Capítulo 198: A Espada da Mente (2/2)
Quando Airen encontrou Karin Winker, sua encarnação passada, pouco antes de derrotar o demônio bufão, ele percebeu, à medida que o novo poder fluía para sua espada, que algo havia mudado.
Não foram seus ossos ou músculos que mudaram, nem sua aura cresceu, tampouco ele se tornou mais sabio. Embora ocasionalmente visse vislumbres de sua vida passada, sua versão anterior não tinha muito a oferecer em termos de habilidades com a espada.
No entanto, confrontar seu passado parecia ter preenchido Airen com vida.
Apesar de enfrentar um demônio aterrorizante com poderes insondáveis que viveram ao longo dos séculos, ele não sentiu medo. Pelo contrário, sentiu como se algum poder protetor agora residisse em si mesmo e em sua espada.
E agora…
Assim como Ignet Crecensia explicou sobre a espada do herói, ou melhor, a espada da mente, Airen percebeu que o poder que sentiu naquele momento era uma manifestação de sua boa vontade combinada com a de sua encarnação passada.
Woosh!
Airen brandiu sua espada, mas seus movimentos estavam estranhamente desajeitados, como se nunca tivesse empunhado uma espada, ou sequer movido o corpo, em sua vida.
Mas como ele deveria se mover? Assim como um bebê não consegue controlar seus músculos corretamente ou alguém que acabou de aprender sobre aura não pode dominar os seis conceitos de forma habilidosa, Airen não conseguia empunhar a espada da mente com sua destreza habitual.
Ainda assim, ninguém ousaria rir de suas falhas, especialmente os especialistas e quase-mestres.
— Que absurdo… — murmurou Sevion.
O jovem havia aprendido a usar a espada do herói apenas ouvindo o conceito.
Claro, Sevion já tinha a sensação, desde a primeira provação, de que aquele jovem passara a vida tentando fazer o bem no mundo. Ele também sentia que, se alguém fosse aprender a espada do herói, seria aquele jovem. Mas jamais imaginou que ele conseguiria logo após ouvir o conceito…
Swoosh! Woosh! Woosh!
Enquanto as pessoas observavam, maravilhadas, Airen continuava a manejar sua espada. Era difícil. Coordenar seus músculos, sua aura e a espada da mente exigia uma quantidade inimaginável de concentração. Ou talvez lhe faltasse técnica. Certamente havia maneiras de não desperdiçar sua energia mental.
Airen parou e se voltou para Ignet.
— Vamos para o próximo tópico — disse com olhos brilhando.
— O-o que quer dizer com próximo tópico?! — gritou uma voz.
Airen se sobressaltou e olhou para trás, vendo Amyra Shelton, a Tenente-Capitã dos Cavaleiros de Calvin, chocada.
E ela não era a única. Outros também encaravam Airen, com os olhos arregalados cheios de inveja, derrota e um pouco de raiva.
“Será que fiz algo errado…?” pensou Airen, sentindo-se envergonhado. Ele de fato avançara sem considerar os outros.
Airen lembrou-se do tempo em que treinava sua mente enquanto interagia com seu passado através de sonhos e aprendia feitiçaria com Lulu. Aqueles outros não devem ter passado pelo mesmo. Para eles, o que Ignet acabara de explicar devia soar completamente estranho.
Coçando a cabeça, ele recuou e esperou em silêncio pelas próximas palavras de Ignet. Então, ela disse algo inesperado.
— Venha aqui, Airen — chamou.
— Perdão? — perguntou Airen.
— Acho que você deve trabalhar sozinho.
— Mas…
Airen olhou ao redor, sentindo os olhares agudos das outras pessoas, como se gritassem: ‘Veja como somos colocados de lado por sua causa!’ Entre os olhares amargos estava Illia Lindsay.
Felizmente, havia mais alguém que poderia ensinar ao grupo o conceito básico da espada do herói.
— Então eu explicarei o básico — disse Georg Phoibe, o Tenente-Capitão dos Cavaleiros Negros e um mestre espadachim. Ninguém poderia negar seu poder.
Assim, ninguém reclamou quando ele deu um passo à frente.
Porém…
Woosh…
— Também não consigo usar isso em situações práticas. A mente apenas alimenta a ação. Manifestá-la em energia real exige imenso esforço e talento — explicou Georg.
— E se formos usá-la na esgrima… precisamos de ainda mais talento. Infelizmente, eu não tinha talento suficiente. Ou talvez não tenha me esforçado o bastante. Muito provavelmente, foi uma combinação dos dois.
As pessoas ficaram em silêncio diante das palavras de Georg. Afinal, ele era alguém que se tornara um mestre espadachim antes dos quarenta anos. Agora, dizia que não tinha talento ou esforço suficientes. O que isso dizia sobre aqueles que lutavam para sequer alcançar o nível de especialista? Por mais amargo que fosse, ninguém ousou expressar seus sentimentos em voz alta.
Era de se esperar. A espada do herói não seria chamada assim se qualquer pessoa pudesse usá-la. Os espadachins, incluindo Sevion Brooks, o mestre espadachim, lutaram para acalmar suas mentes.
— Primeiro, comecemos com a ‘vontade de proteger’… que contraria a energia demoníaca — explicou Georg.
— Uau, Georg é muito bom explicando — disse Anya.
— É, ele é bom — respondeu Lulu, observando como se aquilo não tivesse nada a ver com ela.
Airen e Ignet também assistiam à distância antes de desviarem o olhar.
— Devemos começar? — perguntou a Capitã dos Cavaleiros Negros com um sorriso.
— Sim, por favor — respondeu Airen.
— Certo. Mas não espere que seja fácil só porque você manifestou a espada da mente de imediato.
— Mesmo para mim, foi difícil coordenar mente, corpo e aura para criar um estilo de espada — alertou Ignet.
— Entendido — disse Airen com um aceno.
De fato, ele já sabia. Controlar sua mente, treinar seu corpo ou usar sua aura nunca foi tão fácil quanto parecia.
Mas isso não significava que ele queria desistir. Airen tinha objetivos maiores.
“A Arte dos Cinco”, pensou.
Se pudesse integrar o poder dos elementos que aprendera com Karakhum, o guerreiro…
Terei mais maneiras de proteger o mundo.
Woosh!
Algo vibrou silenciosamente. Era o coração de Airen, a bondade que ele já tinha pelo mundo antes mesmo de manifestar a espada do herói.
Ao perceber o que aconteceu, Ignet riu. No entanto, não havia ciúmes em seu olhar.
“Aprendi tanto quanto ele”, pensou ela.
— Certo. Vamos começar.
E assim começou o treinamento especial de Ignet para apenas uma pessoa. Suas aulas e as de Georg preencheram todo a masmorra.
Enquanto isso…
Uma espadachim de cabelos prateados observava seu amigo e rival enquanto ouvia Georg. Em seu coração, algo vibrava silenciosamente.
Três semanas se passaram. Embora fosse mais do que suficiente para enlouquecer qualquer um, as coisas ainda estavam bem. Anya trabalhava por moedas mágicas que trocava por alimentos e suprimentos. Essa abundância material acalmava o grupo.
Mas uma pessoa permanecia abatida, Sir Sevion Brooks, o maior cavaleiro de Palanke. Encostado na parede de pedra, ele observava os dois jovens espadachins treinando. De fato, ele e os outros haviam desistido completamente de aprender o estilo de espada de Ignet.
“É ridículo tentar ensinar ou aprender um feito desses”, pensou.
Manifestar a vontade de proteger alguém podia soar fácil, mas exigia habilidades inimagináveis. Assim como os especialistas não podiam usar aura como os mestres, Sevion sentia que havia alcançado seu limite.
Mas chamar isso de frustração seria um eufemismo. Canalizando a amargura e a raiva que sentiu durante a guerra civil em um sentimento de paz e estabilidade, Sevion Brooks conseguiu manifestar a espada da mente com a ajuda de Ignet e Georg.
No entanto, foi só isso. Quando tentou integrar a espada da mente com sua aura, percebeu que não conseguia mover nem um centímetro.
“Eu nem deveria ter tentado…”
Foi então que Sevion decidiu desistir da espada do herói.
Sem surpresa, os espadachins menos talentosos não se saíram melhor. Com exceção de Amyra Shelton, que ainda balançava sua espada desajeitadamente, apenas os dois jovens espadachins treinando com Ignet eram os verdadeiros herdeiros da espada do herói.
O que surpreendeu Sevion foi que Illia progrediu muito mais rapidamente que Airen, que foi o primeiro a manifestar a espada.
“Como ela consegue fazer isso com tanta facilidade?”
De fato, Illia Lindsay progrediu rapidamente. Afinal, a espada do herói não se tratava apenas de manifestar a boa vontade ou a vontade de proteger. Assim como era mais importante conduzir a aura do que apenas senti-la, manejar era mais importante do que manifestar quando se tratava da espada da mente. E Illia demonstrava um talento inquestionável, avançando quase duas vezes mais rápido que Airen.
— Idiota. Nem consegue fazer o básico? — repreendeu Ignet.
— Haa…haa… Vou continuar até conseguir — respondeu Airen.
Mas quem surpreendeu a todos foi Ignet Crecensia, a instrutora. Por não se preocupar em esconder suas habilidades, todos na masmorra podiam vê-la ensinar.
Entendendo o quão difícil era colocar em palavras o estilo de espada mais sofisticado e abstrato, todos perceberam o quão vasta era a sabedoria de Ignet.
— Haha — riu Sevion Brooks, sentindo-se envergonhado ao lembrar de como tentou enfrentar Ignet um dia. Quão tolo ele fora, como um filhote de cachorro desafiando um tigre.
“Melhor não pensar nisso”, refletiu Sevion, fechando os olhos e meditando para combater o sentimento de inferioridade.
Não fazia diferença para ele, afinal. Não ganharia nada pensando em algo que nunca alcançaria. Contudo, a obsessão do velho espadachim pela espada de Ignet ainda pairava. Embora esse sentimento não prejudicasse ninguém no momento, poderia se tornar sombrio caso algo saísse errado.
No entanto, os pensamentos de Sevion nunca se tornaram malignos.
Clash!
Clank!
— Hã?
— Que som é esse…?
— O quê? O que está acontecendo?
Os membros da expedição, que estavam concentrados em suas próprias tarefas, se levantaram, surpresos, e se viraram na direção do som.
O som continuava, ficando mais alto.
Clank! Clash! Claaaash!
Crack, crack…
Boom!
Algo ressoou e rachou.
Os rostos das pessoas se iluminaram de esperança, especialmente os cavaleiros negros, que sabiam quem poderia estar quebrando a barreira sombria.
Ignet também olhou para cima com esperança. Embora ainda estivesse ferida, ficou de pé e esperou que a barreira caísse. Airen, Illia e Lulu também observavam, graves.
Logo, a escuridão se desfez.
Crash!
Com um som estrondoso, ela se abriu, e uma luz deslumbrante inundou a área. Não era luz do sol, mas a magia sagrada dos altos sacerdotes abençoados pelo divino.
Mas não foram os sacerdotes que chamaram a atenção de Airen. Ao virar-se para o velho cavaleiro sagrado, de barba branca como a neve e armadura brilhante, ele se tensionou.
Illia também se alertou, mas ainda não relaxou. Quando viu dez cavaleiros sagrados se aproximando, percebeu que todos eram mestres espadachins há décadas.
“Onze mestres espadachins? Arvilius pode ser a nação mais poderosa do continente, mas como pode haver tantos assim?” pensou Illia, confusa.
Airen também estava chocado. No entanto, seu choque logo foi substituído por outra coisa.
— Ignet Crecensia, você está viva — falou o velho cavaleiro.
— Minhas sinceras desculpas por esta desonra, capitão — respondeu Ignet.
Agora Airen sabia quem era o homem de barba branca.
Contudo, notou que nenhum dos onze mestres espadachins estava olhando para ele. Em vez disso, todos encaravam intensamente Ignet Crecensia, como se os outros não importassem.
Ao ver isso, Airen se lembrou de algo que havia deixado em segundo plano, o motivo de estar ali.
Airen Farreira apertou sua espada com força.
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