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    12 de fevereiro de 2024, segunda-feira.

    A porta se fechou atrás deles, abafando o vento frio do lado de fora. O silêncio dentro da casa contrastava com o turbilhão que existia dentro de cada um, com os sentimentos gritantes e desejos explosivos que borbulhavam internamente. O calor do aquecedor ligava lentamente, quando Aki começou ajustar a temperatura, mas Victor mal percebeu a diferença. 

    Sua mente estava com mil pensamentos ao mesmo tempo. Seu peito ainda vibrava com o beijo. O toque macio e doce dos lábios de Aki. O calor que a boca dela proporcionava e aquecia todo seu corpo, como uma chama que se espalha num palheiro. A diferença é que não se dissipava rapidamente. Era um fogo intenso, que, continuamente, abrasava seu coração, seu interior. Há muito ele não sentia essas sensações, sentiu quase como se fosse a primeira vez. Talvez poderia ser chamado de “primeira vez de novo”. Não como um recomeço, mas com emoções conhecidas de um jeito diferente.

    Caminhou alguns passos, até uma escrivaninha que ficava num canto da sala e tirou o casaco, colocando-o sobre o móvel. Ainda em silêncio, observou Aki ajeitar o cabelo, disfarçar a emoção nos olhos e esconder um sorriso tímido que insistia em se manter nos lábios. Ela parecia querer dizer algo, mas estava tão sem palavras quanto ele. Os dois estavam. 

    Aki tinha a sensação que todo seu corpo tremia, como se uma onda de vibração se espalhasse à partir de seu peito. O desejo ardente se espalhava como uma camada adicional por todo o seu ser. Ela ainda não acreditava que havia tomado a iniciativa e beijado Victor primeiro. Seu primeiro beijo, inclusive. Sem perceber, botou a mão suavemente sobre os lábios:

    “E se ele não quisesse algo?…” Divagou, mas logo se recuperou: “Não! Eu não posso pensar nisso agora! Ele queria, isso que importa! E eu também! Somos dois adultos e podemos decidir isso, certo?!” 

    Aki, por mais que fosse já uma adulta, às vezes se sentia como uma jovem inexperiente em várias situações e aspectos, até atrapalhando sua autoestima em alguns momentos, como, por exemplo, atrapalhar a aceitação de seus sentimentos por Victor — com receio de que ele não iria querer alguém mais jovem e tão neófita em vários assuntos. 

    Mas agora, ali, naquele instante, sua alma gritava por algo que ela não sabia o que era, um desejo que explodiu com o beijo, uma sensação quente, agradável e inquietante. Ao passar os olhos pelo brasileiro, que ajeitava o casaco sobre uma mesinha, sentiu algo ainda mais intenso. Ela sabia, de tanto ler em novels e livros e ver em animes e mangás que o amor era algo completamente inexplicável. Sempre era assim na ficção. Até já imaginou que talvez fosse tudo parte da arte, mas experimentando aquelas emoções agora, parecia que tudo se encaixava como um quebra-cabeça perfeitamente montado. 

    Sempre imaginou que um relacionamento fosse algo muito distante, algo inalcançável, fora da realidade. Imaginava algo que a fizesse flutuar, se sentir nas nuvens, como sempre lia. Porém, Victor trazia uma sensação diferente. Era quase como uma âncora, onde poderia se apoiar. E mesmo assim sentia que poderia tocar o céu. Essa dualidade de sensações estava lhe deixando como em êxtase.

    Quando seus olhares se cruzaram, ela gesticulou com a mão, apalpando o assento ao seu lado, o chamando para ficar ali, ao seu lado, além de falar: — Senta aqui comigo…

    Sua voz soou quase hesitante, só que agora ela sabia que não tinha espaço para vergonhas com coisas tão bobas, pelo menos ela via dessa forma. Eles já tinham certo costume de dar as mãos, já se abraçaram algumas vezes e agora já haviam se beijado. Sentar do lado um do outro, agarradinho, não era algo tão distante, tendo em vista que também, não raramente, ficavam lado a lado em certos lugares e situações.

    Victor caminhou até o local indicado e se sentou, mantendo uma pose ereta e formal. Seu coração batia tão forte que parecia que a qualquer momento sairia voando de seu peito. Pareciam tambores regendo uma música rápida e imponente. Ao perceber a rigidez dele, Aki não pôde evitar um sorrisinho de canto de lábio, sentindo-se até feliz, de certa forma, por não ser a única com tamanho nervosismo. 

    Apesar da sua experiência de vida, Victor ainda estava tentando assimilar tudo que aconteceu. Por mais que tivesse plena certeza de seus sentimentos e do que queria fazer, até planejando que iria se declarar, a forma como ocorreu foi muito rápido, inesperado, causando uma certa confusão em seu raciocínio. Por alguns instantes, relembrou memórias que preferia manter guardadas naquela situação. A hesitação foi inevitável, quando imagens de sua primeira vez com sua falecida esposa surgiram em sua mente. O primeiro beijo, a declaração, o pedido de namoro… tudo se embaralhava como se as memórias fossem folhas de árvores caídas no chão e soprasse um vendaval impetuoso, jogando tudo para o alto, misturando e bagunçando.

    Ele engoliu em seco, quando respirou fundo, fazendo um autocontrole emocional, de forma discreta, quase imperceptível. Foi quando sentiu o toque das mãos de Aki, que estavam geladas como um picolé e úmidas. O rapaz olhou instintivamente para ela, só para encontrar um par de jóias âmbar o encarando, brilhantes. Seu corpo tremeu ligeiramente e ele ajeitou sua postura, virando-se para ela, passando sua mão pelo ombro dela e se aproximando lentamente. 

    Pouco antes de ter qualquer contato físico adicional, ele parou. Sua mão tremeu e um arrepio percorreu sua espinha. De um instante para o outro, aquelas duas jóias preciosas emolduradas numa pintura perfeitamente pintada se tornaram como um borrão. Ele piscou duas vezes e seus pensamentos foram inundados por uma enxurrada de imagens de Fernanda e Ayla. 

    Seu coração, que já batia forte e rápido, pareceu intensificar o ritmo. Foi tudo tão rápido que Aki mal percebeu o seu movimento de hesitação. Mas para ele, foi tudo muito demorado, quase uma eternidade. De repente, o brasileiro imaginou estar sem saída, iria recuar, mas sentiu um calor subir pelos seus braços, atingindo seu peito e o trazendo de volta à realidade, tirando-o do devaneio momentâneo. Eram as mãos de Aki que intensificaram o aperto. 

    Victor engoliu em seco mais uma vez, respirando fundo e de volta ao mundo real. Ele inclinou a cabeça levemente para um lado e seus lábios se encaixaram com os de Aki. Sua mão, por baixo dos longos cabelos pretos, se apoiavam na nuca da garota, quando seus dedos se entrelaçaram na outra mão, enquanto subiam o braço. Desfizeram, então, o emaranhado e a garota agarrou a camisa de Victor, desejando que ele continuasse ali. A mão dele, porém, envolveu a cintura da japonesa, que inclinou o corpo um pouco para trás e ele ficou, superficialmente, por cima dela. 

    Devido à posição, o beijo foi mais intenso, com mais pressão. Apesar disso, era gentil, carinhoso, cheio de ternura. 

    “Eu imaginava que um beijo tinha gosto de morango, como nos livros… mas, é diferente…” — Aki pensava, enquanto se entregava. “É tão gostoso… tão quentinho… então é essa a sensação? Acho que valeu a pena esperar tanto tempo pelo Victor…”

    Agora, Aki subiu sua mão direita, a encaixando carinhosamente entre o pescoço e a nuca, enquanto a esquerda passou por baixo de seu braço e apoiou em suas costas. E tudo em volta parecia não existir. Só tinha aquele momento, aqueles toques, aquele beijo. 

    Victor se afastou ligeiramente, observando uma expressão nova no rosto da garota. Um olhar cheio de desejo e anseio. Uma mecha de cabelo caiu sobre a face dela, quando Victor afastou a mão, e logo a usou para remover, carinhosamente, a mecha para trás, deixando explícito aquela linda feição que ele apreciava. 

    Ela sorriu, timidamente, quase desviando o olhar, e Victor falou, baixo, perto de seu ouvido: — Aki, eu te amo. Obrigado por me fazer viver de novo…

    As palavras penetraram no coração da garota, que logo sentiu seus olhos se umedeceram. Ela o puxou para perto de sua boca e começou a beijá-lo novamente. Não sabia o que falar. E era como sempre ouvia dizer nos romances: “Quando não tiver mais palavras, beije!”. E a garota só queria aproveitar aquele momento. As palavras dele ainda ecoavam na sua mente e o desejo parecia crescer. 

    Victor entendeu a situação, afinal, era comum dizer que “um beijo fala mais que mil palavras”. Era uma verdade. Naquele espaço, naquele tempo, só existiam os dois. Não era mais somente ela, ou somente ele… Não mais “eu” ou “você”. À partir daquele dia poderiam dizer “nós”.

    Aki sentiu seu corpo ser atravessado por uma sensação gélida quando Victor passou a mão por baixo de sua blusa, acariciando sua barriga e na região lombar e, independente da surpresa, o desejo continuava no ápice, que ela imaginava poder sentir. 

    A garota, então, passou a mão por baixo da camisa de Victor e também acariciou suas costas, usando as unhas, levemente. Toda a pele de Victor arrepiou, enquanto o beijo se intensificava pela troca de carícias que aumentava o desejo de ambos. 

    Victor, então, começou a descer os seus beijos, chegando no pescoço da garota. E quando o fez, sentiu o seu perfume de forma tão intensa, que nunca tinha sentido antes. Uma série de memórias agradáveis ao lado da japonesa começaram a passar na sua mente, enquanto mordiscava ela e subia o beijo novamente para os lábios. 

    Os dedos de Victor deslizavam pelo corpo de Aki, mas de forma sutil, sem entrar em áreas íntimas, enquanto Aki retribuía, com carícias no rosto e nas costas dele. Ela sentia os lábios quentes de Victor passar pelo seu pescoço e na sua boca, mantendo um ritmo caloroso. O calor transbordante parecia que explodiria a qualquer momento. 

    O sofá parecia pequeno agora, o corpo de ambos estavam mais colados do que nunca estiveram antes. Sem dizer nada, os dois levantaram em determinado momento, guiados apenas pelos desejos e instintos, e seguiram para o quarto de Aki. 

    O coração da garota parecia estar explodindo, irradiando uma sensação borbulhante pelo seu corpo, sentindo suas mãos tremendo levemente. Ela sentou na cama e ele a olhou. Um olhar quase duvidoso, como se pedisse permissão para continuar. Buscando uma confirmação se poderiam avançar. 

    Aki sorriu, o puxando pelo braço e eles caíram na cama. Ela ficando por baixo. O beijo estava tão intenso quanto antes. Seus corpos conversavam de forma harmônica. 

    Victor se afastou um pouco, observando aqueles olhos âmbar cheios de desejo, e então, suas mãos adentraram a camisa dela, por cima, tocando seus ombros. Ele a olhava, buscando qualquer hesitação. 

    Entretanto, a verdade era que a garota não sabia como responder. Seu corpo pulsava por continuar, para ir além. Sentia como se uma brasa queimasse intensamente dentro de si. Só que um conflito de ideais e moralidades começaram a bater em sua mente. 

    Ela havia acabado de descobrir o que era um beijo e já iria passar para uma próxima etapa? Esse tipo de questionamento invadiu sua cabeça. Aki beijou Victor, e as mãos dele desceram um pouco mais. 

    Foi quando ele ouviu:

    — Victor… — A voz dela saiu embargada, hesitante. 

    Imediatamente, ele parou o movimento, recolhendo sua mão, como se seu nome fosse um alarme. 

    — Está tudo bem? — Ele perguntou, enquanto sua mão afastou uma mecha que caiu sobre o rosto dela. 

    — Sim… está. Está mais do que bem. Mas… será que a gente pode… só ficar juntos assim hoje? Só… dormir abraçados? — Seu olhar agora estava carregado de manha. Um pedido manhoso e tímido.

    Victor ficou em silêncio por alguns segundos, processando a pergunta. Então, um sorriso se formou nos seus lábios: 

    — Claro que podemos, Aki. Eu só quero estar ao seu lado… — Comentou, antes de depositar um beijo sereno na sua testa. 

    Então, Victor ajeitou seu corpo no travesseiro e Aki se enroscou nele, encaixando sua cabeça confortavelmente em seus ombros. Nesse momento, ela teve a sensação de que estava completamente segura. Então, fechou os olhos, enquanto ouvia os batimentos cardíacos dele, ainda acelerados. 

    O silêncio predominou. Embora seus desejos estivessem gritantes, também era um desejo cheio de respeito e admiração, e poderia esperar o momento certo. Quando Victor percebeu, após divagar um pouco, quase cochilando, Aki estava completamente abraçada com ele, como se não quisesse soltá-lo ou que ele saísse. Seus corpos estavam emaranhados. 

    Ele sorriu, quando pensou: “Eu e você: Nós…”

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