Capítulo 32: Os Locais

Observando as figuras distantes no píer, Charles instintivamente lambeu seus lábios ressecados. “Vamos atracar primeiro, podemos perguntar aos locais quando desembarcarmos.”

No momento em que Charles e sua tripulação desceram do Narval, uma multidão já os cercava. Os espectadores os encaravam intensamente, sem nem piscar.

Charles começou a se sentir desconfortável com os olhares constantes, quando dois homens de meia-idade, vestidos com o que pareciam ser uniformes de agentes alfandegários, atravessaram a multidão e se aproximaram deles.

Um dos homens, cujo rosto exibia profundas marcas de sorriso, perguntou:
“Quem é o capitão? De onde veio seu navio? Vocês não sabem que embarcações estrangeiras não têm permissão para atracar aqui?”

Charles deu um passo à frente e explicou a situação em detalhes. Também perguntou se havia um estaleiro na ilha.

Após Charles terminar sua explicação, seguiu-se um longo momento de silêncio. Os dois homens à sua frente pareciam congelados, seus olhares intensos fixos nele.

Alguns segundos depois, eles finalmente voltaram a si, e suas expressões se tornaram visivelmente mais amigáveis.
“Sim, existe um estaleiro, senhor. Se você navegar para o leste, encontrará um lá.”

O Segundo Imediato, Conor, inclinou-se para Charles e sussurrou:
“Capitão, você não acha que as reações das pessoas nesta ilha são um pouco lentas?”

Charles também não sabia o motivo, mas era um detalhe menor. A crise deles finalmente havia terminado.

Quando Charles levou o Narval até o estaleiro, foi informado de que levaria um mês para substituir a turbina. Apesar da longa espera, não tinham outra escolha. Afinal, a turbina era como o coração do navio. Sem uma em bom funcionamento, o Narval não conseguiria retornar ao Arquipélago dos Corais.

Após pagar o depósito e sair do porto, Charles percebeu que os habitantes locais ainda os observavam fixamente, sem se mover.

Mas ele e sua tripulação estavam ocupados demais lidando com a sede para se preocupar com as esquisitices dos locais. Apressaram-se até uma estalagem deserta e se entregaram a uma refeição farta.

Depois de garantir que sua tripulação estava satisfeita, julgando pelos sorrisos e pelos arrotos de contentamento, Charles os advertiu:
“Levará um mês para substituir as turbinas. Os locais não parecem muito receptivos, então tomem cuidado e evitem problemas desnecessários.”

Os tripulantes se recostaram em suas cadeiras e assentiram com a cabeça.

No entanto, assim que Charles mencionou que distribuiria o pagamento da viagem, todos imediatamente se animaram, cheios de vigor renovado.

Segurando um maço de notas de Echo em mãos, James hesitou e disse:
“Capitão, a missão falhou, e o Narval ainda precisa de uma nova turbina. Por que não—”

“Está tudo bem. Todos merecem seu pagamento, então aproveitem este tempo para descansar bem,” Charles interrompeu.

Antes, Charles economizava para comprar um navio de exploração. Agora, dinheiro não significava tanto para ele. Depois de passar por uma catástrofe dessas, se algumas notas eram suficientes para tranquilizar a tripulação, era um investimento que valia a pena.

Com o dinheiro em mãos, os tripulantes não conseguiam mais ficar parados. Sorrisos se espalharam por seus rostos enquanto saíam juntos, ombro a ombro.

Vendo suas expressões, Charles sabia exatamente para onde estavam indo. Para homens que ganhavam a vida no mar, essa era a forma tradicional de relaxar quando chegavam a uma ilha. Por outro lado, Charles sempre fora considerado estranho por não se entregar a esses hábitos e ser mais econômico.

Naquela noite, Charles teve um sonho estranho. Sonhou que afundava novamente nas águas profundas e que aquela colossal e aterrorizante criatura humanoide se virava para encará-lo. Ele gritou e se debateu, até que finalmente abriu os olhos. Estava completamente encharcado de suor frio. Não havia um abismo subaquático, nem um monstro — apenas o teto ligeiramente descascado da estalagem diante dele.

“Sr. Charles, teve um pesadelo?” Lily perguntou, pulando em seu peito.

Charles sentou-se e pegou seu relógio de bolso. Percebeu que havia dormido por sólidas onze horas — algo inédito para ele.

Ao se levantar para ir ao banheiro, notou um envelope na soleira da porta. Abriu-o e encontrou belas letras cursivas escritas no papel.

‘Sr. Charles,

A vida em um navio de exploração é perigosa demais para mim. Não consigo mais suportar.
Decidi ficar em terra firme. Perdoe-me por não poder me despedir pessoalmente.

Seu ex-tripulante,
Sniffler’

Charles soltou um suspiro, amassou a carta em uma bola e a jogou no monte de lixo próximo.

“Parece que dinheiro sozinho não compra lealdade. Alguns ficaram completamente apavorados.”

Ele não sentiu grandes emoções. Já esperava que alguns de seus tripulantes desertariam depois de passar por aquilo.

Calculando o tempo, Charles supôs que já era noite e saiu com Lily.

As diferenças entre os portos das ilhas não eram tão evidentes, mas assim que Charles entrou no que os locais chamavam de Distrito da Coroa, ele notou um contraste gritante.

Desde a arquitetura até a moda dos habitantes, tudo era diferente do Arquipélago dos Corais. Cada homem que passava pelas ruas vestia ternos sob medida com golas de couro e carregava bengalas. Enquanto isso, as mulheres estavam adornadas com trajes requintados e exalavam elegância em cada movimento.

Charles se perguntou se era apenas uma ilusão sua, mas parecia que os habitantes dessa ilha eram consideravelmente mais atraentes do que a média. Havia muitos homens bonitos e mulheres deslumbrantes.

No entanto, independentemente de suas aparências, o hábito deles de encarar os outros continuava o mesmo.

Incomodado por estar sendo tratado como um animal em exposição, Charles parou um homem e perguntou:
“Com licença, pode me dizer onde fica a Associação dos Exploradores? Não consegui encontrá-la na área portuária.”

“Associação dos Exploradores? O que é isso? Nunca ouvi falar,” o homem respondeu.

Ele nunca ouviu falar? Charles ficou visivelmente surpreso. Pelo que sabia, a maioria das ilhas do mundo subterrâneo havia sido descoberta por Exploradores.

Embora a Associação fosse uma organização descentralizada, ela mantinha relações simbióticas com os governadores das várias ilhas e exercia uma grande influência nos assentamentos humanos.

Se essa ilha não tinha sequer uma Associação dos Exploradores, poderia ser um lugar completamente isolado?

Enquanto Charles refletia sobre isso, o homem que ele havia abordado já se afastava.

Depois de ponderar um pouco, Charles foi até a biblioteca local. Lá, encontrou diversos mapas náuticos em livros e, comparando-os entre si, conseguiu determinar a posição da ilha.

Traçando uma linha com o dedo no mapa, ele relaxou e comentou:
“Ótimo. Embora este lugar não esteja registrado, não fica muito longe do Arquipélago dos Corais. Assim que o navio estiver consertado, na velocidade máxima, levaremos 15 dias para voltar.”

Depois de comprar diversos mapas náuticos novos e antigos, Charles deixou a biblioteca.

Parado nas ruas movimentadas, ele hesitou por um momento. O navio estava em reparo, suas coordenadas haviam sido confirmadas. Agora, ele estava sem rumo.

Antes, teria se dedicado a treinar sua resistência para futuras aventuras. Mas, considerando suas alucinações cada vez mais frequentes, talvez estivesse se forçando demais. Ele não descansava desde que chegara a esse mundo subterrâneo.

Preciso aprender a relaxar. Isso pode até ajudar com as alucinações.

Com esse pensamento, ele olhou para Lily, empoleirada em seu ombro, e disse:
“Vamos explorar a ilha.”

“Yay!” Lily animou-se ao ouvir que iam passear.

Enquanto caminhavam, observaram torres imponentes, vitrais coloridos e esculturas detalhadas. Charles, mesmo sem grande conhecimento artístico, conseguia admirar a qualidade da arquitetura — muito superior ao que se via no jovem Arquipélago dos Corais.

“Sr. Charles, o que é aquilo? Parece delicioso!”