Índice de Capítulo

    O grupo deixou a sala de reuniões e se dirigiu ao campo de treinamento, liderado pelo homem calvo. Airen, seus amigos, Julius Hule e Ignet Crecensia o acompanharam.

    Airen se sentia estranho, encontrando-se novamente em uma situação como aquela.

    “Provar meu valor, hein?” refletiu, recordando algumas de suas antigas memórias.

    Na maioria das vezes, fosse quando precisava ser avaliado para obter certificação como mercenário, lutando contra o Diretor Hayram e Zett Frost em Partizan, ou enfrentando inúmeros desafios na Terra da Provação em Aisenmarkt, tudo começava com as pessoas o subestimando. Afinal, ele nunca aparentou ser forte. Sua aparência juvenil não ajudava.

    “Mas essas pessoas são diferentes”, pensou Airen.

    As pessoas do reino sagrado eram diferentes. Ele podia perceber que, embora aqueles que caminhavam atrás dele não tivessem grandes expectativas, tampouco o menosprezavam. Pelo contrário, pareciam determinados a eliminar boatos e ver por si mesmos do que ele era feito.

    O mesmo valia para o homem calvo à frente. Ele não chamou Airen para esmagar seu orgulho juvenil. Em vez disso, parecia querer avaliá-lo seriamente e tratá-lo com justiça. Airen sentia que aquele homem era uma força a ser reconhecida.

    “Quem será ele?”

    — Você conhece aquele homem velho? — perguntou Lulu.

    — Não… — respondeu Airen.

    Tanto Lulu quanto Illia pareciam tão curiosos quanto ele. Embora o velho ainda não tivesse sacado sua espada, Illia podia perceber, apenas pela energia dele, que era tão forte quanto seu pai. Ela estava diante de um dos dez espadachins mais renomados do continente! Por um momento, ela se perguntou se o velho seria Rigoberto Clark, o Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, mas balançou a cabeça. Pelo que sabia, aquele capitão não era calvo. Tampouco reconhecia o grupo que os seguia, que claramente também parecia composto por mestres espadachins.

    “Filho, o reino sagrado é muito mais poderoso do que as pessoas pensam.”

    Illia recordou o que seu pai e irmão conversaram anos atrás. Ela era jovem, mas lembrava claramente das palavras deles. Naquela época, muitos começaram a criticar a interferência do reino sagrado nos assuntos de outras nações. Carl Lindsay, seu irmão, também se juntou às críticas, acreditando que, embora Arvilius pudesse ser considerado a nação mais forte, não poderia ser tão poderosa assim. Por exemplo, enquanto os cinco reinos do oeste tinham uma média de cinco mestres espadachins cada, Arvilius mal tinha dez. É claro que os sacerdotes e outras forças do reino sagrado eram formidáveis, mas ficavam aquém em comparação aos cavaleiros dos cinco reinos.

    “Mas meu pai não acreditava nisso”, pensou Illia.

    Ela engoliu em seco ao lembrar-se de como seu pai, Joshua Lindsay, falava com certeza de que o reino sagrado tinha forças ocultas.

    Seu pai estava certo. O reino sagrado possuía poderes ocultos que até eclipsavam Ignet Crecensia.

    — Vamos fazer aqui? — sugeriu o velho no centro do campo de treinamento, vazio porque todos haviam sido mandados embora.

    — Posso saber seu nome antes de começarmos? — perguntou Airen, enquanto o velho o encarava sem paixão nem indiferença.

    O homem olhou para Julius como se pedisse permissão. O Capitão dos Cavaleiros Brancos hesitou por um momento e assentiu.

    — É Quincy Meyers — disse o velho.

    — Só estou lhe dizendo porque acredito que será discreto. Não mencione isso a ninguém — advertiu.

    — Sim, senhor… — respondeu Airen, ainda tenso, assim como Illia, que estava atrás dele.

    Apenas Lulu olhava inocentemente para a cabeça brilhante do velho antes de perguntar:

    — Você o conhece?

    — Ele é o ex-capitão dos Cavaleiros Vermelhos… — respondeu Illia.

    — Sério? Mas o que há de errado com isso?

    — Pelo que sei, ele faleceu há dez anos… mas agora sei que não é bem assim — disse Illia, assentindo.

    De repente, ela entendeu quem eram os dez mestres espadachins que surgiram do nada e por que todos pareciam tão velhos. Eram os cavaleiros sagrados da geração anterior, que todos acreditavam já estarem mortos.

    Illia os observou seriamente antes de se voltar para Airen.

    “Boa sorte, Airen”, pensou.

    Infelizmente, Airen não captou o incentivo silencioso da amiga, nem ouviu o grito de Lulu. Seu foco estava em Quincy Meyers, o ex-capitão dos Cavaleiros Vermelhos, e em todos os outros do reino sagrado.

    “Eles são inacreditáveis”, pensou.

    Não havia outra forma de descrevê-los.

    À medida que crescia, Airen começou a enxergar as auras dos outros com mais clareza. Se antes só conseguia ver a quantidade de aura, agora podia observar o fluxo dela, mesmo que o outro não tomasse nenhuma ação, se concentrasse o suficiente.

    O que via agora era suave e gentil, mas com o potencial de colidir como uma tempestade.

    Airen Farreira percebeu então que nem sequer chegava ao nível básico da equipe de expedição do reino sagrado.

    — Eu vou deixar você dar o primeiro golpe — disse Quincy Meyers, enquanto desembainhava sua espada, uma espada larga semelhante à de Airen.

    Seu corpo emanava uma energia poderosa, proporcional à sua estatura. Airen sentiu-se suando apenas de observar o homem.

    Respondendo brevemente, ele convocou sua própria espada.

    — Hmm.

    — Oh…

    — Deve ser…

    Os cavaleiros sagrados exclamaram baixinho, apreciando a visão da brilhante espada dourada.

    No entanto, Airen não olhou para eles, nem para Quincy Meyers, seu oponente. Seus olhos estavam fixos em Ignet Crecensia, que ainda brilhava como o sol.

    Vendo-a de pé diante dos maiores cavaleiros sagrados, Airen percebeu o que lhe faltava.

    — Você… — murmurou Quincy com uma carranca.

    Woooosh!

    Airen reuniu sua aura, dourada como sua espada.

    O ex-capitão, que estava prestes a repreendê-lo por não prestar atenção, ficou em silêncio. Palavras não eram necessárias. Ele dedicou um tempo considerável às suas obrigações sagradas, mas investiu igualmente na perfeição de sua esgrima.

    Quincy Meyers firmou sua postura, pronto para ouvir o que Airen tinha a dizer através de sua espada.

    — Few… — suspirou Airen, encarando-o.

    Ele teve sorte de Quincy deixá-lo dar o primeiro movimento. Isso lhe permitiria usar algumas habilidades que normalmente não poderia em batalhas regulares.

    Recordando sua primeira luta com Zett Frost, o 101º espadachim, Airen concentrou-se. Corpo. Aura. Vontade passada. Vontade presente. Aço e fogo… e outro fogo que queimaria mais intensamente.

    Com tudo isso, Airen Farreira ergueu sua espada.


    Woooosh!

    — Hm.

    — Tenho que admitir, ele é impressionante.

    — Você disse que ele tem vinte e três anos? Ele é realmente algo…

    — Ele tem razão em se sentir confiante.

    Os dez cavaleiros sagrados assentiram enquanto o jovem loiro convocava sua Aura da Espada.

    A maioria dos que se aposentavam de suas funções oficiais passava o resto da vida orando ou viajando para espalhar a palavra divina. No entanto, alguns cavaleiros optavam por treinar longe do mundo secular ou vagar pelo continente anonimamente para combater o mal. Como eram oficialmente dados como mortos, podiam levar suas segundas vidas, livres até mesmo das ordens do rei sagrado. Apenas uma coisa podia reuni-los: o surgimento de um diabo.

    Foi por isso que os Inquisidores Sagrados, compostos por dez mestres espadachins, apareceram. Também foi por isso que não ficaram tão chocados com o talento de Airen Farreira, eles tinham anos e anos de experiência. Claro, isso não significava que não ficaram impressionados.

    O corpo de Airen, bem treinado, apesar de ter apenas vinte e três anos, e sua aura gentil, que quase parecia calorosa, fizeram os cavaleiros sorrirem com apreço.

    Eles sabiam que o jovem pedira para se juntar a eles não por honra ou ganância, mas pelo bem do continente.

    “Ele se tornará um grande trunfo para o continente se continuar crescendo assim.”

    “Incrível. Quase quero convidá-lo para o reino.”

    “Se esse jovem puder trabalhar pelo divino e apoiar Ignet, poderei retornar a Deus em paz.”

    Os cavaleiros sagrados olhavam para Airen com apreço, seus lábios e olhos sorrindo. Ainda assim, mantinham o foco, observando-o atentamente, aguardando um ataque espetacular. Porém, a espada de Airen Farreira tinha muito mais reservado para eles.

    Boom!

    Com um estrondo, uma poderosa energia explodiu. Um poder estranho, invisível para pessoas comuns, envolveu a aura dourada.

    Ao perceberem que Airen havia convocado a espada do herói, um dos inquisidores voltou-se para Ignet.

    — Eu não disse que o ensinei? — respondeu ela.

    — Mas você disse que o ensinou por apenas três semanas…! — murmurou o cavaleiro.

    — De fato.

    — Isso é…

    Woosh!

    A conversa foi abruptamente interrompida. O velho homem virou a cabeça rapidamente, os olhos arregalados. Muitos cavaleiros estreitaram os olhos, tentando identificar a segunda energia que envolvia a Aura da Espada e a espada do herói.

    — A Arte dos Cinco — disse Julius Hule, Capitão dos Cavaleiros Brancos, rompendo o silêncio.

    — A Arte dos Cinco? Ah… — respondeu o velho.

    — É o que você pensa. A energia dos elementos… fogo e metal, pelo que posso ver… Dos dois, o elemento metal já está perfeito — explicou Julius.

    Com isso, o capitão voltou a ficar em silêncio, seus olhos observando o jovem com admiração, assim como os outros.

    Contudo, Airen ainda não havia terminado. Seus olhos não viam mais os cavaleiros sagrados, Quincy Meyers ou Julius Hule. Airen focava apenas em Ignet Crecensia, tão imponente como sempre.

    Seu passado havia estabelecido sua vontade de aço. Seu presente lhe dava o credo do fogo. A bondade e o desejo de proteger o mundo eram o que impulsionavam Airen.

    Mas…

    “Ser um herói não é tudo o que sou!”

    Outra chama ardia no coração de Airen. A pequena fagulha que queimava dentro dele havia crescido em algo grandioso. Um herói não precisava se comparar com os outros.

    De fato, qualquer um poderia se tornar um herói e trabalhar pelo bem do mundo. A virtude não exigia competição. No entanto, Airen não era apenas um herói. Ele também era um espadachim, que amava espadas e queria almejar mais alto…

    Sssss…!

    Seu coração de espadachim dizia a Airen que não queria ficar para trás. Queria alcançar Ignet e lutar ao lado dela no campo de batalha. E, um dia, ele cresceria além da imaginação de Ignet e alcançaria a vitória.

    O espírito competitivo do espadachim queimava tão intensamente quanto o desejo de se tornar um herói, e sacudia a espada de Airen.

    Boom!

    Algo explodiu. Quincy Meyers franziu o cenho com o calor, mas não fechou os olhos. A espada do jovem era bonita demais para desviar o olhar. O metal perfeito. O fogo perfeito.

    Observando Airen Farreira com sua espada envolta em chamas, o ex-capitão permaneceu em silêncio. O ataque poderia vir a qualquer momento.

    — Eu concedo — disse calmamente o velho capitão.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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