Índice de Capítulo

    A Academia de Esgrima Krono não treinava cavaleiros, já que focava apenas no manejo da espada. Ainda assim, ninguém no continente considerava os formandos da Krono meros espadachins. Mais do que suas habilidades com a espada, seus valores morais os tornavam ainda mais cavalheirescos do que os cavaleiros, que valorizavam honra, decência e cavalheirismo.

    — Uma competição é realmente interessante — disse Ian, observando todos os aprendizes. — Ela torna o treinamento doloroso e solitário mais divertido. Além disso, é inestimável para alcançar algo que jamais seria possível sozinho. E, ao perseguir alguém à frente ou lutar para se distanciar, às vezes você realiza algo incrível que te surpreende. No entanto, se ficar obcecado demais com isso, poderá negligenciar coisas importantes, pois deixa de prestar atenção ao seu redor.

    Todos instintivamente estremeceram diante de seu olhar intenso. O diretor sorriu e continuou.

    — Mas o aprendiz Airen Farreira foi diferente. Ele se sacrificou mesmo em uma situação em que poderia ter perdido tudo, e, como resultado, salvou um colega de se afogar. Cada um de vocês pode ter pensamentos diferentes, mas os instrutores e eu concordamos que o que ele fez foi digno. É por isso que ele está no palco.

    Ian parou. Os aprendizes permaneciam em silêncio, olhando para o diretor, para os instrutores e para Airen Farreira com uma variedade de expressões. O diretor, após um momento de silêncio intencional, falou novamente com uma voz firme.

    — A academia busca ajudá-los a alcançar seu potencial máximo. Esperamos melhorar seu manejo da espada. Mas todos sabem que isso não é a única coisa que ensinamos — disse Ian. — Vocês devem pensar no motivo pelo qual estão praticando o manejo da espada. E, antes de tentarem se tornar melhores nisso, pensem no que farão com o novo poder quando terminarem o treinamento. Deixo que pensem sobre isso.

    E o discurso chegou ao fim. Em seguida, os melhores aprendizes foram premiados com uma placa. No entanto, agora havia mais de cinco no topo. Airen Farreira era o sexto melhor aprendiz.

    Clap, clap.

    Enquanto todos os aprendizes aplaudiam, cada um tinha pensamentos diferentes. Lance Patterson, por exemplo, sentia vergonha de ter zombado de Airen, mas alguns outros aprendizes ainda mantinham a mesma opinião de antes. Eles acreditavam que Airen se sacrificara apenas para se mostrar bem diante do diretor. Enquanto isso, alguns, pela primeira vez, começaram a pensar no motivo pelo qual estavam treinando com a espada, enquanto outros relembraram as lições morais que haviam aprendido na aula de artes liberais, que antes desprezavam.

    E todos agora estavam mais conscientes de Airen Farreira do que nunca.


    Após a cerimônia, os aprendizes receberam uma semana de tempo livre. Era a primeira vez que eles tinham um descanso real. O tempo livre antes do exame de meio de ano não era realmente livre, pois ninguém o usou para descansar antes da prova importante. Finalmente, os aprendizes relaxaram pela primeira vez em muito tempo.

    Mas, como sempre, isso não se aplicava a Airen Farreira. Ele era o mesmo de antes, e sua rotina diária também permanecia a mesma. Continuava com seu treinamento, que já havia repetido tantas vezes que se tornara cansativo. Mas nada havia mudado. Nada, exceto seu relacionamento com Illia Lindsay, que não cuidava mais dele. Era isso que ele pensava enquanto corria.

    — Ei — alguém o chamou, batendo em seu ombro.

    — Sim?

    — Desculpa. E obrigada.

    Judith apareceu de repente e falou com ele do nada. Airen parecia perplexo, mas logo percebeu que ela estava se referindo ao fato de ele tê-la salvado.

    “Eu não esperava que Judith viesse me agradecer.” Foi surpreendente, mas não algo ruim. Airen esboçou um leve sorriso e assentiu. Mas ainda tinha uma dúvida.

    — Mas… pelo que você está pedindo desculpas…? — ele perguntou.

    — Estou agradecida por uma coisa e desculpando-me por outra. Estou em dívida com você em duas ocasiões, e vou pagá-las. Mas acho que tive um papel no fato de você ter sido premiado.

    — Hã?

    “O que ela está falando? Será que está pensando que teve alguma participação na minha recompensa por salvá-la?”

    Judith continuou.

    — Então, uma já foi, falta mais uma. Vou pensar em como compensar você.

    Airen permaneceu em silêncio.

    — Enfim, nos vemos por aí — disse ela. — Por que você não está respondendo?

    — Hã? E-eu…

    — Certo, então. Não vou te incomodar mais. Continue trabalhando duro.

    Após falar de forma enigmática, a garota de cabelos vermelhos se afastou. Airen riu, pois não parecia algo ruim. O que quer que Judith tivesse querido dizer, ela estava tentando ser amigável. Era a primeira vez que alguém, além de Illia, falava com ele de forma amigável. Só que a maneira como fez isso era única e incomum.

    “Ela é tão confusa.”

    Airen tentava entender o que acabara de acontecer quando um instrutor assistente familiar se aproximou dele.

    — Aprendiz preliminar número 311, Airen Farreira.

    — Sim, senhor!

    — O diretor está chamando você. Lave-se e esteja preparado.

    — Sim, senhor…

    Nenhum dos dois explicou ou perguntou o motivo da convocação, pois não havia necessidade. O Nobre Preguiçoso rapidamente se preparou e se dirigiu ao escritório do diretor.


    — Entendo. Agora eu vejo. Parece que tive mente fechada — disse Brett Lloyd. Ele estava sentado no escritório do diretor para uma entrevista.

    — Não precisa se condenar. Alguém de mente fechada não admitiria seu erro facilmente. Não deve se culpar tanto pelas palavras de um velho — disse Ian.

    — Não, o senhor não é apenas um velho, senhor. Como poderia ignorar o diretor da academia?

    — Haha.

    — O que disse é verdade, senhor. Vim aqui para aprender mais e fazer parte de um mundo maior… mas insisti teimosamente em fazer do meu jeito. De agora em diante, aprenderei com os outros quando necessário, assim como o senhor aconselhou.

    “Mesmo que tenha que aprender com alguém inferior a mim”, pensou Brett.

    O diretor sorriu agradavelmente e assentiu.

    “É um garoto excepcional.”

    Brett não era um gênio que aprendia mais do que era ensinado, mas tinha mais determinação que os outros. Possuía bons valores morais, apesar da teimosia e do orgulho dos nobres de alto escalão. Mas isso não era um problema, considerando sua natureza responsável, algo que Ian podia ensinar.

    “Os aprendizes deste ano são muito talentosos, de fato”, pensou o diretor.

    — Que bom que entendeu. Então, gostou da sua recompensa? — perguntou Ian.

    — Claro, senhor… Foi uma lição inestimável. Levarei isso para a vida toda.

    — Isso parece um pouco exagerado, mas é bom ter ajudado.

    — Sim, senhor. Se me permitir, vou me retirar.

    Ian assentiu, e Brett saiu com uma reverência educada. Ele tinha um caráter nobre e forte que tornava difícil acreditar que era apenas um garoto de treze anos.

    “Ele teria ficado em primeiro lugar se estivesse em outro ano. Mas… infelizmente, há muitos aprendizes talentosos este ano.”

    Isso era bastante verdade. Quatro aprendizes, suficientes para ser o primeiro lugar em anos anteriores, estavam juntos. E um deles estava muito acima dos demais, a ponto de os outros se sentirem inferiores a ela.

    Essa aprendiz entrou no escritório do diretor. Illia Lindsay adentrou com seus cabelos prateados e elegantes, na cor da luz da lua.

    — Peço ousadamente uma lição de esgrima como recompensa — disse Illia.

    — Realmente ousada.

    — É pedir demais, senhor?

    — Não. Mas por que eu deveria te ensinar se você não pretende permanecer na academia?

    Illia permaneceu em silêncio, concordando com a pergunta. Ian estalou a língua e balançou a cabeça.

    — Vou te dar um conselho, menina. Pare de se deixar levar pelos outros e viva sua vida. Deixe de perder tempo com essa obsessão e volte a aprender o estilo de esgrima da sua família. Isso seria melhor para você.

    Illia não respondeu às palavras de Ian, e ele perguntou novamente: — Você entendeu?

    — Eu peço uma lição, senhor.

    — Pff… uma teimosa, de fato.

    O diretor suspirou, então olhou para a garota de cabelos prateados com um olhar compreensivo. Ele sabia algo que os outros não sabiam. Assim como uma pessoa pode ver seu próprio reflexo na água, sua energia semelhante à água permitia a ele enxergar fundo nela e ver o reflexo do seu fogo consumido pela raiva. Mas ele não sabia como apagá-lo.

    O diretor não teve escolha a não ser acenar com a cabeça. Ele se levantou, pegou uma espada de madeira pendurada na parede e a jogou para Illia. Em seguida, puxou um galho de madeira do cinto.

    — Acredito que esta sala tem espaço suficiente para uma lição.

    — Obrigada, senhor.

    Illia fez uma reverência. Havia um fogo em seus olhos enquanto se levantava da cadeira. Cerca de vinte minutos depois, ela havia terminado o duelo de treino e recebido muitos conselhos sobre sua esgrima do diretor. Ela deixou a sala com uma expressão satisfeita.

    — Obrigada pela lição, senhor. Eu não vou esquecê-la.

    Ian, no entanto, não parecia contente. A garota era muito talentosa e um presente para o mundo. Mas estava trilhando um caminho difícil e traiçoeiro, sem um final realmente significativo. Ele sabia, pela experiência, que apenas arrependimento e vazio a aguardavam.

    Mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso. Mesmo se ele conduzisse o cavalo até a água, não poderia forçá-lo a beber. Não podia mudar a mente dela conforme desejava. Ela precisaria aprender por conta própria e sair do vazio. O diretor se preocupava com a garota e esperava que o futuro dela fosse brilhante.

    Momentos depois, um garoto chegou.

    — Posso entrar, senhor?

    — Sim, sim. Entre — disse Ian, rapidamente afastando seus pensamentos sobre Illia. Precisava mudar o foco, pois era desrespeitoso para com outro aprendiz se esses pensamentos permanecessem em sua mente. Ele sorriu e olhou para o último aprendiz, Airen Farreira.

    — Então, imagino que você saiba por que está aqui — disse Ian.

    — Sim, eu sei, senhor.

    — Claro. Vou recompensá-lo. Há algo que você gostaria? Não precisa ser um objeto.

    O diretor da Academia de Esgrima Krono estava sendo genuíno com suas palavras, mas não havia feito essa pergunta aos aprendizes anteriores. Ele já os havia avaliado e dado recompensas que considerava apropriadas, exceto para Illia, que havia pedido diretamente o que queria.

    Mas Airen era diferente. Mesmo com os olhos perspicazes que Ian havia desenvolvido ao longo dos anos e sua energia semelhante à água refletindo na mente alheia, ele não conseguia compreender totalmente aquele garoto.

    “Preciso permanecer aqui e observá-lo de perto.” Ele decidiu ficar nesse distrito regional para acompanhar o garoto.

    Ian olhou para o aprendiz silencioso e perguntou novamente:

    — Sinta-se à vontade para pedir qualquer coisa. Este velho é bastante capaz, sabe? Posso te dar quase tudo o que você desejar, e mesmo que não possa, não ficarei bravo por você pedir. Então, o que você quer?

    Será que foram essas palavras que lhe deram coragem? Airen Farreira, que estava de cabeça baixa, ergueu o olhar e encarou o diretor. Então soltou um leve suspiro e perguntou o que estava em sua mente.

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