Capítulo 38: Lampejo de Luz Solar
Vendo o canhão do navio se mover gradualmente em sua direção, o pânico de Akasha cresceu. Ela tentou escapar, mas Charles não lhe deu oportunidade.
Ao levantar a mão esquerda, o anel de tentáculos foi ativado instantaneamente, e um tentáculo invisível envolveu o morcego de focinho porcino. Apesar de o morcego ter se libertado em menos de um segundo, já era tarde demais.
Boom!
Em um piscar de olhos, metade do corpo monstruoso do morcego explodiu em uma névoa de sangue e entranhas que choveu sobre o Narval. Descrença estava estampada no rosto grotesco da criatura.
Enquanto Charles caía em direção às águas abaixo, um clarão branco o cegou. Instintivamente, ele esticou a mão e agarrou a fonte da luz: era o espelho que caíra do morcego gigante.
Com um splash, a água gelada envolveu Charles. Quando emergiu à superfície, testemunhou a outra monstruosidade meio humana fugindo em direção ao porto. Claramente, não havia intenção de vingar a companheira morta.
“Covarde! Não fuja, se tiver coragem!” zombou Charles, remando na água.
A morte da duquesa pareceu intimidar os vampiros. Nenhum morcego se aproximou, mesmo quando a Ilha Cristal Negra já era apenas um ponto no horizonte.
Encharcado, Charles deitou-se no convés, exausto. A Máscara de Palhaço permitira que ele explorasse o máximo potencial de um corpo humano, mas não eliminara a exaustão. Agora, ele mal conseguia mover um dedo.
Escapando da morte, a tripulação irrompeu em celebração e o ergueu no ar.
No dia seguinte, Charles acordou. Semi-recuperado, ignorou a dor nos músculos e arrastou-se até o convés.
Ao chegar, viu seu Imediato, Bandagens, o único marinheiro reparando o navio. Ele suspirou. As baixas haviam sido graves: na batalha com a borboleta gigante, perderam dois marinheiros e o Terceiro Engenheiro. Na Ilha Cristal Negra, mais dois marinheiros e o ajudante de cozinha viraram comida de vampiro.
Além disso, o Narval, antes novo e impecável, agora estava marcado e danificado. A missão de explorar uma nova área marítima fora um fracasso desastroso.
A única conquista de Charles fora uma relíquia 1 e um vampiro cego.
Tirando o espelho redondo, Charles observou seu reflexo nele, mas a imagem estava tão embaçada que mal se via. Uma ideia surgiu, e ele dirigiu-se aos alojamentos da tripulação. Se alguém a bordo saberia usar aquela relíquia, seria o único nativo da Ilha Cristal Negra.
Ao entrar no alojamento, o cheiro metálico de sangue invadiu suas narinas. O vampiro cego, Audric, alimentava-se de uma atadura ensanguentada. Enquanto isso, o dono da atadura, James, roncava alto em uma rede ao lado.
O pescoço do vampiro cego se contorcia sem parar, com brotos de carne se regenerando. Parecia que logo estaria curado.
Ouvindo os passos familiares, Audric levantou-se apressadamente:
“Capitão Charles, você está aqui.”
Charles colocou a Lâmina Negra na mão de James. Ele sofrera ferimentos graves ao enfrentar o morcego, mas, felizmente, sua pele grossa e músculos o protegiam. A maioria dos ferimentos era superficial.
Verificando a febre de James e aliviado por não haver nenhuma, Charles virou-se para Audric e entregou-lhe o espelho.
“Esta relíquia pertenceu à Duquesa. Parece que ela concedia o poder de se transformar naquele morcego gigante. Você sabe usá-la?”
Os dedos do cego percorreram o espelho brevemente antes de responder:
“Isto… deve ser a relíquia da Duquesa Akasha, o Espelho do Morcego. Manchar sangue nele permite ao usuário se tornar um morcego gigante com alto poder de combate.”
As palavras de Audric lembraram Charles da fera aérea formidável. Um desejo acendeu-se em seu coração ao recordar o poderoso ataque sônico. Mas ele não se deixou cegar pelo poder sem considerar os efeitos colaterais.
“Há efeitos adversos?”
“Sim. Após usar o espelho, a sede de sangue do usuário se intensifica. Uso frequente o transformará em escravo do poder… e em uma besta real. Seu dono anterior, Visconde Lance, ainda está pendurado de cabeça para baixo na Ilha Cristal Negra.”
Charles encarou o espelho, pensativo. Os efeitos eram severos. Só poderia usá-lo em emergências, não livremente como a Máscara de Palhaço.
Audric pareceu sentir o olhar de Charles e devolveu o espelho rapidamente. Não enxergava, mas sabia seu lugar.
O pescoço do vampiro já estava regenerado. Sua habilidade despertou inveja em Charles.
Guardando o espelho no bolso, a curiosidade falou mais alto:
“Se vampiros têm regeneração tão incrível, o que causou a cicatriz em seu rosto? Algo especial?”
Um traço de horror surgiu no rosto de Audric.
“Foi um acidente,” começou ele. “Meus companheiros e eu atacamos um navio pirata. Encontramos uma caixa em um compartimento secreto. Pensávamos ser um tesouro, mas… continha luz solar.”
O coração de Charles acelerou ao ouvir “luz solar”, mas logo percebeu algo estranho:
“Espere… Luz solar? Como luz solar estaria em uma caixa? Tem certeza?”
“Sim. Era luz solar. No instante em que brilhou, meus irmãos viraram cinzas. Eu sobrevivi por estar longe da caixa, mas paguei um preço terrível.”
Audric removeu os óculos escuros, revelando olhos inchados como ovos cozidos, veias vermelhas saltadas ao redor.
“Vê isto? Meus olhos ainda doem. Só a luz solar causa tal tormento.”
Inquieto, Charles começou a circular pela cabine. Nem a perseguição dos vampiros o abalara tanto quanto isso.
“Talvez… fosse outra arma de luz?”
A ideia de luz solar em uma caixa soava absurda. Como algo intangível seria armazenado?
Audric balançou a cabeça.
“Alguns piratas sobreviveram à batalha. Eles não foram afetados. Se fosse outra arma, não escapariam ilesos.”
O coração de Charles acelerou, seu rosto iluminando-se de excitação. Aquilo podia ser uma pista crucial para encontrar o caminho de volta à superfície.
“Onde os piratas conseguiram a luz solar?”
“Não sei ao certo. Mas eram da Cidade do Caos, Sottom. Provavelmente a obtiveram lá. Sr. Charles… você precisa de luz solar?”
“Cidade do Caos, Sottom…” Charles repetiu o nome, um raro sorriso surgindo em seu rosto. Ele deu um tapinha no ombro de Audric e saiu da cabine.
Independente de a caixa conter luz solar ou não, ele estava determinado a descobrir.
Enquanto os passos de Charles se distanciavam, Audric retirou sorrateiramente um meio-cadáver de um barril próximo. Se Charles estivesse presente, reconheceria o corpo: era o da duquesa vampira que ele enfrentara.
O vampiro cego abraçou o cadáver e alimentou-se vorazmente. Na escuridão da cabine, o som de dentes rangendo misturava-se aos roncos de James.
- Nota: O Espelho[↩]
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