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    O Diretor Ian, o mestre da Academia de Esgrima Krono, era considerado o homem mais forte do continente. Ele possuía um poder que superava qualquer nobreza e herança, e poderia alcançar ainda mais riqueza e honra se assim desejasse.

    Essa descrição poderia sugerir que ele seria um homem difícil e intimidador, mas esse não era o caso.

    — Ei, você. Ouvi dizer que é do Reino de Adan? — perguntou Ian.

    — S-sim, senhor! Sou um mercenário em Adan. E-eu posso não ser da academia, mas é uma honra conhecer o diretor da acad…

    — Ah, não se preocupe com as formalidades. Posso perguntar, quantos anos você acha que eu tenho?

    — Perdão, senhor?

    — Ouvi dizer que o povo de Adan adora arte e cultura. Eles também têm um olhar apurado para isso. Então, me diga. Quantos anos acha que eu tenho?

    — Er… Eu… Eu acho… que o senhor parece ter… uns cinquenta e cinco… mais ou menos? — o instrutor assistente de Adan respondeu nervosamente, mentindo.

    O diretor fazia noventa anos naquele ano, e aparentava pelo menos setenta. Mas Ian sorriu amplamente com essas palavras, deu um tapinha nele e se virou para o Instrutor Ahmed.

    — Você tem excelentes instrutores assistentes aqui, Ahmed. Gostei dele.

    — Sim, senhor.

    — Dobre o salário dele a partir do próximo mês.

    — Será feito, diretor.

    — E quanto a vocês? Quantos anos eu pareço ter?

    O diretor então perguntou aos outros instrutores assistentes com um sorriso.

    — E-eu acho que o senhor parece ter menos de cinquenta!

    — Não, senhor! Parece que tem no máximo quarenta e cinco anos!

    — De jeito nenhum! Ele mal parece ter quarenta…

    — Seu bastardo, isso é exagero…

    Todos os instrutores assistentes soltaram bobagens, e a tensão desapareceu de uma vez. A simpatia do Diretor Ian se provava verdadeira. Seu caráter honrado também desempenhava um papel significativo no fato de os graduados da academia serem considerados mais respeitáveis que a maioria dos cavaleiros.

    Mas o Instrutor Ahmed e o Instrutor Karaka mantinham suas posições, observando o diretor compartilhando piadas bobas com os assistentes.

    “É difícil encontrar alguém como o nosso diretor, com certeza”, pensou Ahmed.

    Ian tinha poder para construir um país, se quisesse, mas não tinha tal ambição. Em vez disso, valorizava o cavalheirismo mais do que qualquer cavaleiro e trabalhava para ajudar os plebeus mais do que qualquer sacerdote. Mesmo quando alguns tolos se aproveitavam de sua generosidade, ele nunca se irritava.

    Ainda assim, dois instrutores temiam o que se escondia por trás de sua fachada calma e generosa, algo que haviam presenciado algumas vezes.

    “Tenho certeza de que há mais nele do que eu já vi. Conheço-o há mais de trinta anos, e ainda assim não consigo ler o que passa por sua mente”, pensaram.

    Foi então que o diretor lentamente se virou para eles, fazendo-os engolir em seco nervosamente. No entanto, ele parecia tão benevolente e amigável que às vezes se assemelhava a um velho camponês comum. Ele fez seu sorriso habitual e agradável enquanto falava.

    — Bem, então. Vamos dar uma olhada no que nossos aprendizes têm realizado?


    — Ele não é ruim.

    — Ele… não é bom. Dá pra ver que está negligenciando o treino.

    — Ah, a fraqueza de suas pernas não ajuda muito. Que pena.

    O Diretor Ian manteve sua identidade completamente secreta enquanto fazia uma ronda pela academia, observando os jovens treinarem. Ele quase parecia despreocupado enquanto os observava, mas sua análise era precisa. Ele tinha uma avaliação mais precisa do que os instrutores assistentes que supervisionavam os aprendizes nos últimos quatro meses.

    — Uau… como ele descobre tudo isso só de observá-los correndo por um minuto?

    — Ele até percebeu que aquele aprendiz tinha um problema de flexibilidade só pelo jeito como estava de pé.

    “Claro que ele pode”, Ahmed riu ao ouvir os assistentes cochicharem entre si.

    Ahmed tinha olhos mais aguçados que a maioria, mas isso não se comparava ao diretor. Era certo que ninguém no continente era melhor do que Ian nesse aspecto. Karaka sabia disso também. Por isso, ambos apenas o seguiam em silêncio, sentindo-se solidários com os aprendizes que recebiam avaliações mais duras do diretor.

    Mas havia um aprendiz que surpreendeu Ian. Era Brett Lloyd, o filho do alto nobre do Reino Gaveirra. O diretor fez um comentário positivo pela primeira vez enquanto observava o garoto repetindo os movimentos do treino para o exame intermediário.

    — Ele parece promissor — disse o diretor.

    — O primogênito da família Lloyd. Ele é bastante talentoso e inteligente — respondeu Ahmed.

    — Dá pra ver. Ele está se controlando para manter a melhor condição para o exame. E dá pra ver que não está relaxando nos treinos… Devo lembrar o nome dele. — Ian murmurou, o que deixou todos os instrutores satisfeitos.

    Embora um pouco arrogante, Brett Lloyd era um excelente aprendiz e altamente respeitado por todos. Todos sentiram que também estavam sendo elogiados pelo diretor. O diretor continuou.

    — Hmm. Bom.

    — Ele também está bem.

    — Isso supera minhas expectativas. Parece que vocês fizeram um bom trabalho. Hahaha!

    Felizmente, mais aprendizes receberam avaliações positivas, o que também agradou os instrutores. Mesmo sendo duros com esses aprendizes, era com a esperança de que eles melhorassem, então era óbvio que ficariam felizes ao ouvir um elogio para eles.

    Foi quando chegaram a uma certa garota que todos ficaram em silêncio e olharam para Ian. Um dos três melhores, não, dois gênios de todo o continente. Um monstro que nunca deixou de ficar em primeiro lugar na famosa Academia de Esgrima Krono. Era Ilia Lindsay.

    “Vamos ver o que o diretor dirá sobre ela…”

    “Tenho certeza de que até ele ficará surpreso ao vê-la.”

    “Ele deveria ficar chocado. Não há ninguém na história que tenha conquistado tanto com essa idade.”

    Como se confirmasse seus pensamentos, o diretor observou a garota por muito mais tempo, por um minuto inteiro. Era uma diferença enorme em comparação a como ele praticamente apenas passou o olhar pelos outros aprendizes. Mas após essa breve observação, ele disse algo inesperado.

    — Pobre garota. Ela merece trilhar seu próprio caminho e, no entanto, ainda persegue o rastro de outro. Será que foi o mundo que a levou a isso…? Tsc. Espero que logo desista dessa obsessão.

    Todos os assistentes ficaram curiosos com o comentário misterioso do diretor. Somente o diretor e dois instrutores olharam para a garota com simpatia. Mas, claro, ninguém ousou perguntar sobre o que ele estava falando.

    Eles continuaram a inspeção como se nada tivesse acontecido e finalmente se depararam com outra aprendiz talentosa, que estava treinando na sala de musculação.

    — É ela? — perguntou o diretor.

    — Sim, senhor — respondeu Ahmed.

    — Agora entendo por que estão preocupados. Pediram para ela parar?

    — Pedimos… e ela não nos ouviu. Tenho certeza de que ela é a mais teimosa da turma.

    “Ou talvez de toda a história da academia”, o Instrutor Karaka não disse a última parte.

    Ele tinha motivos para pensar assim. Judith sempre se esforçava muito em seus treinos, mas desta vez estava passando dos limites. Quase parecia que ela estava se machucando. Todos estavam preocupados, já que ela não parava para descansar, mesmo quando os outros aprendizes se concentravam em manter a melhor condição para o exame intermediário.

    — Devemos pará-la — disse Ian.

    Ian teve a mesma impressão. Ela parecia bem treinada e provavelmente se recuperaria rapidamente. Ela tinha a sorte de ter nascido com aquele corpo. Mas havia um limite. Era certo que ela ficaria devastada se falhasse no exame por exagerar. Ian sabia disso melhor do que ninguém, então se aproximou da garota de cabelos vermelhos.

    — Você acha que ele consegue pará-la? — perguntou um assistente a Ahmed.

    — Claro que sim. Ele deve ser capaz de convencê-la — respondeu Ahmed.

    — Certo? Quer dizer, se ela descobrir que ele é o diretor…

    Ahmed balançou a cabeça. Ian não era do tipo que usava seu título ou posição. Provavelmente não revelaria que era o diretor. Ahmed simplesmente acreditava que uma garota de doze anos entenderia a sinceridade e o peso das palavras que ele diria a ela.

    “Mas me pergunto… O que a levou a esse extremo?”

    Deve haver um motivo. Seria porque Judith queria ficar em primeiro lugar, derrotando Ilia Lindsay pela primeira vez? Ou ela estava motivada por seu verdadeiro rival, Brett Lloyd?

    “Ou o que mais poderia ser…?” Ahmed estava pensando em várias possibilidades quando Ian voltou antes do que todos esperavam. E Judith ainda estava treinando, levantando pesos extremos como antes.

    — D-Diretor! O senhor…? — Karaka perguntou, chocado.

    — Haha, ela certamente é bastante teimosa — respondeu Ian.

    “Meu Deus! Nem o diretor conseguiu convencê-la?!” pensou Ahmed. Estava decidido. Judith era a aprendiz mais teimosa da história da Academia de Esgrima Krono.

    Com isso dito, ainda restava uma pergunta. Ahmed, que estava ao lado de Karaka, perguntou a Ian.

    — Senhor, o senhor descobriu o motivo? Ela não nos diz por que está se esforçando tanto…

    — Airen Farreira.

    — Perdão? — Ahmed perguntou, surpreso. Ele então rapidamente respondeu. — Ah… Entendo. Ele é um trabalhador dedicado. Ele também tem passado por um treinamento intenso, assim como Judith.

    — Então foi assim que aconteceu — disse Ian.

    — Então, ele é o motivo pelo qual Judith está… — Ahmed interrompeu sua própria frase.

    — Sim. Ele a motivou. — O diretor assentiu e continuou. Ele disse que Judith contou a ele que não havia razão para ela parar quando o garoto, muito mais fraco e frágil, estava se esforçando intensamente no treino. Ela disse a Ian para parar ele primeiro, então Ian decidiu ir ver esse aprendiz chamado Airen Farreira.

    — Entendido, senhor. Nesse caso, definitivamente devemos parar Airen primeiro — disse Ahmed, coçando o queixo.

    — Ele é tão teimoso quanto ela? — Ian perguntou.

    — Normalmente, ele não é como ela… Mas diria que, nesse caso, ele está tão teimoso quanto. Ele nunca nos ouve, não importa o quanto pedimos para ele parar.

    — E como ele é com a espada?

    — Honestamente, ele não é páreo para Judith, senhor. Ele mal está no nível intermediário… e demorou bastante para chegar lá.

    E foi por isso que ninguém pensou que Judith consideraria Airen como um rival. A competição funcionava quando ambas as partes tinham habilidades semelhantes, e, infelizmente, Airen Farreira estava muito atrás de Judith.

    — Bem. Vamos dar uma olhada de qualquer maneira? Vamos ver o que nosso segundo encrenqueiro está fazendo.

    O diretor então deixou a primeira sala de musculação e se dirigiu à segunda, já que Judith havia dito onde Airen estava. Ele andava com passos leves, obviamente antecipando e desfrutando a situação. Mas todos os instrutores ficaram preocupados.

    “Ele não é um aprendiz que o diretor deveria estar animado para ver…”

    “Ele tem potencial, mas ainda tem muito a melhorar.”

    “Honestamente, há uma grande chance de ele falhar no exame intermediário. O diretor vai se decepcionar.”

    Os instrutores assistentes, e até mesmo Ahmed e Karaka, que viam potencial em Airen, estavam todos preocupados. Mas, ao entrar na sala, Ian ficou ainda mais sério do que eles esperavam.

    Um minuto se passou. Dois minutos se passaram. Cinco, e mais tempo se passou. Enquanto Ian observava, Airen usava pesos muito menores que os de Judith para treinar. Ele havia melhorado nos últimos dias, mas não era uma melhoria significativa.

    Mas, para Ian, havia algo mais nele. Ele observou o garoto atentamente, com olhos tão profundos e claros quanto um lago. E, após cerca de trinta minutos, o velho falou.

    — Eu ia parar ele e Judith, mas mudei de ideia.

    — Perdão, senhor? — Ahmed perguntou.

    — O nome dele é Airen Farreira? Deixe-o.

    — Deixá-lo, senhor?

    — Sim. Nunca o parem, a menos que ele pare por conta própria. Mesmo que isso o impeça de fazer o exame intermediário, deixem-no.

    Foi uma ordem inesperada, combinada com um olhar sério. Os instrutores ficaram confusos e se entreolharam sem saber como responder.

    — Hah, hah, hah! — E o Nobre Preguiçoso gritou, continuando seu treino sem perceber que estava sendo observado.

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