Índice de Capítulo

     “Só segue as minhas ordens! Eu conheço meu barco melhor que qualquer um!!” Chales gritou no cano que estava conectado à sala da caldeira. Ele então abaixou sua cabeça e falou pro Velho John. “John! Despeje metade da carga!”

     Charles sabia que hesitação não era uma opção em momentos cruciais; a sua vida é a coisa mais importante, nada mais importa.

     “Aye!” O velho imediato abriu a porta com um chute e saiu da cabine do piloto.

     Charles sentiu um aperto no coração enquanto ouvia o som do cargo caindo na água. Pelo menos, essa ação se provou efetiva. Depois de aguentar mais algumas colisões, o ágil S.S. Mouse começou a aumentar de velocidade e gradualmente deixou a entidade perseguidora para trás.

     Quando Charles finalmente conseguiu ver o verdadeiro farol aparecendo na proa do barco, ele soltou o leme, seu corpo coberto de suor frio.

     O jovem ao seu lado, ainda tremendo, se arrastou até o lado de seu capitão, e segurou com força a perna do mesmo.

    “Ca-Capitão, E-Eu v… Eu vi…” 

    Charles imediatamente cobriu a cabeça do menino com uma mão, o fazendo parar de falar. 

    “Antes de entrarmos no barco, qual foi a terceira coisa que eu te disse?”

    “Não olhe para os monstros no mar. Não pense neles. A não ser que eles cheguem perto do barco, não fale nada nem se ver um na distância…”

     “Muito bem. Agora se levanta, solta a âncora, e avisa todo mundo pra se juntar no convés. Eu quero fazer uma contagem de cabeças”. Depois de falar suas ordens, Charles soltou Dipp e saiu da cabine do piloto.

    O convés estava em completa desordem, com água se acumulando em todo lugar. Cordas que estavam sendo usadas para segurar a carga estavam flutuando na superfície da água.

    Caminhando com água chegando até sua panturrilha, Charles se encaminhou até a popa1 do barco. A parte de trás do barco estava amassada, como se tivesse sido atingida por um martelo gigante. A popa inteira também estava coberta com uma substância preta desconhecida, tinha um cheiro horroroso.

     Só de ver a marca que ficou no barco, era possível estimar o tamanho da criatura que colidiu com o barco. Mas, depois de inúmeras expedições náuticas ao longo de oito anos, Charles acabou se acostumando com esse tipo de situação, por isso sua curiosidade foi embora com o passar do tempo. No momento atual, ele estava preocupado com outras coisas.

    “Consertar isso vai custar pra cacete…” Charles murmurou, frustração crescendo dentro dele. Ele estava um passo mais longe de seu sonho.

    Nesse momento, os sussurros no seu ouvido soaram de novo, ecoando da escuridão à sua volta.

    “ph…nglui mglw…nafh…” 

    “Porra!” Com seu rosto franzido, Charles cerrou um punho e bateu em sua testa com a parte de trás de seu punho. A dor física ajudou momentaneamente a afogar os sussurros o atormentando.

    Quando ele viu que o resto de sua tripulação começou a se juntar no convés, Charles pausou seu castigo auto infligido e se encaminhou até eles.

     Vendo seu capitão se aproximando, o grupo de homens de alturas variadas rapidamente se enfileiram. Suas aparências eram diferentes, mas suas faces eram pálidas igual a de Charles.

     “John. Posição: Primeiro Imediato. Deveres: Ajudar o Capitão a organizar seus planos de trabalho e responsável por compilar o cronograma para carregar a carga. Timoneiro durante o período das 12:00 até 24:00!” O velho homem foi o primeiro a falar sobre seus deveres.

    De pé atrás do Velho John estava um homem alto e robusto. Sua farda azul suja com traços de graxa. Ele rapidamente se introduziu.

     James. Posição: Segundo engenheiro. Deveres: Manter a sala do motor funcionando. Administrar o sistema de propulsão, equipamento auxiliar, caldeiras, lubrificação, temperatura e combustível.”

    Ao lado de James estava um homem magro e alto que nem um poste.

    “Frey. Posição: Cozinheiro. Deveres: Preparar refeições para tripulação.” 

    Após o cozinheiro foi a vez de um visivelmente estressado Dipp. Ele estava com as pernas trêmulas, ainda tentando se recuperar dos eventos recentes.

    “Di-Dipp. Posição: M.C(2). Deveres: Limpar e reparar o convés, também manusear a âncora, as cordas, e carregar e descarregar equipamentos.”

    Charles observou os 4 indivíduos na sua frente e rapidamente notou que uma pessoa estava faltando.

    “Onde está o contramestre?”(3)

    Os quatro indivíduos trocaram olhares, mas nenhum podia providenciar uma resposta.

    “AHHHHHHHH!!” Do nada, um grito tenebroso ecoou de baixo do convés.

    “Alguma coisa veio a bordo! Peguem suas armas!” Charles gritou, liderando o grupo enquanto corriam para a origem do grito.

    Quando chegaram no mal iluminado alojamento da tripulação, a vista os fez sentir um arrepio vindo da espinha.

    Em um canto escuro, havia duas figuras presentes. Uma delas estava em pé, completamente reta. Era o contramestre do S.S. Mouse, e sua cara estava aterrorizada.

    A outra figura estava jogada no chão, e sua face não podia ser discernida por causa da falta total de pele Toda vez que essa pessoa misteriosa se movia, a carne exposta tocando o chão o causava uma dor excruciante, o fazendo tremer em agonia. A figura sangrenta gritava de dor enquanto se movia desesperadamente; seu respiro cada vez mais fraco.

    “Jim! Pergunte quem é ele!” Charles rapidamente tirou seu revólver do coldre localizado na sua cintura esquerda.

    Tremendo de medo, o contramestre caminhou até a criatura, se abaixando para ouvir.

    Alguns segundos depois, ele olhou para a tripulação, seu rosto demonstrando pânico. Ele apontou seu dedo trêmulo para Charles e disse, “C-capitão… Ele… Ele disse que ele é você!”

    “Eu?”

    Ouvindo os passos rápidos de sua tripulação se afastando atrás dele, Charles agilmente apontou sua arma para o contramestre.

    “Charles. Posição: Capitão. Deveres: Garantir a segurança e administrar o barco. Ter como objetivo principal a segurança da tripulação e sua propriedade. Em caso de emergência fazer decisões de forma prudentes e decisivas. Timoneiro durante o período das 00:00 até 12:00! Contramestre!  Fale seus deveres nesse instante!”

    “Rápido! Matem ele! Ele não é o capitão de vocês!” O contramestre gritou aterrorizado, seu dedo trêmulo ainda apontando para Charles

    ‘Bang!’

    Charles puxou o gatilho e uma bala atravessou a testa do contramestre, deixando um buraco. Mas, o que saiu dele não foi sangue, mas sim uma substância semi sólida, de cor amarelada escura.

    Agora que sua identidade foi exposta, o corpo do baleado contramestre começou a se contorcer e mudar. Sua boca abriu até a parte de trás da cabeça, e seus membros rapidamente ficaram maiores. Com um grito bestial, a monstruosidade correu em direção à Charles.

    ‘Bang! Bang! Bang!’

    Balas choveram na direção do contramestre transformado, e a pele humana da criatura foi destroçada igual um saco de café, revelando um torço apodrecido e torto que parecia a de um sapo morto.

    Mesmo sendo baleado 6 vezes, a criatura ainda estava viva. Ela tencionou seus 4 membros e se jogou no humano à sua frente.

    Aparentemente calmo com toda situação depois de tantos encontros parecidos, Charles rolou para o lado bem na hora para evitar o ataque do monstro.

    Não desperdiçando nem um segundo, ele rapidamente recarregou seu revólver com outras 6 balas e as atirou na direção do monstro.

    Depois de ser atingido por 12 balas, as pernas tortas do monstro desistiram, e ele finalmente colapsou até o chão.

    Charles, ainda ofegante, brevemente observou o cadáver nauseante antes de olhar para a tripulação aterrorizada atrás dele.

    “Não fiquem parados aí. Joguem essa coisa maldita ao mar.” Charles comandou e andou até o corpo ensanguentado do outro lado.

    Ignorando o cheiro pesado de sangue, ele usou sua mão e virou a cabeça do cadáver para conseguir vê-la melhor. Quando ele viu a falta dos dentes da frente na boca, ele soube que esse era o contramestre de verdade, o de antes era um impostor, um monstro marinho usando a pele do membro de sua tripulação como disfarce.

    Uma expressão de dor passou pelo semblante de Charles, mas ele rapidamente se compôs. Ele recarregou seu revólver de novo e saiu do alojamento da tripulação para procurar qualquer ameaça que ainda pudesse estar a bordo.

    ***

    Dipp com dificuldade, carregou junto ao Primeiro Imediato John o cadáver.

    O jovem estava incrédulo e falou com emoção, “ O capitão é tão incrível.”

    “Haha. É claro que ele é. É por isso que ele é teu capitão e tu é só um marinheiro. Pra falar a verdade, na primeira vez dele a bordo, ele era que nem tu.”

    “Sério? Como era o Capitão Charles quando ele era um marinheiro?”

    “Esse é um conto lendário, aye. Mais ou menos sete ou oito anos atrás, eu ainda estava servindo como terceiro imediato em outro barco. Foi aí que Charles apareceu boiando nas águas. Quando eu o conheci, ele não conseguia falar uma palavra, tu acredita?

    “Sério? Então como que ele virou o Capitão?”

    “O velho capitão na época sentiu pena dele e deixou ele nadar atrás do barco. Quando chegamos no porto, a gente viu que ele não era um monstro e deixou ele entrar na tripulação. Ele aprendeu a falar enquanto aprendia como ser um marinheiro. Quando finalmente aprendeu a falar, ele anunciou para todos sua ambição, ser o capitão de um barco e liderar a humanidade de volta para a terra da luz. A gente achou que ele tinha ficado maluco, sabe.”

    “E o que aconteceu depois?”

    “Depois, ele foi de M.C. 2 para contramestre, 3 daí virou o terceiro imediato. A gente achou que ele iria ser promovido de novo e virar o segundo imediato, mas ele surpreendeu todo mundo. Ele guardou dinheiro o suficiente para comprar um barco de carga vagabundo. Aye, essa é a embarcação que nós estamos. S.S. Mouse.”











    1. Nota: Popa é a parte de trás de um barco.[]
    2. Nota: Marinheiro capaz, traduzido de Able Seaman.. É alguém com mais de 2 anos e acostumado com o trabalho, por algum motivo o autor usa essa posição como a mais baixa, mas normalmente seria um faz tudo no navio e que sabe o que está fazendo.[]
    3. Nota: Contramestre é um oficial que maneja a tripulação que atua no convés, seus deveres variam de barco para barco.[]

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