Capítulo 57: Margaret
O vento frio acordou Margaret de seu sono. Com os cabelos desalinhados, ela abriu os olhos e escaneou seu entorno. Nada havia mudado. Ela ainda estava presa no mesmo convés desconhecido.
Olhando através do vidro da cabine de comando, ela podia ver um homem envolto em bandagens manejando o leme. Sua aparência fez um calafrio de medo percorrer todo o seu corpo. Ele era o homem que os comprara.
Margaret inicialmente pensou que finalmente escapara do inferno e estava a caminho de casa. Mas então, percebeu que o homem os comprara para serem usados como oferendas sacrificiais. Se não fosse pelo retorno do capitão do navio, ela já poderia ter afundado nas profundezas das águas escuras.
As palavras de seu pai estavam certas: Todo homem no mar é ruim. Eles não tinham respeito por leis ou vidas. Para eles, vidas humanas valiam tanto quanto peixes.
Pai, onde você está? Me salve… Se você puder me tirar daqui, prometo ficar em Whereto e nunca mais deixar a ilha. Lágrimas escorreram pelas bochechas de Margaret ao pensar em seu pai.
Foi então que um barulho chegou aos seus ouvidos. Os marinheiros estavam acordados para suas tarefas de limpeza do convés. Sua conversa também não passou despercebida.
“Vamos continuar mantendo esses escravos? O comércio de escravos não é permitido no Arquipélago dos Corais, então qual é o sentido de trazê-los de volta? Melhor jogá-los ao mar.”
Ouvindo as palavras do marinheiro, uma expressão de terror apareceu nos rostos dos escravos. Eles se aglomeraram mais próximos, como ratos encurralados.
“O Primeiro Imediato os comprou com seu próprio dinheiro, então eles são propriedade dele. Você tem coragem de jogá-los?”
“Ehhhh. De jeito nenhum! Além do Capitão, quem ousa mexer com ele? Se eu irritá-lo, ele pode me oferecer como sacrifício da próxima vez.”
“Pare de falar besteira. Não está vendo que ele está no leme lá em cima? Você estaria morto se ele te ouvisse.”
Vendo as botas dos marinheiros se aproximando, Margaret rapidamente enterrou a cabeça em seu saco de estopa sujo.
Thwack!
O esfregão pingando água suja atingiu os escravos.
“Vocês não têm olhos? Não estão vendo que estou limpando o convés? Saiam para o outro lado!”
Os escravos, amontoados em um canto, rapidamente se levantaram e correram pelo convés como um bando de ratos.
Margaret se levantou, querendo seguir a multidão, mas um marinheiro alto e musculoso bloqueou seu caminho. Seus dedos grossos e calejados se estenderam para beliscar seu queixo e levantar seu rosto.
“Olha, essa escrava é bem bonita,” o marinheiro comentou com um sorriso lascivo.
Cercada pelos três marinheiros, Margaret tremia de medo. Seu olhar estava cheio de terror enquanto tentava desesperadamente recuar, mas suas costas já estavam contra as grades do navio. Ela não tinha para onde escapar.
Um balde de água foi jogado sobre ela, lavando a sujeira de seu corpo. Sua pele leitosa foi revelada, e um par de olhos grandes emoldurados por longos cílios piscaram em seu rosto delicado e pequeno.
A visão da beleza revelada de Margaret fez os marinheiros respirarem pesadamente, consumidos pela luxúria. Fazia muito tempo; sua privação os deixara famintos e ansiosos por liberação.
Sujeita ao olhar invasivo e implacável do trio, Margaret lutou e gritou em terror. Ela já tinha visto a mesma coisa acontecer com outras garotas em Sottom.
“Afaste-se de mim! Eu sou a filha do governador de Whereto! Vocês não podem fazer isso comigo! Pai! Socorro!” Margaret chorou entre soluços.
“O que vocês estão fazendo?” Uma voz cansada soou atrás do trio. Os marinheiros estremeceram de medo com a presença recém-chegada. Eles rapidamente pegaram seus esfregões no chão e se alinharam em fila. “Relatando ao Capitão! Estamos limpando o convés, senhor!”
“Por que há escravos no meu navio?” o jovem questionou.
“Capitão, o Primeiro Imediato os comprou por 4000 Echo cada. Eles foram comprados para serem oferecidos como sacrifícios para salvar você!” Um marinheiro respondeu.
Margaret virou-se para olhar o jovem que acabara de aparecer no convés. Ele tinha cabelos negros como ébano e vestia um uniforme de capitão azul-marinho. A cicatriz diagonal em sua bochecha acrescentava um toque de ferocidade ao seu rosto.
Vendo os marinheiros tremendo sob a autoridade do homem, Margaret se jogou aos pés do jovem. Com lágrimas escorrendo pelo rosto, ela olhou para ele e implorou: “Por favor, me salve. Eu quero ir para casa. Nunca mais vou para o mar—!”
Antes que Margaret pudesse terminar a frase, sentiu uma entidade invisível se enrolar ao seu redor e empurrá-la para longe.
Margaret lutou para se sentar e se viu cara a cara com o jovem. Vendo seu rosto bonito de perto, algo mexeu em seu coração.
“Você diz que é a filha do governador de Whereto? Tem alguma prova?” o capitão perguntou em um tom gelado.
As palavras do jovem tiraram Margaret de seu estado de medo, e ela rapidamente tirou um token de osso de peixe do bolso.
“Meu pai me deu isso. Basta mostrá-lo a ele, e ele saberá que estou aqui.”
O jovem pegou o token em suas mãos e o examinou. Enquanto isso, Margaret esperava ansiosamente por sua decisão. Afinal, sua vida dependia dela.
Foi então que ela notou algo arrepiante no jovem diante dela. Um de seus olhos a olhava, mas o outro estudava o token de osso de peixe.
Horrorizada, Margaret se abraçou forte enquanto mordia o lábio em trepidação.
“Como você escapou?” A pergunta repentina do homem assustou Margaret.
“Eles me sequestraram para Sottom e me trancaram por muito tempo. Mas uma noite, uma mulher me resgatou. Não sei quem ela é, mas vestia as mesmas roupas que eu e se disfarçou para parecer exatamente comigo.”
Ao ouvir a resposta de Margaret, as sobrancelhas do jovem se franziram, como se ele estivesse relembrando algo.
Margaret continuou seus apelos desesperados: “Senhor, por favor, pode me levar de volta? Se você me levar, meu pai o recompensará generosamente.”
“Claro, eu estava esperando por essas palavras. Agora temos financiamento garantido para nossas aventuras.”
Antes que Margaret pudesse entender a situação, ela foi levada para se lavar e vestir roupas folgadas.
Quando ela emergiu da área de banho mais uma vez, sua beleza original estava em plena exibição. Ela podia sentir os olhares lascivos dos homens do navio.
Margaret instintivamente apressou os passos para voltar ao lado do jovem. Apesar de sua frieza, ela sentia uma sensação de segurança ao seu lado.
“Você sabe escrever?”
“Sim…”
“Bom. Escreva uma carta para seu pai.”
Pensando que encontrara um salvador, uma expressão de alegria surgiu no rosto de Margaret. No entanto, as próximas palavras do jovem mergulharam suas emoções em desespero quase instantaneamente.
“Diga a ele que um bondoso estranho a salvou e que você prometeu cinco milhões de Echo como forma de gratidão.”
Margaret pegou a caneta dele e começou a escrever. Não importava as circunstâncias, ela estava a caminho de casa, de volta ao lugar quente que conhecia.
Após terminar a carta, ela a entregou respeitosamente ao jovem. Quando ele instruiu que ela saísse, um instinto de medo a invadiu.
“Senhor… posso ficar perto de você?” Margaret perguntou. Ela não sabia quem era aquele jovem, mas sabia que estaria segura enquanto estivesse ao seu lado.
Foi então que seu estômago roncou de fome. O rosto de Margaret ficou vermelho enquanto o olhar do jovem se fixava nela.
Sentada no refeitório, Margaret estava perto das lágrimas ao ver a comida mais básica colocada à sua frente. Desde que foi sequestrada, ela nunca se sentira tão saciada.
De repente, um pensamento passou por sua mente. Ela olhou de relance para o jovem ao seu lado antes de deslizar furtivamente um pedaço de pão em seu bolso.
Após a refeição, Margaret secretamente correu para o convés e esvaziou os vários alimentos de seus bolsos. Os escravos famintos se aglomeraram freneticamente para pegar a comida.
Não era como se os marinheiros lhes dessem boa comida. Seria bom se lhes dessem o suficiente para sobreviver.
“Por que você deu comida a eles?” Uma voz ecoou atrás dela. Margaret rapidamente se virou e percebeu que era o capitão do navio.
“Porque passar fome é horrível. Eu estou cheia, mas eles ainda estão famintos.”
“Se você pedir ao seu pai para me dar uma recompensa maior, posso garantir que eles tenham refeições melhores.”
“Sério? Senhor, você é um homem bom.” Margaret exclamou.
“Um homem bom? Haha, talvez.”
Justamente quando Margaret se alegrava com o fato de que ninguém mais passaria fome, ela notou um ponto de luz aparecendo no horizonte do mar.
O ponto rapidamente se aproximou, revelando um navio colossal de quase cem metros de comprimento. Seu casco ostentava um grande triângulo branco.
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