Capítulo 22: 1068
Enquanto os dentes afiados se aproximavam perigosamente de sua cabeça, Charles, em um momento de desespero, balançou o saco de pano com todas as suas forças. O impulso do movimento felizmente o propulsionou para fora do alcance da criatura.
No entanto, o impacto permitiu que os dentes afiados mordessem o saco de pano.
Rasgo!
O saco rasgou, e as inúmeras relíquias em seu interior se espalharam pelo chão com uma cacofonia de sons tilintantes.
Entre as relíquias espalhadas, a antiga lamparina a óleo tremulou levemente antes de emitir um brilho radiante que iluminou todo o corredor, tornando-o tão claro quanto à luz do dia.
Os gafanhotos voadores pareceram ser pegos de surpresa pelo brilho repentino e se contorceram, como se tivessem levado um choque elétrico.
Com um momento tão oportuno para escapar, Charles não podia desperdiçá-lo. Sem hesitar, agarrou o punhado restante de relíquias no saco rasgado e disparou em direção à saída.
Charles forçou seu corpo ao limite humano e correu por quase cinco minutos sem parar. Só parou quando teve certeza de que nenhuma daquelas criaturas voadoras o seguia.
Ofegante, ele contou as poucas relíquias que restavam em sua posse. Seu coração afundou. O saco rasgado agora continha apenas quatro relíquias.
“Droga! Malditos insetos! Esperem só! Quando eu ficar rico, vou voltar aqui e transformar todos vocês em comida!”
Depois de liberar toda a sua frustração acumulada, Charles se levantou e observou os arredores fracamente iluminados. Se o lugar anterior o lembrava um hospital, o local onde estava agora era mais parecido com uma base militar. As paredes já não eram de azulejos brancos impecáveis, mas sim de grossas placas de aço.
Ele nunca havia estado nessa seção antes e parecia ter tropeçado ali durante sua fuga.
“Alô? Alguém aí?” A voz de Charles ecoou pelo ar.
Cautelosamente, ele se moveu ao longo da parede enquanto avançava mais fundo. Não demorou muito para que uma enorme porta de ferro circular, com quase cinco metros de altura, aparecesse diante dele.
Apesar de a porta ter meio metro de espessura, apresentava sinais visíveis de dano—uma longa rachadura a cortava ao meio.
Charles cuidadosamente colocou a cabeça pela fenda e espiou o interior, descobrindo um vasto espaço além.
De repente, uma tosse distante ecoou lá dentro, assustando Charles.
“O quê…? Tem um ser humano vivo aí dentro?” Charles murmurou para si mesmo.
Lançando um olhar rápido para trás, Charles cuidadosamente atravessou a rachadura e entrou no espaço além.
O momento em que ele entrou no espaço deixou-o atônito. Era um longo túnel que lembrava um abrigo anti aéreo, com portas de ferro espaçadas a cada cem metros.
A porta mais próxima tinha sido arrancada de suas dobradiças e estava incrustada no teto.
Cof! Cof!
O som de tosse ecoava à distância. Era inconfundivelmente a tosse de uma pessoa idosa.
Charles reduziu o ritmo e cuidadosamente avançou em direção à origem do som. Logo, ele se deparou com a origem da tosse.
No quarto atrás da Porta 4, havia um portal composto por elementos grotescos—órgãos destroçados, sangue coagulado, olhos sem vida, membros atrofiados e um cérebro mutilado—que se erguia no centro. Um líquido púrpura fluía pelo quadro da porta carnosa, e no canto inferior esquerdo, um torso ensanguentado estava embutido nela. Era dali que vinham os sons de tosse.
A figura ensanguentada abriu os olhos e fixou o olhar em Charles, que estava parado na entrada do quarto.
“Ah… 096, você finalmente encontrou outro hospedeiro? Aproxime-se, meu amigo. Desde que fui enviado para este lugar miserável, não te vejo há muito tempo. Vamos conversar.”
Ele me conhece? Espera, não. Ele reconhece a máscara no meu rosto?
O olhar de Charles varreu o ambiente e caiu sobre o livro de registros na parede.
ID do Projeto: 1068
“Haha, estava pensando quem poderia ser, e acontece que é você, 1068. Há quanto tempo, meu velho amigo. Sim, eu sou o 096.” Charles respondeu com uma familiaridade fingida enquanto se aproximava do portal de carne.
O cadáver ensanguentado examinou Charles por alguns segundos antes de balançar a cabeça e comentar:
“Não. Você não é 096. Ainda não se tornou ele.”
Percebendo que não poderia enganar a criatura, Charles abandonou sua farsa e perguntou:
“E você? Sabe onde fica a saída?”
“Perguntar direções para um velho imóvel… Isso não é um pouco impraticável? Os humanos degeneraram em idiotas depois de tantos anos?”
Anos? Esta coisa está aqui há anos? Será que ela sabe algo sobre o mundo da superfície?
Após refletir brevemente, Charles decidiu perguntar sobre informações a respeito do mundo da superfície.
“Ah… o sol. Claro que eu sei sobre ele. É aquela coisa que fica pendurada no céu. Faz tempo desde que me aqueci em sua luz. Você pode me levar para fora e me deixar aproveitar um pouco de sol?”
Ao ouvir uma notícia tão emocionante, Charles saltou em direção à criatura como um macaco. Segurando a cabeça do cadáver ensanguentado com as mãos, perguntou com entusiasmo:
“Quando você o viu? Há quanto tempo foi isso?”
“Droga! Não puxe minha cabeça! Ainda tenho meu senso de tato!”
Swoosh!
Charles desembainhou a lâmina preta presa à sua panturrilha e a colocou contra o rosto da criatura. Ele a ameaçou com um tom severo:
“Chega de enrolação! Fale!”
Uma ponta de fúria apareceu no rosto ensanguentado de 1068.
“A porta presa ao meu corpo! Passe por ela, e você poderá ver o sol.”
“A porta?” Um pensamento repentino surgiu na mente de Charles enquanto ele se aproximava da porta e pegava o livro de registros pendurado na parede ao lado.
Alguns segundos depois, Charles avançou em direção ao cadáver de carne com raiva e brandiu sua faca contra o pescoço da criatura.
“Como ousa me enganar! Está escrito claramente aqui que sua porta leva a outros mundos. Nenhuma criatura viva que entrou jamais saiu!”
Enquanto 1068 soltava um grito de agonia, todo o portal de carne se contorceu como se estivesse com dor.
“Seu pedaço de lixo que só serve para limpar o chão! Eu te amaldiçoo!” 1068 abandonou sua pretensão e atacou verbalmente Charles.
“Corta o papo furado e começa a falar! Mais um absurdo e eu arranco sua cabeça!”
Diante da ameaça iminente da lâmina, 1068 finalmente cedeu.
Com uma expressão desanimada, começou:
“Não consigo lembrar exatamente quando, mas a última vez que vi o sol foi quando me levaram a bordo de um navio. Passei muito tempo naquele navio.”
“Hahaha!” Charles soltou uma risada maníaca enquanto fazia alguns mortais no ar, cheio de euforia.
“Eu sabia que devia haver pessoas que vieram da superfície! Eu sabia!! Se eles têm uma maneira de descer, então certamente posso usar o mesmo caminho para subir!”
No entanto, a alegria de Charles foi breve, pois um brilho vermelho familiar iluminou a área fora da Porta 4.
“Argh! Aqueles malditos insetos estão aqui de novo!”
Charles olhou para os lados em busca de um lugar para se esconder, mas, para seu desespero, percebeu que, além do portal de carne, não havia nenhum abrigo.
Sua mente correu, e uma ideia repentina surgiu. Ele correu para um canto da sala e, como um lagarto, escalou rapidamente a parede até o canto superior esquerdo.
Pressionando seus membros firmemente contra as paredes com sua impressionante destreza corporal, Charles encaixou todo o seu corpo no canto.
Assim que terminou de se posicionar, três gafanhotos voadores flutuaram para dentro da sala. Seus corpos translúcidos brilhavam com um tom vermelho.
Os gafanhotos não pareciam notar Charles e se dirigiram diretamente para 1068. Eles começaram a regurgitar e vomitar um fluxo de ratos meio decompostos na porta negra.
Eles… eles estão alimentando 1068? Mas por quê?
Justo quando Charles estava intrigado, 1068 começou a falar novamente:
“Dra. Tina, você está tão linda como sempre.”
Com quem ele está falando? Mais uma dúvida formou-se na mente de Charles.
Então, ele viu 1068 inclinar a cabeça para olhá-lo. Um sorriso presunçoso apareceu em seu rosto grotesco e contorcido. Um pressentimento tomou conta de Charles.
“Dra. Tina! 096 escapou!! Está pendurado no canto superior esquerdo da sala! Contenha-o rapidamente!”
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