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    Como um espadachim podia se tornar mais forte? Era uma pergunta fácil, especialmente para aqueles que haviam começado a empunhar uma espada recentemente. Assim como em muitas áreas, os iniciantes experimentavam um crescimento exponencial no início. Quanto mais corriam, mais sua resistência aumentava. Quanto mais levantavam peso, mais construíam seus músculos. Com tantos espadachins talentosos ao redor, podiam facilmente pedir ajuda. Apenas seguir os outros já bastava para melhorar suas habilidades rapidamente. Animados com seu progresso, os espadachins novatos se tornavam mais experientes.

    No entanto, essa alegria era passageira, pois precisariam de cada vez mais treinamento para aumentar sua resistência e força. Descobriam que certos movimentos simplesmente não podiam ser executados, por mais que tentassem. Sua aura, que antes crescia como um pé de feijão, agora parecia ter estagnado. Controlá-la se tornava um desafio ainda maior. Sentiam a dor de cabeça.

    Isso acontecia com todos, fossem eles sem talento, medianos ou gênios. Inevitavelmente, todo espadachim enfrentava a estagnação, ainda que o momento exato variasse para cada um. A sensação de desespero e perda os consumia ao falharem em progredir, não importando o que tentassem.

    Em vão, pensavam em suas espadas o dia inteiro, sem comer ou dormir. Logo, o cansaço os tomava. Alguns aceitavam essa realidade; outros desistiam. Ao alcançarem seus limites, decidiam encerrar sua jornada e buscar outro caminho.

    Ssssh!

    Ignet Crecensia não era uma dessas pessoas. Apesar de ser mais talentosa que qualquer outro, também enfrentou a estagnação. Mesmo após brandir sua espada milhões de vezes e meditar durante dias, não conseguia encontrar uma resposta. Pela primeira vez em sua vida, Ignet encarava seus limites.

    Mas ela não desistiu. Ignet jamais desistiria. Continuou a treinar como se não tivesse acabado de atingir seu limite, explorando todas as possibilidades e se preparando para um salto adiante.

    Se tivesse sido menos diligente ou não percebido suas falhas, não teria ganho nada com a história de Airen Farreira.

    Wooosh!

    Mas Ignet não era alguém que ficava aquém. A história de Airen chegou até ela. A narrativa de confiança mútua ampliou sua visão e mudou seu senso de superioridade. Sua mente, antes cheia de desconfiança, começou a mudar. Ver Airen superar obstáculos que não conseguia enfrentar sozinho com a ajuda de seus amigos a fez perceber o que lhe faltava. Ela também se lembrou de quem havia ignorado: Georg Phoibe e Anya Marta.

    Ao pensar nos dois, que sempre estiveram ao seu lado, o fogo que a consumia se transformou.

    Woosh!

    Ela ainda era poderosa, emanando uma luz ofuscante como um sol. Mas isso não era tudo. Sua luz já não era implacável. Agora, irradiava um calor que complementava seu brilho, parecendo mais uma líder do que uma guerreira.

    Airen observava Ignet, atordoado. Não sabia que tipo de epifania ela tivera. Só sabia que, de alguma forma, havia a influenciado. Embora sentisse orgulho, também experimentava outra emoção que ardia mais intensamente que as chamas em volta do corpo de Ignet.

    Ele não queria perder. Não queria ficar para trás. Esse sentimento não tinha a ver com se tornar um herói, mas com sua convicção como espadachim.

    “Algum dia…”, pensou Airen, cerrando os punhos enquanto invocava sua espada.

    Ele encarava Ignet Crecensia, seu objetivo, atravessando a luz com seu olhar enquanto exalava fundo.

    Joshua Lindsay também observava Ignet em silenciosa surpresa. Era raro ver uma mestre espadachim superar seus próprios limites. E, embora não tivesse uma epifania como Ignet, ele também aprendera muito. Amanhã, talvez ele enfrentasse o mundo como um espadachim mais forte.

    Porém, no momento, Joshua não pensava em esgrima. Ele olhava para Ignet não com os olhos de um espadachim, mas com os de um chefe de família, os olhos de um pai.

    Seus olhos observaram Ignet Crecensia e se demoraram em Airen Farreira por um longo tempo. O silêncio se instalou.

    Depois de um longo tempo, Ignet Crecensia abriu os olhos. Embora o fogo tivesse desaparecido, o brilho vermelho em seu olhar mostrava que ela era uma pessoa diferente.

    — Capitã — disse Joshua Lindsay, percebendo a mudança.

    — Pode falar, senhor — respondeu Ignet.

    — Parabéns.

    — Obrigada.

    Os dois trocaram palavras secas. Afinal, ainda tinham uma relação tensa, e isso não mudaria pelo resto de suas vidas.

    Ignet se virou para ver Airen, que estava parado, segurando uma espada larga que invocara de alguma forma, enquanto a encarava com olhos ardentes. Sentindo-se contente, Ignet riu alto.

    Com um sorriso nos lábios, ela encarou Airen.

    — Airen — chamou.

    — Junte-se ao grupo de incursão em três anos, sim?

    — Por que está em silêncio? Não quer…

    — Um ano — disse Airen, interrompendo Ignet.

    Embora alguém pudesse considerá-lo rude por interromper a capitã de Arvilius, a nação mais poderosa do continente, Ignet não o culpou.

    Enquanto continuava a sorrir alegremente, Airen Farreira declarou: — Conseguirei a aprovação de Khun em um ano.


    Já passava da meia-noite quando Joshua Lindsay, o chefe da Casa Lindsay, voltou para seu quarto escuro e se jogou em uma cadeira. Não se deu ao trabalho de acender a luz. Fechando os olhos, relembrou o que havia acontecido naquele dia.

    Após seu inesperado duelo com Ignet Crecensia, onde viu um talento que superava suas expectativas, ele ouviu sua história. Apesar de não estar interessado, acabou se envolvendo na narrativa…

    Então, Airen Farreira contou sua história, e Ignet teve uma epifania.

    — Uff… — suspirou Joshua, incapaz de conter sua frustração.

    Embora estivesse feliz pelo crescimento da jovem espadachim, aquela que marcaria seu nome na história, ele não conseguia comemorar plenamente.

    Quem estava no campo de treinamento não era um espadachim, mas um pai que perdeu seu filho.

    Mesmo sabendo que não podia culpar Ignet por sua perda, não conseguia evitar descontar nela como o homem fraco que era. Assim, quando Ignet mostrou um crescimento incrível, ele não conseguiu realmente torcer por ela.

    No entanto, ela não era a única gênia.

    Airen Farreira…

    Joshua achava que o jovem era extraordinário. Com apenas vinte e três anos, havia se tornado um mestre espadachim. Não havia como chamar o jovem, que até superou Sevion Brooks, o maior cavaleiro de Palanke, de iniciante.

    Mas…

    “Ele é ainda mais incrível do que eu imaginava”, refletiu Joshua.

    Ele relembrou o incidente ocorrido mais de dez anos atrás, quando Ignet o surpreendeu ao desafiar a Casa Lindsay sendo apenas uma adolescente. Na época, ele acreditava que ninguém, pelo menos enquanto ele vivesse, seria capaz de enfrentar a mulher que derrotou seu próprio filho com tanto orgulho.

    Mas ele estava errado. Joshua recordou-se de Airen, que se manteve firme diante dos Inquisidores e o enfrentou com determinação, mesmo ao receber ataques poderosos.

    Mais do que isso, o jovem havia levado Ignet Crecensia, que ele pensava já ter alcançado o auge, a outra epifania. E assim, Joshua Lindsay não conseguia evitar se preocupar com sua filha.

    Quando Karl Lindsay encontrou um rival genial como Ignet, ele não conseguiu continuar. Illia Lindsay também enfrentou Ignet, ou melhor, Ignet Crecensia, que estava mais forte do que nunca. Além disso, ela enfrentou Airen Farreira, que era tão talentoso e apaixonado quanto ela.

    Será que ela ficaria bem? Será que realmente ficaria bem? Joshua Lindsay fez uma careta. Seu rosto desabou, e seus olhos ficaram marejados. Embora estivesse afastado de sua filha nos últimos dois anos, ele a acompanhou de perto até então. Ele se lembrou do estado em que seu filho ficou ao ver sua filha perder o sorriso enquanto lutava contra a pressão.

    Apesar de se questionar inúmeras vezes sobre o que deveria fazer, não conseguiu encontrar a resposta. Embora fosse um espadachim experiente, não era um pai experiente. Em meio à sua turbulência emocional, ele cerrou os punhos novamente. O sangue escorreu de sua palma quando ouviu uma batida.

    Toc, toc.

    Embora a pessoa não tenha falado, ele soube imediatamente que era sua filha.

    Apressando-se em limpar o sangue do chão e de suas mãos, Joshua Lindsay endireitou-se, imaginando seu próprio pai, que cuidava dele quando era criança. Depois de se olhar no espelho para garantir que parecia tão firme quanto deveria, convidou-a a entrar.

    “Isso deve bastar.”

    — Entre — chamou, fingindo calma. Illia Lindsay entrou.

    O pai sentiu suas emoções se intensificarem.

    “Ela está diferente…”

    Ela estava diferente de dois anos atrás… ou mesmo de uma semana atrás.

    — Quero falar com você sobre algo — disse Illia, parecendo conflituosa.

    Ela ainda vagava na escuridão. No entanto, seus esforços não eram em vão. Por mais devagar e desajeitada que fosse, ela não estava mais vacilando como antes. Em vez disso, avançava valentemente.

    — É assim que as coisas estão agora… — disse Illia, ao revelar tudo: seus pensamentos sobre seu irmão, Ignet, as palavras dos outros, espadas, amigos, Airen e como ela se sentia tão pequena.

    Joshua fechou os olhos novamente, sentindo a boca secar. Como um pai inexperiente, era angustiante ver sua filha se abrir com ele dessa maneira.

    Felizmente, ele sabia o que dizer. Tomando um gole d’água, falou com gentileza e segurança.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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