experimentar o melhor pão de queijo possível — e aquele lugar era um dos seus favoritos, já que sempre comia ali quando estava no Brasil. Decidiu também mostrá-la vários pratos regionais. 

    — Aqui está, chefe. — Disse o atendente, colocando sobre o balcão dois pães de queijo fumegantes. 

    — Antes de comer, saiba que esse é, talvez, o melhor pão de queijo que você vai comer. Aqui é quase um santuário do pão de queijo. — Victor explicou, com certa brincadeira, lembrando-se de alguns momentos que ia ali. 

    — Certo. Vamos experimentar! — Aki respondeu, pegando um. Ao morder, seu paladar foi invadido por sabores que ela não havia sentido antes. 

    O recheio esticou quando ela puxou, por causa do queijo. Ela abanou a mão na frente da boca, instintivamente, quando ela sentiu que a temperatura estava mais alta do que ela imaginou. Seus olhos estavam brilhando de empolgação.

    — Está quente! — Ela exclamou, com meias palavras, por estar de boca cheia. — Mas isso está uma delícia! 

    Victor, que também estava comendo o seu, concordou. Ele a encarou por alguns momentos, até ela perceber. 

    — O que? — Ela perguntou, receosa de que houvesse algo de errado. 

    “Será que comi errado? Será que me sujou?” Ela se perguntava. 

    — Não é nada. Só estava tendo a certeza de ver a sua reação ao provar o seu primeiro “Pão de Queijo”. 

    Ela desviou o olhar ligeiramente.

    — O “Pandê Queijho” é maravilhoso! E até lembra o mochi, em alguns aspectos, como essa elasticidade. 

    — A diferença que a do “pão de queijo” é por causa do queijo… — Ele explicou. — Então, valeu a pena esperar esse tempo todo? 

    Aki colocou o indicador no queixo, pensando por alguns segundos. 

    — Eu diria que, se eu soubesse que era tão bom, já teria insistido para você fazer para mim no Japão. — Ela deu uma risada. — Eu vou querer que você faça alguns para mim, quando puder. — Ela terminou de falar quase inaudível para Victor. 

    — Certo. Eu prometo que vou fazer. Só que não vai ser igual. O daqui é assado em forno de pedra, tem todo um ritual na preparação, o queijo é fresco. É quase impossível replicar ele lá no Japão. — Explicou. — Bom, não deixa de ser gostoso, mas não se compara. 

    — Por mim, está ótimo. — Ela sorriu. 

    Após terminarem a refeição, continuaram caminhando. Victor apresentou para Aki vários temperos típicos brasileiros e mineiros, além de biscoitos caseiros, queijos e doces. Eles aproveitaram a ocasião para degustar o máximo possível, mas não podiam exagerar. Seria impossível experimentar toda a variedade em um único dia. 

    A cada nova barraca, em cada novo corredor, Aki era surpreendida, tanto pelo cheiro quanto pelo gosto. Aki já estava muito satisfeita, quando decidiram passar pela área de artesanatos, para dar uma descansada. 

    A variedade de produtos continuava cada vez mais incrível. Várias esculturas, brinquedos móveis de madeira, esculpidos, em sua maioria. Havia lojas de tecelagem, vendendo diversos tecidos e roupas. E os artigos religiosos impressionavam. Desde crucifixos até estatuetas de santos. 

    Victor sempre tentava explicar o máximo possível, pelo menos dos objetos e artigos que Aki parecia mais interessada. Quando passaram por uma apresentação de peças de cerâmicas decorativas, Aki se encantou com uma em especial. Um conjunto de três peças de pratos pequenos, em formato de folhas. Eram, predominantemente, brancas com detalhes azuis. 

    Ela acabou comprando esse kit, bem como outros itens que havia gostado. Victor acompanhava toda a situação e seu semblante demonstrava a sua satisfação em poder estar ali com ela. Sentia-se empolgado, feliz. 

    Algo que não sentia há muito tempo, essa sensação de companhia e cumplicidade em compras, já que Aki sempre levava a sua opinião em consideração antes de comprar ou não algo que gostou. 

    Após um bom tempo, decidiram almoçar. Victor a levou até um tradicional e conhecido restaurante mineiro. Lendo o cardápio, e com a ajuda do brasileiro, Aki acabou escolhendo um prato que vinha com, dentre outros ingredientes, frango com quiabo e ele pediu um prato de arroz com pequi e costelinha de porco. 

    Passado um tempo, a refeição chegou à mesa e eles foram servidos. Durante a refeição, após tecer elogios à sua própria comida, Aki disse que o prato de Victor tinha um cheiro ótimo também. Decidido a não agir mais como um bobão perto dela, apesar de ainda ter alguns momentos, o rapaz ofereceu uma “garfada” para ela. 

    A japonesa aceitou sem cerimônia, supondo que seria falta de respeito e de educação ficar enrolando para aceitar a generosidade dele. 

    Algum tempo se passou e os dois caminhavam entre corredores, novamente.  Eles foram até uma loja, especializada em Cachaça Mineira. Aki experimentou uma dose, mesmo que Victor tivesse insistido que não achava uma ideia muito boa — e ela entendeu o motivo do alerta. Em especial, por ter pegado logo uma cachaça de doce de leite. 

    Mesmo que o sabor fosse extremamente atraente, ela sentiu que seu efeito era igualmente forte. Então, não quis experimentar mais. Victor riu enquanto ela reclamava de não poder experimentar tudo que queria. 

    Porém, lembrando-se do pai de Aki, Victor sugeriu que ela levasse para ele uma cachaça especial de Minas, como recordação. Ela adorou a ideia e eles compraram uma garrafa de edição especial da Cachaça de Alambique. 

    Quando já estavam prontos para irem embora, decidiram experimentar uma última coisa: Fígado com Jiló. Victor havia falado bastante desse prato, mas não tinham comido ainda. 

    Aki reclamou um pouco do jiló, embora tenha aceitado que era um prato muito marcante. Talvez pelo primeiro contato com o fruto, estranhou o sabor e, para “limpar” o gosto, pediram um suco natural cada. 

    No fim, voltaram para o hotel, e Aki não parava de falar do tanto que havia se divertido naquele dia. Ela sempre reforçava que queria poder experimentar mais coisas e que, se eles voltassem no Brasil, queria ir novamente lá para conhecer mais coisas. 

    Já dentro do quarto, durante a noite, Aki estava deitada na cama, mexendo em seu celular. Quando recebeu uma mensagem de Victor. 

    Você gosta de pets, né?

    Aki arqueou a sobrancelha, surpresa. 

    Sim. Por que a pergunta aleatória? 

    Só estou confirmando algo que eu já sabia. Haha. 

    Ela não entendeu onde ele queria chegar, e então o encarou com ironia:

    — Obrigada por me deixar curiosa, Victor! 

    — Não seja dramática. — Victor se levantou e se aproximou, com certa velocidade, que a surpreendeu. — Veja.

    Ele lhe mostrou uma foto com vários cachorrinhos, como se estivessem usando coletes numerados. 

    — Sabe o que é isso? — Perguntou, num tom de ansiedade. 

    — Cachorros. — Respondeu, convicta, mas sua voz transparecia certa dúvida. 

    Victor riu da resposta. 

    — Sim, são cachorros. Amanhã, vamos conhecer todos eles e mais alguns amiguinhos. Está animada?

    “Conhecê-los? Será que é uma competição?” Aki pensou, e logo em seguida confirmou sua animação. 

    Estava curiosa, e agora havia brotado um sentimento de ansiedade, tentando decifrar o que Victor estava planejando, já que ela não havia entendido direito. 

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