Índice de Capítulo

    Airen Farreira olhou para Quincy Meyers, o ex-capitão dos Cavaleiros Vermelhos, confuso.

    De fato, ele havia preparado um ataque formidável. Era algo que normalmente não faria em circunstâncias práticas. Ele reuniu tudo o que tinha dentro de si. Contudo, não acreditava nem por um momento que tivesse força suficiente para derrotar Quincy.

    “Ele parece ainda mais forte que Karakhum, pelo menos em termos de habilidades com a espada…” pensou.

    Enfrentando Quincy, Airen podia perceber que o velho não possuía apenas uma aura intensa. O espírito do homem brilhava como uma estrela no céu, seu corpo emanava poder apesar da idade, e sua aura se movia com perfeição, fruto de anos de experiência.

    Além disso, havia uma energia insondável que Airen supunha ser o poder sagrado protegendo o corpo de Quincy.

    “E ele está admitindo derrota…?” pensou Airen, sem entender.

    Percebendo a confusão de Airen, Quincy Meyers abaixou a espada e explicou — Estou preocupado com possíveis ferimentos.

    — Está preocupado comigo, senhor…? — perguntou Airen.

    — Não, é claro que não. Estou preocupado comigo mesmo.

    — Claro, eu consigo resistir aos seus ataques. Mas… deixe-me ser claro. Você é muito mais forte do que eu imaginava. Mesmo que eu me concentre na defesa, terei que suportar alguns golpes. Eventualmente, vou vencer se bloquear seus ataques, mas…

    Depois de um momento de silêncio, Quincy continuou — Se eu me deixar levar pelo orgulho e acabar ferido, não poderei cumprir a palavra divina, certo?

    — Entendo… compreendo — disse Airen, assentindo.

    Sentiu-se ligeiramente envergonhado. Diferente dele, que deixava seus desejos o dominarem, Quincy priorizava derrotar os diabos e proteger a paz do continente.

    No entanto, Airen não se arrependia de sua decisão. Pois entendia que não precisava escolher apenas um caminho. Ele podia ser um herói e um espadachim ao mesmo tempo. Na verdade, seus desejos como espadachim o levariam a lugares mais altos.

    Quincy, claro, não dava a mínima para os desejos de Airen. Olhando para Julius Hule, os membros dos Inquisidores e os outros mestres espadachins, ele perguntou.

    — O que acham? Ele é muito melhor do que pensávamos.

    — É mais do que decente — respondeu um dos cavaleiros.

    — Você disse que ele tem vinte e três anos? Meu… nem me lembro o que fazia nessa idade! — brincou outro.

    — Eu não lembro. Isso foi há quase cem anos.

    — Talvez eu seja velho, mas não tanto quanto você, senhor. Eu me lembro.

    — Ah, não seja tão rígido. Estamos todos envelhecendo juntos…

    — Olhem só para esses velhotes se perdendo no assunto…

    O campo de treinamento virou um burburinho, como um mercado de rua. Os outrora carismáticos cavaleiros sagrados conversavam como homens velhos comuns, ou tolos velhos rabugentos.

    É claro que Airen, Lulu e Illia não podiam se juntar à conversa. Esperavam em silêncio até que os Inquisidores terminassem sua discussão.

    No entanto, alguém ousou intervir. Ignet Crecensia, a atual Capitã dos Cavaleiros Negros, que havia conquistado o respeito dos Inquisidores apesar de ser décadas ou até um século mais jovem que eles, falou.

    — Não é cedo demais para tomar uma decisão?

    — Hmm? O que você quer dizer…? — murmuraram os cavaleiros.

    — Airen Farreira não é o único aqui — disse Ignet, desviando o olhar.

    Os Inquisidores todos se voltaram para a mesma direção, onde viram alguém a quem não tinham prestado atenção, Illia Lindsay.

    Apontando para ela em silêncio, a Capitã dos Cavaleiros Negros declarou — Se Airen Farreira tem as credenciais, é justo dizer que Illia Lindsay também as possui.

    — Essa é a minha crença — repetiu Ignet.

    Todos os olhares se voltaram.

    Airen sentiu como se um vento forte tivesse passado, mesmo que o foco não estivesse nele. Os cavaleiros sagrados a encaravam com intensidade e seriedade.

    Apesar do discurso inesperado de recomendação de Ignet e da súbita mudança de atmosfera, Illia permaneceu inexpressiva.

    Não… isso não era verdade. Embora nada mudasse na superfície, Airen e Lulu, que estavam com Illia há muito tempo, podiam perceber que, sob sua expressão calma, havia uma tempestade de emoções.

    — Um momento — disse Illia, virando-se e caminhando rapidamente para longe, sua expressão tão neutra como sempre.

    Alguns dos mais perspicazes perceberam que algo estava errado.

    — O que houve? O que deu nela? — perguntou um dos cavaleiros.

    — Dissemos algo errado? — brincou outro.

    — Será que encaramos demais…?

    — Ah, entendi. Aquela jovem é…

    — Hã? Certo.

    Os Inquisidores começaram a cochichar novamente. Porém, logo encontraram sua resposta, lembrando-se do que aconteceu entre Ignet e a Casa Lindsay. Alguns poderiam dizer que havia rancor entre as duas. Então, o que Illia faria quando Ignet estendesse a mão em boa fé?

    — Que complicado…

    — De fato…

    Os cavaleiros sagrados balançaram a cabeça, mas Airen e Lulu não prestaram atenção neles. Em vez disso, olhavam para as costas de Illia enquanto ela se afastava.

    “Ela parecia uma pessoa diferente, resiliente e confiante…” pensou Airen, recordando como Illia parecia tão orgulhosa ao chegar a Lavaat, como se tivesse se libertado de todas as preocupações e dilemas. Ela se manteve firme diante dos nobres sussurrantes e abriu seu coração diante de Ignet. Então Airen e Lulu pensaram que não tinham mais com o que se preocupar. Illia havia se reerguido antes que percebessem.

    Agora, percebiam que Illia não estava bem, apesar de sua postura. Sua expressão lhes dizia que ela estava se segurando por um fio.

    — Vamos ao assunto principal — disse Julius, interrompendo os pensamentos de Airen.

    Os velhos Inquisidores também se calaram imediatamente quando Julius Hule, o homem mais poderoso do reino sagrado, começou a falar.

    Airen engoliu seco diante do carisma inacreditável do homem de oitenta anos.

    — Não permitirei que se junte à equipe, e o motivo é sua falta de habilidades — disse o velho com voz grave.

    — Você tem mais do que potencial suficiente, mas não pode ingressar em uma equipe de incursão apenas com potencial — acrescentou.

    Para o bem ou para o mal, Julius Hule explicou seu raciocínio em vez de simplesmente rejeitar Airen, o que era surpreendente, considerando que o velho geralmente era lacônico.

    A explicação de Julius foi a seguinte, a aparição dos diabos poderia causar um grande caos no continente e abrir uma brecha para o reino demoníaco. Assim surgiu a equipe de incursão, que consistia em apenas algumas pessoas. Airen não tinha o necessário para fazer parte da pequena equipe.

    Quincy Meyers então continuou a explicação.

    — Ele está certo. Mesmo que aumentemos o tamanho da equipe, não há espaço para você quando deveríamos estar pedindo a Karakhum do noroeste, às cinco casas do oeste e às três casas do Reino Runetell — acrescentou.

    — O que acha? Aceita essa resposta?

    Airen não tinha escolha. Ele sabia que era forte. Era um dos apenas cem mestres espadachins deste mundo e havia manifestado muitos poderes, incluindo a Arte dos Cinco. Estava determinado a se tornar mais forte e lutar contra qualquer obstáculo. Se a missão fosse derrotar simples demônios ou monstros, Airen poderia facilmente participar.

    No entanto, quando o oponente era um grande diabo, ele não podia dizer com confiança que estava preparado… pelo menos por enquanto.

    — Quando eu for mais forte… — murmurou Airen.

    — Quando eu for mais forte do que sou agora… quando tiver poder suficiente para enfrentar não apenas o demônio bufão, mas também os outros… — continuou.

    — Você me deixaria participar então? — perguntou Airen após respirar fundo.

    — Nosso objetivo é concluir a tarefa antes que você chegue a esse ponto — disse Julius.

    Woosh!

    A energia imponente do velho capitão parecia envolver o corpo de Airen com força. Até mesmo Lulu sentiu arrepios quando a pressão aumentou. No entanto, o jovem herói não recuou.

    Os Inquisidores ficaram em silêncio enquanto observavam Airen encarar firmemente o espadachim mais poderoso do reino sagrado, enquanto Ignet sorria discretamente.

    Cerca de um minuto se passou.

    — Khun — murmurou Julius, enquanto Airen permanecia coberto de suor.

    — Encontre Khun. Quando tiver a bênção dele… repensarei minha decisão — declarou.


    “Mais rápido. Mais rápido.”

    Correndo em disparada, Illia Lindsay seguiu até parar em um local desconhecido. Não havia nada a dizer.

    Relembrando as palavras de Ignet Crecensia, Illia pensou no que aconteceu no salão de banquetes.

    “Ela nem sequer olhou para mim…”, pensou.

    Ainda se lembrava claramente. Quando Ignet saiu do portal dourado como um sol em chamas, ela não desviou o olhar de Airen Farreira nem por um instante, como se Illia nem existisse, como se Airen fosse o único oponente digno.

    Foi então que Illia percebeu que sua raiva, angústia e obsessão eram unilaterais. Foi então que Illia Lindsay decidiu deixar Ignet Crecensia para trás.

    “Eu consigo. Será mais fácil assim. Sim, é o melhor caminho.”

    Illia se lembrou de como repreendeu os nobres no salão de banquetes e nada do que temia aconteceu. Pelo contrário, sentiu-se aliviada ao desabafar tudo que havia em seu coração. Foi quando experimentou a liberdade de não se importar com os outros.

    Por isso, estava certa de que, ao deixar Ignet para trás, sentiria aquela catarse novamente. Estava certa.

    “Mas não consegui.”

    — Haa… haa…

    Illia sentia-se sufocada. Olhando ao redor, ela sacou sua espada e começou a balançá-la às cegas.

    Swoosh!

    Ela sabia que, apesar de declarar sua liberdade de Ignet, ainda estava presa à capitã.

    Wooosh!

    Ela superou a primeira provação e rompeu a barreira na masmorra porque se importava com Ignet. Estava fazendo o seu melhor para que Ignet não pudesse mais ignorá-la, para que Ignet fosse obrigada a olhá-la.

    Swoosh!

    No entanto, ela se esforçava desesperadamente para não demonstrar suas emoções, apagando sua expressão e controlando a voz como se não se importasse. Lutava para não demonstrar respeito ou interesse por Ignet. Mas, ao pensar no passado, sabia que todos esses atos eram tentativas inúteis de lutar contra suas próprias emoções.

    Wooosh!

    Ela precisava esquecer. Precisava esquecer tudo. Precisava. Balançando a cabeça, Illia convocou a espada da mente, tentando ignorar o fato de que aprendera essa habilidade com a própria Ignet. Admitir isso significava que teria de enfrentar Ignet novamente. Ela estava apenas cuidando do próprio futuro.

    Não, ela até diria que Ignet não foi quem a fez perceber a espada. Afinal, sua espada da mente veio de Airen Farreira e de mais ninguém. Embora ela não tivesse desejado salvar o mundo, queria proteger seu querido amigo. E isso foi o que manifestou a espada da mente. De fato, não foi Ignet, mas Airen quem a ajudou a manifestar o novo poder.

    No entanto, esse pensamento não foi suficiente para limpar a mente de Illia.

    “Posso algum dia me libertar dos outros?”

    “Não me importar com os outros? Ainda me importo com Ignet e recebo ajuda de Airen.”

    “Não consigo encontrar meu próprio caminho? É isso? Vou viver minha vida… sempre presa a outra pessoa?”

    Swoosh!

    Illia começou a balançar sua espada mais violentamente, seus pensamentos manifestando-se como tempestades. A espada da mente também começou a vacilar. O caos que nem mesmo ela, com seu talento, conseguia controlar começou a consumi-la.

    Sentimentos incontroláveis que ela mantivera reprimidos explodiram, rasgando o ar e o chão.

    Então, uma voz masculina a interrompeu.

    — Illia.

    A voz quente, gentil e familiar que ela não ouvia há algum tempo a acalmou rapidamente.

    Illia virou-se para ver quem falava.

    — Pai — disse ela.

    — Sim, minha filha — respondeu o homem de meia-idade com um sorriso caloroso que eclipsava sua aparência feroz.

    Era Joshua Lindsay, o maior espadachim do Reino Adan.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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