Capítulo 190: Provações da Masmorra (1/2)
A masmorra situada no deserto entre Lavaat, Palanke e Calvin tinha duas entradas com um mecanismo estranho, de forma que era necessário utilizar ambas ao mesmo tempo para abrir o caminho. É claro que alguém poderia simplesmente arrombar as portas, mas ninguém queria optar por essa abordagem, já que cada ação podia trazer consequências imprevisíveis em uma masmorra antiga.
— Aposto que há uma barreira mágica — pensou Perry Martinez, o comandante da primeira equipe de expedição.
Existiam, basicamente, três tipos de masmorras antigas neste mundo: o túmulo de um herói, ruínas divinas e uma barreira mágica criada por um evento misterioso. E o que eles estavam vendo naquele momento era algo que ocorria com mais frequência em barreiras mágicas. Túmulos de heróis e ruínas divinas raramente emitiam vibrações tão distorcidas. Essa também era a razão pela qual Lavaat, que possuía talento superior no que dizia respeito à magia, estava tão confiante na expedição.
“Não que eu possa fazer algo sobre Arvilius…” pensou Perry com uma expressão carrancuda ao se lembrar da segunda equipe de expedição, composta apenas por membros do reino sagrado.
O desempenho em uma masmorra determinava o quanto dos espólios cada grupo poderia reivindicar. Por isso, Lavaat não estava muito satisfeito com o fato de que o reino sagrado estava ocupando uma das entradas sozinho.
No entanto, Perry afastou rapidamente esses pensamentos. O duelo entre Sevion Brooks e Ignet Crecensia, que ocorrera quatro dias atrás, no qual a capitã dos cavaleiros negros mostrou seu poder, fez Perry repensar sua postura.
“Certo… Não podemos competir com o reino sagrado” concluiu.
De fato, se ele acompanhasse os cavaleiros negros e Ignet, poderia não ter nenhuma oportunidade de se destacar. Talvez fosse melhor se sobressair entre Palanke e Calvin do que apenas seguir os integrantes do reino sagrado.
— Hah, huh, haa… — arfava Amyra.
— Amyra, acalme-se. Você é a capitã tenente, pelo amor dos céus. Não pode ficar nervosa assim! — confortou Gregory.
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Os olhos de Perry examinaram os arredores. A novata de Calvin sabia manejar uma espada, mas não tinha experiência, e Gregory Griffin era velho e frágil. Eles não seriam um problema. Sevion também não. Ele poderia ser um incômodo no estado normal, mas agora ainda se recuperava do duelo impressionante contra a capitã dos cavaleiros negros. A primeira derrota absoluta que sofrera desde que se tornara um mestre devia ter abalado profundamente sua confiança.
No momento, o que preocupava Perry era Airen Farreira e Lulu. O velho mago voltou seu olhar para o jovem loiro e a gata em seus ombros.
Ele não podia baixar a guarda em relação àqueles dois, especialmente Airen Farreira. Enquanto a misteriosa gata feiticeira era apenas potencialmente formidável, o jovem mestre espadachim representava uma ameaça real. Perry ainda conseguia ver a imagem do jovem resistindo ao carisma de Ignet. Embora inacreditável para alguém tão jovem, aquele rapaz podia, possivelmente, superar Sevion Brooks.
“Espero que tudo saia conforme o planejado” pensou Perry, desviando o olhar e respirando fundo.
Não era tão ruim assim. Se tudo corresse como esperado, ele conseguiria obter bons resultados.
Então, um sinal de luz veio da entrada oposta. Perry assentiu e virou-se para sua equipe.
— Vamos começar — anunciou.
— Sim, senhor! — responderam em uníssono os magos de Lavaat antes de iniciarem seus feitiços.
Com o som de pedras se movendo umas contra as outras, a entrada da masmorra se abriu.
Flash!
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Perry Martinez lançou uma luz para verificar. No entanto, a luz de Perry não fez diferença. O mar de escuridão permaneceu inalterado.
— Bem, claro. Vamos entrar — convidou Perry, virando-se para Sevion antes de dar o primeiro passo.
Vestindo um manto encantado e armado com um cajado feito da madeira de uma árvore gyro do norte, o velho mago emanava uma aura incomensurável. Os integrantes da equipe de expedição o seguiram com orgulho.
“Estamos com o melhor mago de Lavaat” pensaram.
“Perry Martinez, o maior mago da região central, nos lidera!”
“Nem mesmo uma masmorra antiga nos assusta! Confiamos em Perry Martinez!”
Sentindo os olhares confiantes de seus subordinados, Perry Martinez reuniu coragem.
De fato, ele era o mais talentoso mago de combate da região central, com vasto conhecimento sobre exploração de masmorras. Suas habilidades eram incomparáveis, exceto pelos três chefes da casas no Reino Runetell. Não havia como ele ficar em segundo lugar atrás dos cavaleiros de Palanke ou dos jovens mercenários de Calvin.
Perry avançava orgulhosamente pela masmorra quando se virou, sentindo algo estranho.
Não havia ninguém atrás dele. Ele refletiu por alguns segundos, mas, nesse breve momento, todos os membros do grupo haviam desaparecido. Contudo, Perry não sentiu nenhuma alteração na mana ou qualquer outra coisa. O que aconteceu estava além de sua compreensão.
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Ao perceber o que havia ocorrido, Perry Martinez soltou uma risada vazia.
— Hahaha…
“Isto é um templo antigo, não uma barreira mágica…!” concluiu, recordando-se do que lera em antigos registros.
Aquilo era uma provação divina. Ela surgia de forma repentina para os exploradores, e ninguém, fosse mago ou feiticeiro, sabia quando ocorreria. O que se devia fazer era seguir em frente com orgulho, sem deixar que a dúvida e o medo tomassem conta de si.
Perry estalou a língua. Ele não estava em apuros. Sabia que não era um lutador medíocre. Um mago de seu nível não cederia diante de tais provações. Com a mais absoluta confiança em si mesmo, escolheu uma direção e seguiu sem hesitação.
No entanto, não podia dizer que era fácil. Diferentemente de barreiras mágicas, magos podiam fazer pouco contra os obstáculos de um templo antigo. Embora não fossem totalmente incapacitados, ficavam em desvantagem em comparação ao grupo de cavaleiros sagrados e altos sacerdotes do reino sagrado. O fato de que Lavaat perdera muitas vantagens em relação a Palanke e Calvin não era nada promissor.
Perdido em pensamentos, Perry Martinez se lembrou de algumas pessoas, pessoas que precisava superar, mas não conseguiu. Na verdade, ele sequer havia alcançado o nível delas…
“Será que os chefes das três casas de Runetell conseguiriam encontrar uma saída em uma provação divina…?” ponderou o velho mago, deixando que a dúvida penetrasse sua mente.
Ele lutou para ignorá-la, balançando a cabeça e continuando a avançar, apesar do desconforto.
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“Uma provação divina, hein…?” pensou Sevion Brooks imediatamente ao ver a cena que se desenrolava diante de seus olhos.
Era o caos. Todos estavam matando uns aos outros. Sevion percebeu que ele próprio estava encharcado de sangue, com sua espada embotada pela gordura humana.
Felizmente, ele se deu conta de imediato de que aquilo não era real.
“Eu quase me perdi no meu passado. Foco!” pensou o mestre espadachim, respirando fundo e seguindo em frente.
A guerra civil havia terminado há trinta anos. Nem ele nem seu país cometeriam o mesmo erro novamente. Sevion brandiu sua espada com determinação, e os soldados inimigos desapareceram como uma miragem.
Depois de superar inúmeras provações, Sevion Brooks caminhou em direção à luz tremeluzente no final do caminho.
“Que situação problemática” pensou ele.
Mesmo ele, o mestre, havia ficado abalado pela ilusão. Embora alguns de seus subordinados mais confiáveis estivessem bem, muitos não conseguiriam superar aquilo.
Ainda assim, ele não temia o pior. A deidade benevolente apenas barrava aqueles que não eram qualificados, sem feri-los.
No entanto, seria melhor minimizar as perdas.
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“Vou perguntar ao Perry se ele sair” pensou Sevion enquanto avançava com passos rápidos.
Ele não considerava a possibilidade de que alguém pudesse ter passado antes dele, pois tinha certeza de que era mais resiliente do que os outros, exceto talvez Ignet.
Por isso, ficou chocado quando finalmente saiu.
— Ei, temos companhia aqui — saudou Lulu.
A luz que Sevion seguia vinha da gata feiticeira.
Para piorar, Lulu não era a única ali. Illia Lindsay, a prodígio da Casa Lindsay, olhou para ele calmamente.
— Parece que temos uma festa aqui… — murmurou Perry Martinez, atordoado, ao chegar um momento depois.
Ele olhou incrédulo para Illia Lindsay. Afinal, ela estava bastante abalada com o que acontecera no salão de banquetes. Como ela conseguiu superar a provação tão rapidamente, ultrapassando Perry e até mesmo Sevion Brooks? Perry tinha muitas perguntas, assim como o maior cavaleiro de Palanke. No entanto, os dois homens orgulhosos mantiveram o silêncio. O tempo passou.
— Ah, já acabou?
— Senhor Martinez!
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— Senhor Brooks, eu sabia que os encontraria aqui.
Aqueles que passaram pela provação logo se reuniram novamente. A maioria era de Lavaat e Palanke. É claro, alguns, como Amyra Shelton e Gregory Griffin, também emergiram da escuridão ilesos.
No entanto, após duas horas e ninguém mais sair, a equipe precisou tomar uma decisão.
— Acho que será difícil esperar mais — disse Perry.
— Vamos ao altar, então? — perguntou Sevion.
— Talvez… mas não posso garantir que conseguiremos reincorporar os que encontrarmos ao nosso grupo — respondeu Perry com hesitação.
A deidade era benevolente, então ele não conseguia imaginar que aqueles que vagavam na escuridão estivessem sofrendo muito. Provavelmente, ele poderia convocá-los se orasse e fizesse pequenas oferendas no altar dentro da masmorra. Contudo, ainda tinha dúvidas se esses membros poderiam contribuir com a expedição após o ocorrido.
“Ainda assim, não temos escolha a não ser seguir em frente…” pensou o velho mago, estalando a língua.
Ele se virou e viu Illia Lindsay meditando tranquilamente e a gata brincando despreocupadamente com fogo. Pouco satisfeito com a atitude descontraída dos dois, perguntou.
— A dama da renomada Casa Lindsay ou nossa querida feiticeira têm alguma opinião?
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Ele não buscava uma resposta. Na verdade, estava apenas sendo rabugento ao ver as duas mercenárias despreocupadas. Além disso, tentava se impor sobre a talentosa feiticeira e a jovem mestre espadachim.
Contudo, obteve uma resposta rapidamente. Abrindo ligeiramente os olhos, Illia Lindsay encarou Perry Martinez.
— Vamos confiar neles — disse ela.
— Perdão? — questionou Perry.
— Vamos ter fé neles e esperar.
— O que você quer dizer…?
— Acho que a provação era sobre ter a confiança necessária para se libertar da dúvida e da inquietação.
— Minha opinião é que devemos confiar não apenas em nós mesmos, mas também nos outros.
— Vejo que confia em seu aliado desaparecido, senhorita Lindsay…
Perry estava certo. Embora muitos já tivessem passado pela provação, Airen Farreira, o mestre espadachim, ainda não havia emergido. Embora inesperado, não era impossível. Afinal, não havia garantia de que um bom espadachim também tivesse uma vontade forte. Até mesmo os mais fortes fraquejavam às vezes.
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Além de Airen, Perry não esperava por mais ninguém. O mago real de Lavaat acreditava que aqueles que ainda não haviam passado pela provação simplesmente não eram bons o suficiente.
— Estou aqui.
Illia e Lulu se viraram simultaneamente, assim como Sevion, Perry e os outros. Todos dos três países observavam, boquiabertos.
Airen Farreira sorriu enquanto avançava com uma espada brilhante e cálida, que queimava como madeira em uma lareira, liderando um grupo de pessoas que poderiam estar perdidas.
Movendo-se como um homem sagrado, Airen acenou para Illia e Lulu antes de se aproximar de Perry.
— Desculpe. Isso demorou mais do que eu esperava.
Airen Farreira, que havia correspondido às expectativas de todos, estava diante do velho mago como um verdadeiro herói.
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