Capítulo 105: Reunião (6/6)
Airen já havia sido chamado de Nobre Preguiçoso no passado. Mas ninguém mais mencionava esse apelido, o que era óbvio. Ninguém treinava com mais intensidade ou vivia seus dias com tanta dedicação quanto ele. Qualquer um perceberia isso ao observá-lo.
No entanto, se alguém perguntasse por que Airen estava se esforçando tanto, ninguém saberia responder. Acordar cedo, renunciando ao doce sono da manhã, continuar o doloroso treinamento de espada diariamente e repetir isso sempre era impressionante. Era digno de respeito, e muitos ficavam admirados com a dedicação de Airen. Mas poucos refletiam sobre o motivo de tanto sofrimento. Os que se atentavam a essa questão eram…
“Muito poucos.”
O diretor Ian, Lulu e Ignet provavelmente eram os únicos. E agora, Airen adicionava Judith à lista. Apesar de ela parecer desinteressada na maioria das pessoas, reconheceu e elogiou algo em Airen que ele desejava que outros percebessem.
— Obrigado… — disse Airen com um sorriso.
Ele queria dizer mais, mas não conseguiu. Não sabia como expressar seus pensamentos. Judith apenas assentiu, provavelmente entendendo como Airen se sentia. Uma atmosfera desconfortável, mas estranhamente calorosa, tomou conta da sala. Foi então que Brett, que estava observando Judith, virou-se para Airen.
— Fui eu quem a fiz assim — disse Brett.
— Hã…?
— Fui eu quem a transformou na pessoa civilizada que é hoje. Tive que me esforçar muito, então deveria me agradecer por isso.
— Obrigado.
— De nada — respondeu Brett.
— Do que diabos você está falando, seu desgraçado? — gritou Judith.
— Estou apenas dizendo a verdade.
Judith, furiosa, xingou Brett, mas ele não parecia se importar. Airen observava os dois com um olhar indiferente. Já havia notado antes, mas agora tinha certeza: Brett também havia mudado muito. Talvez até mais do que Judith. E isso não parecia estranho.
“Ele está muito melhor do que da última vez que o vi.”
Ele sorria enquanto observava os dois. Apesar de serem espadachins experientes trocando ameaças, algo que deveria ser intimidante, Airen sentia uma certa ternura naquilo. Porém, não permaneceu assim por muito tempo, já que os dois pareciam prestes a correr para o campo de treinamento novamente.
“Melhor mudar de assunto”, pensou Airen, e começou a falar com eles.
— Então, agora que terminei de contar minha história, quero ouvir as suas. Posso? — perguntou Airen.
— Hmph.
— Hmm…
Ambos cruzaram os braços ao mesmo tempo, o que foi engraçado de ver. Mas Airen segurou o riso, pois sabia que poderia se tornar o próximo alvo da ira deles.
Felizmente, Judith e Brett concentraram-se no pedido de Airen em vez de se irritarem com ele. Brett se virou para Judith e falou:
— Eu conto pra ele.
— Certo. Faça isso.
— Bem… Judith ficou na academia o tempo todo, e eu também, exceto por algumas visitas à minha casa. Então, vai ser uma história chata.
— Tudo bem. Conte à vontade — disse Airen com um sorriso, e Brett começou.
Como ele havia dito, não era nada extraordinário. Brett falou sobre como treinava esgrima, seus duelos contra espadachins mais experientes, os outros lados do diretor e dos instrutores, e sobre Keira Finn, de quem Airen sabia pouco. Também mencionou outras histórias, misturando os tópicos. Depois de cerca de uma hora, discutiram o presente e os planos futuros. Os três decidiram viajar juntos, mas abandonaram o plano original de Airen.
— Você ia para Lathion? — perguntou Judith.
— Sim. Por quê?
— Na verdade, viemos de lá. Mas não vale a pena. Aquilo é uma decepção completa!
— Concordo com ela — disse Brett, assentindo.
— Por quê…?
Airen ficou confuso. Lathion era uma cidade renomada por suas academias de esgrima, famosas em todos os Cinco Reinos do Oeste. Por que estavam dizendo isso? Eles responderam imediatamente.
— Eles não aceitam desafios de duelo. Talvez tenham ficado com medo depois que mostramos a placa da 27ª Turma de Krono. Eles enrolaram ou nos fizeram lutar contra aprendizes sem habilidade — explicou Judith, irritada.
— Bem, não diria que ficaram com medo… Na verdade, acho que ficaram sim. Pareciam cautelosos conosco — acrescentou Brett.
Era risível. Nas academias de Lathion, disseram que Judith e Brett não tinham o que era necessário para desafiá-los. Mas, ao saberem que eram ex-alunos de Krono, arranjaram desculpas para evitar duelos que poderiam manchar suas reputações em caso de derrota.
— Foi decepcionante. Krono aceita todos os tipos de desafio, então achei que as academias de Lathion fariam o mesmo. Mas não. Não conseguimos falar com os diretores, e alguns espadachins famosos pareciam nobres esnobes que se vangloriavam, mas não lutavam…Me frustrou tanto que decidimos ir para outro lugar — disse Judith.
— Para onde? — perguntou Airen.
— Estamos pensando em ir para Partizan — respondeu Brett.
— Oh! — exclamou Airen.
Ele conhecia a cidade, já que era seu próximo destino após Lathion. Partizan tinha uma história mais curta que Lathion, mas atraía espadachins livres e liberais, que aceitavam desafios.
Os três decidiram o destino, mas não era o fim.
— Vamos juntos com o orc e a gata? — perguntou Brett.
— Ah, certo — disse Airen, assentindo.
Ainda não haviam falado de Lulu e Khubaru, mas não parecia ser um problema. Khubaru era amigável, e Airen já tinha contado sobre seus amigos da academia para Lulu. Além disso, Lulu parecia gostar muito de Judith. Brett e Judith também não eram do tipo tímido.
Enquanto pensava nisso, Airen foi surpreendido por Judith parecer incomodada.
— Hum… sabe… — murmurou Judith.
— Sim? O que foi? — perguntou Airen.
— Eu… er… não queria dizer isso…É só uma superstição, mas alguns países acreditam que é real, então…
— Está falando da superstição do gato preto? — interrompeu Brett.
Judith lançou-lhe um olhar furioso, mas não respondeu, parecendo realmente preocupada. Brett suspirou.
— Você também acreditava em todo tipo de superstição na academia. Cresça, vai. Você tem dezoito anos e ainda acredita nisso?
Brett continuou, explicando como a superstição começou, como se espalhou e que não tinha base. Até mencionou que os gatos eram benéficos por caçarem ratos portadores de pragas.
Airen, que estava ouvindo em silêncio, falou:
— Lulu não come ratos.
— Ah, entendi. Desculpe — disse Brett.
— De qualquer forma, como Brett disse, a superstição do gato preto é apenas um mito.
— Na verdade, no Reino de Heyle eles são considerados símbolos de sorte — explicou Airen.
— Sério? Nunca ouvi isso… — comentou Brett.
— É verdade.
— Jura?
— Claro.
Brett parecia confuso, mas Airen afirmou com confiança. Normalmente ele concordava com os outros, mas foi firme nesse ponto.
Judith, então, falou com um olhar um pouco arrependido.
— Desculpa. Eu devia ter pensado melhor. É sua amiga, afinal…
— É. Você realmente deveria pensar um pouco. É melhor cuidar de como você simplesmente solta o que quer dizer — disse Brett sarcasticamente.
— Seu desgraçado… — gritou Judith.
— Tá tudo bem, Judith. Não se preocupe. E Brett, não provoque tanto.
— Tenho que ir com tudo nela toda vez que fala besteira, assim ela para de dizer bobagens por aí — respondeu Brett.
— Ah! Seu idiota…
Toc, toc.
Judith estava prestes a agarrar Brett pelo colarinho quando ouviram batidas na porta. Era Khubaru.
— Achei que vocês já tinham terminado. Posso entrar? Ou precisam de mais tempo? — perguntou o orc.
— Está tudo bem. Na verdade, estávamos esperando por você — respondeu Airen.
— Haha, então tá.
— Oi! Judith! E você é… Brat? — gritou Lulu animadamente.
— É Brett Lloyd…
— Ah! Certo, Brett Lloyd! Que bom te ver, Brett Lloyd! Eu sou a Lulu!
Lulu e Khubaru chegaram bem na hora. Brett e Judith pararam de brigar, e o clima mudou. Havia um leve constrangimento pelo fato de estarem se conhecendo pela primeira vez.
— Bem, Lulu já se apresentou, então acho que também devemos nos apresentar.
Khubaru conduziu o grupo com naturalidade, dissipando rapidamente qualquer desconforto.
E havia algo especial que Khubaru trouxe, o que facilitou ainda mais a interação.
— Isso é… uísque? Parece caro — comentou Judith.
— Haha. Sim, é um uísque caro. Guardei para beber com pessoas valiosas.
O que Khubaru trouxe era um uísque caro que recebeu de mercadores que passaram pela Fortaleza Alhaad. Brett reconheceu o valor da bebida imediatamente, já que adorava bebidas alcoólicas, e Judith também ficou curiosa.
— A garrafa parece cara. Mas três garrafas não são poucas?
Judith tinha acabado de começar a experimentar bebidas alcoólicas. Ela só havia tomado alguns goles enquanto Brett bebia cerveja, então não tinha ideia de quão forte era aquele uísque. Por isso, não conseguiu rebater a provocação de Brett.
— Pouco? Se você conseguir acabar com essa garrafa sozinha, vou te tratar como minha chefe por uma semana — desafiou Brett.
— O que você disse? Por que chefe? Que droga é essa?
— Tanto faz. Não importa, porque uma criança como você, que mal começou a beber, não vai aguentar esse tipo de…
Bam!
— Certo! Vamos ver então.
Judith bateu na mesa e pegou uma das garrafas de uísque. Em seguida, com um golpe limpo de mão, quebrou o topo da garrafa e virou-se para Khubaru.
— Senhor Khubaru, posso beber tudo isso? Estou perguntando porque Brett disse que é caro.
— Hã? Sim, mas é…
“…muita bebida”, era o que Khubaru queria dizer, mas o olhar determinado de Judith o impediu. Nem Airen conseguiu detê-la, e ela já havia bebido cerca de um terço da garrafa. Com um som de surpresa, colocou a garrafa na mesa e falou confiante:
— É… cough… um pouco forte, mas eu consigo.
E, exatamente uma hora depois, Judith estava completamente bêbada e repetia as mesmas palavras enquanto abraçava Lulu.
— Desculpa, Lulu… Desculpa, Lulu… Desculpa por dizer que você dá azar… — murmurava Judith.
— Tá tudo bem, Judith. Eu entendo — disse Lulu.
— Não, me desculpa mesmo… Desculpa, Lulu… Desculpa, Lulu…
— Airen! Tira ela de cima de mim! Ela é tão forte que eu não consigo sair! — gritou Lulu.
— Haha, que visão maravilhosa — comentou Brett.
Lulu clamava por ajuda enquanto Judith repetia suas desculpas incessantemente, e Brett assistia satisfeito ao lado de Airen, que não sabia o que fazer. Khubaru ria observando a cena.
“Agora as coisas estavam mais animadas.”
E isso não era ruim. Na verdade, era ótimo. Com um sorriso, Khubaru virou o resto do uísque na boca.