Capítulo 211: Vamos Juntos (3/3)
História Paralela – A Casa de Lindsay
Click, clack.
As carruagens dos Lindsay seguiam pela estrada reta em um ritmo tranquilo. Afinal, essa não era uma situação como quando Illia Lindsay desaparecera completamente do mapa. Eles não tinham motivo para se apressar.
“Bem, talvez isso seja uma emergência…”, refletiu o chefe da Casa Lindsay, olhando para fora.
De fato, um diabo havia surgido, rompendo 150 anos de silêncio. E não era qualquer um. De acordo com a Capitã Ignet Crecensia dos Cavaleiros Negros, o inimigo em questão era poderoso o suficiente para ser considerado um grande diabo.
Ainda pior, era possível que houvesse vários outros diabos escondidos. Como descendente de um herói e uma das poucas pessoas poderosas do continente, Joshua tinha todos os motivos para se preocupar.
No entanto, o que atormentava sua mente agora não era a segurança do continente. Fechando os olhos, Joshua se lembrou de Karl Lindsay, que havia desaparecido há muito tempo.
“Meu filho…”
Ele suspeitava que uma força malévola, talvez um demônio, estivesse envolvida no desaparecimento de seu filho. Apesar de ser o primogênito de uma família nobre, seu filho sempre fora humilde, mas excepcionalmente sensível, apesar de seu talento inato. Afinal, que outra criatura poderia romper as defesas de sua família? As dúvidas de Joshua aumentavam. Como seu filho estaria agora? Estaria morto ou vivo? Se estivesse vivo, estaria sofrendo? Talvez o demônio estivesse experimentando nele.
Talvez…
Woooosh…
Joshua emitiu energia. Embora não tenha ido longe, qualquer pessoa sensível o suficiente sentiria o medo.
— Pai — chamou Illia, quando a energia estava prestes a preencher a carruagem e vazar para fora.
— Sim, filha… — respondeu Joshua, recolhendo sua energia e dando um sorriso gentil para a filha.
Ele havia cometido um deslize. Imaginar que não conseguira controlar sua mente na frente de sua filha o fazia se sentir um fracasso como pai. Embora pensar em seu filho o enchesse de raiva e tristeza, não podia fazer nada no momento. Tudo o que podia fazer era se juntar ao Reino Sagrado e à união das nações para procurar os inimigos. E, neste exato momento, sua prioridade era focar em Illia Lindsay, sua amada filha.
“As coisas não estão tão ruins. Ainda há coisas boas”, pensou o pai enquanto conversava com a filha.
Ele nem precisava se esforçar para ser positivo. Apenas ver como sua filha estava mais animada em comparação a quando seu irmão desaparecera o enchia de alegria. Ela não parecia mais remoer ou se sobrecarregar obsessivamente com as coisas.
Observando Illia enquanto ela o encarava com olhos calmos, mas determinados, Joshua sorriu, sentindo orgulho de si mesmo por ter ajudado sua filha.
“Ainda dói que ela tenha corrido para aquele rapaz antes mesmo de eu terminar…”, pensou Joshua, com os olhos tremendo ligeiramente.
Ele estava tão orgulhoso do que havia dito que queria tirar uma foto mágica e enviá-la para sua esposa, mas tudo fora arruinado por aquele jovem. Ele estava irritado, muito irritado, de fato. No entanto, se alguém lhe perguntasse se ele desgostava de Airen Farreira, Joshua teria que suspirar e balançar a cabeça.
“Meus conselhos mudaram Illia… mas aquele rapaz, Airen, teve um papel ainda maior…”
Quando Joshua chegou a Lavaat pela primeira vez, percebeu que Illia havia mudado muito. Ela ainda enfrentava dificuldades, mas estava muito longe de quando perseguia Ignet cegamente, dois anos atrás. Foi então que Joshua percebeu que finalmente podia ter uma conversa de coração aberto com sua filha.
E se Airen foi quem mudou Illia, ele podia entender por que sua filha se apaixonou por ele.
Além disso…
“Para ser honesto, Airen tem potencial como material para marido”, pensou Joshua.
Foi por isso que deu ao rapaz um conselho antes de partir. Queria que Airen se tornasse um espadachim melhor e um herói, para que um dia fosse bom o suficiente para ser o marido de Illia.
É claro… ninguém sabia se isso algum dia aconteceria.
— Pai! Pai? — chamou Illia.
— Hã? Ah, desculpe. Estava pensando em outra coisa… Sinto muito mesmo — desculpou-se Joshua.
Afinal, fazia anos desde que ele conversara assim com sua filha. Não conseguia evitar o nervosismo. Felizmente, Illia não se importou. Pelo contrário, ignorou a pequena distração do pai e o convidou:
— Que tal tomarmos uma bebida esta noite, pai?
— B-Bebida? — gaguejou Joshua.
— Sim. Na verdade, eu trouxe uma boa — disse Illia, puxando uma garrafa de álcool de sua mochila.
Joshua ficou surpreso ao ver o rótulo Ragbulan 16. Era uma bebida valiosa que ele apreciava bastante. Além disso, tinha um sabor único que aqueles não acostumados ao uísque achariam difícil de suportar.
— Recebi isso como presente de Drukali, a terra dos orcs. O sabor é decente — explicou Illia.
— Então você aprendeu a beber… — murmurou Joshua.
— Sim. A mãe não gosta de beber, sabe. Então pensei em experimentar para poder te fazer companhia.
“Tem certeza de que só ‘experimentou’?”, pensou Joshua, desconfiado, enquanto sua filha falava casualmente sobre bebidas.
O pai sentia-se ao mesmo tempo alegre e triste ao saber que sua filha começara a beber. Era estranho, mas ele não podia demonstrar.
Então, Joshua sorriu.
— Haha, imaginar que você cresceu assim… Obrigado. Certo! Vamos tomar algumas esta noite? — disse ele animado.
— Certo — respondeu Illia.
— A propósito, quem te ensinou a beber? Hum… Foi o Airen?
— Não. Airen não gosta muito de beber.
— Sério? Então…
— Foi Brett Lloyd, um dos meus amigos que viajou comigo.
— Ah, entendi. Brett, Brett…
“É um homem…”, pensou Joshua amargamente, forçando um sorriso.
Por mais conflitantes que fossem seus sentimentos, ele se sentia mais feliz do que em muitos anos.
História Paralela – Illia Lindsay
Havia se passado um mês e meio desde que os Lindsay chegaram com segurança de volta à sua propriedade. Muitos, incluindo Olivia Lindsay, a Senhora da Casa, receberam Illia calorosamente.
— Obrigada, a todos. Agradeço de verdade — respondeu ela com um sorriso.
Antes, ela se isolaria, mesmo com uma recepção tão calorosa. No entanto, agora podia aceitar a hospitalidade como ela era. Ignorava qualquer possível malícia. Afinal, remoer sobre essas coisas seria uma perda de tempo.
“Obrigada, pai. Obrigada, Airen”, pensou.
Recordando as duas figuras que a moldaram no que ela era agora, Illia caminhou pelo jardim.
“As flores estão desabrochando.”
Era um dia quente de maio, e as flores estavam desabrochando, embora ela não soubesse o nome delas. Talvez tivesse se interessado em algum momento da vida, mas desde os sete anos dedicava-se totalmente à esgrima. Caminhou em silêncio, pensando em seu irmão, que costumava acariciar sua cabeça gentilmente, e em Ignet, que enfrentara seu irmão ferozmente.
Espadas chocaram-se. O duelo terminou rapidamente. Seu pai observava com gravidade enquanto seus criados se agitavam ao redor de Karl Lindsay, um jovem de dezesseis anos, visivelmente nervoso. Ainda uma menina, Illia assistia segurando uma flor-de-adónis na mão.
— Parece que aquela flor não está mais aqui… — murmurou Illia, olhando ao redor.
Desde a derrota de Karl Lindsay, a planta de adónis havia desaparecido do jardim. Ela se lembrava vagamente de querer plantar algumas após voltar da Academia de Esgrima Krono, mas não conseguiu quando seu irmão desapareceu. Para ela, a planta de adónis era uma flor de mau agouro.
Mas isso não era verdade. Illia fechou os olhos. Deixando de lado as memórias de seu irmão, Ignet, a luta deles e o caos que se seguiu, perguntou a si mesma:
— Você gosta dessa flor?
Hesitou e acenou com a cabeça.
— Quero dizer, eu estava segurando-a porque gostava, certo…? — murmurou antes de rir alto.
Era nada. Verdadeiramente nada.
— Devo pedir ao pai para comprar algumas plantas de adónis amanhã — murmurou enquanto voltava para o seu quarto.
Uma brisa fresca soprou às suas costas, revigorando a solene Casa Lindsay.
Airen, Kiril e Lulu observaram os Lindsay partirem.
Bem… para ser completamente honesto, Airen estava mais preocupado com o que acabara de acontecer.
— Venha para nossa casa este ano, certo?
— Se não vier… vou te encontrar e me vingar!
— Eu prometo.
— Tudo bem, é uma promessa, haha.
Airen não conseguia esquecer o riso de Illia, que era quase brincalhão como o de Lulu. Ele também sentia um leve formigamento, como quando via Brett e Judith juntos ou quando cruzava olhares com Illia.
Mas Airen não se aprofundava nesses sentimentos. Era um tanto denso e preferia evitar confrontar suas emoções. Em vez disso, virou-se para Kiril, sentindo o formigamento desaparecer em um instante.
“Bem, nunca imaginei que viajaria com minha irmã”, pensou.
Parecia estranho. Em suas memórias, Kiril sempre fora uma criança, uma garotinha que ninguém além da mãe conseguia controlar. Ele se sairia bem viajando com ela? Supunha que ela parecia bastante madura agora…
— Airen — chamou Kiril.
— Hã? — respondeu ele.
— Com o que você está preocupado? Pare de pensar em besteiras.
Perguntando-se temerosamente se Kiril podia ler sua mente, Airen perguntou:
— Podemos nós dois montar no seu grifo?
Ele se lembrou do pequeno grifo que Kiril convocara usando sua feitiçaria quando tinha onze anos. Era pequeno demais para dois adultos montarem. Claro, ele não estava muito preocupado. Afinal, Kiril crescera. Então o grifo também deveria ter crescido.
Mas o que Kiril disse em seguida surpreendeu Airen.
— Não vamos montar no grifo — disse ela.
— Hã? — respondeu Airen.
— Vamos aproveitar nosso tempo. Esta é minha primeira viagem com você.
— O quê? Você não gosta?
— Não, não! Eu gosto.
— Acho que ouvi um pouco de hesitação…
— Eu… hum…
— Airen estava muito sobrecarregado! É por isso que ele hesitou! Certo?! Certo! — disse Lulu.
— Não é verdade, Airen?
— Sim, você está certa — assentiu Airen apressadamente enquanto olhava para Lulu.
Observando os dois assentirem simultaneamente, Kiril riu alto.
— Certo! Vou confiar em vocês. Vamos, então?! — disse ela animada.
— Vamos?! — repetiu Lulu, seguindo Kiril Farreira que marchava orgulhosamente.
Airen observou atordoado antes de segui-las apressadamente enquanto o sol brilhante iluminava o caminho.
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