Capítulo 96: Um anel…
30 de março de 2024, sábado.
Victor abriu os olhos lentamente, quando raios dourados de sol atingiram seu rosto, o despertando. Percebeu que seu braço estava servindo de travesseiro para Aki, que repousava, tranquilamente e profundamente, nele, enquanto ela o abraçava.
Seu olhar repousou no rosto delicado de Aki, iluminado pelos tons amarelados que passavam pelas frestas da cortina, dando um tom levemente corado na região das bochechas dela. Sua pele clara servia como uma tela de pintura, com seus longos cílios negros repousados, além dos fios de cabelo, compridos e pretos, que formavam como um rabisco fino.
Os lábios entreabertos eram como um toque brilhante e rosado no fundo alvo. Aquele rosto gentil, delicado e tão bonito era uma obra de arte… uma arte que agora ele podia tocar.
“Ela é tão linda…” — Divagou, vendo que a luz natural refletia suavemente em seus cabelos, num tom castanho e deixava ela ainda mais serena.
“Faz sentido aquele cara ter se aproximado… sendo tão linda assim, lógico que iriam querer se aproximar…” — Pensava, quase como uma briga interna, onde sentia que sua personalidade brigava consigo. “Mesmo assim, ele não tinha o direito de ser tão invasivo, ainda mais que ela tinha avisado…”
Num determinado momento, cogitou: “E se ela tivesse com um anel, teria sido diferente?”
A ideia de presenteá-la com isso não parecia absurda. “Talvez não fosse, mas com certeza ela iria gostar.”
Por um instante, tentou imaginar a reação que ela teria: Alegria, emocionada, ansiosa… provavelmente todas elas. Seu coração acelerou ligeiramente quando o possível sorriso dela veio à sua mente.
Agora, ele havia chegado a uma decisão. Movendo-se com cuidado, temendo acordá-la daquele sono profundo, conseguiu sair do quarto. Tomou café sozinho, e deixou uma mensagem no celular dela: “Bom dia! Precisei sair para resolver uma coisa, nada grave. Não se preocupe. Quando acordar, me liga.”
Ele se vestiu de forma simples e saiu pelas ruas, com um local em mente. Caminhou por alguns minutos, passando por várias lojas dos mais variados tipos, até que finalmente chegou ao seu destino. Era uma loja ampla, com uma vitrine muito organizada voltada para a rua, com inúmeras jóias expostas de forma simples e chamativa.
Ele entrou e uma atendente logo veio atendê-lo. Vestia uma roupa social simples, mas sofisticada. Seu cabelo era preso num coque milimetricamente organizado.
— Bom dia, senhor! Como posso ajudá-lo? — O sorriso era simpático, mas não exagerado. Algo muito profissional.
— Preciso de algo… especial. Não é para noivado, não ainda… mas precisa ser algo simbólico. — Disse, fazendo algumas pausas para dizer a melhor palavra possível.
Sentiu um leve desconforto de ansiedade. “Por que me sinto tão nervoso? Se acalma…” — Repetia. Ele sabia da importância daquele presente, mas estava confiante de que estava preparado, graças à sua experiência.
— Acho que já sei o que procura… — A atendente respondeu, após colocar o indicador no queixo, como se pensasse, por um instante.
Ela caminhou até um expositor, e Victor seguiu. Uma vitrine como se fosse um balcão com vários anéis expostos. Alguns tinham pedrinhas, umas brancas, outras azuis, verdes e vermelhas.
“A Aki gosta de coisas simples, mas não sem graça…” — Pensou, analisando as peças.
— Deixa eu ver esse… — Ele apontou para um anel de prata polido, com uma pedrinha azul brilhante.
A vendedora logo pegou e o entregou, e ele colocou no seu próprio dedo, no que coube e até onde coube, erguendo a mão e olhando, imaginando como ficaria na mão de Aki. Um sorriso bobo se formou nos seus lábios.
A sua ficha caiu e ele tentou despistar, enquanto pensava que aquele ali ficaria lindo no dedo da sua namorada.
— Demora quanto tempo para ajustar o tamanho?
— Podemos fazer isso hoje. E terá a gravação interna gratuita, se desejar. — Disse a atendente, oferecendo um papel para que pudesse escrever o que queria.
Victor não pensou muito, como se já soubesse o que faria e pediu que gravasse “接続された”.
…
Saiu da loja uma hora depois com uma pequena caixinha guardada no bolso. Não sabia quando daria. Não sabia como daria. Mas sabia o que sentia. E o que precisava ser feito.
“Eu já decepcionei na hora de confessar… Mas agora, vai ser diferente!” — Pensava, enquanto caminhava. Seu telefone tocou. Era Aki.
— Alô…
— Oi, Victor… Só liguei para saber se está tudo bem. — Ela falou, sua voz rouca denunciava que acabara de acordar.
“Ela estava realmente cansada…” — Victor pensou, quando percebeu.
— Estou bem. Estou quase chegando em casa. Quer que leva alguma coisa para o almoço?
Aki, nesse momento, sentiu um frio na espinha. Essa conversa estava muito mais para a esposa ligando para o marido. Seu coração acelerou.
— Bom, o que você quer comer? Hoje, eu faço a comida. — Respondeu, sentindo algo diferente no peito. Uma sensação nova.
— Tudo bem, então. Daqui a pouco eu chego.
Após se despediram, Victor entrou no mercado e comprou alguns ingredientes para um curry. Mas, para além disso, seus pensamentos estavam a todo vapor, pensando em como faria o anel para ela.
“Acho que estamos tendo uma rotina de casados…” — Ele pensou, em certo momento, enquanto escolhia um ingrediente na prateleira. “Talvez devêssemos casar? Não, é muito cedo… embora eu não possa negar que no fundo eu gostaria…”
Se dirigiu ao caixa e pagou. Agora, caminhando pela rua, já próximo da sua residência. A manhã continuava fresca, nem calor, nem frio, apenas uma leve brisa gostosa.
“Deveríamos morar juntos? Não posso negar, me sinto sozinho quando não estamos dormindo juntos. Será que ela aceitaria?”
Entre esses e outros pensamentos, logo chegou, abrindo a porta, depois de destrancá-la, e foi recebido pela sua namorada com um sorriso:
— Bem-vindo… embora a casa seja sua… — Comentou baixinho no final.
Victor ouviu.
— E por que não pode ser nossa? — Em seguida, percebeu que falou por impulso. Então, pigarreou. — Quero dizer…
— Victor! — Aki chamou, correndo para perto dele. — Isso é um pedido para eu morar com você?
Os olhos dela brilhavam, como se implorasse uma resposta positiva. Victor sentiu seu corpo travar, a garganta secou e um frio passou pela sua barriga.
Acabou falando por impulso algo que, até agora pouco, ele estava martelando em sua cabeça, como se brigasse consigo sobre se deveria ou não chamá-la para morarem juntos. Ela morava de aluguel, então, até mesmo pensando pelo lado financeiro seria melhor. E isso poderia até soar como uma boa desculpa para o convite.
Enquanto fazia planejamentos e possíveis respostas e soluções, Victor fez todo o trajeto até a sua casa. E agora, chegando, foi recebido dessa forma e acabou soltando uma resposta sem pensar sobre, de forma automática.
O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Victor sentiu como se o universo estivesse esperando sua resposta com a mesma ansiedade que Aki exibia no olhar.
Ela permanecia ali, parada, com um leve sorriso esperançoso nos lábios, mas com as mãos juntas, entrelaçando os dedos de forma nervosa. Seu peito subia e descia sutilmente, como se contivesse a respiração. Os olhos, apesar do brilho, traziam uma certa vulnerabilidade, como se estivesse pendurada na borda de um precipício, dependendo de uma única palavra.
Victor desviou o olhar por um breve momento, sentindo seu coração martelar com força dentro do peito. Tudo estava indo rápido demais? Talvez. Mas, por outro lado… quando pensava no futuro, era com ela que vinha à mente. Mesmo que fosse pouco o tempo em que se conheciam, comparado com “casais tradicionais”, no fundo, queria ficar com ela. Para sempre.
Nos jantares a dois, nas manhãs preguiçosas de domingo, nos sorrisos trocados ao longo dos dias, nos passeios românticos, nas viagens de casal… E agora, ela estava ali, praticamente dizendo que queria o mesmo — que queria estar ao lado dele não só por horas, mas por dias inteiros.
O que mais ele poderia querer? Talvez fosse uma oportunidade. Lembrou-se das próprias promessas de não desperdiçar as oportunidades. “Eu devo dar o anel agora e chamar ela para morar comigo?” — Seus pensamentos estavam a mil. Ele queria. Ela queria. Era a chance perfeita.
“E se ela mudar de ideia?” — Um pensamento o atravessou, carregado de insegurança. “E se tudo parecer perfeito agora, mas der errado depois?”
Como uma onda feroz se desfazendo quando chega à praia, assim foi suas esperanças, momentaneamente. Tudo pareceu não fazer sentido. Ele piscou algumas vezes, forçando seus pensamentos a voltarem pro lugar.
“Para de pensar nisso! Apenas viva! Viva um dia de cada vez, Victor! Não fique com medo!” — Repetiu, quando toda a dor que sentiu há uns anos veio como um tiro perfurante e impetuoso. Seu corpo tremeu com o impacto das lembranças dolorosas.
“Não posso deixar que isso me atrapalhe mais! Não posso mudar o passado, mas posso escolher como viver o futuro. Foi isso que você me ensinou, não é, Aki?!”
Olhou novamente para Aki. Ela ainda o encarava. Os segundos pareciam horas. Cada instante parecia muito mais demorado. Os olhos dela começavam a vacilar, como se estivesse se preparando para ouvir um “não”, por mais que seu coração gritasse por um “sim”.
A verdade é que ela também estava com medo. Medo de parecer precipitada, de assustá-lo, de estragar aquele momento sem querer. Mas não podia voltar atrás agora. Tinha sido… impulsiva… e sincera. O que sentia por ele era uma força gritante para ficar mais ao seu lado. Queria estar ao lado dele nos dias difíceis, nos dias chuvosos e nos dias em silêncio, onde apenas a companhia bastava. Queria dividir uma vida, e aquele era um passo. Um passo importante.
“Será que fui longe demais?” — pensou Aki, engolindo em seco. “Talvez ele ainda não esteja pronto… talvez eu não esteja pronta! Nem conversamos sobre isso e eu agi sem pensar… o que eu faço?!”
Aki sentia seu coração, agora, batendo muito rápido e forte. Sentiu que seus olhos estavam umedecendo, pensando que, pela demora, seria algo negativo. Embora, talvez nem ela mesma estivesse preparada. Era um passo muito grande e importante para a vida dos dois. Só se conheciam há poucos meses, talvez um ano de saber da existência um do outro. Parecia muito cedo. Mas também parecia algo crível.
Victor respirou fundo. Sabia que seja lá o quê ele falasse naquele momento, seria definitivo. Não poderia fazer uma brincadeira, nem desconversar. O que diria ali mudaria o rumo da relação deles. Ele também havia falado algo impulsivo, influenciado pelos seus próprios pensamentos.
Ele levou a mão à nuca, pensativo, e olhou para a entrada da casa. Olhou para a sacola com ingredientes para o almoço, ainda em sua mão. Depois olhou para Aki…
Finalmente, formulou a frase em sua cabeça e abriu a boca para falar. Para responder.

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