Capítulo 53: A Humana a Bordo
Aflito com a situação, Charles correu desesperadamente pelos confins do navio gigante. Nesse momento, ele sentiu como se a embarcação tivesse ganhado vida.
Cada objeto parecia hostil a ele. Tudo que poderia matar queria sua vida. Agora, ele finalmente entendia por que não havia necessidade de guardas humanos vivos neste lugar.
Ele podia sentir a presença de coisas que não podia ver. Estavam ao seu redor, observando-o com um olhar indiferente.
Em meio à sua fuga desesperada, a ansiedade de Charles aumentava. ‘Isso não vai dar certo. Preciso me livrar dessas entidades, não importa o que sejam.‘
Com uma virada brusca, Charles recorreu ao seu método testado e comprovado: escalar a parede, cravar sua lâmina na superfície e se suspender como uma mosca no canto do corredor.
Abaixo dele, os fragmentos flutuantes que o perseguiam dobraram a esquina e seguiram em frente, descendo o corredor.
Charles permaneceu pendurado no canto até que os estilhaços assassinos estivessem completamente fora de vista. Ele saltou de seu esconderijo, a testa coberta de suor frio. “Droga, aquele gordo não só criou insetos, mas também fantasmas?”
Charles murmurou para si mesmo e se virou. Seu corpo congelou instantaneamente quando se deparou com uma garotinha vestida com um vestido gótico preto.
Seu longo cabelo prateado, combinado com suas bochechas rosadas e uma pinta em forma de lágrima acima do olho, a tornava adoravelmente fofa. No entanto, a presença de uma Lolita tão fofa em tais circunstâncias fez um calafrio percorrer a espinha de Charles.
Seus olhares se encontraram. Charles instantaneamente correu em sua direção e pressionou sua lâmina escura contra o pescoço dela. Ele cobriu sua boca com a mão para impedi-la de fazer barulho. Um alívio o invadiu quando sentiu o calor de sua respiração em sua mão — ela era uma ser vivo.
Drip. Drip.
As lágrimas da garota caíram sobre a mão de Charles, e seus longos cílios se curvaram de maneira comovente.
“Garotinha, relaxe. Diga-me onde está a carta náutica, e eu a solto,” Charles sussurrou, tentando acalmá-la.
Ele afrouxou a mão sobre sua boca, mas a garota permaneceu em silêncio, com uma expressão triste em seu rosto.
Após uma breve contemplação, Charles decidiu levá-la como refém. Julgando por sua aparência, ela parecia ser uma figura importante para o ‘Rei’. Se ele encontrasse aquelas aparições novamente, talvez pudesse usá-la como moeda de troca.
Charles mal havia dado dois passos quando a garota começou a chutar seus pezinhos calçados com botas de couro. Ela parecia querer ser colocada no chão.
Charles soltou-a. No momento em que ela tocou o chão, saltou para frente como um filhote de cervo.
Após atravessar dois lances de escadas, a garota abriu uma porta de cabine e entrou. Quando Charles tentou segui-la, ela reapareceu com um punhado de frutas vermelhas no colo de seu vestido.
Ela está tentando me subornar com frutas para que eu a solte?
Quando Charles fixou o olhar nas frutas, suas pupilas se contraíram. As frutas não se pareciam com nada que ele já tinha visto no mundo subterrâneo. Em vez disso, pareciam exatamente com tomates-cereja da superfície.
Charles pegou um deles e perguntou: “Isso… você come isso frequentemente?”
A garota acenou com a cabeça de maneira adorável. Sua resposta fez o coração de Charles tremer.
Boom!
Uma explosão repentina ecoou dos níveis inferiores, seguida por um grito humano.
Ao ouvir o tumulto, a garota colocou o dedo indicador nos lábios. Ela puxou Charles pelo dedo e correu para frente.
Para onde essa garota quer me levar?
Olhando para a nuca dela, Charles colocou o tomate-cereja no bolso e se curvou levemente enquanto a seguia.
O navio era gigantesco, com salas e mais salas, níveis e mais níveis. Charles sentia que ficaria tonto com o labirinto.
Boom!
A parede diante deles explodiu, e o ‘Rei’ entrou pela abertura. Ele estava coberto de sangue e segurava uma cabeça humana — a cabeça de Jerald!
No momento em que reconheceu a cabeça de Jerald, a expressão de Charles ficou extremamente sombria. Evidentemente, o plano daquele aliado não apenas falhara, mas também terminara cedo demais.
Justamente quando Charles estava prestes a sacar sua arma para um confronto mortal com o ‘Rei’, uma expressão de medo apareceu no rosto gordo do ‘Rei’. Seu corpo corpulento caiu no chão enquanto ele cobria o rosto com as mãos e soltava uivos de choro como um animal ferido.
A garotinha soltou a mão de Charles e se aproximou do ‘Rei’. Seus lábios de cereja, que não haviam proferido uma única palavra até então, se abriram lentamente para revelar dentes serrilhados como os de um tubarão.
“Lixo inútil! O que você está fazendo? Temos um intruso!”
O lustre do corredor caiu sobre o ‘Rei’. No momento seguinte, uma barra de ferro enferrujada da parede se soltou e atravessou o corpo do ‘Rei’. Seus uivos aumentaram ainda mais.
“Que porra é essa!” Charles girou e fugiu sem pensar duas vezes. Ele estava disposto a tentar a sorte lutando contra um, mas lidar com dois era pedir para encontrar a Morte.
A garota ergueu seus dedos esbeltos, e a barra de ferro que atravessava o ‘Rei’ foi extraída de seu corpo e flutuou no ar. A barra então voou em direção ao olho esquerdo dele e se retraiu com o globo ocular preso em sua ponta.
“Capture-o! Quero comê-lo vivo! Se ele escapar, você pode esquecer de comer qualquer coisa este mês!” a garota rosnou.
Charles correu desesperadamente pelo corredor. Nunca lhe passara pela cabeça que a garotinha fosse uma figura ainda mais selvagem que o ‘Rei’. No entanto, ele não tinha o luxo de refletir sobre essa descoberta por muito tempo, pois percebeu que insetos de várias formas, aparentemente do ‘Rei’, estavam em seus calcanhares.
Apesar de correr com toda sua força, os insetos estavam rapidamente diminuindo a distância. Sua velocidade era perturbadora e superava até a dele, que já estava no limite humano com a Máscara de Palhaço.
Crack! Crack!
Charles podia ouvir o som de suas mandíbulas e peças bucais se movendo.
No momento em que os insetos arqueavam os corpos para saltar, a mente de Charles trabalhou rapidamente. Ele arrancou alguns rebites de sua carne com a mão esquerda e os arremessou em direção às fontes de luz ao redor.
Tink! Tink! Tink!
As lâmpadas do corredor se estilhaçaram, e a escuridão engoliu a área. Os insetos ficaram instantaneamente desorientados, sem saber para qual direção atacar.
Os insetos eram cegos no escuro, mas Charles podia ver tudo claramente com sua visão noturna aprimorada. Ele rapidamente sacou sua pistola e disparou tiros rápidos como uma metralhadora. As cabeças deformadas dos insetos explodiram uma após a outra, e suco verde de inseto respingou no chão.
Apesar de evitar momentaneamente uma crise, Charles não ousou ficar por perto. O ‘Rei’ havia retornado, e a missão fracassara. Agora, ele precisava sair o mais rápido possível.
Por onde passava, Charles quebrava as luzes. Ele se sentia muito mais seguro no escuro enquanto procurava desesperadamente por uma saída.
Gradualmente, uma melodia suave ecoou em seus ouvidos. A música era incrivelmente bela, fazendo Charles sentir como se um peso tivesse sido tirado de seus ossos.
No entanto, a situação logo piorou. Ele sentiu seus cabelos crescendo rapidamente e os ossos sob sua pele se expandindo, causando protuberâncias anormais.
O pior ainda estava por vir. Uma cãibra violenta atingiu seu estômago, e Charles enfiou um dedo na garganta para induzir o vômito.
O que saiu não foram restos de comida não digerida, mas sim tentáculos marrons de plantas e cogumelos que murchavam e floresciam em rápida sucessão.
“Droga!” Charles cambaleou de pé, apenas para sentir uma coceira repentina no dorso da mão. Ao levantá-la, viu musgo verde-escuro crescendo rapidamente.
A música parecia ter algum tipo de poder mágico para revitalizar tudo ao redor. Charles sabia que, se não encontrasse uma solução logo, a explosão de vida dentro dele rasgaria seu corpo em pedaços.
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