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    Era cedo pela manhã, mas uma multidão de mercenários já estava reunida no Grande Salão de Treinamento da Academia de Esgrima Krono. A academia os havia contratado temporariamente para o exame intermediário, que exigia a máxima atenção, pois decidiria o destino dos aprendizes preliminares.

    — Ah… Nunca imaginei que estaria aqui cuidando de crianças. — Um mercenário careca, um dos assistentes temporários, bocejou.

    — Eu sei. Mas não é um trabalho ruim. É seguro, e nos pagam bem. — Outro mercenário, que respondeu, compartilhava do mesmo pensamento.

    Eles tinham experiência em supervisionar testes físicos semelhantes na guilda dos mercenários, mas os participantes lá eram todos adultos. Não estavam exatamente animados em vigiar crianças de doze e treze anos, mesmo que fossem aprendizes da renomada Academia de Esgrima Krono.

    “Vou levar a sério, mas tenho certeza de que será entediante de assistir…”

    “Espero que eles sejam melhores do que algumas crianças comuns, sério.”

    Esses dois mercenários, e outros, estavam com pensamentos semelhantes enquanto os aprendizes começavam a se reunir no salão.

    — Huff.

    — Eu consigo. Eu consigo!

    — Vamos fazer um pouco de alongamento…

    Alguns aprendizes fechavam os olhos para meditar ou se encorajavam, enquanto outros apenas alongavam os braços e as pernas. Mas, para os de fora, suas ações pareciam tudo, menos comuns. O mercenário careca engoliu em seco enquanto observava aqueles jovens.

    “O quê… eles realmente têm treze anos?”

    Era inacreditável. Eles eram extraordinários. Fora os rostos mais jovens e a altura menor, seus físicos e movimentos não diferiam dos de adultos. Alguns se moviam de uma forma que lhes permitiria se tornarem mercenários naquela idade.

    — Eles são mesmo humanos…? — murmurou o amigo do mercenário careca.

    — Eu sei…

    Os mercenários já não podiam mais subestimar aqueles aprendizes. Seus corpos treinados e a seriedade com que se preparavam faziam parecer que estavam prontos para ir à guerra. Aquilo não era brincadeira de criança. Impressionados com os aprendizes da Academia de Esgrima Krono, os mercenários caíram em silêncio.

    Naquele silêncio, os aprendizes se preparavam. Mas havia alguns que não conseguiam se concentrar.

    — Onde eles estão?

    Eram aprendizes de alta patente, ou melhor, alguns dos melhores, superiores até mesmo aos outros de alto escalão. Era esperado que esses jovens excepcionalmente talentosos fossem passar facilmente no exame intermediário, mesmo sendo considerado o mais difícil da história da academia. Mas eles não conseguiam se concentrar na preparação, vagando à procura dos instrutores Ahmed e Karaka, que conduziriam o exame. E…

    “Ele também não está aqui.”

    “O que ele está fazendo? O exame vai começar logo.”

    Além dos instrutores, o aprendiz que todos ignoravam a princípio, mas que logo começou a atrair atenção apesar de suas habilidades, aquele garoto estranho e único, Airen Farreira, também não estava à vista. Brett Lloyd, Judith, e até Illia Lindsay, que normalmente não se interessava por outras pessoas, estavam curiosos.

    Foi nesse momento que um burburinho começou a se espalhar em um canto do Grande Salão de Treinamento. Todos os aprendizes viraram suas cabeças naquela direção ao perceberem que os instrutores haviam chegado. Suas expressões se transformaram em choque.

    — O quê? Ele está com a mesma roupa de ontem.

    — Espera…

    — Ele… treinou a noite toda?

    Os aprendizes não podiam acreditar no que estavam vendo. Era quase impossível imaginar alguém tolo o suficiente para treinar a noite inteira antes de um exame físico tão importante. Alguns até pensaram que o Nobre Preguiçoso estava apenas encenando para provocá-los. Mas não era o caso. Logo todos perceberam que, embora uma camisa encharcada de suor pudesse ser fingida, o rastro branco de sal em seu rosto não podia ser.

    Estava claro que Airen havia treinado sem parar durante a noite. Parecia que os instrutores haviam descoberto e o forçado a parar antes de levá-lo ao local do exame. Os aprendizes estavam prestes a comentar quando o homem velho que estava em silêncio ao lado de Ahmed de repente saltou.

    Swish! Chute!

    Com um único passo, o velho saltou mais de seis metros, deixando os aprendizes atônitos. Alguns aprendizes e mercenários, que já conheciam sua identidade, assentiram silenciosamente.

    O velho, Ian, o diretor da Grande Academia de Esgrima Krono, falou para eles.

    — Hmph. Como devo dizer isso? Bah, não sou bom com formalidades. Alguns de vocês já devem saber, mas sou o diretor da Academia de Esgrima Krono. — A maioria dos aprendizes ainda estava em choque com o que acabara de descobrir, enquanto Ian continuava. — Vamos ver… faltam cinco minutos. Tenho certeza de que todos ouviram as regras. Use seu tempo com sabedoria para se preparar. Não se arrependam. Tenho mais coisas que quero dizer, mas vou sair do caminho de vocês agora.

    Clap!

    Após seu discurso, Ian bateu palmas alto, despertando os aprendizes que haviam ficado atordoados após a série de eventos chocantes. O que importava agora era o exame intermediário, nada mais. Lembrando-se disso, os aprendizes engoliram em seco.

    Quatro minutos restantes. Três minutos restantes. Dois minutos, e depois um. Um segundo antes do horário marcado, o Instrutor Ahmed falou com eles.

    — Vamos começar o exame intermediário!

    E com essa voz retumbante, o exame intermediário da Academia de Esgrima Krono começou.


    — Hah. Hah.

    Airen Farreira respirava pesadamente diante do mercenário que supervisionava o teste. Ele se aproximou rapidamente para pegar a barra com dois pesos redondos pesados em cada extremidade e começou a realizar o ‘push press’, um dos testes do exame.

    — Hmph!

    Diferente de um ‘press’ comum, que usa apenas a força da parte superior do corpo, esse movimento exigia força nas pernas, agilidade, flexibilidade e o uso de todas as partes do corpo. Mas, como Airen havia repetido esse movimento inúmeras vezes nos últimos quatro meses, já estava acostumado. E havia mais uma coisa.

    “Eu me sinto tão leve!”

    Seu corpo, a barra e até o peso dos dois discos em cada extremidade pareciam leves. Ele estava se movendo mais rápido do que o normal, mas isso não o cansava. Ele pensou por um segundo. Ele havia treinado a noite toda, estaria se forçando demais?

    “Não, não é o caso”, pensou, e acelerou o ritmo. O mercenário parecia surpreso.

    — Hah, hah, hah!

    Airen soltou a barra quando terminou, depois caminhou até uma caixa quadrada. Era o ‘box jump’, saltar para cima e para baixo na caixa, um movimento simples, mas difícil considerando a altura e o tempo limitado. Mas não parecia difícil para ele. Ele abaixou o corpo, então saltou levemente sobre a caixa e desceu novamente. Depois repetiu isso em uma velocidade incrível.

    — O que há de errado com ele?

    — Ele é maluco! Não vai aguentar muito tempo nesse ritmo!

    Airen ouviu os risos dos outros aprendizes ao seu redor, mas não deu atenção. Em vez disso, terminou em uma velocidade impressionante, foi para o próximo exercício com o mesmo tempo incrível e depois voltou para a barra. Então começou a repetir o mesmo movimento, muito mais rápido e com muito mais estabilidade.

    O mercenário agora o observava de uma maneira completamente diferente. Airen entendia como ele se sentia.

    “Eu também estou me surpreendendo.”

    Ele percebeu que seu corpo havia passado por uma certa mudança na noite anterior, mas não sabia que seria nessa extensão. Mesmo quando acelerava muito além do seu ritmo normal, não sentia como se estivesse se forçando. Pelo contrário, achava que poderia ir um pouco mais e ainda chegar à linha de chegada sem problema algum.

    E Airen precisava se forçar. Uma crença mais forte, uma certeza, tomou conta dele para seguir em frente. Ele aumentou sua velocidade novamente, movendo-se a um ritmo assustador. Os murmúrios ao seu redor ficaram mais altos.

    — O que deu nele?

    — Ele vai desmaiar!

    — Nem a pau…

    — Idiota!

    Mais aprendizes cochichavam sobre Airen enquanto o observavam. Ele tentou se concentrar no que estava fazendo e ignorar o que os outros diziam. Mas não conseguiu. Outra mudança que o dominou o levou a uma nova cadeia de pensamentos.

    “Desde quando consigo ouvir o que os outros dizem ao meu redor enquanto estou concentrado em algo?”

    Isso era novo. Na verdade, mesmo após ter entrado na academia para “crescer”, sua mente mal havia mudado. Assim como ele havia se escondido do mundo dormindo, na academia ele forçava seus ouvidos a se fecharem para as informações externas. Continuava treinando para se proteger de insultos e zombarias. Fugira das fofocas das pessoas empunhando sua espada. Mas não mais.

    — Droga. Ele deve estar forçando mais do que deveria, não é?

    — Ele vai falhar. Vamos parar de pensar nele. Não olhem para ele.

    Os ouvidos de Airen estavam completamente abertos, captando todas as palavras agitadas ao redor.

    — Hah. Hah.

    E à vista de todos, ele notava os olhares silenciosos dos aprendizes e os rostos espantados dos mercenários. Agora, ele podia suportar todas aquelas reações desagradáveis, pesadas e maldosas, pois não era mais afetado pelo que os outros pensavam. Não precisava fechar os olhos e os ouvidos. Pela primeira vez, Airen se sentia revigorado.

    — Hah. Hah. Hah.

    Ele acelerou ainda mais. Agora, ele estava muito à frente dos outros aprendizes. Chegou ao ponto de até Brett Lloyd, um dos melhores aprendizes, estar muito atrás dele. E depois de um tempo, os murmúrios desapareceram, sendo substituídos por olhares de inveja e admiração.

    Um minuto depois, Airen havia completado o primeiro percurso. Ele olhou à frente para se preparar para o segundo, o percurso na areia. Apenas uma pessoa, Illia Lindsay, corria na frente dele. Ele assentiu e deu o impulso.

    Judith, que estava assistindo a tudo de trás, soltou um palavrão com uma voz rouca.

    — Porra!

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