Capítulo 72: Visitas
26 de janeiro de 2024, sexta-feira.
A luz suave da manhã invadia o quarto silencioso, filtrada pelas persianas do hospital. Um leve aroma de álcool e flores misturava-se ao ar frio do hospital, enquanto os sons abafados dos corredores começavam a dar indícios de um novo dia.
Aki abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes até focar no teto branco. Sua cabeça ainda parecia envolta em uma névoa leve, resultado dos remédios que havia tomado durante a noite. Por um momento, não sabia exatamente onde estava. Tudo parecia quieto demais. Distante demais.
Aki levou a mão livre até os lábios, pensativa.
“Eu ouvi aquilo… ou imaginei? Talvez tenha sonhado. Pode ter sido um delírio por causa da febre. Ou efeito dos antibióticos…”
Virou a cabeça com cuidado para o lado e então pôde ver Victor, dormindo na mesma posição de antes, a cabeça ligeiramente caída para frente, o corpo curvado na cadeira. Então, as memórias vieram, como uma onda suave e quente.
Apesar do sentimento quase amargo do mal que sentiu, as palavras de Victor ainda ecoavam em sua mente: “eu não me importaria de ficar o resto da minha vida com você, ao seu lado…”
Palavras quentes, pesadas… “Será que foi um sonho? Só pode ter sido um sonho!” — Pensava. “Só pode ter sido por causa dos remédios, devo ter imaginado coisas.”
Mas logo, veio outro questionamento interno: “E se não foi um sonho?!” — O coração dela acelerou ao ponderar essa possibilidade. Seu peito se enchia de um calor reconfortante, uma sensação boa, agradável, suave.
“Eu gosto tanto de você, Aki…” — Agora, com essa nova chance de ter sido tudo real, as palavras voltaram a ecoar em seus pensamentos. Tão fortes, que ela sentia como se estivesse ouvindo ele dizer isso novamente. Seus olhos pousaram nele, brevemente, e ela sentiu seu rosto esquentar.
“Mesmo que tudo tenha sido um sonho, uma coisa é verdade: Ele ficou aqui comigo a noite toda.” — Analisou. “O que significa esse ‘gostar’? Eu preciso descobrir.”
Aki soltou um suspiro profundo, olhando para o teto branco e iluminado.
“Acho que não é a hora para descobrir isso… Se isso tudo foi um sonho… foi muito bonito… queria não acordar dele…”
Foi quando um leve ruído da maçaneta girando chamou a atenção de Aki, fazendo-a virar o rosto em direção à porta. Um homem de jaleco branco, óculos quadrado e cabelos levemente grisalhos, entrou no quarto com um sorriso sereno, carregando uma prancheta e acompanhado de uma enfermeira.
— Bom dia, senhorita Yamada. Como está se sentindo hoje? — perguntou o médico, aproximando-se com passos calmos.
Victor se remexeu na cadeira ao ouvir a voz. Seus olhos se abriram devagar, ajustando-se à claridade do ambiente. Levou um segundo para entender onde estava — e então olhou para Aki, ainda deitada, e em seguida para o médico.
— Bom dia… — murmurou ele, passando a mão pelo rosto e endireitando-se na cadeira.
Aki se limitou a sorrir para o médico, levantando o corpo ligeiramente na cama, e respondeu, com sua voz saindo mais fraca do que pensou que seria.
— Melhor… ainda um pouco tonta, mas… acho que bem melhor do que ontem.
O médico anotou algo na prancheta.
— Fico feliz em ouvir isso. Sua febre cedeu durante a madrugada e os exames indicam que a infecção está controlada. Vamos mantê-la mais um ou dois dias em observação, apenas por segurança, tudo bem?
Aki assentiu lentamente, enquanto Victor soltava um suspiro discreto de alívio. Então, levantou-se, espreguiçando, depois que o médico conversou mais algumas coisas e saiu da sala.
Sentia seu corpo reclamar da noite mal dormida, com algumas dores localizadas. Fez um breve alongamento, quando percebeu Aki o observando atentamente.
— Você vai voltar depois do expediente? — Perguntou, com certa hesitação.
— É claro. Eu não vou te abandonar, não precisa se preocupar. — Ele riu.
Aki retribuiu o sorriso, e, após conversarem um pouco sobre como ela se sentia, Victor saiu, fechando a porta depois de se despedir.
Assim que os passos de Victor se perderam no corredor, Aki voltou a se deitar lentamente, sentindo o corpo ainda pesado. Olhou para o teto branco do quarto por alguns instantes, em silêncio, tentando organizar os pensamentos, mas não era fácil.
A madrugada ainda estava fresca em sua memória, agora que estava mais acordada, quase como se tivesse sonhado. As palavras sussurradas por Victor ecoavam em sua mente como uma canção que ela não sabia se havia realmente escutado. Uma canção que fazia seu corpo vibrar, desejar por algo…
“‘Eu sou um idiota… Eu não me importaria de passar o resto da vida com você…’”
Ela apertou os lábios, virando-se para o lado devagar, olhando para o espaço onde ele estivera sentado durante a noite.
— Foi real? — sussurrou, ainda em dúvida. — Será que foi tudo mesmo real? Eu quero tanto que tenha sido tudo verdade.
Divagando, não percebeu o tempo passando. A enfermeira retornou pouco depois com uma bandeja de café da manhã leve. Aki agradeceu com educação, mas demorou a tocar na comida. Seu apetite ainda estava fraco. Passou parte da manhã olhando pela janela, vendo o céu nublado, dando um toque escurecido na paisagem de Tóquio. O silêncio do quarto a abraçava, permitindo que seus pensamentos vagassem sem rumo.
Por volta das 10h, o celular vibrou. Era uma mensagem de Victor, falando que tinha chegado na empresa, mas logo foi bombardeado de perguntas dos colegas e estava organizando suas planilhas, e somente agora tinha conseguido mandar uma mensagem.
“Não tem problema. Avisa pro pessoal que estou bem… E obrigada, por tudo. Acho que não te agradeci direito ainda.”
Só agora ela percebeu que havia algumas mensagens do pessoal da empresa. E então, aproveitou para respondê-los. Logo, recebeu uma resposta de Victor:
“Eu te disse, o importante é que você esteja bem.”
Até por mensagens, ela se sentiu acolhida. Seu coração estava levemente acelerado, mas com uma sensação de conforto e tranquilidade, como se tivesse achado um lugar aconchegante.
Aki também conversava com Natsu, Fuyu e seus pais, que só viu as mensagens pela manhã, depois de responder Victor. Seu celular, anteriormente, estava no modo silencioso.
Após alguns momentos de conversa, ficou decidido que sua família viria lhe visitar no dia seguinte, no sábado. Aki insistiu que não precisavam se deslocar de tão longe, mas em vão.
…
Aki estava com o travesseiro mais erguido, assistindo distraidamente a um programa qualquer na pequena TV pendurada na parede, quando ouviu batidas leves na porta.
— Com licença… — a voz doce e suave de Sayuri ecoou, seguida por um sorriso iluminado.
— Sayuri? — Aki arregalou um pouco os olhos, surpresa.
Logo atrás dela, entraram Helsing — com uma expressão gentil, carregando uma sacola grande — e Yumi, animada como sempre, com flores nas mãos.
— Dissemos que íamos visitar! — disse Yumi, colocando as flores em um vaso já disponível na mesinha ao lado da cama.
— A gente não podia deixar a nossa amada colega da Elegance sozinha no hospital. — Helsing pigarreou, deixando a sacola com alguns lanches naturais e uma garrafinha de suco. — Trouxe comida… saudável.
— É sério mesmo? — Yumi resmungou. — Eu disse que ela ia preferir um pão de mel ou um bolinho. Fui contra esse lanche que ele trouxe.
— Não podemos oferecer açúcar demais pra quem tá doente. — rebateu ele, mostrando um sorriso irônico.
Sayuri, sentando-se na poltrona ao lado, segurou a mão de Aki com gentileza.
— Ficamos todos preocupados com você, Aki. A empresa está um pouco sem brilho sem sua energia por lá.
Aki sorriu, emocionada.
— Eu… não esperava essa visita. Muito obrigada. De verdade.
— Foi ideia da Sayuri — Yumi entregou, cruzando os braços. — Mas eu super topei! Tava com saudades.
— Eu também. — Helsing comentou.
Aki riu baixo, e se sentiu cheia de energia. Não só pela melhora física, mas porque se sentia querida, cercada de pessoas que demonstravam carinho para com ela.
Enquanto conversavam — com Sayuri contando os pequenos caos do dia na empresa e Yumi reclamando da nova máquina de café — a porta se abriu novamente.
Victor entrou com uma expressão serena, mas cansada. Ao vê-la rodeada dos amigos da empresa, um leve sorriso surgiu.
— Eu ia perguntar se já estava aceitando visitas… mas pelo visto cheguei atrasado. — Brincou.
Eles riram, enquanto o cumprimentava novamente. Victor se aproximou da cama. Aki o olhou nos olhos.
— Eles invadiram o quarto — brincou ela, em tom de acusação.
— Ainda bem que invadiram, então. Vejo que te trouxeram alegria, né? — Respondeu em um tom não comum. Os amigos presentes até se surpreenderam pelas suas palavras.
— Trouxemos comida também! — Sayuri respondeu, quase imediatamente, se levantando e pegando a sacola. — Comida saudável para nossa amiga doentinha.
Após mais alguns diálogos brincalhões, contaram algumas fofocas do dia e, logo, o horário de visitas se encerrou. Então, se despediram e os três amigos da Elegance Affairs foram embora.
Victor se acomodou na poltrona, de forma desleixada. — Hoje estou cansado. — Comentou, despretensiosamente.
Aki ergueu a sobrancelha, surpresa. Pelo que lembrava, foi a primeira vez que viu Victor “reclamar” ao fim de um dia.
— Por que não dorme em casa hoje? Para você descansar. — Propôs Aki, mesmo a contragosto. Por mais que desejasse a presença dele, era visível o seu cansaço e dormir na poltrona não era a melhor sensação do mundo.
— Sem chance. Amanhã é sábado, não preciso me preocupar com o cansaço. Não vou te deixar sozinha aqui. Afinal, você não gosta de hospitais, certo?
Ela sentiu uma felicidade crescente pelo cuidado e sorriu.
— Fico feliz.
Então, após mais um pouco de conversa, Aki estava se sentindo meio tonta, provavelmente por causa dos remédios fortes que estava tomando. Por isso, foi dormir. Victor também aproveitou o momento e adormeceu ali, na poltrona.
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