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    13 de janeiro de 2024, sábado.

    Enfim, era sábado, havia completado uma semana desde que Victor e Aki chegaram ao Brasil. Os últimos dias haviam sido bem movimentados, com a japonesa conhecendo várias coisas diferentes sobre a região. E no dia seguinte, iriam voltar para o Japão. A ansiedade consumia os pensamentos da garota. 

    Apesar dessas “férias” serem incríveis, estava pensativa sobre como seria voltar para o Japão. A mudança de clima e cultura era extremamente visível. Ela até havia comprado algumas roupas mais “brasileiras” para passar os dias no Brasil e estava pensando se teria como usá-las no Japão. Talvez no verão, dentro de casa… 

    Comprou alguns shortinhos e camisas de tecido leve e solto. Sua maior dificuldade era, na verdade, se acostumar com a pouca roupa que cobriam suas pernas, ficando com parte da coxa exposta, assim como o restante para baixo. Estava acostumada a usar vestidos que iam no joelho e, aquele tipo de roupa brasileira, parecia até indecente, dependendo do ponto de vista.

    Apesar disso, era confortável, principalmente pelo calor que fazia ali. Também facilitava caminhar, já que tinha pouco atrito do tecido com a pele. E, principalmente, era bonito. Por mais que a exposição a incomodasse, até certo ponto, não podia negar que achou os modelos muito bonitos — mesmo que tivesse vergonha de usá-los e houvesse uma resistência em primeira instância.

    Pensando sobre tudo isso, a japonesa estava deitada na sua cama do hotel, mexendo no celular. Conversava com sua amiga, Sayuri, com Fuyu e com Natsu. Os irmãos, principalmente Natsu, não se cansava de “cutucar” ela com comentários provocativos quando tinha a oportunidade. 

    “O Natsu é muito bobão! Mas bem que eu queria que fosse verdade…” Aki divagou, soltando o celular momentaneamente sobre o colchão, enquanto, de barriga para cima, encarava o teto rebaixado do quarto, com os braços abertos. 

    “Eu deveria falar para o Victor como eu me sinto? Quero dizer, eu quero falar… Mas, ainda mais por estarmos aqui no Brasil, acho que não pegaria bem… Talvez eu devesse esperar voltarmos ao Japão? Esperar uma oportunidade lá? Como eu devo agir?” Seus pensamentos continuavam distantes, quando ela ouviu seu telefone tocando, arrebatando-a daquela viagem imaginária. 

    Ao verificar, era sua mãe ligando em uma chamada de vídeo. A garota sentou-se rapidamente na cama, ajeitando seu cabelo e atendendo em seguida.

    — Oi, mãe! Tudo bem? 

    — Aki, boa noite. Estou bem e você, querida, como está?

    Aki olhou pela janela, que estava com as cortinas abertas, vendo o céu claro e limpo lá fora, e deu uma breve risada.

    — Aqui está de dia e um calor incrível de trinta e quatro graus. — Ela comentou, virando a câmera do celular e mostrando sua mãe a paisagem azul, cercada de prédios.

    — Nossa, chega a ser assustador pensar nisso… — Sua mãe responde, mostrando com clareza toda sua roupa de frio que usava, como touca, cachecol e um grosso casaco de lã. — Aqui está nevando. 

    — Eu assustei quando cheguei aqui e senti o calor. É como se tivesse em outra dimensão. — Sua mãe riu com o comentário.

    Após conversarem mais um pouco, e Hana perguntar por Victor, que também conversou com ela um pouco, Aki desligou. E comentou com o rapaz:

    — Eu comprei aquela lembrança para o papai, mas não comprei nada para a mamãe, nem para a Haru e nem para os dois patetas. — Ela comentou, com um tom zombeteiro, quando se referiu aos irmãos homens. Victor riu.

    — O jeito que você fala deles me faz rir. Bom, hoje nosso passeio será noturno. Vamos aproveitar e saímos mais cedo daqui e passamos num lugar para comprar. Você já pensou no que levará para eles?

    Aki concorda, alegando já ter pensado no que poderia levar de lembrança para cada um. Eles combinam de sair duas horas mais cedo para procurarem as tais lembranças.

    Aki prendeu a respiração por um momento, encantada, quando se sentou junto à mesa que Victor havia reservado próximo à janela. Parecia que todo o mundo estava abaixo deles, como se estivessem voando. A visão panorâmica de toda a região era majestosa, encantadora. 

    O céu, pintado num tom quase preto, era adornado pelo brilho cintilante das estrelas e pela tênue silhueta da lua — um fino arco prateado, quase invisível, que se perdia entre as montanhas ao fundo. Estas, vistas apenas como sombras borradas, pareciam se esconder na escuridão da noite, enquanto as infinitas luzes da cidade iluminavam o horizonte à frente.

    A japonesa, que piscou algumas vezes, até que, por fim, falou:

    — Que lugar lindo! Realmente parece que estamos no topo do mundo. — Sua voz denunciava a sua empolgação transbordante, e seus olhos brilhavam sob a iluminação suave do ambiente, dourada e quente, que desenhava pequenos halos refletidos no piso.

    Victor registrou aquele instante na memória — era como um quadro perfeito que fez seu coração bater mais forte. Os olhos de Aki, como pedras preciosas de âmbar, brilhavam sobre um rosto delicado de pele clara, emoldurado por uma vasta cabeleira negra. Um contraste impossível de ignorar.

    — O que vamos pedir? — Ele perguntou casualmente, olhando o cardápio. 

    A verdade é que Aki havia percebido que eles estavam rodeados de mesas apenas com casais e estava um pouco hesitante, quando respondeu:

    — Pode escolher. Eu quero que você me surpreenda. — Ela falou e piscou um dos olhos, como se o desafiasse. 

    — Certo. — Ele respondeu, e fez o pedido. Passado um tempo, foram servidos por uma porção de “Pasteizinhos de Angu”, uma receita de Itabirito, MG, recheados com rabada desfiada e requeijão, acompanhado com geleia de pimenta biquinho. Essa era a entrada. 

    Aki adorou o sabor e a textura. E, pouco depois, veio o prato principal: Risoto mineiro, acompanhado de queijo coalho, pimenta biquinho, bacon, carne de sol desfiada, linguiça calabresa e crispy de couve.

    — Bom, esse prato está carregado de alma mineira. — Victor brincou, depois que começaram a degustar. 

    Depois de acabarem, conversaram mais um tempo. Aki aproveitou que era o último passeio e fez um comentário geral de todos passeios, do que ela havia gostado. 

    Em seu comentário não havia defeitos, apenas elogios. Descreveu como se sentiu no primeiro contato na Pacca Consortium, sobre a reunião e o bar. 

    — Novamente, obrigada por ter me salvado daqueles caras no bar. — Ela desviou o olhar, mas suas bochechas denunciaram sua timidez ao se lembrar do ocorrido, com o rubor se destacando ainda mais, graças ao seu vestido de tom marsala. Mas logo se recuperou e continuou comentando sobre os passeios. 

    O passeio no shopping e o novo estilo de roupa que usou, a caminhada na orla da lagoa e o parque de diversões, comentando sobre como foi divertido experimentar aqueles brinquedos e sobre a selfie na roda-gigante. Destacou o passeio no zoológico, no Inhotim, a trilha e a gruta. 

    Victor ouvia tudo atentamente, percebendo no sorriso perfeito que ela tinha e harmonizava com seu rosto, iluminado levemente pela luz ambiente. 

    Quando falou sobre o Mercado Central, apontou vários pontos positivos, da experiência que foi ir lá e como ela achou tudo incrível. Foi quando a sobremesa chegou: “Verrine de Frutas Vermelhas: Compota de frutas vermelhas, bolo de coco e creme de chocolate branco, em camadas. Finalizado com amora, morango e mirtilo frescos.” Essa era a descrição do cardápio.

    Victor não pode deixar de perceber os olhos dela brilhando enquanto comia. Ela com certeza havia gostado. Logo, ela continuou:

    — Essas “férias” foram muito divertidas. — Ela fez “entre aspas” com os dedos. — Até dez dias atrás, eu não tinha ideia de que estaria no Brasil hoje e teria vivido tanta coisa legal. — Aki comentou animada. 

    — O destino costuma nos surpreender… — Victor respondeu, e depois desviou o olhar para fora. — Às vezes de forma negativa, mas também existem as surpresas maravilhosas. Eu aprendi isso recentemente.

    Ele então voltou seus olhos para Aki, que ficou congelada por um instante no lugar, surpresa com as palavras. A garota havia entendido o que ele quis dizer e seu coração não podia estar mais inquieto, saltitante e acelerado. 

    — Bem… — Ela procurou palavras para responder, mas não encontrou. Foi quando os drinks chegaram. Haviam pedido para finalizar a noite. 

    Quando o Chocolato, um drink leve, feito com licor de Amarula, canela, leite, finalizado com capuccino, chegou, Aki agradeceu internamente. 

    A bebida estava incrivelmente bonita e apresentável. Depois de tomarem um gole, Victor comentou:

    — Esse drink lembra aquele Martini de Chocolate, mas é uma proposta diferente. 

    — É tão gostoso quanto. — Ela volta a bebericar, e percebe o olhar de Victor a encontrando. Imediatamente, seu coração pareceu explodir. 

    Ele fingiu uma tosse para despistar.

    — Você está muito bonita. — Falou, tentando parecer despretensioso. Entretanto, suas palavras foram como uma flecha perfurante atingindo o peito da japonesa. Ela quase engasgou com a bebida, ajeitando o corpo na cadeira e, arrumando uma mecha de cabelo depois de colocar a taça de volta à mesa. 

    — Obrigada. — A hesitação na sua voz foi perceptível e Victor sorriu. 

    — Vamos tirar uma foto de recordação? Uma selfie. — Propôs e ela concordou, após um breve silêncio. 

    Antes de irem embora, eles se dirigem até um espaço amplo do lugar, onde era possível tirar fotos com a paisagem ao fundo e fazem uma selfie. Antes deles, porém, um casal estava fazendo o mesmo e, se beijaram para tirar a fotografia. 

    Aki sentiu em seu estômago uma sensação como se estivesse acabado de beber um chá fumegante. Ela tentou não pensar sobre. Victor também fingiu não perceber o gesto dos outros. 

    Apesar disso, a japonesa não pôde evitar de sentir seu rosto queimar, quando imaginou ela e Victor tirando essa mesma foto. Rapidamente, ela se recompôs, mas seus pensamentos continuaram em tudo que havia acontecido naquela noite. 

    “Daqui a pouco vamos estar no Japão de novo” A garota pensava, antes de dormir. “Estou tão nervosa. Será que alguma coisa vai mudar entre a gente?” Ela se vira na direção de Victor, mas não consegue discernir se ele estava acordado ou dormindo, por causa da escuridão. 

    “Ela se virou para cá?” Pensou Victor, ao ver o movimento dela. 

    — Aki… Está acordada ? — Ele perguntou quase num cochicho e ela respondeu. 

    — Sim. Ainda não dormi. Um pouco nervosa para o retorno. — Sua voz estava tão baixa quanto a dele, com um ar de hesitação.

    Victor sentou na cama: — Está ansiosa?

    — Sim. São dois mundos diferentes. No Japão, agora, por exemplo, está de dia e muito frio. Aqui está de noite e faz muito calor. — Ela analisou. — Fora as diferenças culturais. Estava pensando nisso tudo. 

    Victor sorriu, embora Aki não pudesse ver: — Não pense demais nisso. Apenas descanse. Amanhã vamos voltar para o Japão. 

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