Capítulo 89: Barulho
16 de fevereiro de 2024, sexta-feira.
O Chefe Akashi, que até pouco antes permanecia sentado ao fundo da sala, agora estava de pé com sua postura serena e imponente. Seu olhar percorreu calmamente todos os rostos ali presentes.
— Muito bem… — disse ele, com um sorriso discreto. — Agora que resolvemos a pauta principal, gostaria de aproveitar esse momento para reconhecer algo que já é de conhecimento comum aqui dentro… mas que precisa ser dito oficialmente.
Todos os olhares se voltaram para ele, que agora, estava no palco, enquanto Victor sentou-se ao lado da sua namorada.
— Vocês fizeram um excelente trabalho no evento internacional. — Akashi olhou diretamente para Aki e Victor por um breve segundo, mas depois ampliou seu foco. — Não apenas como equipe, mas como representantes dos ideais da Elegance Affairs. Foi impecável.
Um pequeno murmúrio de agradecimento surgiu. Alguns sorriram com certa surpresa. Mas Akashi levantou levemente a mão, pedindo silêncio.
— E não falo isso da boca pra fora. Os relatórios de impacto, feedbacks dos parceiros e, mais importante, os convites que temos recebido… todos refletem o esforço que cada um de vocês dedicou. Eu agradeço profundamente.
Yui, do departamento de comunicação da empresa, se adiantou:
— Nós que agradecemos, Chefe. Na verdade, foi uma honra estar aqui na empresa… e com todos vocês.
— O apoio entre os setores foi o que fez tudo funcionar. — Completou Koda, do setor de infraestrutura de eventos, com seu jeito mais direto, enquanto passou a mão pelo cabelo.
Victor hesitou por um instante, mas também falou:
— Foi cansativo, mas muito recompensador. Ver o reconhecimento do nosso trabalho nos mostra que estamos no caminho certo. Acho que a empresa só tem a ganhar com essa harmonia.
Aki, com um leve sorriso e ainda um pouco tímida, disse:
— Eu me orgulho de fazer parte dessa equipe.
Vários comentários surgiram, e todos acabaram fazendo uma concordância geral. Akashi assentiu, visivelmente satisfeito com a postura do grupo.
— Fico feliz em ouvir isso. E saibam: estamos apenas começando.
Ele então pegou um pequeno controle e projetou um novo slide no telão. O título era claro: “Projeções e Novidades para 2024 – Primeiro Semestre”.
— Como sabem, firmamos oficialmente a parceria com alguns investidores internacionais daquela reunião. Além disso, também, naquele mesmo dia, conseguimos contratos importantes com as outras entidades presentes..
Alguns concordaram com a cabeça, outros ficaram surpresos, já que só haviam ouvido rumores. A confirmação disso era algo muito positivo para a moral do grupo.
— E, como alguns já sabem, estamos, em conjunto com a Pacca Consortium e outras empresas, desenvolvendo o Evento Link. Com ele, nossos clientes poderão visualizar decorações em realidade aumentada, experimentar trajes de forma virtual e participar de testes de ambientação com inteligência artificial. Uma verdadeira virada de chave no setor de eventos. E nós seremos a primeira empresa no Japão a oferecer esse tipo de integração direta com o consumidor.
Sayuri ergueu a mão:
— Teremos acesso à versão beta antes do lançamento oficial? — Era uma amante de tecnologias e a notícia a animou.
— Sim. — Akashi confirmou. — Vamos realizar testes internos. E os setores de marketing, comunicação e a equipe de design terão um papel fundamental nessa etapa.
Kazuya comentou:
— Isso vai exigir uma reformulação parcial no fluxo de atendimento, certo? — Comentou, quase afirmando. Por ser do setor de organização, já sabia dessa notícia e apenas estava a “oficializando”.
— Sim. Vamos enviar no e-mail de todos vocês informações sobre nossa reorganização temporária.
Alguns começaram a trocar idéias.
— Além disso — Akashi continuou — estamos em fase avançada de negociações para duas novas parcerias internacionais, uma com um grupo europeu de eventos de luxo e outra com uma startup americana especializada em experiências sensoriais em casamentos.
Alguns ficaram até boquiabertos, já imaginando de qual grupo o chefe se referia.
— Os contatos foram iniciados após o sucesso do evento internacional — Akashi reforçou. — E isso não teria sido possível sem o comprometimento de vocês.
Ele então pausou por um segundo e falou com mais calma:
— Eu sei que trabalhamos muito. E que muitas vezes, sacrificamos finais de semana, momentos pessoais e noites de descanso. Mas quero deixar claro que isso não passará despercebido. Nos próximos dias, vamos anunciar alguns incentivos internos. Além de possíveis promoções, claro… — ele lançou um olhar direto para Victor e Aki. — Mas isso ficará para outra reunião.
Os dois se entreolharam, surpresos e um pouco envergonhados.
Akashi então sorriu levemente e concluiu:
— De qualquer forma, parabéns a todos. O que construímos até aqui é grande. Mas o que está por vir… é ainda maior. Sejam bem-vindos à próxima fase da Elegance Affairs.
A sala foi preenchida com aplausos espontâneos e algumas expressões de empolgação genuína. E enquanto a reunião se encerrava, era como se uma nova energia pairasse no ar — um misto de conquista e expectativa pelo que ainda estava por vir.
…
O relógio já estava avançado quando Victor finalmente largou o paletó no encosto do sofá e afundou as costas no estofado com um suspiro pesado. Aki, que tinha ido até a cozinha pegar um pouco d’água, voltou silenciosa, entregando a ele a garrafa e sentando ao seu lado, com as pernas dobradas sobre o sofá.
Por alguns segundos, nenhum dos dois disse nada. O ambiente estava calmo, só com a luz levemente azulada, após transpassar pela cortina, iluminando o canto da sala. Era um contraste gritante com o dia cheio que tiveram.
Victor passou a mão pelo rosto, cansado, e olhou para Aki, como se finalmente reunisse coragem para o que queria dizer.
— Aki… — ele começou, com a voz mais baixa do que o normal. — A gente precisa conversar sobre uma coisa… antes que vire um problema maior.
Ela virou o rosto para ele, atenta.
— Sobre o que aconteceu hoje? — Indagou.
— Na verdade… especialmente sobre você… sobre a gente. — Ele passou os dedos pelos próprios cabelos, bagunçando-os ainda mais. — Eu não queria te arrastar pra isso. Não desse jeito.
— Victor… — Ela começou, mas ele a interrompeu, gentil, pegando sua mão.
— Um dos motivos de eu vir para o Japão, foi justamente para me afastar dos holofotes, de toda atenção, principalmente quando aconteceu tudo. Foi uma exposição muito forte. Era um inferno. — Ele respirou fundo. — Eu até já imaginava que algo assim aconteceria, contudo, pensei que levaria mais tempo… as coisas aconteceram rápido demais. Pensei que íamos manter isso só entre a gente por mais tempo, mas acabou vazando… — Ele deu um sorriso, sem graça.
Aki o observava com olhos calmos, atentos.
— Hoje foi um dia completamente inesperado e uma virada de chave nas nossas vidas. Digo nossas, porque agora estamos juntos. Eu ainda estou com medo do pessoal olhar para mim, para a gente, com olhos tortos, por causa do nome “Pacca”. Eu não quero isso. Aqui foi meu refúgio e você… — Ele a olhou nos olhos, com uma serenidade genuína.
Havia algo nos olhos de Aki que o hipnotizava. Aquele tom âmbar… não era comum, nem ordinário. Não eram olhos comuns, eram como pequenas pedras lapidadas pelo acaso, escondidas num lugar improvável. Como se alguém tivesse derretido ouro velho e melado numa gota de âmbar e deixado aquilo solidificar só para criar aquele olhar.
Victor pensou, sem querer, que poderia passar uma vida inteira apenas descobrindo novas formas de descrever aquele brilho.
Pedras preciosas não mudavam com a luz. Mas os olhos dela… ah, esses sim. Às vezes ficavam mais suaves, parecendo chá quente. Outras, queimavam como se tivessem guardado o pôr do sol em segredo.
E mesmo assim, nenhuma comparação parecia suficiente.
Eram apenas… os olhos dela. Olhos que ele tinha aprendido a reconhecer até no meio de uma multidão, olhos que já o havia encarado, com medo, com riso e com carinho. Olhos que ele descobria novas faces a cada dia.
Uma dor amarga tentou escurecer aquela iluminação que resplandecia do rosto da garota. Uma mistura de sentimentos melancólicos e nostálgicos, de certa forma. O rosto de Aki foi, momentaneamente e muito rápido, transformado, em sua mente, no rosto de Fernanda.
O sorriso de ambas, embora muito diferentes, carregavam o mesmo peso, numa balança emocional de prazer e aparência. Vê-los era como contemplar uma obra de arte. O olhar, um castanho escuro e outro âmbar, quase opostos em tonalidade, tinham o mesmo brilho intenso e hipnótico.
O brasileiro piscou algumas vezes, quando desviou o olhar brevemente, dando um suspiro pesado, sua mente completamente bagunçada…
— Victor? Está tudo bem? — A voz delicada, baixa e suave dela o despertou daquele pequeno pesadelo. Não no sentido visual, entretanto, aquela confusão de sentimentos era assustadora, aterrorizante.
O toque mais apertado nas mãos dele o trouxe a um refrigério, fazendo seus pés tocarem novamente o chão. Ele olhou, quase instintivamente, para ela, novamente. Dessa vez, aquele par de jóias mostravam uma preocupação…
“Eu preciso me controlar…” — Repetiu internamente, antes de continuar:
— Eu estou bem… apenas, pensando em como descrever o que você significa para mim… Você me ajudou tanto, mudou completamente o que eu estava pensando sobre o mundo. Eu te devo tudo que estou vivendo, que estamos vivendo. E eu, de forma egoísta, te puxei para esse furacão que é minha vida…
Aki o interrompeu, colocando a mão em seu rosto e se aproximando ainda mais.
— Você não me arrastou… eu vim… porque eu quis e porque eu quero estar com você.
Victor colocou a sua palma sob a mão da garota, fechando seus olhos, como se aquele toque fosse uma âncora emocional:
— Eu te amo, Aki. E eu não quero que você seja alvo de notícias manipuladas… Esse mundo chega a ser nojento quando querem.
— Eu não me importo, desde que estejamos juntos. Claro, pode ser difícil às vezes, eu imagino, porém, em todas minhas fantasias, sempre imaginei que poderia superar tudo, desde que estivesse ao lado da pessoa que eu amo. E essa pessoa é você, Victor Pacca.
O brasileiro sentiu seu corpo ser invadido por um calor reconfortante, que começava do seu peito e irradiava. Ele a abraçou, apoiando o queixo na cabeça dela:
— Você não tem medo? — Murmurou, hesitante.
— Claro que eu tenho medo, sim. Mas se a gente souber separar as coisas… e seguir com calma… eu não me importo com o que eles pensem. Porque eu sei quem você é. E você sabe quem eu sou. O resto… é só barulho.
— Barulho… é uma boa definição. — Ele sorriu, agora a encarando. — Um barulho passageiro, que passa…
Antes que ele pudesse falar mais, Aki deu um “bote”, o beijando. Victor se surpreendeu, mas entendeu o recado: “Não precisava explicar mais nada.”.
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