Capítulo 188: O que Aconteceu? (2/3)
Quem era o mais forte do continente? A resposta permanecia inalterada há muito tempo: Ian, o diretor da Academia de Esgrima Krono, Khun, seu rival, e Julius Hule, o Capitão dos Cavaleiros Brancos do reino sagrado.
Mas, quem era o mais talentoso do continente? Essa era a questão que estava no centro de um caloroso debate. Quando Illia Lindsay quebrou o recorde anteriormente inigualável de Ignet ao se tornar a mestre espadachim mais jovem da história, muitos dos cinco reinos renomados pela esgrima e os entusiastas do oeste começaram a argumentar que a jovem da Casa Lindsay era, de fato, a mais talentosa da história.
Entretanto, nem todos concordavam. Afinal, a heroína Ignet havia realizado feitos impressionantes. Seus defensores argumentavam que não se podia comparar uma plebéia órfã com alguém de uma família nobre que recebeu treinamento desde a infância.
No fim do último ano, Julius Hule, o cavaleiro sagrado respeitado por todo o continente, reacendeu o debate ao declarar: — Ignet ainda não mostrou seu melhor. Talvez não seja apropriado dizer isso diante de alguém que se tornou mestre aos vinte anos, mas seu progresso e crescimento sugerem que ela tem muito mais a revelar.
A declaração surpreendente de que Ignet ainda não havia atingido seu ápice, mas estava florescendo naquele momento, deixou todo o continente empolgado. O debate entre Ignet e Illia tornou-se um tópico constante nas conversas de tavernas.
Assim, quando Ignet Crecensia ignorou o grande Sevion Brooks e caminhou até um canto do salão do banquete, todos presumiram que ela estava indo em direção a Illia Lindsay.
Eles estavam errados.
Um jovem loiro se levantou lentamente enquanto a espadachim de cabelos negros o encarava intensamente.
Os observadores engoliram em seco, sentindo a estranha tensão entre os dois.
“Por quê…?” eles se perguntavam.
“Por que não Illia Lindsay, mas Airen Farreira?”
“Eles se conhecem? O que ela quis dizer quando disse que ele mudou muito…?”
“O que está acontecendo?”
Airen Farreira. Ele era um dos melhores espadachins que saíram da Terra da Provação e também um assunto quente no continente. Afinal, o fato de ter se tornado mestre espadachim aos 22 anos significava que estava crescendo ainda mais rápido do que o reverenciado diretor de Krono.
No entanto, por mais talentoso que fosse, ele ainda não tinha a reputação dos outros dois. Tornou-se mestre mais tarde que eles e havia rumores de que usara uma arma mágica e feitiçaria em sua luta decisiva contra Illia. Além disso, sua postura aparentemente comum não ajudava, especialmente comparada à carisma flamejante de Ignet e à atitude fria de Illia.
Mas agora, enquanto o jovem loiro enfrentava Ignet, cuja energia queimava ainda mais intensamente, os espectadores perceberam que não era por acaso que Airen Farreira havia derrotado Illia Lindsay.
— Não vai falar? — pressionou Ignet mais uma vez. Seus olhos cravavam-se em Airen, cheios de amargura. O jovem sentia como se espetos em brasa o atravessassem.
Mas…
“Eu consigo suportar.”
De fato, ele estava se saindo muito melhor do que quando encontrou Ignet em Derinku, a cidade dos artesãos. Naquela época, cada palavra e ação dela o abalavam profundamente.
“Eu não vou cair”, pensou Airen, determinado a não se dobrar.
Mas ele não estava tentando ‘vencer’. Embora os olhos de Ignet parecessem incendiar seu coração e fazer seu sangue correr como lava, Airen suprimiu seu instinto competitivo. Embora tal espírito fosse intrínseco a um espadachim, ele queria mostrar outra coisa a Ignet: a confiança em si mesmo, a crença em seu próprio caminho, a convicção em sua espada e sua determinação.
O fogo de Airen Farreira, que finalmente florescera após um longo período de incertezas, explodiu, com sua espada conectando seu passado e presente como o centro de sua força.
Boom!
Uma luz brilhou nos olhos de Airen, e sua energia antes modesta mudou completamente. Alguns observadores arregalaram os olhos. Mas apenas os especialistas, e maduros, por assim dizer, conseguiam perceber o quão determinado o jovem loiro estava.
No entanto, apenas Ignet Crecensia, que encarava diretamente os olhos de Airen, podia ver sua determinação como ela realmente era. Era algo que um novato de um ano e meio atrás jamais teria concebido. Ignet viu em Airen uma determinação inabalável e ambiciosa, característica apenas daqueles que lideram sua era.
Woosh!
Ignet encarou Airen intensamente antes de retirar sua energia em um segundo.
Enquanto Airen não piscava, outra pessoa reagiu. O Capitão Gregory Griffin, de Calvin, que fora exposto à energia de Ignet, tossiu violentamente. Amyra Shelton correu para ajudá-lo, mas ela também não parecia bem.
— Estimado Capitão Gregory Griffin, dos Cavaleiros de Calvin, peço desculpas por ultrapassar os limites e incomodá-lo — disse Ignet respeitosamente, voltando-se para eles.
— Cof, cof… Da próxima vez, avise-nos. Precisaríamos de tempo para nos retirar, não é? — respondeu Gregory.
— Permita-me assegurar que oferecerei minhas desculpas de maneira apropriada em breve, por isso, rogo-lhe que não se incomode.
— Haha, não há necessidade. Aprecio a oportunidade de testemunhar sua energia em ação, renomada capitã dos Cavaleiros Negros.
Ignet inclinou-se respeitosamente diante da generosidade do capitão antes de se virar para Sevion Brooks, o maior cavaleiro de Palanke, que estava com uma expressão séria.
— Da mesma forma, peço que perdoe minha insolência. Agi de forma precipitada ao deparar-me com alguém cuja presença não esperava, mesmo tendo plena consciência de onde me encontrava — disse Ignet.
— Está tudo bem…
— Peço igualmente desculpas ao honrado mago real de Lavaat. Esta tola cometeu um equívoco ao ajustar as coordenadas de nosso portal, resultando, lamentavelmente, em tamanha confusão.
— Bem, eu… isso não é… — gaguejou Perry Martinez.
Ele havia visto Ignet uma vez antes, quando ela acabara de se tornar capitã. Naquela época, ela estava longe da mulher sofisticada e elegante que era agora, com um discurso mais parecido com o de uma arruaceira do que o de uma cavaleira. Agora, a capitã dos Cavaleiros Negros parecia… impecável.
Mas não era por isso que Perry se sentia pressionado.
“Quem mudou muito foi você!” pensou ele, com as palmas suadas, enquanto encarava Ignet, cuja ferocidade não podia ser escondida nem por sua armadura nem por seus modos refinados.
— Lamento profundamente, mas todos os nossos cavaleiros encontram-se exaustos, pois vieram diretamente de uma missão. Se for de agrado do estimado anfitrião, gostaria de solicitar que lhes fosse concedido um momento de descanso… — pediu Ignet.
— Não imaginei que sua agenda estivesse tão atribulada… Hark! Venha e conduza os convidados do reino sagrado aos seus aposentos — ordenou Perry após um momento.
— Sim, senhor — responderam os servos que aguardavam no canto, descendo rapidamente até os Cavaleiros Negros para guiá-los com cautela, suas mãos tremendo. Embora não fossem tão imponentes quanto Ignet, cada cavaleiro era uma visão impressionante.
— Ah, eu estava ansiosa para toda essa comida! — reclamou a estranha garota, perturbando ainda mais os servos.
Felizmente, ela tinha um guardião.
— Você pode comer o quanto quiser nos seus aposentos, se preferir. Então pare de reclamar e nos envergonhar… — repreendeu Georg.
— Eu não quero.
— Apenas aguente por um momento.
— Não consigo. Crianças não conseguem se controlar.
— O que vou fazer com você…
Enquanto Georg Phoibe lidava com a teimosa Anya, os outros Cavaleiros Negros seguiram os servos para seus aposentos.
Ignet, entretanto, não deixou o salão do banquete, seus olhos ainda fixos em Airen Farreira.
Embora o fogo em seus olhos tivesse diminuído, ainda ardia como carvão incandescente. Então ela murmurou algo, sua voz tão baixa que apenas um elfo teria ouvido.
No entanto, Airen conseguiu entender apenas observando seus lábios.
“Eu vou manter meus olhos em você por mais um tempo.”
Vendo que Ignet ainda estava interessada nele, Airen assentiu e mexeu os lábios.
“Como desejar.”
Quando a conversa silenciosa terminou, Ignet finalmente se virou.
Todos no banquete observaram as costas de Ignet enquanto ela saía, deixando uma impressão inesquecível. No entanto, sua atenção não permaneceu nela por muito tempo. Agora, voltava-se para a garota misteriosa no vestido preto e para o Capitã Tenente o dos Cavaleiros Negros.
Apenas uma pessoa, Illia Lindsay, que aguardara ansiosamente por este momento por muito tempo, continuou olhando na direção de Ignet.
Ignet havia saído sem dizer uma palavra ou sequer lançar um olhar, muito menos demonstrar rivalidade, simpatia, desprezo ou raiva. Illia não sabia como deveria se sentir em relação a isso. A espadachim de cabelos prateados, que chegara até ali movida por sua determinação após enfrentar o medo e a dor, olhou para os próprios pés.
Então, uma pequena figura, que havia assistido à situação em silêncio, levantou-se. Antes que alguém pudesse detê-la, ela caminhou em direção ao centro do salão, embora o percurso levasse algum tempo, considerando sua baixa estatura.
— Hmm? — reagiu Georg.
— Quem é? Ela está indo até a Anya? — perguntou Anya.
Apesar de curto, o tempo que levou foi suficiente para captar a atenção de todos. Quando a pequena figura chegou ao seu destino, não apenas os nobres, mas também Georg e Anya estavam olhando para ela.
— Você — disse Lulu, apontando para Anya.
— Eu? — questionou Anya.
— Sim, você! Anya!
— Você conhece a Anya? Eu não conheço você!
— Como assim não me conhece?! Você é burra?
Anya, ou Anya Marta, considerando seu título de feiticeira, inclinou a cabeça. Ela nunca havia encontrado alguém de sua idade, e tão fofa assim, antes. Não havia como ela ter esquecido. Deu um passo à frente e examinou a garota com chifres e asas.
— Oh! — exclamou três segundos depois.
— Agora você me reconhece?! — bufou Lulu.
— Whoaaa! Eu senti sua falta! — gritou Anya, tentando abraçar Lulu.
Mas seu esforço foi em vão, já que Lulu desviou de seus braços com agilidade.
— Você e Ignet nos intimidaram, a mim e ao Airen — disse Lulu, encarando Anya, que parecia confusa com a acusação.
— Hã?
— Pensei que você quisesse ser minha amiga. Por que fez aquilo?
— Hã? I-isso foi porque era uma ordem da capitã… — murmurou Anya, visivelmente desconcertada.
Quando Lulu a puxou para o lado, Anya a seguiu obedientemente, deixando Georg sozinho no salão.
— Hum, devo mostrar-lhe seus aposentos? — perguntou um servo.
O Capitão Tenente o assentiu, desanimado. Suas costas pareciam bastante solitárias enquanto deixava o salão.
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