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    12 de fevereiro de 2024, segunda-feira. 

    Mais um dia comum na Elegance Affairs. O céu está parcialmente nublado, contribuindo para mais um dia frio e de alta umidade. Tons acinzentados manchando a vasta imensidão azul. 

    Dentro da empresa, os funcionários faziam seus respectivos trabalhos. O expediente começou há pouco e tudo corria normalmente. Foi no meio dessa normalidade toda, que Victor recebeu uma mensagem inesperada do irmão de Aki, Natsu. Que dentre outras palavras, uma frase, em particular, chamou a atenção de Victor: 

    “(…) hoje é o aniversário da Aki…” 

    “O aniversário dela é hoje?!” — Pensou, atônito. “Eu não sabia, e não comprei nada para dar a ela, nem uma lembrancinha. Mas, o que eu deveria comprar?” — Ele, então, entrou quase numa crise de pensamentos. 

    Trocou mais algumas mensagens com Natsu, que não perdeu a oportunidade de provocá-lo em relação ao seu relacionamento com a Aki. Victor, porém, não ligou e apenas continuou a conversa. 

    Ele sabia que não tinha muito tempo para decidir e pensou em não falar nada com ela agora. Mas parecia inevitável. Começando por Sayuri e Yumi que entraram no escritório gritando “parabéns” para ela. 

    Victor revirou os olhos, colocando a mão na testa, vendo que seu plano de fingir não saber acabara de falhar miseravelmente. Aki, envergonhada pela atitude das amigas, tentava contê-las, já que estavam em horário de lanche e foram parabenizar a aniversariante. 

    Não demorou muito e outros colegas, quando tiveram a oportunidade, foram cumprimentá-la e desejar felicidades. O brasileiro viu toda aquela cena como se o deixasse ainda mais sem tempo.

    Na hora do almoço, os amigos decidiram fazer uma brincadeira e cantaram parabéns no meio de todo o salão, que era usado para o almoço. Justamente, nesse dia, todos estavam reunidos ali, já que era comum alguns comerem fora.

    Victor ficou pensando em como faria para comprar algo para ela. Porém, assim que voltou do almoço, o chefe Akashi o chamou em sua sala. Era um pedido de última hora, para que o brasileiro fosse até uma empresa do outro lado de Tóquio e levasse alguns documentos presencialmente, além de uma breve reunião sobre um evento futuro. 

    “Isso que é o destino que a Aki tanto fala?” — Ponderou. 

    Ele informou Aki sobre a necessidade de sair da empresa mais cedo e não quis perder a oportunidade, então, a convidou: — O que acha de sairmos hoje a noite? 

    Ela se surpreendeu pelo convite, não estava esperando isso. Ainda mais considerando o fato do que aconteceu no final de semana. 

    Aki se levantou logo cedo no domingo, mas Victor já estava preparando um café da manhã para eles. 

    — Eu já te falei que essa roupa é muito bonita? Quem escolheu tem bom gosto. — Victor brincou, já que as roupas eram dele. 

    — Bobo… Mas tenho que admitir, são confortáveis. 

    — E como você está se sentindo? — Victor perguntou, após mais alguns instantes de conversa. 

    — Estou bem, consegui dormir muito bem. Obrigada. 

    Mesmo com o diálogo natural, Aki ainda sentia o coração levemente acelerado. Dormir na casa de Victor era, embora agradável, de certa forma, embaraçoso. 

    Depois de comerem, Aki se trocou e foi embora. Eles conversaram normalmente pelo aplicativo de mensagens no restante do dia. 

    Agora, ela precisava dar uma resposta:

    — Cl – claro! — Ela respondeu. — Aonde vamos? 

    — Isso vai ser surpresa. Até mais tarde. — Victor respondeu e saiu da sala, indo resolver o trabalho dado a ele. 

    O som ritmado de passos e vozes ecoavam sob o teto envidraçado do shopping. Luzes brancas refletiam no piso brilhante do shopping. As vitrines, também de vidros, em sua maioria, traziam um ar de elegância e sofisticação. O clima interno, controlado, era agradável, fora a fragrância natural do ambiente. 

    Do lado de fora, o céu cinzento pintava a cidade com tons pálidos, e a brisa de inverno escapava para o interior sempre que as portas automáticas se abriam. Ao olhar para o teto, foi possível perceber gotículas de uma leve garoa que caía naquele momento. Victor ajeitou seu agasalho, um casaco cinza, quando passou novamente em frente aquela porta. 

    Era sua terceira volta pelo andar principal.

    Andava sem pressa, mas também sem muita direção. Havia passado pelas seções de perfumes, roupas e acessórios, encarando pulseiras, brincos, anéis e outras quinquilharias que pareciam mais genéricas do que especiais. Nada parecia bom o suficiente. Nada parecia marcante. 

    Havia prometido a si mesmo que não deixaria essa escolha para depois. E foi como um presente do destino essa “missão” dados pelo chefe Akashi, assim, pôde passar ali. Embora estivesse gastando mais tempo do que gostaria. Não queria qualquer presente — queria algo que realmente representasse o que Aki significava. Ou algo nesse sentido. Mas quanto mais tempo passava, mais difícil parecia essa tarefa.

    Parou diante da vitrine de uma loja de artigos criativos. Canecas com frases engraçadas, cadernos artesanais, pelúcias com roupas de animais… tudo era fofo, mas parecia jovem demais. Adolescente demais. Ele até riu de uma caneca com o desenho de um polvo dizendo “Deu ruim!” com uma careta caricata, mas seguiu em frente.

    Em outra loja, especializada em papelaria, Victor entrou e percorreu os corredores cheios de cartões decorados, papéis de carta delicados e envelopes perfumados. Pegou um cartão com ilustrações aquareladas de um céu estrelado e leu a mensagem:

    — “Mesmo em silêncio, sua presença é o meu lar.”. — Murmurou.

    Ele guardou o cartão de volta. Bonito, mas não o bastante.

    “Não quero que pareça só palavras vazias. Tem que ser algo mais especial, talvez… .”

    Continuou sua jornada. Na seção de cosméticos, encarou perfumes de frascos requintados e linhas de cuidados pessoais. Pegou uma fragrância floral, testou no papel. O cheiro era bom, mas a sensação que teve era de estar escolhendo algo por impulso. Mais um gesto de gentileza, não algo realmente simbólico.

    Passou por alguns cremes de pele, parou e analisou. Tinham uma embalagem bonita, pareciam bons e funcionais. Mas ainda carregava aquele mesmo ar de simplicidade e de algo genérico. 

    Quando passou por cosméticos, olhou algumas maquiagens: Batons, rímel, sombras, blush, esmaltes… Era quase uma infinidade de opções. “Maquiagem? Não, não venha com essa… nada a ver dar isso a ela assim… do nada…” — Analisou. 

    Suspirou pesadamente, quase em desgosto, e saiu da loja, esfregando as mãos no bolso do casaco. O calor interno do shopping não era suficiente para afastar o frio que crescia em sua mente, apesar do suor em suas mãos. Uma espécie de ansiedade. Ele queria impressioná-la, mas mais do que isso — queria tocar o coração dela, como ela vinha tocando o dele… 

    “Talvez hoje seja a oportunidade de dizer algo para ela…” — Pensava, e juntando isso ao fato do aniversário, queria dar um presente realmente marcante. 

    Na seção de roupas, se aproximou de uma arara com casacos femininos. Chegou a imaginar Aki vestindo um deles — um de lã, bege, com botões forrados. Mas aquilo não parecia pessoal o bastante. Roupas eram… complicadas. Íntimas de um jeito estranho. E ele não queria correr o risco de parecer invasivo.

    Foi quando entrou em uma joalheria pequena, charmosa, escondida entre uma loja de relógios e uma cafeteria francesa.

    Não era exatamente o tipo de loja para onde Victor normalmente iria. Mas seus olhos foram fisgados pelas luzes suaves refletidas nos pequenos displays de vidro. A vitrine não era extravagante, como nas lojas de marcas famosas. Pelo contrário, era discreta, quase modesta. O que a tornava ainda mais elegante.

    Uma atendente jovem o recebeu com um sorriso:

    — Boa tarde! Procurando algo específico?

    Victor hesitou, pensando em como deveriam classificar sua relação com Aki. 

    — Um presente. Para uma garota. Uma amiga… muito especial. — Falou, com certas pausas, tentando encontrar o que falar.

    A funcionária pareceu entender imediatamente. Convidou-o a entrar e o guiou até uma seção com pingentes e colares inspirados na natureza, constelações, flores e formas minimalistas.

    —Alguma data especial? — ela perguntou.

    —Não. Quer dizer… sim. É aniversário dela. Eu quero algo especial, mas não sei exatamente o quê. — respondeu, sem perceber que sorria.

    Foi quando seus olhos pousaram sobre um colar de prata. O pingente era uma estrela cadente, delicadamente esculpida, com uma cauda fina de metal que cintilava com pequenas pedrinhas claras. 

    “Esse colar, me lembra aquele dia em Nagano…” — Divagou brevemente. “Será que ela lembra da mesma forma?” — Algumas dúvidas surgiram em sua mente e ele tentava decifrar. 

    —Essa peça chegou essa semana — comentou a atendente, notando o interesse dele. — É inspirada na ideia de que, ao dar uma estrela cadente, você entrega também um desejo. Uma promessa, talvez. — Falou num tom como de curiosidade, como se tentasse descobrir a motivação dele. Uma bela jogada de vendedora.

    Victor não disse nada. Apenas ficou observando o colar, imóvel, como se ele tivesse finalmente encontrado o que procurava.

    Pensou nas palavras que queria dizer, na reação de Aki ao abrir a caixa. Mas, mais do que isso, como ela iria reagir se ele confessasse o que sentia? Iria parecer estranho dizer isso, logo após dar o presente? Ele tentava organizar as ideias, enquanto se decidia. 

    — Eu vou levar. — disse, com convicção, após muito pensar.

    A atendente embalou a peça em uma caixinha de veludo azul escuro, com uma fita prateada. Victor a pegou e guardou numa sacola que a loja disponibilizou.

    Quando saiu da loja, voltou a andar pelo shopping com passos mais leves. O presente estava decidido. Agora era só esperar.

    “Eu chamei ela para sair, mas… onde deveríamos ir?” — Só agora botou que não tinha decidido onde iriam. Então, como uma crise de pensamentos, foi bombardeado por ideias próprias e tentativas de achar um local, mentalmente.

    Ele parou diante da grande janela de vidro do último andar, observando o céu de fim de tarde. A cidade abaixo seguia apressada, enquanto o céu tingia-se de azul escuro e luzes começavam a acender na rua. Foi quando viu um letreiro, um outdoor, com a seguinte frase:

    “Aproveite as coincidências que a vida oferece!”

    Victor então, rapidamente, pegou a caixinha em mãos, analisando-a cuidadosamente, enquanto a paisagem de fundo parecia dar um charme à imaginação. 

    “Eu não costumo crer nessas superstições, mas dessa vez… Não me decepcione, destino! Vou acreditar em você!”

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