Índice de Capítulo

    Segurando a pilha de notas Echo em suas mãos, Velho John estava visivelmente animado. Ele virou e andou em direção a porta. Porém, enquanto abria a porta e estava prestes a dar um passo para fora, ele refletiu por um momento e virou de novo, aparentemente tendo uma aflição emocional. 

    Olhando para o homem em sua frente, parcialmente iluminado pela luz fraca do quarto, Velho John hesitou, mas eventualmente falou. 

    “Capitão, eu to me aposentando. Pra ser honesto, por que que você não fica em terra firme também? Tu guardou dinheiro o suficiente pra pegar um navio de navegação, mas que bom que isso vai te fazer? A Terra da Luz… ela não existe.”

    “Existe sim,” Charles respondeu de forma calma, mas seus olhos estavam brilhando com fé resoluta.

    “Tem um bagulho flutuando no céu, maior que qualquer ilha. Nos dá luz e calor sem explicação do porquê, e ainda faz a escuridão ir embora. Como caralhos isso pode ser possível, em? É tudo lorota da Ordem Divina da Luz pra fazer a gente de trouxa.”

    O silêncio de Charles fez o Velho John suspirar: “Na primeira vez que eu botei meus olhos em você, mesmo tu não conseguindo falar uma palavra, tu já tinha tanto espírito, tanta confiança. Eu pensei pra mim mesmo, que jovem promissor que tu é! Se eu tivesse uma neta eu com certeza te introduziria para ela.

    “Não precisa guardar segredo de mim, Capitão. Eu sei que tu ta escutando a voz do divino já faz dias. Se continuar desse jeito, tu vai se enlouquecer, eu to te dizendo. Desiste disso.”

    Charles continuou sem nenhuma expressão enquanto andava até a porta. Ele gentilmente empurrou Velho John para fora e a fechou com um “tah”.

    “Menino, tu tá obcecado demais.” O velho John murmurou. Seus passos gradualmente ficando mais longe.

    “Eu estou ficando obcecado?” Charles se apoiou contra a porta e sussurrou para si mesmo. Sua expressão lentamente distorcendo

    “O que tem de errado em querer voltar?” Charles subitamente gritou com uma expressão de dor.

    “Eu não fiz nada perverso e não cometi nenhum crime! Porque eu tenho que lidar com toda essa merda! Porque?!!”

    “Oito anos! Foram oito anos!! Porque tenho que aguentar esse tipo de tormento?! Eu só quero voltar pra casa, é muito querer isso?! Charles gritou o mais alto possível.

    “glui mglw… na…” Os murmúrios em seus ouvidos soaram de novo, aumentando sua irritação.

    “Vai se foder porra!!” Em uma explosão de raiva, Charles pegou seu revólver e o pressionou contra sua têmpora.

    No momento em que ele iria apertar o gatilho com seus dedos trêmulos, um grito abafado soou do hóspede dormindo na sala ao lado.

    “Que que foi com todo esse barulho! Fala mais baixo!”

    Charles que estava muito agitado se acalmou. Ele botou seu revólver de volta ao seu coldre e cuidadosamente cobriu a lâmina com um pedaço de pano.

    Nessa noite Charles sonhou com muitas coisas, mas quando ele acordou, já não conseguia lembrar de nenhuma delas

    ‘Knock, knock, knock.

    Alguém estava batendo na porta.

    Charles abriu a porta e viu um homem careca com uma tatuagem de polvo em sua cara.

    “Você é o Capitão Charles do S.S. Mouse? As pessoas me chamam de Gancho. Prazer em te conhecer,”

    Charles calmamente analisou o homem à sua frente. Seu rosto era ordinário e suas orelhas eram curvadas para dentro. Uma indicação que ele era um nativo do Arquipélago dos Corais. A tatuagem de polvo em seu rosto deixava óbvio onde sua fé estava.

    “O que os seguidores de Fhtagn querem de mim? Eu imagino que vocês não tão tentando me usar como sacrifício para o seu todo poderoso deus, estão?” 

    Mesmo com a hostilidade evidente de Charles, que estava aparente em suas palavras, Gancho continuou sem reação.

    “É possível que você não seja de calibre o suficiente para ser digno de ser uma oferenda para O Grandioso. Eu vim por outro motivo, Capitão Charles. Eu ouvi que você está precisando de dinheiro.”

    Charles não estava surpreso. Essa não foi a primeira vez que alguém como Gancho procurou por ele.

    “Eu não contrabando coisas ilegais,” Charles respondeu e estava prestes a fechar a porta no homem.

    Na verdade, Charles estava mentindo. Desde que o dinheiro fosse o suficiente, ele ocasionalmente aceitaria trabalhos de contrabando. Porém, nesse caso. Ele recusou firmemente já que não queria envolvimento com esses cultos.

    Pra ele, a única diferença entre os cultistas de Fhtagn e os malucos nas ruas era que os cultistas conseguiam formar frases coesas. Nenhuma pessoa sã louvaria um monstro marinho como seu deus.

    No momento em que a porta iria fechar completamente, Charles ouviu um número sendo sussurrado do outro lado da porta.

    “Um milhão de Echo.”

    Olhando para os olhos escuros do capitão pela fenda da parcialmente aberta porta, o homem mostrou um sorriso de confiança.

    “Sr. Charles, essa compensação é mais que o suficiente para auxiliar a sua situação financeira. Com esse dinheiro, você pode comprar um navio de exploração com equipamento de primeira linha. Pense sobre isso, se você descobrir uma ilha nova, você se tornaria o governador dela, com essa terra à sua disposição. Mulheres, poder, dinheiro, tudo seria seu.”

    Charles não tinha a mínima ideia de como a Convenção Fhtagn 1 sabia de seus planos, mas sua determinação estava começando a falhar. Com essa quantidade de dinheiro, ele estaria um passo grande mais perto de retornar para casa.

    Mesmo assim, ele não baixou sua guarda. A Convenção Fhtagn não era uma organização de caridade, e essa recompensa gigante claramente significava um perigo tão grande quanto.

    “O que você precisa que eu contrabandeie?” Charles perguntou em um tom cauteloso.

    “A gente não precisa que você para contrabandear nada. Na verdade, a gente gostaria de sua ajuda para encontrar algo. Por favor, venha comigo. Nosso sumo sacerdote 2 irá te contar os detalhes.” 

    Depois de alguns segundos de contemplação, Charles abriu a porta e seguiu Gancho até as ruas.

    Os dois homens andaram através do porto que fedia a peixe, deixando o distrito do porto para trás e adentrando a ilha até o distrito residencial.

    A área residencial era um pouco menos caótica, com um tom a mais de cores. Se não fosse pelas construções cinzas feitas de rochas corais, Charles sentiu como se estivesse andando por Londres no século 19.

    Bancos, hospitais, lojas de roupas, teatros, e várias outras instalações modernas, a ilha tinha todas. Se não fosse as pessoas com orelhas deformadas e pele pálida que nem um fantasma, tudo pareceria perfeitamente normal.

    A ilha era como uma cidade, e as ruas estavam agitadas. Existia uma mistura de pessoas pobres e ricas, evidentes pelas suas roupas. Mesmo assim todos pareciam ocupados com suas próprias coisas.

    “Perna de caranguejo aranha frita! 4 Echo!

    “Papai, eu estou tão cansada. Eu não consigo andar mais…”

    Extra! Extra! Notícia urgente! Governadora Nico irá se casar com seu sexto marido em seis dias!”

    “Me desculpe senhor. Eu posso ter um momento de seu tempo? Deixe-me introduzi-lo para o nosso Pai Divino e Salvador, o Onisciente e Onipotente O Grandioso, Fhtagn Sawito.”

    A serenidade e paz deixam Charles desconfortável. Não importa o quão pacifico tudo parecia, tudo era tão frágil como uma bolha. Mesmo sendo extremamente raro, houve casos onde uma ilha inabitada por milhões de pessoas simplesmente afundou para o fundo do mar do nada.

    Os dois andaram pelos prédios cinzentos até que eventualmente chegaram em uma grande catedral. Quando entraram, os sons caóticos das ruas instantaneamente foram embora.

    A estátua colossal de pedra que vagamente parecia um humanoide estava no meio do salão.

    Em vez de humano, mutante ou outra coisa, sua aparência lembra a de um polvo apodrecendo em pé. Suas escamas e incontáveis olhos cobrindo seu corpo fazia com quem o olhasse, sentisse calafrios e desconforto.

    Devotos vestindo mantos negros estavam lado a lado enquanto recitavam algo em uma língua sem nenhuma letra consoante. Charles achou essas frases estranhamente familiares, elas o lembravam das alucinações auditivas que ele experienciou.

    “O sumo sacerdote está no confessional. Por favor me siga.”

    Gancho então levou Charles através da multidão para mais dentro da catedral.

    A segurança atrás do salão principal ficou cada vez mais rigorosa. Em todo corredor e esquina tinha um seguidor de mantos negros montando guarda. Mesmo que nenhum deles tivesse falado nada, Charles podia claramente sentir seus olhares.

    Eles chegaram em uma sala mal iluminada, e Charles finalmente pode conhecer o sumo sacerdote da Convenção Fhtagn. A figura coberta por um manto carmesim estava de joelhos.

    Gancho fez um gesto religioso antes de dar um passo para trás e sair da sala.

    O sumo sacerdote lentamente se levantou. Sem virar para Charles, ele falou, “Capitão Charles. Nossa Convenção precisa que você ache algo. É um artefato sagrado que pertence ao nosso Senhor.”


    1. Nota: O nome em inglês desse culto é Fhtagn Covenant. Covenant tem algumas traduções, não sei qual seria a melhor, mas fui com Convenção, tem algumas religiões e grupos nessa novel, a maior parte são o que a gente no mundo real consideraria cultos, mas obviamente eles não vão se chamar de cultos.[]
    2. Nota: Em inglês High Priest, traduzi para sumo sacerdote, acho que é a posição equivalente em português, não conheço muito a área de religiões então posso estar errado. Porém quando se referir ao sumo sacerdote pense na pessoa com mais autoridade da “igreja” nesse local.[]

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