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    12 de fevereiro de 2024, segunda-feira. 

    O pedido saiu como um desabafo — um grito que estava preso há muito tempo na sua garganta, talvez meses, de sentimentos guardados, de dúvidas. Seus olhos, um pouco úmidos, tremiam com expectativa.

    Victor ficou sem reação por alguns segundos. O coração acelerou e a garganta pareceu secar. A pergunta o pegou desprevenido, como um vendaval que desarma uma construção cuidadosa. Ele respirou fundo, abaixando um pouco o olhar, pensativo. Depois, o ergueu novamente, encarando-a com seriedade.

    — Aki… você é uma pessoa extraordinária. Sincera, gentil, determinada… — começou, em um tom mais baixo, quase hesitante. — Eu não faço ideia de onde estaria agora se não fosse por você. Talvez… talvez eu nem estivesse mais aqui na Elegance Affairs. Talvez nem no Japão. Talvez… nem conseguindo sorrir como sorrio agora. Ou talvez, nem vivo…

    Aki permaneceu em silêncio, absorvendo cada palavra com atenção, quase como se prendesse a respiração.

    — Foi por sua causa que consegui aquele contrato importante pra empresa… foi por sua causa que reaprendi a sair de casa, a rir, a me permitir viver de novo. Você foi esse ponto de virada na minha vida, mesmo sem perceber. — Ele respirou fundo, e continuou, agora mais suave:

    — E… eu não me importaria nem um pouco se tivesse que acordar todos os dias com um “bom dia” seu. Na verdade… eu gostaria. — Seus olhos desviaram por um segundo, e ele engoliu seco. — Também não me importaria de cozinhar pra você… ou de comer sua comida… pelo resto da minha vida. Não me importaria mesmo de passar toda minha vida ao seu lado…

    Ao dizer isso, ele congelou. Os próprios ouvidos pareciam ter captado suas palavras com atraso. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, e ele imediatamente desviou o rosto, passando a mão pelos cabelos, nervoso.

    — Er… quer dizer, eu não quis dizer assim tão literalmente… ou talvez tenha…? Não sei… é… — murmurou, perdido, tentando encontrar uma forma de recuar, mas já era tarde.

    “Droga! O que eu estou falando?! Se controla! Se organize!” — Uma briga interna começou, com ele tentando se organizar. 

    O silêncio entre os dois agora era espesso, carregado. Aki o olhava fixamente, o rosto corado e o coração acelerado. Ela não sabia o que dizer — não porque estava brava ou surpresa, mas porque sentia como se muitas coisas tivessem fazendo sentido agora, como se uma explosão de cores atingisse um mundo preto e branco. 

    “Ele… falou isso mesmo?”, ela pensava, e sua mente se embaralhou entre alegria, dúvida, emoção e medo.

    Victor ainda estava com o olhar desviado, mordendo levemente o lábio, claramente constrangido.

    Foi então que Aki, respirando fundo, deu um pequeno passo à frente. Seu rosto, ainda tímido, trazia um sorriso vacilante. Seus rostos estavam a poucos centímetros um do outro, e ela com um olhar difícil de explicar.

    — Você… acabou de dizer que passaria a vida comigo? — perguntou em um tom entre a provocação suave e o espanto genuíno. Estava tentando mascarar todo seu nervosismo com essa pequena provocação.

    Ele riu, envergonhado, e coçou a nuca.

    — É… eu percebi depois que já tinha falado. Mas… — Olhou para ela agora, diretamente — Não acho que tenha sido mentira… — Então, ele desvia novamente o olhar. 

    Victor ainda tentava encontrar as palavras certas para sair daquela situação constrangedora que ele mesmo havia criado. Seu coração batia forte, como se quisesse pular do peito. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu seu nome:

    — Victor… — A voz de Aki o chamou, suave e trêmula, carregada de emoção.

    Ele se virou, e naquele instante, os olhos dela estavam úmidos e brilhantes, tão próximos que pareciam poder ser tocados. Eram como duas jóias preciosas brilhando numa moldura perfeitamente elaborada para elas. Antes que qualquer um dos dois pudesse pensar em outra coisa, Aki avançou e o beijou.

    Foi rápido. Um toque leve, impulsivo… mas, ainda assim, tão cheio de tudo o que guardara dentro de si. Por um instante, o tempo pareceu suspenso. Os batimentos de seu coração martelavam tão forte em seu peito que ela teve certeza de que ele poderia ouvi-los. Seu corpo inteiro tremia, um calor súbito subindo de seu estômago até o rosto, queimando suas bochechas de vergonha, de nervosismo — mas também de esperança.

    “Então, é assim que é um beijo…” — Pensou, enquanto, nos poucos instantes que durou, tentou aproveitar e entender tudo que acontecia. 

    Os lábios quentes, com um sabor de chocolate que comeram a pouco. Estava receosa por nunca ter feito isso antes, talvez com medo de fazer algo errado, mas continuou 

    — Victor, eu te amo. — Confessou, quando se afastou ligeiramente, ainda olhando fixamente em seu olhar. 

    Aki respirou fundo, reunindo coragem para continuar, mesmo com a voz embargada.

    — Eu queria te falar isso muito antes… mas eu tinha medo. Medo de que isso mudasse tudo que a gente tem. Eu não quero te perder, Victor.

    Seus olhos se fecharam por um instante, como se precisasse se proteger da resposta que ele poderia dar. E então, ela o abraçou, com força, como se estivesse tentando segurá-lo ali, junto dela, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Além disso, o calor dele trazia um conforto para ela, ajudando-a a reunir coragem e continuar.

    — Eu realmente me apaixonei por você… e é a primeira vez que sinto algo tão forte assim por alguém. Mas eu sei que você tem seu passado, seus motivos, e eu… eu tentei evitar isso. Pedi para meu coração não fazer isso, não se apaixonar, mas ele não me obedeceu. — Sua voz falhou. — E se em algum momento eu te machucar com isso… me desculpa.

    Antes que ele dissesse qualquer coisa, ela se afastou, virando o rosto, tentando sair dali.

    “Eu fiz besteira?”, pensou com o estômago revirado. “Será que fui precipitada? Será que ele não sente o mesmo…?”

    Mas antes que pudesse recuar, ele segurou seu braço com delicadeza. Os dedos dele eram quentes, firmes, mas gentis, como se não quisessem permitir que ela fugisse… e como se pedissem permissão para que ela ficasse.

    Ela se virou, o coração em disparada, e por reflexo, percebeu que ele já estava muito próximo, e seus lábios foram tocados pelos dele.

    Diferente do seu, o beijo de Victor não foi impulsivo. Foi um beijo cheio de emoção represada, de sentimento contido por muito tempo. O mundo ao redor desapareceu. As luzes da rua, o som distante da cidade, até mesmo o ar frio da noite… nada existia além do calor daqueles lábios, do toque suave, do modo como ele a segurava com cuidado, como se temesse que ela pudesse quebrar ou sumir.

    Os lábios dela… Eram suaves. Macios como pétalas úmidas sob a chuva. Havia um leve gosto adocicado, como o de frutas e o resquício de um chocolate amargo. Mas o que mais lhe marcou não foi o sabor — foi o significado daquilo.

    Aquele beijo tinha tudo. Ternura. Coragem. Medo. Entrega.

    — Aki… eu também te amo. — disse com a voz trêmula. — Mas… eu tenho medo de te machucar.

    Victor apoia a mão em seu rosto, como se segurasse algo muito precioso. 

    E ele queria mais daquilo.

    Mais daquela doçura que deixava sua boca formigar. Daquela respiração entrecortada que se misturava à dele. Da forma como os dedos dela se fechavam sobre a gola de sua camisa, como se quisesse segurar o momento para sempre.

    Mesmo que o beijo tivesse cessado, Victor ainda a mantinha nos braços, e seu coração parecia prestes a romper o peito. Respirou fundo, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. Olhou para ela — e viu as lágrimas. Silenciosas, delicadas, rolando pelas bochechas dela.

    “Ela está chorando..”

    Quis protegê-la mais ainda. Quis envolvê-la num abraço tão apertado que nada no mundo pudesse atingi-la. Então, sem pensar duas vezes, a puxou para junto de si e a abraçou.

    — Aki… Eu também te amo. — As palavras escaparam em tom baixo, quase rouco. — Mas eu tenho medo… medo de te machucar. Todo esse tempo, eu tentei me proteger, tentei esconder… Mas quando estou com você, meu coração simplesmente não obedece. Você se tornou o centro do meu mundo… E eu não consigo mais esconder isso. Nem quero.

    Sentiu os ombros dela tremerem em seus braços. Ela chorava baixinho. Mas, diferente das lágrimas de tristeza que já presenciara nela, essas tinham outro peso. Eram lágrimas diferentes, com outro peso e tom. 

    — Aki… você quer namorar comigo? — Falou, no ouvido dela, com carinho e firmeza.

    Ela o encarou, surpresa, mas sem hesitação. A resposta veio no instante seguinte, depois dela se afastar ligeiramente para o encarar melhor, com um sorriso completamente sincero.

    — Sim… quero sim!

    E então ela o abraçou forte, mais forte do que antes, como se finalmente tivesse encontrado o lugar mais seguro do mundo. Ainda chorava, mas agora eram lágrimas de alívio, de alegria. 

    Mas outra brisa cortante e congelante soprou, fazendo os dois se agarrarem num abraço apertado. 

    — Vamos entrar mais um pouco? — Ela perguntou, para evitar o frio externo. 

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