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    10 de fevereiro de 2024, sábado. 

    O aquecedor estava ligado, e o ambiente tinha um cheiro adocicado, levemente amadeirado, graças à vela aromática que queimava sobre a mesinha de centro. O frio externo parecia não alcançar o aconchego proporcionado naquela sala. 

    Victor estava na bancada da cozinha, terminando de separar ingredientes, deixando tudo pré-montado para quando Aki chegasse. Já tinha preparado todo o cardápio, planejando toda a sequência de drinks. Queria mostrar para a japonesa algumas bebidas diferentes que costumava preparar quando estava no Brasil, em noites frias. 

    Ele ajeitou a gola do suéter que usava, enquanto se aproximava do sofá. Sentou, pegando o celular e conferindo algumas mensagens. Seus olhos percorriam a tela, enquanto deslizava com o dedo. Então, usando os dois dedões para digitar, respondeu algumas mensagens, incluindo Matheus, João Batista, Rosália, Bruno e Marye. Percebeu também que havia chegado um e-mail do chefe Akashi, e aproveitou para ver do que se tratava. 

    Era um contrato que a equipe recém formulou para um tipo específico de eventos, que seria introduzido na próxima semana. Akashi pediu para que Victor olhasse e desse sua opinião sobre os termos e informações. Apesar de sentir-se imensamente honrado com o chefe Akashi, também pensava que o chefe acabava superestimando ele. Então, queria corresponder às expectativas daquele homem que tanto lhe ajudou. 

    Passou um tempo e Victor havia acabado de ler e responder seu chefe, quando o som da campainha ecoou pela sala. O brasileiro rapidamente se levantou e caminhou até a porta, abrindo-a e se deparando com a garota que ele esperava. 

    Aki usava um vestido vinho, com mangas curtas e um tecido que parecia ser de lã, por baixo de um sobretudo preto que harmonizava com a outra peça. Além disso, estava de botas de cano curto e meia calça. 

    Seus longos cabelos pretos estavam soltos, exceto por uma touca tricotada que cobria sua cabeça e um cachecol no pescoço, apesar disso, seu rosto estava à mostra. Seus lábios estavam decorados por um batom levemente avermelhado. 

    — Boa noite, Aki! — Ele cumprimentou, abrindo espaço para ela entrar e gesticulando. — Está frio aqui fora.

    — Obrigada, boa noite. — Ela respondeu, e quando entrou, tirou a touca e o cachecol que usava até chegar ali. Agora seu rosto estava mais visível, sendo possível notar um par de brincos de pérolas delicadas em suas orelhas. 

    Ao sentar-se no sofá, ela comentou: — Aqui está quentinho. Lá fora está muito frio. Tipo, muito frio. Disseram que seria um dos dias mais frios do ano aqui em Tóquio. Eu estava com medo de virar lenda urbana. 

    Ela riu e Victor notou que seu sorriso era hipnotizante para ele. Seu coração acelerou ao presenciar isso e queria poder continuar ali, observando ela se divertindo. A pele clara harmonizando com os olhos âmbar e seus lábios, agora mais escuros que o normal, emoldurados por seus longos cabelos pretos. Era quase uma pintura perfeita para ele.

    Sorrindo de volta, respondeu: — Bom, eu pensei em uns drinks para esquentar o corpo, espantar esse frio. Podemos começar que horas? 

    — Quando você quiser. Hoje eu sou a convidada, né? — Ela brincou, em um tom quase provocativo. 

    Victor arqueou a sobrancelha, e assentiu.

    — Certo, entendi. Espere aqui, vou servir o nosso primeiro copo da noite. 

    Levantou-se e caminhou até a cozinha, demorando algum tempo. Aki apenas ouviu as chacoalhadas de uma coqueteleira, quando um delicioso aroma invadiu a sala, além da delicada fragrância do incenso de baunilha.

    Notas de café e baunilha se misturavam, de forma harmônica, parecendo que foi detalhadamente pensado e calculado. Victor trouxe duas taças, que tinham uma longa estrutura fina e um recipiente largo em cima, preenchido por aproximadamente dois terços com uma bebida escura e uma parte cremosa e espumosa por cima. 

    — Eu tomava muito esse drink no Brasil, em noites de inverno. É um dos meus preferidos. — Ele entrega uma das taças para Aki, e se acomoda ao seu lado. — É feito com uísque, licor de café e uma mistura com creme de leite. Experimenta. 

    Aki sentia a essência deliciosa que exalava da bebida como um verdadeiro convite olfativo e visual, pois também era bonito. Ela levou até a boca e foi surpreendida pelo sabor marcante. O álcool era pouco sentido, enquanto o café se sobressaia, porém, com a espuma dando um contraste adocicado. Seus olhos brilharam. 

    Ela levou a mão ao rosto, quando comentou: — É delicioso… e muito diferente! 

    Victor sorriu. Eles continuaram conversando por alguns minutos, enquanto terminavam a bebida. Aki sentia seu coração batendo mais rápido. Apesar de já estar acostumada a ficar sozinha com Victor, aquele momento, aquele clima que se formava, lhe dava uma ansiedade crescente. 

    Victor trazia uma caneca transparente, com uma bebida em um tom escuro e translúcido, avermelhado, com uma borda levemente espumante, com meia rodela de limão, além de anis-estrelado e canela em pau. Era um drink quente de vinho, com esses ingredientes.

    O aroma era delicioso e quando Aki pegou a sua parte, sentiu a fragrância ainda mais intensa. Sentiu um aumento de saliva na boca, e logo deu um pequeno gole. O sabor era intenso, encorpado, com notas cítricas e amadeiradas. 

    Após tecer elogios, continuava a degustação. Falaram, ainda, de outros assuntos, como o frio, relembraram alguns momentos da viagem que tiveram e falaram um pouco sobre outros tipos de bebidas. 

    Aki já segurava a bebida “sobremesa” da noite. Era uma caneca um pouco maior que a anterior, preenchida em quase sua totalidade com uma bebida escura, cremosa, com uma espuma por cima e uma causa finalizando. Era um drink de chocolate quente.

    O aroma é adocicado e o sabor intenso. Uma mistura de chocolate amargo, com um doce da espuma e o sabor alcoólico no fundo, era uma harmonia para o paladar. Aki bebeu, enquanto comentavam coisas aleatórias. Ela chegou a dizer que queria outro dia como esse, com outras bebidas diferentes. 

    A terceira rodada de drinks havia chegado ao fim, e o calor dentro do apartamento era reconfortante, contrastando com o frio lá fora. Aki havia retirado o casaco e agora estava apenas com o vestido de lã vinho, sentada com as pernas dobradas sobre o sofá. Victor, do outro lado da mesa de centro, recolhia os copos vazios, levando-os para a pia. 

    “O Victor é tão incrível…” — Aki divagou por alguns instantes, quando ele retornou e sentou no outro estofado, já que ela estava ocupando mais de um espaço. 

    — O que achou? — Perguntou, despretensiosamente. 

    — Foi tudo muito delicioso! É incrível como você consegue fazer tantas coisas assim, tão legais! — Ela respondeu, num tom de empolgação. 

    Talvez pelo efeito do álcool, Aki estava falando de forma ainda mais expressiva. 

    — E você está bem? — Ele a provocou, insinuando se ela não estaria bêbada. 

    Aki bufou, com falsa raiva, esticando os braços, se jogando para trás, no braço do sofá, como se estivesse espreguiçando: — Claro que estou! 

    Victor assentiu, mas continuou antes que ela pudesse continuar: — E você quer mais alguma bebida ou está satisfeita? 

    — Só se for algo sem álcool. Sinto que se eu beber mais alguma coisa alcoólica, vou acabar dormindo aqui mesmo. — Ela recostou a cabeça no braço do estofado. 

    — E o problema seria…? — Victor provocou novamente. Seus olhares se encontraram por alguns segundos, acompanhados de um silêncio. 

    — Você teria que carregar meu corpo inconsciente até o quarto, para eu não me resfriar. E isso seria… embaraçoso? 

    Ele então se levantou, ficando bem próximo dela: — Já fiz isso outras vezes. Não é um problema… — Um leve sorriso se formou em seus lábios, quase como alguém prestes a fazer uma travessura. 

    Aki sentiu suas bochechas arderem, mas não queria recuar da situação. Seus pensamentos estavam muito confusos para raciocinar, como se quisesse se entregar ao momento. Ela, então, levantou o corpo um pouco, fazendo um movimento leve para se levantar.

    — É, faz sentido… Mas acho que vou ficar só na água. — Quando se levantou, talvez pelo efeito do álcool, ou apenas do cansaço, ou talvez apenas um incidente, ela se desequilibrou, tombando para o lado. Victor, imediatamente, tentou segurá-la, e o impulso acabou fazendo com que se colidissem e caíssem sobre o sofá. 

    Aki estava sentada, e Victor ficou apoiado com as mãos no estofado, bem à sua frente. Os rostos próximos… muito próximos. Próximos o suficiente para sentirem o calor um do outro. 

    O tempo congelou por alguns segundos. Não ouviram nada, como se não existisse nada além daquele momento.

    A respiração dela era suave, mas rápida. Os olhos de Victor se fixaram nos dela, e, por um instante, nenhuma palavra foi dita. O mundo parecia ter silenciado ao redor — só existiam eles dois, presos naquela bolha de silêncio e expectativa.

    Aki sentiu o coração bater forte. As bochechas queimavam. O contato do corpo dos dois, com o joelho dele encostado na sua perna. A respiração de Victor um pouco mais pesada. 

    Victor percebeu o rubor intenso nas bochechas dela e seus olhos brilhavam. A fragrância alcoólica era sentida de suas respirações, agora mais intensas. Os olhos dela brilhavam. 

    — Victor… — sussurrou, quase sem querer.

    — Desculpa… — ele disse baixo, sem se afastar.

    Mas não havia desconforto. Havia hesitação. Os olhos dele desceram até os lábios dela, e os dela fizeram o mesmo. Foi instintivo.

    Eles se inclinaram… só um pouco… o suficiente para que os narizes quase se tocassem.

    Quase.

    Um estrondo repercutiu por todo local, resultado de um trovão que acabara de explodir no céu, seguido de um clarão que iluminou levemente pela janela. 

    Os dois recuaram lentamente, como se tivessem acordado de um sonho. Victor limpou a garganta e desviou o olhar, coçando a nuca.

    — Parece que vai chover… — Sua voz falhou momentaneamente, quase imperceptível. 

    Aki ainda tentava se recuperar, sua respiração estava pesada, sentia uma sensação diferente no estômago, como se estivesse borbulhando. O cheiro do Victor, o toque, a voz, ainda estavam vívidos em seus sentidos. Ela se levantou: 

    — Acho que é melhor eu ir, antes que a chuva caia. 

    — Não. — Victor respondeu, quase imediatamente. — Digo, é melhor não sair com esse tempo. Não quer dormir aqui? — Perguntou, hesitante. — Prometo não fazer nada. — Ele ergueu as mãos, falando num tom de brincadeira, tentando deixar o clima mais leve. 

    Ela já havia feito isso antes e não parecia um problema, tirando o fato de sua total confusão. Mas parecia a melhor opção, apesar dela não ter trazido roupa. Enquanto pensava nisso, Victor pareceu ler sua mente: 

    — Se você não se importar, posso te emprestar uma roupa…

    Aki ficou em choque, por um instante, antes de se decidir. Ela acabou aceitando. 

    Ela tomou banho, enquanto uma forte chuva começou do lado de fora. O frio se intensificou, e até mesmo com o aquecedor ligado, parecia não ser o suficiente. Ela vestiu uma muda de roupas que Victor lhe emprestou: Uma camisa branca, uma calça de moletom preta e uma blusa de frio preta. Victor ofereceu para ela o mesmo quarto da outra vez e ela entrou, pronta para dormir. 

    Mesmo que inquieta com a situação, não demorou muito para pegar no sono. O cansaço da semana, da reunião do dia anterior, o efeito do álcool… foi como um condutor de sono. 

    Victor também adormeceu rápido, mesmo que estivesse bastante pensativo sobre tudo que aconteceu e estava acontecendo. 

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