Índice de Capítulo

    Eram 6:00h da manhã, e a sala de treinamento na mansão de Zett Frost estava extremamente vazia. Não era por ser cedo, mas porque Zett raramente empunhava sua espada fora das sessões de lições de duelo, e o mordomo, Glenn, a usava apenas uma ou duas vezes por semana. Contudo, isso havia mudado.

    — Hah!

    — Hmph!

    Dois espadachins, Judith e Brett, com seus vinte anos, balançavam suas espadas ferozmente. Eles treinavam como se estivessem no campo da Academia de Esgrima Krono, focados e sem desperdiçar tempo. Cerca de uma hora depois, outro jovem espadachim, Airen, entrou na sala de treinamento.

    Judith o viu trazendo o café da manhã e perguntou — Você estava meditando de novo?

    — É um treino mental. Acho que é a mesma coisa, de certa forma.

    — Isso é o que não entendo. Como isso ajuda? Quero dizer, deve funcionar, já que você está ficando mais forte — disse Judith.

    — Não importa. Vamos comer — disse Brett.

    — Certo. E Lulu e Khubaru? — perguntou ela.

    — Khubaru está dormindo. Lulu está treinando feitiçaria — respondeu Airen.

    — Lulu também está trabalhando duro. Oh, salsicha!

    Eles terminaram o café da manhã rapidamente e voltaram ao treinamento. Não pareciam nem um pouco preguiçosos. Enquanto suavam com os exercícios, duas figuras entraram na sala de treinamento algum tempo depois, Zett e o mordomo careca, Glenn.

    — Vamos para a sala de treinamento físico, se já estão aquecidos — disse Zett.

    — Sim, senhor — os três assentiram educadamente.

    Depois disso, o dia seguiu o mesmo padrão. O doloroso treinamento físico continuou até o meio-dia, utilizando a runa de gravidade mágica, que tornava o treino agonizante. Mesmo assim, os três treinaram sem qualquer sinal de relutância. Dez dias haviam se passado desde que começaram, mas sua paixão permanecia intacta. Na verdade, Zett havia mudado por causa deles.

    — Você está desequilibrado! Vai machucar as costas assim!

    — Vou ajudá-lo. Não se preocupe, apenas continue.

    — Preste atenção na respiração. Isso, muito bom.

    O Zett, que costumava tirar uma soneca enquanto deixava o mordomo supervisionar, havia desaparecido. Talvez por ter sido assim por tanto tempo, sua expressão rabugenta ainda permanecia, mas agora ele estava muito mais sério ao ensinar Airen e seus amigos. Até Glenn, que servia seu mestre há trinta anos, estava surpreso com a mudança. E isso continuava durante o treinamento de esgrima.

    Eram 14:00h. Zett falou com os três espadachins, que haviam acabado de recuperar suas energias com a ajuda de uma sala de recuperação mágica e alimentos especiais.

    — A partir de hoje, ensinarei o caminho da esgrima separadamente, de acordo com seus estilos. Primeiro será Airen; amanhã será Judith, e depois Brett. Airen Farreira! Venha à frente. Os outros podem treinar livremente.

    — Sim, senhor.

    — Certo. Ei, Brett. Vamos duelar.

    Judith e Brett assentiram e começaram a duelar a uma certa distância, deixando Airen sozinho. Zett então começou a ensinar Airen, utilizando sua vasta experiência e conhecimento.

    — Você utiliza movimentos de espada pesada. É certo pressionar o oponente quando está em uma postura ofensiva e manter sua posição quando está na defensiva. É bom que saiba onde e quando atacar.

    — Obrigado, senhor.

    — Mas há algo que falta. Você é muito reativo. Parece acreditar que é mais lento que seu oponente… Isso o torna vulnerável contra alguém como Judith, que é boa em movimentação.

    — Mas não é verdade que sou mais lento que Judith?

    — É verdade, mas isso não significa que precise ser reativo.

    Zett, após suas palavras, liberou uma pesada aura de seu corpo. Airen instintivamente assumiu uma postura defensiva enquanto Zett lentamente pegava sua espada e avançava.

    — Você não precisa perseguir o oponente.

    Ele continuou a se mover enquanto explicava. Não estava rápido, mas parecia muito estável, com uma postura densa e pesada, e Airen não conseguia deter sua marcha. Tudo o que Airen podia fazer era desferir golpes ou recuar.

    — Você só precisa manter sua posição, como se estivesse expandindo seu território. Precisa ter vantagem sobre o oponente, tornando-se mais difícil de atacar.

    Zett continuava avançando, e Airen recuava. Gotas de suor escorriam da testa de Airen. Ele se movia muito mais rápido que Zett, mas sentia que estava sendo empurrado e arrastado.

    — Está vendo que começar a fugir o deixa ansioso? Mas também não será fácil vir para o lado rapidamente. Eu já controlo esta área, então você precisa se mover muito mais para me contornar.

    — Entendi.

    — Então não se deixe abalar e mantenha sua posição enquanto avança. Assim, terá mais chances. Certo, agora é sua vez. Tente o que eu fiz.

    — Sim, senhor.

    A lição de duelo era ainda mais difícil do que o treinamento físico, mas Airen não reclamou, assim como Judith ou Brett. Os três exibiam expressões doloridas, mas estavam felizes. Sabiam que estavam crescendo e se tornando mais fortes.

    “Ainda bem que fizemos aquela aposta”, pensou Judith.

    “Tivemos sorte de encontrar Zett em Partizan…”, pensou Airen.

    “Que sorte tivemos”, pensou Brett.

    Zett Frost era um homem incrível. A admiração dos três pelo 101º Espadachim crescia a cada dia. Mas eles não eram os únicos que ganhavam respeito. Zett, ao observar os jovens espadachins seguindo incansavelmente seus ensinamentos, sentia algo além de satisfação.

    “Nem a palavra gênio é suficiente para descrevê-los…”, pensou Zett.

    Eles não eram apenas espadachins talentosos. Sua paixão superava seu talento, e colocavam um esforço que ninguém mais poderia sequer imaginar. Zett os conhecia há apenas dez dias, mas sabia que eles eram gênios do trabalho árduo.

    “Eu continuo querendo ensinar mais…”

    Zett tinha rugas na testa. Já havia feito o suficiente, dando o melhor de si, e os três pareciam satisfeitos. Mas a paixão deles, o fogo em seus corações e o esforço incansável para subir mais alto o moviam.

    “Eu também vou dar o meu melhor…”

    Vinte dias haviam se passado desde que eles influenciaram Zett. Ele tomou sua decisão. Não tinha certeza se era qualificado, o que o fez hesitar, mas se não entregasse tudo e terminasse o ensino de forma mediana… ele sabia que se arrependeria.

    “Não vou hesitar.” Talvez estivesse indo longe demais, mas isso não importava. Se pudesse ajudar espadachins tão talentosos a evitar os erros que ele cometeu, poderia suportar o peso do embaraço.

    Zett assentiu, então chamou Judith, que limpava após o treino.

    — Judith.

    — Sim, senhor.

    — Preciso lhe dizer algo. Encontre-me mais tarde.

    — Hã? Agora?

    — Pode vir depois de se lavar. Vou esperar no quarto.

    — Certo.

    Judith respondeu, curiosa com o que ele queria, já que parecia um pouco diferente. Isso deixou Airen e Brett igualmente intrigados, pois Zett nunca havia pedido para falar com eles a sós. Mas eles não foram escutar escondidos; apenas terminaram de limpar e foram jantar com Glenn, com quem agora estavam próximos.

    Foi então que ouviram um som alto.

    — Hmm…

    Era a voz de Judith e o barulho de uma porta se fechando com força. Brett se levantou com a testa franzida, seguido por Airen e Glenn. Chegaram ao quarto de Zett e entraram.

    — Hmm…? O que houve? — perguntou Zett, parecendo calmo, como se nada tivesse acontecido.

    Mas Airen, como feiticeiro, percebeu a amargura, tristeza e profundo arrependimento nos olhos de Zett. Airen não era o único que sentia algo estranho. O mordomo, que servia Zett por muito tempo, e Brett, com seu olhar atento, também perceberam que algo havia acontecido.

    — Judith fez algo? — perguntou Brett.

    — Oh, vocês ouviram o som? Não foi nada. Só fiz uma piada boba… — Zett disse casualmente, mas os outros olharam para ele, incrédulos. Ele suspirou e balançou a cabeça. — É, na verdade… não foi uma piada. Tentei ensiná-la, mas talvez tenha ido longe demais.

    — De jeito nenhum. Tenho certeza de que a Judith exagerou — disse Brett.

    — Isso não é verdade — respondeu Zett. Ele soava calmo e preguiçoso como sempre, mas havia algo diferente em seu tom. Brett percebeu e insistiu:

    — Desculpe, senhor, mas pode nos contar o que aconteceu?

    — Não, não posso.

    Zett fechou os olhos, como se não tivesse mais nada a dizer. Ele não pediu para que saíssem, mas sua postura deixava isso implícito. O mordomo tentou sair em silêncio, e Airen já estava prestes a deixar o quarto, mas Brett não. Ele pegou algo de suas roupas, caminhou até Zett e sentou-se à sua frente. Em seguida, colocou o objeto na mesa.

    — É a obra-prima do Diretor Hayram, hidromel feito com mel silvestre.

    — É mais valioso que o mel comum. Mel silvestre é difícil de encontrar. Mesmo coletores de ervas que vagam pelas montanhas raramente o encontram.

    — Como conseguiu isso dele…? — perguntou Zett.

    — Eu tenho meus meios. Então, vai aceitar ou não?

    — Glenn… traga um copo.

    Glenn balançou a cabeça e pegou o copo. Ele colocou não dois, mas quatro copos na mesa, e naturalmente se sentou com eles. Airen também se juntou. Brett, então, serviu o hidromel nos quatro copos.

    — Judith é de temperamento difícil — disse Brett a Zett, que olhava para o copo com um pouco de constrangimento. — É além do esperado. Não só isso, mas também é teimosa. Mesmo quando os aprendizes de nível superior em Krono ou o Vice-Diretor a repreendiam, ela não os obedecia se achasse que estavam errados. Ela é uma maníaca. É como bosta de cavalo. Até as águas-vivas no oceano seriam mais inteligentes que ela…

    Brett continuou a falar mal de Judith, como se pudesse continuar até o amanhecer se ninguém o interrompesse. Airen, o mordomo e até Zett, que parecia firme, ficaram chocados, olhando para o jovem de cabelos azuis. E, quando todos o encararam, ele parou por um momento, então prosseguiu.

    — Tenho certeza de que você deu a ela um ensinamento que feriu o orgulho dela, não é isso? — perguntou Brett.

    — Acho que foi algo assim — respondeu Zett.

    — Essa Judith teimosa não é como eu, que aceita conselhos e é bondoso. Então ela não vai te ouvir — disse Brett com orgulho. — Mas há uma maneira de fazer essa garota cabeça-dura ouvir. Sou um especialista em Judith, então garanto que funciona. É…

    — É? — Zett incentivou.

    — Eu tenho que ficar mais forte primeiro, aplicando o mesmo ensinamento. Então, ou ela morre de inveja ou tenta entender o ensinamento antes que eu faça. Ela odeia perder mais do que morrer.

    Zett e Glenn ficaram atônitos, mas Airen assentiu. Brett estava certo. Judith, pelo que Airen sabia, era exatamente assim.

    — Então, por que você não nos conta? Você não deu o conselho a ela porque queria que ela melhorasse ou porque se preocupava? — perguntou Brett a Zett, mas ele não respondeu imediatamente. Brett continuou. — Eu vou absorver o conselho que você deu a ela. Então…

    “Pode nos contar agora?” Brett falou com um tom significativo, e Zett ficou em silêncio por um tempo. O ambiente no quarto ficou pesado. Todos abaixaram um pouco a cabeça, exceto Brett, que observava Zett fixamente.

    Talvez Zett não conseguisse mais sustentar o olhar de Brett. Ele suspirou, tomou o hidromel e colocou o copo sobre a mesa. Então, ergueu o olhar.

    — Vou contar minha história antes de falar sobre Judith.

    Todos assentiram às palavras dele.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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