Capítulo 202: Encontro Inesperado (1/3)
Joshua Lindsay. Atual chefe da Casa Lindsay, ele estava entre os dez espadachins mais poderosos do continente. Também era o pai de Illia Lindsay.
Sua filha não conseguia tirar os olhos dele. Afinal, ela estava no Reino de Lavaat, então era mais do que surpreendente encontrar seu pai, que deveria estar no Reino Adan, no oeste.
No entanto, sua confusão não durou muito. Ao olhar para o rosto, a expressão e os olhos de seu pai, Illia sentiu uma onda de afeição familiar.
Então, outro sentimento tomou conta.
“O que estou fazendo agora?” Pensou, recordando como seu pai reagira quando ela disse que partiria em uma jornada dois anos atrás. Foi quando percebeu que o homem mais calmo e frio das cinco casas dos espadachins podia parecer daquele jeito. Na época, ela pouco refletiu sobre isso, pois estava obcecada apenas por Ignet Crecensia. Partiu de casa sem nem olhar para trás, treinando apenas em função dos outros.
Agora, isso também não fazia mais sentido. Illia sentia-se ainda mais perdida. Sabia que havia cometido um erro. Sua obsessão por Ignet e sua preocupação com a opinião dos outros estavam destruindo-a por dentro. Ela precisava mudar. Mas não conseguia.
“Eu ainda estou deixando que eles me controlem.”
Ela estava fraca e indefesa, tanto que perdera a compostura só porque Ignet a elogiara. Diante do fato de que havia se desmoronado em questão de dias, quase se perguntou se não fora mais forte na Terra da Provação.
Os dois anos de treinamento valeram a pena? Valeram a pena afastar-se de seus pais? Muitos pensamentos atormentavam a mente de Illia enquanto ela se via novamente consumida pelas emoções. Incapaz de erguer a espada ou de encarar seu pai, Illia abaixou a cabeça, silenciosa. Mas isso não importava.
— Está tudo bem — disse seu pai, tão caloroso como sempre.
Mas esse era o jeito de seu pai o tempo todo. Embora fosse um líder frio e calculista de uma casa renomada, Joshua Lindsay sempre foi gentil e afetuoso com sua filha.
Infelizmente, Illia nunca percebeu o amor dele. Agora que finalmente entendia o quão amoroso seu pai era, Joshua se aproximou para envolvê-la em um abraço.
— Está tudo bem. Vai ficar tudo bem — assegurou ele.
— Você não precisa se preocupar com nada. De verdade, não precisa. Não estou dizendo isso só para confortá-la — murmurou Joshua.
A jovem, exausta por suas longas andanças, finalmente sentiu-se em casa.
Illia Lindsay chorou por um longo tempo enquanto se apoiava no firme e reconfortante abraço de seu pai, deixando tudo sair, como se quisesse começar de novo.
Alguns momentos se passaram. Observando silenciosamente sua filha adormecida, Joshua Lindsay virou-se para Emma Garcia, sua cavaleira de guarda.
— Eu a confio a você — disse ele.
— Entendido, senhor — respondeu Emma.
— Ela deve ter passado por muita coisa. Por favor, cuide dela.
— Se me permite, acredito que ela parece bem melhor do que estava há dois anos — disse Emma, sem demonstrar expressão.
Joshua ficou imóvel por um momento antes de sorrir de forma desconfortável.
— Não sei se deveria me sentir feliz ou triste — murmurou.
— Foi dito com boa intenção. Tenho certeza de que ela ficará ainda melhor em breve — respondeu Emma.
— Peço desculpas por ultrapassar os limites.
— De forma alguma. Não sou tão mesquinho assim. Afinal, você foi quem esteve mais próxima dela esse tempo todo.
O pai então desviou o olhar. Sua ternura desapareceu enquanto voltava ao seu jeito calmo e controlado. Recordando as informações que havia extraído de Perry Martinez, ele se afastou.
— Cuide-se — disse ele pela última vez.
— Sim, meu lorde — respondeu Emma.
— Se conseguir a bênção de Khun, aceitarei você na equipe — disse Julius.
— Espero que saiba quem é Khun…?
— Claro, senhor — respondeu Airen com um aceno.
Ele podia ter sido um jovem ingênuo quando deixou sua casa, mas agora tinha um pouco de senso comum graças a Khubaru. O motivo de seu silêncio não era desconhecer o famoso espadachim, mas sim a surpresa com a proposta de Julius.
“Onde no mundo…” pensou Airen, sério.
Onde poderia encontrar Khun? Sim, essa era a questão. Ele entendia o que Julius queria dizer. Afinal, tratava-se de ingressar em um grupo para enfrentar diabos. Era natural mencionar um dos dez renomados espadachins.
No entanto, Airen não pôde evitar pensar que Julius mencionara Khun, cujo paradeiro era desconhecido, por um motivo.
“Ele não me quer na equipe.”
Talvez notando o descontentamento de Airen, Julius o encarou gravemente.
— Posso ver o que está pensando. Não é por isso que estou pedindo isso. Mas… o que faz você pensar que poderia conquistar a bênção dele? — questionou.
— Você é mais tolo do que imaginei. Pode conhecer o nome de Khun, mas não sabe quem ele realmente é.
Airen sentiu-se despertar de um estalo. Ele ergueu o olhar para examinar cada um dos Inquisidores, observando cada detalhe, incluindo suas auras, mesmo sabendo que isso era rude. Foi quando percebeu que nenhum deles ficava atrás dele.
— Khun não é alguém para se subestimar. Ele é mais rigoroso e exigente do que qualquer um — continuou Julius.
— Em outras palavras, você não chegará nem perto de ganhar a aprovação dele, mesmo se treinar por mais alguns anos.
Julius agora quase o repreendia. No entanto, Airen não podia protestar. Ele admitiu que fora um tanto precipitado, sentindo-se orgulhoso após refletir sobre seu eu passado, aprender a espada da mente com Ignet e equilibrar o poder do metal e do fogo.
“Vamos lá”, instou a si mesmo, recordando o bufão e os outros demônios.
Como eram terríveis e poderosos nas histórias de Karakhum e Tarakhan! Ele precisava ficar ainda mais forte, muito mais forte do que era agora. A determinação de Airen voltou a arder. Sua respiração acelerou e seus olhos brilharam. O jovem herói emanava uma carisma indescritível.
No entanto, ninguém deu atenção. Percebendo que algo havia mudado, Airen olhou para cima apenas para se surpreender.
Um homem de meia-idade, que parecia esculpido em gelo, estava no campo de treinamento como se sempre estivesse ali. Embora tivesse aparecido sem fazer som, ninguém conseguia desviar o olhar de sua aura.
Airen inconscientemente analisou seu poder antes de recuar em choque.
“Ele é quase tão poderoso quanto o ex-capitão dos Cavaleiros Vermelhos!”
Considerando o quanto esse homem era mais jovem, a quantidade de aura que possuía era inimaginável. Foi quando Airen começou a perceber quem ele poderia ser. Só havia um espadachim de cabelos prateados com tanto poder quanto Quincy Meyers.
“O pai da Illia! Como ele…” pensou Airen.
— Ouvi dizer que você planejava manter a missão em segredo — falou Joshua Lindsay friamente, interrompendo seus pensamentos.
Para o choque de Airen, os velhos Inquisidores, que pareciam não se curvar a ninguém, desviaram o olhar.
“O que está acontecendo?”, pensou Airen, olhando ao redor.
Seus olhos caíram sobre Julius Hule, Quincy Meyers, Ignet Crecensia e Joshua Lindsay. Tudo estava destruindo suas expectativas. Agora que Joshua havia aparecido de repente em Lavaat, o que ele faria? Resolveria as coisas com seu antigo oponente? O que ele sabia sobre os demônios? Era por isso que estava ali? Se fosse, colocaria seus assuntos pessoais de lado para lidar com isso?
No entanto, o que Joshua Lindsay fez foi nenhum dos dois. Após um momento, ele olhou para Julius silenciosamente e disse.
— Tenho muitas perguntas, mas elas terão que esperar.
— De fato — respondeu Julius.
— A propósito, posso emprestar este jovem por um momento?
— À vontade. Não tenho mais assuntos com ele.
— Entendido. Me siga.
“Hã?”, pensou Airen, chocado, enquanto Joshua se virava.
— O que está fazendo? Siga-o — repreendeu Julius.
— Ah, sim, senhor! — respondeu Airen, seguindo apressadamente o chefe da Casa Lindsay.
— Hã? Não me deixe, Airen! — gritou Lulu, despertando e seguindo seu amigo.
— Que incômodo — murmurou Quincy Meyers enquanto observava os três.
— Hm — concordou Julius Hule.
A julgar pela atitude de Joshua, ele devia ter ouvido tudo de Perry Martinez, que sua filha se envolvera com um poderoso diabo e que os Inquisidores estavam prestes a caçá-los em segredo.
A má relação com Ignet também complicava as coisas. Julius suspirou ao pensar na conversa que teria com Joshua em breve.
— Bem, suponho que poderia ser pior — murmurou.
— O que quer dizer? — perguntou Quincy.
— O homem está distraído no momento, graças àquele jovem.
— Hm…
— Bem, imagino que o bem-estar da filha venha em primeiro lugar — murmurou Julius, balançando a cabeça. Como um solteiro convicto, ele não conseguia entender Joshua.
“Incrível!”, pensou Airen enquanto seguia Joshua, relembrando o que acabara de acontecer. Tudo havia acontecido tão rápido, mas, agora que pensava, tinha que admirar o quão impressionante Joshua era.
“Pensar que ele silenciou todos aqueles cavaleiros sagrados apenas com um olhar!”
Admirando o carisma do chefe da Casa Lindsay, Airen também sentiu um desejo crescente de medir forças com ele. Afinal, ele não havia se tornado mais forte não só ao experimentar sua vida passada, mas também ao enfrentar oponentes poderosos?
Airen olhava para Joshua com admiração e respeito, imaginando o quão forte o líder dos Lindsays, a mais poderosa das cinco casas, deveria ser. Ele deve ser mais forte que Illia! Como Airen desejava ver a Espada do Céu em sua forma plena!
Com as palavras repreensivas de Julius ainda em sua mente, o desejo de Airen de experimentar o poder de Joshua crescia cada vez mais. Mas, quando Joshua se virou em um campo de treinamento vazio…
— Airen Farreira — murmurou antes de dizer: — Ouvi dizer que você é muito próximo de minha filha.
— Perdão? Ah, sim, senhor — respondeu Airen.
— Sim, senhor?
Airen percebeu que algo estava errado quando Joshua o encarou com um tom acusador.
— Ouvi dizer que ela estava em um grupo de quatro, mas só vejo você — murmurou o homem.
— Foi intencional? — acusou Joshua.
— Perdão? — repetiu Airen.
— Estou perguntando se você planejou ficar sozinho com minha filha.
— O quê?
— Ei, não! Eu também estou aqui! Aqui! — gritou Lulu, pulando freneticamente diante de Joshua, tentando se afirmar como parte do grupo.
No entanto, Joshua não deu a menor atenção a gata. Capaz de falar ou não, um gato ainda era um gato.
Com um olhar ainda mais ameaçador que o habitual, ele perguntou a Airen.
— Foi você?
— N-não. Planejar? Eu nunca… — gaguejou Airen.
— Então você não armou para ficar sozinho com ela?
— Não! Eu juro!
— É mesmo…?
— Sim! — respondeu Airen desesperado, como se sua vida dependesse disso.
Mas Joshua Lindsay não havia terminado. Após um momento, ele falou novamente:
— Então está dizendo que minha filha não vale a pena? — perguntou ele.
— O quê? O que quer dizer com isso…? — exclamou Airen.
— Bem, isso não serve. Saque sua espada — ordenou Joshua.
Calmo e ameaçador, ele desembainhou sua espada.
Airen engoliu em seco ao ver Joshua Lindsay encarando-o seriamente.
— Saque sua espada — repetiu Joshua.
— Se não o fizer, não sei o que farei com você.
Swoosh!
Airen apressadamente invocou sua espada no instante em que Joshua Lindsay avançou contra ele.
A Espada do Céu, que Airen tanto desejava experimentar, veio furiosamente em sua direção. Retirando o desejo que tivera instantes atrás, Airen brandiu sua espada, lutando por sua vida.
Um medo, diferente daquele que sentira diante do diabo, percorreu todo o seu corpo.
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