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    14 de janeiro de 2024, domingo.

    Aki dormia profundamente, enrolada nas cobertas. Victor, porém, ainda estava acordado, enquanto olhava para ela, que estava sendo iluminada por uma fraca luz externa que passava pela fresta da cortina. 

    “O quanto você me ajudou a mudar, Aki? Você me trouxe de volta para a realidade. Não sei como te agradecer o suficiente.” Ponderou. 

    Na sua mente, imagens dos últimos meses passaram como um filme. Ele no trabalho, sempre fechado, e a garotai sempre procurando uma forma de conversar, em vão. Nesse momento, não pôde deixar de se sentir um idiota. 

    “Acho que, no fim, ela só estava curiosa para saber porque eu era assim, não é?” Analisou, lembrando-se de algum comentário que ela havia feito que deu a entender isso. 

    O dia em que se esbarraram na rua era também o dia em que tudo começou. Nem ele sabia falar o motivo de tê-la convidado, tão repentinamente, para almoçar, como pedido de desculpas. Mas, ainda assim, se sentia agradecido consigo por ter feito isso. 

    Lá, no “Bamboo Garden”, Aki havia lhe dado um dano crítico com aquele gesto tão inocente e bobo, quebrando sua, até o momento, impenetrável armadura contra qualquer relacionamento. Victor via tudo como “apenas mais um dia” e via a todos como “apenas mais um”. Não sentia vontade de ter qualquer relacionamento, com qualquer tipo de pessoa. 

    Esse era um dos motivos que fortaleceu sua decisão de ir morar no Japão, literalmente, do outro lado do mundo, para não ter contatos, recomeçar a vida do zero — já que ele considerava que a sua vida havia acabado naquele incidente. 

    Desde então, após começar a conversar com Aki, a cada dia se aproximavam mais. Como quando ele a acompanhou até em casa, por ela estar sem seu casaco e sem o guarda-chuva. Como consequência, acabou se resfriando e ela foi até a casa dele lhe preparar um chá. Um gesto simples, mas que mostrou o quão gentil ela era.

    E nos eventos em que participavam como supervisores não era diferente. Eles haviam ficado mais divertidos, mais interessantes. E, durante alguns deles, se conheciam ainda melhor. Por mais que a garota sempre fosse a mesma pessoa, era impossível não conhecer novas facetas de sua personalidade, como quando Aki ajudou a pequena Sakura a se levantar e se esforçar, com palavras gentis e encorajadoras no “Evento do Safari”. 

    “Tudo aconteceu de uma forma… diferente.” — Comentou mentalmente, ao lembrar-se de quando cortou a mão para evitar que a taça acertasse o rosto dela no evento da empresa Wallmart, olhando para a sua própria mão, que havia sido ferida no gesto. 

    Então, lembrando-se de como o chefe Akashi havia os elogiado pelo bom trabalho que estavam desenvolvendo e os levou até o bar “Flor-da-Noite”, sorriu. Era como se visse tudo novamente. “Acabou se tornando quase normal a gente dormir perto um do outro, não é?”

    Havia chegado nessa conclusão ao contabilizar as vezes que isso aconteceu: no dia que ele dormiu na casa dela por causa da tempestade; em Nagano, quando ela adormeceu ao seu lado na varanda; no trem, durante o retorno para Tóquio; quando ele a levou para dormir na sua casa, por causa do Ethan; e agora, os últimos dias todos por causa da viagem, dentro do avião e no hotel. 

    Durante a contabilidade desses acontecimentos, acabou relembrando de eventos marcantes, como a  viagem para Nagano, como um todo, desde a ida no trem até o topo do Senjojike Cirque, o lago, o piquenique e a árvore. Então, ele pegou seu celular e procurou as fotos desse dia. Não pode conter um sorriso em seus lábios. 

    Foi quando dedilhou a fita em seu pulso, recordando do singelo presente da Haru e, acabou por tocar sua pulseira de miçangas, que foi presente de Aki. Seu coração acelerou ligeiramente, de forma que nem ele havia percebido, e isso foi um gatilho para reviver o momento do primeiro abraço deles, no dia de seu aniversário. Ele podia sentir o perfume de Aki, aquele calor e a sensação do contato. 

    Continuando revirando sua galeria, viu a selfie dela do dia do Halloween, e pensou: “Aquele dia eu agi por impulso. O que teria dado se não tivesse me contido?”. Após analisar, pensou: “Eu nem estava preparado para assumir qualquer coisa. Eu agi feito um adolescente. Aff.”

    De repente, lembrou da sexta-feira, treze, em que foram ao cinema. Ao recordar do mini abraço dela, ficou em dúvida se aquele havia sido o primeiro abraço ou se foi o do seu aniversário. “Foram muitos momentos incríveis que passamos…”

    Enquanto divagava, não conseguiu evitar de sentir uma vontade de abraçar a japonesa, que descansava no mesmo quarto que ele. 

    “Eu deveria estar mesmo pensando nisso? Por acaso, sou algum tarado?” Ele se repreendeu, dando um tapa em sua própria cabeça. “Aki, eu quero te falar. Eu quero te falar como eu me sinto. Mas eu vou esperar uma oportunidade, quando estivermos no Japão.”

    Assim, Victor acabou perdendo muito tempo, talvez horas de sono, lembrando e pensando sobre tudo que havia acontecido nos últimos meses.

    — Tudo isso foi inesquecível! — Aki exclamou, enquanto ajeitava o cinto de segurança da poltrona, dentro do avião. 

    Tanto ela quanto Victor já estavam retornando, após saírem do hotel e irem para o aeroporto. Antes disso, porém, se encontraram com Matheus, Carla, João, Breno e Débora, logo cedo. Conversaram e se despediram, prometendo retornar antes do fim do ano. 

    … 

    Carla e Matheus fizeram um drama, insistindo para Victor não deixar a Aki para trás. A japonesa se sentiu envergonhada, mas feliz por ter conquistado pessoas próximas de Victor. Sabendo que, talvez, não teria outra oportunidade, não perdeu a chance, quando brincou:

    — É Victor, não me deixe para trás! Eu quero conhecer outros lugares do Brasil também! — Sua voz saiu determinada, apesar do tom claramente brincalhão. Eles riram e Victor concordou, prometendo que a traria. 

    “Que sentimentos confusos”, ela pensava, sentindo um misto de alegria, ansiedade e nervosismo por toda a cena. João e Breno fizeram brincadeiras quando tiveram a oportunidade, falando sobre eles terem um relacionamento. Mas, diferente de antes, Victor não estava negando prontamente, apenas mudava o rumo da conversa, e ela observou isso. 

    Seu coração estava inquieto, porém, não de forma desconfortável. Sentia como se uma brasa queimasse dentro dele, aquecendo-o suavemente e tornando tudo agradável. Ela pensou que provavelmente suas bochechas estariam coradas, só que não pensou muito nisso. Decidiu focar-se na despedida. 

    Até brindaram antes de sair e todos ali despediram calorosamente da japonesa, fazendo-a se sentir acolhida e aceita na turma. Mesmo que nos últimos dias tenham sido bem corridos por causa dos passeios, Victor conversava bastante com eles no tempo livre e algumas vezes a chamava para participar das conversas. Foi uma semana completamente diferente para todos eles. 

    — Sim, foi. E eu vou te levar para conhecer outros lugares na próxima vez. — Victor afirmou e ela sorriu. 

    — Vai ser um prazer. 

    Conversaram um pouco mais, até que houve um silêncio entre eles. O avião já estava em pleno ar, cortando os céus rumo ao Japão. Ambos tinham colocado seus respectivos fones de ouvido para ouvir músicas. 

    Em certo momento, Victor sentiu algo pesando seu ombro e quando olhou, viu Aki recostada nele, adormecida. Seu rosto com uma expressão serena e cansada. “Talvez ela não tenha descansado tão bem, afinal, eu também estava muito ansioso e mal dormi”, Victor ponderou. 

    Fixou seus olhos na garota por mais um tempo, sem perceber. Quando se deu conta, estava admirando ela, por mais tempo que notou, elogiando-a mentalmente. 

    “O que está fazendo?” Se perguntou, enquanto desviava o olhar para fora, divagando. “Ela é tão bonita e não percebi isso antes. E agora, estou percebendo demais.” 

    Como se estivesse em crise de pensamentos conflituosos, Victor acabou adormecendo, após muito pensar e imaginar. Estava com o corpo cansado, não tendo dormido o suficiente na noite anterior. 

    Aki permaneceu na posição em que estava e, após Victor adormecer, seu corpo, procurando uma posição mais confortável, acabou se encontrando com a garota. Ambos ficaram ali, cabeça com cabeça, enquanto dormiam. 

    Victor acordou um tempo depois e ao perceber isso, logo se ajeitou. “Acabei dormindo junto com ela”, percebeu. Então, percebeu que a poltrona de trás não tinha passageiros e ele reclinou a parte de Aki, e a cobriu com a coberta do avião. Estava frio lá em cima. Depois, ajeitou o seu assento e também dormiu. 

    Nuvens cobriam o céu e o frio açoitava o clima. Estava um vento gelado, com a temperatura negativa na escala celsius. Ambos se agasalharam quando perceberam, ainda dentro do avião. Após um período, cada um já estava dentro de sua casa, agora, com lembranças inesquecíveis de uma viagem ao Brasil. 

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