Capítulo 98: Brasil, de novo…
…
Um quarto, uma cama, um casal. Victor e Aki dormiam juntos. Ela estava deitada de lado, o rosto virado para Victor, enquanto ele dormia. Seus olhos âmbar piscavam lentamente, sem sono, como se tivesse medo de que aquele momento pudesse sumir.
O rosto sereno de Victor estava sendo admirado, com seus cabelos pretos quase invisíveis na escuridão do quarto. Sua respiração era leve, tranquila e ritmada. Ele estava deitado de barriga para cima, enquanto um de seus braços servia de travesseiro para Aki, que estava aconchegada naquele cantinho.
“Realmente demos esse passo? Como vou contar isso para o papai e a mamãe? Como eles vão reagir?” — Divagou. “A mamãe provavelmente vai falar para casarmos logo…” — Um sorriso bobo se formou nos seus lábios.
“Não é uma má ideia, mamãe…” — A garota saiu de cima do braço dele, agora virando-se para o teto, enquanto olhava o anel em seu dedo com a mão estendida. “É assim que uma esposa se sente? Ou seria algo ainda mais intenso?”
Seus pensamentos estavam acelerados, muitas coisas vinham ao mesmo tempo.
“Casar com o Victor… ter filhos…” — Uma onda quente atravessou o corpo dela, agradável e reconfortante. “Sim, eu queria isso… Nos conhecemos a pouco tempo, Victor, mas sinto que posso viver toda minha vida com você…” — Ela olhava para ele, enquanto imaginava uma cerimônia simples com familiares…
— Sim… — balbuciou, após imaginar a pergunta icônica dos casamentos.
“Para de pensar tanta coisa… Um passo de cada vez, Aki…” — Repetiu mentalmente.
Aki passou a ponta dos dedos pelo braço de Victor, traçando linhas imaginárias como se desenhasse alguma coisa, enquanto se lembrava de algumas coisas, divagou:
Lembrou-se da primeira vez que viu Victor no escritório e o chefe Akashi nomeou ele como parte da equipe de supervisão. Quando a informação de que ele era brasileiro foi dita, ela se surpreendeu.
Ela tentou se aproximar dele, com sua curiosidade aguçada, como sempre. Mas, para o descontentamento dela, ele simplesmente não rendia as conversas. Isso lhe deu certa insegurança, contudo, não desistiu e continuou puxando conversa.
Victor apenas respondia o necessário. Muitas vezes, quando se perguntava algo além do trabalho, ele não fazia questão de dar uma resposta. Era difícil conversar com ele, nesse sentido.
O interesse em saber mais sobre o rapaz só aumentava, quando ela não tinha as respostas que buscava. Até quando iam em alguns eventos juntos, raramente, tinha algum assunto extra. Victor sempre estava calado e sério, um olhar apático, quase vazio.
Só que… tudo mudou, naquele dia. No dia quatorze de agosto, quando os dois se esbarraram na rua, por falta de atenção de ambos. Talvez o choque, o contato físico, tenha despertado alguma coisa nele; ou seria a atitude dela durante o almoço? Aki tinha vontade de descobrir, mas dificilmente saberia, já que nem Victor saberia dizer, provavelmente.
“Ainda bem que conseguimos chegar até aqui…” — Ela virou para o outro lado, encarando a parede, onde estava o Yume.
— Vencemos, Yume… Yeah… — Ela fez um gesto de vitória para o gatinho de pelúcia, enquanto sussurrava, temendo acordar Victor.
…
Victor acordou no meio da madrugada, sem saber ao certo o motivo. Virou a cabeça e viu Aki, com os longos cabelos pretos espalhados sob o travesseiro branco. O calor que ela transmitia para ele trazia uma sensação de conforto. Apertou, com carinho, a mão da garota.
— Aki, talvez tenha sido um pouco cedo, mas é verdade. Eu realmente te amo… — Sussurrou.
Ele olhou para o teto e depois para as paredes, divagando. O quarto estava silencioso, quebrado pela rítmica respiração dela. Sentia seu coração quente, como se tivesse alcançado um grande objetivo.
…
08 de abril de 2024, segunda-feira.
— Uau! Aqui é incrível! — Aki expressou, olhando pela sacada do quarto do hotel em que estavam hospedados.
À frente, um infinito azul do mar que se misturava gradativamente ao azul do céu, com o sol escancarado no céu e nenhuma nuvem podia ser vista.
A maresia e aquele calor se misturavam, trazendo a sensação praieira perfeita.
— Eu gosto muito dessa praia, sempre que venho fico hospedado neste hotel. — Declarou ele, casualmente.
— Parece ser caro… — Ela comentou, olhando e reparando todos os detalhes internos do quarto.
— Enfim… — Victor mudou de assunto. — Você trouxe roupas para a praia?
Foi então que Aki se lembrou de algo importante: ela achou que iriam para Belo Horizonte novamente e ela não havia colocado nenhum biquíni na sua mala.
— Eu não sabia que estávamos vindo para a praia. — Se justificou.
“No fim, a culpa é minha, por não ter avisado, né?” — Victor se culpou internamente, rindo.
— Tudo bem, não é um problema que não possa ser resolvido. Vamos fazer um pequeno passeio para comprar roupas praianas aqui na feirinha.
…
Aki olhava tudo em volta, encantada com a diversidade de barracas e cores vibrantes, enquanto caminhavam de mãos dadas pelos corredores da feirinha.
— Por aqui, casal bonito! Vejam nossas novidades! — Uma senhora chamou, tentando atrair a atenção. Mas Victor apenas agradeceu e seguiram.
A japonesa não estava entendendo muito bem, já que ouvia apenas os “gritos” em português e não entendia os significados, porém, seu olhar curioso varria cada barraca e deduziu que se tratava disso.
Foi quando pararam numa barraca mais ao centro do espaço, de lona listrada de vermelho branco, com uma variedade grande de biquínis, vestidos e camisetas, desde cores sólidas até estampas floridas e de animais.
— Oh, olá, Victor, quanto tempo! Que surpresa agradável! — Uma senhora exclamou, quando viu quem era seu cliente. — Como você está, meu filho?
— Olá, dona Solange! Realmente faz um bom tempo que não venho aqui… — Victor respondeu, apertando a mão da mulher. — Eu queria ver alguns, bem… biquínis… — Ele respondeu, por fim, meio envergonhado.
— Claro, claro… seria para essa moça bonita? — Perguntou, despretensiosamente. — Ela não é daqui, né?
— Sim, o biquíni é para ela. — Respondeu, depois fez uma pequena pausa. — Ela é minha namorada e mora no Japão. Eu estou morando lá, agora. Viemos para o Brasil por motivos profissionais.
— Sério? Ela é muito bonita. Ela não deve entender o que eu falo, né? — Um sorriso gentil se formou no rosto de Solange.
— Ela só entende japonês e inglês. Vou traduzir. — Victor então explicou tudo para Aki, inclusive, falou brevemente sobre seu relacionamento com a senhora, que era uma conhecida da família de longa data, que já era cultura da família Pacca comprar roupas de praia ali.
Aki agradeceu o elogio, sentindo uma leve vergonha. E logo foi apresentada aos modelos, para escolher. Seus pensamentos estavam focados na escolha das peças, mas as palavras de Victor ecoavam em sua mente: “família Pacca…”.
Somente agora percebeu que, teoricamente, faria parte da família Pacca, mas tentava não pensar muito sobre isso, se concentrando em escolher os biquínis e demais roupas.
Ela escolheu algumas peças e continuaram caminhando. Aproveitaram para comer um espetinho de camarão, que Aki ficou encantada com o sabor. Passaram por outras barracas, mais por curiosidade do que necessidade. Victor mostrou bastante coisa para ela, enquanto explicava parte da cultura.
No fim, voltaram ao hotel com algumas sacolas de compras, enquanto o sol escaldante castigava quem estava desprotegido. Fazia muito calor. No quarto do hotel, com o ar-condicionado, estava bem mais confortável.
— Vou escolher um biquíni para irmos para a praia. — Ela comentou, pegando a sacola com as peças e entrou no banheiro para se trocar. Enquanto isso, Victor ficou sentado na cama, mexendo no celular. Estava respondendo algumas mensagens, quando ouviu seu nome:
— Victor… — A voz saiu baixa. Ele olhou e seu coração acelerou ligeiramente:
Aki saiu do banheiro com passos suaves, segurando timidamente a barra da pequena saia que fazia parte do conjunto, como estivesse hesitante. O biquíni azul, com desenhos ondulados que lembravam conchas e redemoinhos do mar, moldava em seu corpo de forma delicada e atraente.
O azul vibrante se destacava contra sua pele clara, criando um contraste quase hipnótico — como o encontro entre o céu límpido e a areia branca de uma praia tropical. Seus longos cabelos pretos caíam soltos sobre os ombros, criando uma moldura intensa que realçava ainda mais aquele azul oceânico.
Mas foram seus olhos âmbar que completaram a cena. Sob a luz suave do quarto, parte dela, natural, que passava pela cortina, parecia refletir aquele brilho, mas também lembrava o dourado do sol tocando o mar ao entardecer.
Era a primeira vez que ele estava vendo Aki com tão pouca roupa e, apesar de ser “apenas um biquíni”, não deixava de mostrar bastante parte do seu corpo. As curvas eram destacadas pelo tom oceânico e a modelagem da roupa.
Aki sentia que seu rosto estava vermelho. “Não precisa ter vergonha. Somos namorados agora, até moramos juntos…” — Tentava pensar nisso, para continuar ali, de forma tão “exposta”. Pelo menos, assim ela se sentia com tão pouca roupa. Não tinha costume de sair para praia ou parque aquático — e tampouco expor seu corpo dessa forma.
“Não precisa ficar nervosa. É só um biquíni. E nem é tão ousado.” — Aki continuava repetindo, tentando se acalmar.
Por um momento, Victor apenas observou, quando, finalmente, falou:
— Você está linda! Digo, esse biquíni ficou lindo em você… — Ele se perdeu um pouco no elogio e ela deu um sorriso, tímido.
— Obrigada… — Ela continuou caminhando e parou ao seu lado. — Vamos para a praia? Tô muito ansiosa!
— Claro, vamos… — Victor se forçou a esquecer qualquer outro tipo de pensamento. — Vou me trocar também. Só um minuto.
Passado uns minutos, Victor saiu do banheiro. Vestia um short branco e uma camiseta sem manga, listrada. Também estava com o óculos escuro em mãos.
— Vamos…

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