Capítulo 78: O peso da responsabilidade
09 de fevereiro de 2024, sexta-feira.
A sala era ampla, com janelas de vidro que iam do chão ao teto, revelando parte da paisagem urbana do centro de Tóquio no fundo, enquanto o entorno era uma espécie de jardim. Um telão ao fundo exibia gráficos e projeções de crescimento. A reunião internacional estava em andamento há pouco mais de quarenta minutos.
Victor observava tudo atentamente. Ele mantinha a postura, os olhos voltados para os dados apresentados, mas o coração… o coração parecia fora de compasso. Sua mão direita, repousando sobre a coxa, apertava discretamente o tecido da calça social, em uma tentativa de controlar a ansiedade que começava a se intensificar.
“Respira… Um, dois, três…” — Repetia mentalmente.
Ele já havia falado em público antes, muitas vezes. Já havia participado de outras reuniões e, justamente por isso, a ansiedade parecia lhe corroer. O peso da responsabilidade era gigantesco.
Ali estavam nomes influentes, investidores de peso — e, mais importante: ele estava ali como representante oficial da Elegance Affairs, escolhido por mérito próprio, mas também por confiança depositada nele por seus superiores e colegas. E entre todas essas pessoas, havia uma presença que o afetava mais do que qualquer outra: Aki, sentada à sua esquerda, com o olhar sereno, prestando atenção à fala de um executivo chinês.
Quando o nome de Victor foi mencionado, com um convite formal para fazer uma breve apresentação em nome da empresa, ele sentiu seu estômago revirar.
— Senhor Victor… — a anfitriã japonesa disse, em inglês, assim como toda a reunião, e com um aceno cortês. — Se puder nos brindar com algumas palavras sobre os próximos passos da Elegance Affairs em seu setor de atuação.
Todos os olhares se voltaram para ele.
Victor se levantou devagar. O nó da gravata parecia mais apertado do que antes. Seu corpo respondeu com um leve tremor nos joelhos, rapidamente disfarçado por um passo firme. Pegou o pequeno controle do projetor nas mãos, e caminhou até o púlpito diante da tela, organizando alguns papéis ali em cima.
A luz sobre ele era sutil, mas o suficiente para fazê-lo sentir como se estivesse sob um holofote.
“Respira… Vai dar tudo certo…” — tentou dizer mentalmente, mas seu coração ainda batia rápido demais.
Por um instante, ele olhou de relance para Aki. Ela estava atenta, e ao notar o olhar dele, ofereceu um leve sorriso com um quase imperceptível aceno de cabeça. Aquilo foi o suficiente para ele ganhar força e coragem.
Ele apertou o controle em mãos e começou a falar, em inglês:
— Boa noite a todos. Como já dito, meu nome é Victor e falarei em nome da Elegance Affairs…
Sua voz saiu mais firme do que ele esperava, mas internamente, ainda havia turbulência e inquietação. Sentia como se cada palavra exigisse controle, como se um descuido pudesse revelar seu nervosismo.
Ele prosseguiu, tentando não olhar diretamente para os rostos que o encarava. Em vez disso, alternava entre o telão e um ponto fixo ao fundo da sala.
— Nossa empresa acredita que eventos são mais do que apenas celebrações. São experiências… momentos que conectam as pessoas emocionalmente. É por isso que nossos investimentos em tecnologia, integração virtual e parcerias, tanto nacionais quanto internacionais são fundamentais para nossa visão para os próximos anos.
Então ele faz uma pausa. O silêncio pareceu mais denso do que qualquer barulho. O coração ainda acelerado. As palavras ensaiadas voltavam à mente, mas não como um roteiro decorado… algo mais natural, mas era difícil raciocinar naquela situação.
Apesar das experiências anteriores, fazia um bom tempo que não carregava tamanha responsabilidade nas costas, era um peso quase sufocante, amedrontador. Os anos em que ficou sem participar de algo assim, lhe dava a sensação de ser neófito e hesitar.
Victor engoliu seco, e num gesto quase imperceptível, encostou os dedos na fita de cerejeira no pulso — o fitilho que Haru lhe dera, assim como na pulseira que Aki lhe deu de presente em seu aniversário. Um gesto pequeno, mas que o conectava com algo maior. Uma esperança, uma força especial. Aqueles objetos tinham um valor imensurável para Victor, era quase um tesouro sagrado.
Ele continuou:
— Não estamos apenas nos adaptando às tendências do mercado. Estamos nos antecipando a elas e moldando-as — com empatia, propósito e uma forte crença na conexão humana.
Então fez uma pausa, respirou fundo. Percebeu, enfim, que sua voz não havia tremido. Que não havia tropeçado. Que, mesmo com os batimentos ecoando em sua cabeça como um tambor, ele havia conseguido. Mesmo hesitante, conseguiu manter o roteiro.
Um burburinho começou, enquanto Victor aguardava alguma manifestação, principalmente dos investidores internacionais. Foi quando Li Wei, um homem de meia-idade, num terno impecável, bigode e cabelos já grisalhos, perguntou:
— Como a empresa está lidando com riscos potenciais, como instabilidades políticas ou mudanças econômicas globais? E o que está sendo feito para garantir a continuidade dos negócios em situações adversas?
Victor engoliu seco, sabendo que suas próximas palavras podiam traçar o destino da Elegance Affairs. Seus pensamentos estavam acelerados e ele tentava manter a calma.
— Desde o ano passado, desenvolvemos um plano robusto de gerenciamento de risco. Trabalhamos com cenários projetados, prevendo desde interrupções de fornecimento até mudanças drásticas em políticas de importação e exportação. Além disso, nosso time jurídico e estratégico acompanha de perto o cenário internacional para que possamos agir preventivamente. Claro, estamos começando a expansão internacional agora, contudo, já estamos com tudo arquitetado e preparados para possíveis obstáculos, buscando o melhor resultado possível.
Um breve silêncio, quando outro investidor levantou sua mão. Era um homem britânico, chamado Alexander Mitchell.
— E quanto à expansão internacional? Já há planos para novos mercados? E como pretendem enfrentar os desafios específicos de cada região?
— A Elegance Affairs não pretende expandir para além do mercado de eventos. Nosso foco total, desde a criação da empresa, é dar momentos inesquecíveis para nossos clientes. Sempre procuramos melhorar nossas tecnologias, nossa forma de trabalhar e nossos parceiros. Como podemos ver nesse gráfico… — Victor aponta para o telão, que projetava informações de satisfação dos clientes dos últimos doze meses.
Todos observaram atentamente o que estava sendo projetado, enquanto Victor continuou:
— Tivemos um aumento exponencial da satisfação dos nossos clientes, desde que adotamos certas políticas. E isso, além de gerar uma relação muito agradável com os clientes, trazendo fidelização, aumenta ainda nossos lucros. — Então, passa o slide e outro gráfico mostra informações financeiras. Alguns representantes presentes ficaram atônitos com o grande desenvolvimento em apenas um ano.
Nesse momento, Sophia Richter, representando a Teutonic Finance Partners, da Alemanha, pede a oportunidade para falar:
— Quanto à fidelização de clientes e sobre aumento de receita, como a Elegance Affairs está trabalhando com isso?
— Temos uma equipe especializada que cuida do pós-evento, colhendo críticas e sugestões. Além disso, temos funcionários treinados que participam como supervisores nos eventos, sempre buscando pontos a melhorar. Juntando esses fatores, essa atenção especial, os clientes sempre nos procuram novamente. — E num próximo gráfico, mostra os resultados de fidelidade, com quais clientes procuraram a empresa novamente no último ano. — E, segundo nosso planejamento, teremos um aumento satisfatório na receita ainda esse ano, dentre outros motivos, esse é um dos pontos para a expansão internacional da Elegance Affairs.
Victor engoliu em seco, quando percebeu que todos o olhavam atentamente, enquanto anotavam e cochichavam entre si.
— E a sustentabilidade? Quais são os esforços reais da empresa em responsabilidade ambiental e social? — Um dos investidores perguntou, após levantar a mão e ter a palavra.
Victor percorreu alguns slides, até encontrar a imagem que queria. Uma tabela informando políticas em implementação pela Elegance Affairs após algumas reuniões recentes, envolvendo outras empresas — e novas parcerias, com empresas que procuram meios sustentáveis.
— Pretendemos, dentre dois anos, trabalhar somente com empresas que priorizam a sustentabilidade. Além disso, a Elegance Affairs tem trabalhado arduamente com ONGs sociais, com a mentalidade de que isso não se trata de marketing, mas de um dever. — Seguindo os slides, mostravam imagens e informações de campanhas em que a empresa estava envolvida, sobre projetos sociais e práticas mais ecológicas.
Um aceno de cabeça quase coletivo pôde ser notado. Victor sabia o peso que suas palavras tinham, e estava fazendo o seu melhor para mostrar o potencial da Elegance Affairs. Não somente o chefe Akashi estava depositando sua fé nele, mas como ele falava por todos os funcionários naquele momento, representando todo o conjunto da obra.
Sentia o suor frio escorrendo em suas costas e minando em sua mão, causando um arrepio pelo seu corpo. Suas pernas queriam vacilar, porém, ele se mantinha firme. Uma expressão séria, mas serena, estampava seu rosto. Nem rindo à toa, nem carrancudo. Algo como “digno de um representante”.
Contudo, foi ao ouvir a próxima pergunta, de um dos investidores do Reino Unido, que sua expressão cedeu para um sorriso satisfeito, sabendo que finalmente teria a oportunidade de anunciar algo extraordinário. Por mais que sentisse o peso da responsabilidade de estar ali, era também uma oportunidade única para fazer um grande anúncio.
— Senhor Victor, como a Elegance Affairs tem investido em inovação e tecnologia para se manter competitiva, especialmente diante de um mercado cada vez mais digital e exigente?
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.