Capítulo 213: Como Parar o Fogo (2/2)
O uso dos elementos não era a única diferença entre humanos e orcs na utilização da aura. Diferente dos humanos, que focavam em uma energia fluida, os orcs concentravam-se em energias estáticas. Além disso, os orcs manipulavam a aura em apenas algumas partes específicas do corpo. Airen Farreira ainda se lembrava claramente do que aprendera em Drukali.
No entanto, quando percebeu que a técnica sofisticada não era o mais importante, tentou ignorar esse conhecimento.
Mesmo antes de receber os ensinamentos de Karakhum e Gorha, ele já conseguia usar a energia do metal e nutrir a energia do fogo. Embora os fundamentos da Arte dos Cinco tenham impulsionado seu crescimento, ele sabia que, no final, o que realmente importava era seu próprio coração…
— Ufa — suspirou, concentrando-se em si mesmo.
A escuridão desapareceu quando ele abriu os olhos para sua mente. Embora não fizesse isso havia algum tempo, parecia tão natural quanto antes. Airen sorriu.
Logo, porém, ele voltou a concentrar-se em sua mente, esquecendo a breve alegria e o fato de estar sentado no chão.
“Parece diferente…” Airen refletiu enquanto observava silenciosamente sua própria psique.
A primeira coisa que chamou sua atenção foi a estaca de metal no centro. Já não era apenas uma estaca. Forjada pelo fogo, agora parecia uma espada afiada, semelhante à espada mágica dourada que ele invocava com feitiçaria.
Mas não era só isso. Airen também notou que havia chamas ao redor da espada. O fogo, que parecia arder tão intensamente quanto sua paixão, havia crescido mais do que antes.
Ao perceber que as chamas haviam alcançado o horizonte, Airen franziu o cenho, preocupado.
“Está ficando um pouco demais”, pensou.
Esse fogo o renovaria ou o consumiria?
Naturalmente, ele queria a primeira opção. Não queria ser como Charlot, Victor, Grayson ou até mesmo Illia quando a enfrentou na Terra da Provação.
Com um aceno de cabeça, ele focou no fluxo de sua mente e começou a canalizar a energia da água.
Tzzzzz…!
A energia suprimia o fogo que ameaçava derreter a lâmina e abafava as brasas no campo, fazendo o possível para conter o calor.
Contudo, o esforço foi em vão.
Tzzzz!
A água evaporou imediatamente. Parte do fogo começou a queimar ainda mais ferozmente. Assim como não se apaga um incêndio florestal com um único balde de água, Airen não conseguiu suprimir as chamas de imediato. Ele lutou. Mas quando seus esforços contínuos não surtiram efeito, sentiu-se perdido.
Airen terminou a meditação sem alcançar seu objetivo. Olhando para o próprio corpo suado, fez uma careta.
“Eu sabia que não seria fácil.”
Ele se lembrou da vez em que conheceu Khubaru em um bar, dois anos atrás. Khubaru lhe dissera que Airen tinha em sua mente um bloco de aço e que precisava do calor do fogo para moldá-lo.
“Ele usou a analogia dos elementos para que eu entendesse, mesmo sendo inexperiente naquela época.”
No entanto, só ao aprender determinação nas Montanhas Alhaad, rivalidade com Ignet e Illia, e seus próprios objetivos através de inúmeras experiências, ele compreendeu totalmente o conselho de Khubaru.
O mesmo valia para a energia da água. Se aprender a Arte dos Cinco e apenas manipular o elemento da água fosse suficiente, o fogo de Airen não teria crescido tão intensamente em primeiro lugar.
“No final, o que mais importa é minha mente. Preciso acolher a água em minha mente.”
Infelizmente, no momento, Airen não tinha ninguém que pudesse orientá-lo, ao contrário de quando viajava pelo continente com Khubaru, que o guiava pelo caminho certo mesmo quando ele não tentava.
Airen riu alto, sentindo-se melhor ao pensar no gentil espiritualista orc.
“Bem… não é como se isso fosse um grande problema”, refletiu.
Embora não tivesse uma solução ou um mentor, estava a caminho da Academia de Esgrima Krono, onde o melhor professor, e talvez o melhor espadachim do continente, o aguardava. Isso, por si só, acalmava a ansiedade de Airen.
“Claro, não posso depender apenas de Ian”, pensou Airen.
Limpando o suor do rosto, ele retomou a meditação.
O fogo ardia mais intensamente do que nunca. A água ainda não era suficiente. Mas Airen não desistiu. Continuou tentando, por mais difícil que fosse. Um dia se passou. Uma semana se passou. O progresso foi mínimo, se é que houve algum. O fogo no coração de Airen ardia tão brilhante como sempre. Infelizmente, ele também começou a sentir ansiedade novamente.
— Ufa… — suspirou.
No passado, quando nenhum fogo ou martelo conseguia moldar o metal em sua mente, Airen prosseguia em silêncio. Suportava cada dia sem se sentir ansioso ou desapontado. Mas agora, com uma paixão que queimava mais intensamente do que a de seus pares, ele perdeu o contato com a paciência que tinha antes. Manipulava a água como manipulava o fogo. Airen caiu em melancolia, e através dessa melancolia, a malícia que se manifestava na grande floresta do sul se infiltrou. A malícia era escura e manipuladora, mais silenciosa que ruas abandonadas no inverno e mais cautelosa que ladrões evitando os olhos dos guardas.
Enquanto Airen caía em dúvida, a escuridão silenciosa apertava seu controle.
Toc, toc.
— Airen. Abra, preciso falar com você — chamou uma voz.
— Só um segundo… — respondeu Airen, saindo de sua meditação enquanto Kiril batia na porta.
Seus sentidos despertaram, o que fez a malícia recuar para a escuridão como se nunca tivesse estado ali.
Airen, no entanto, permaneceu inconsciente disso, assim como Kiril, que estava totalmente focada em seu irmão. Com um leve olhar de reprovação, ela começou a repreendê-lo, acusando-o principalmente de negligenciá-la em favor de seu treinamento.
Airen não se preocupou em inventar desculpas. Ele acenou silenciosamente e deu respostas calmas. Kiril o encarou irritada antes de bater a porta com força. Airen olhou em silêncio para a porta.
Um momento depois, Lulu entrou no quarto.
— Airen, por favor, perdoe a explosão de raiva da Kiril. Ela não quis dizer isso — implorou.
— Você deu a entender que seu treinamento não estava indo tão bem quanto esperava, certo? Kiril me disse que não quer que você fique obcecado com algo que não pode resolver agora. Então, você deveria deixar isso de lado e refrescar a mente por um tempo. Pelo menos, é o que funciona para ela — explicou Lulu.
— Sim, eu sei — respondeu Airen.
— Certo? Você entende, né?
Airen assentiu. Kiril sempre foi assim, tímida demais para expressar seus pensamentos honestos. Ele sabia bem que, ao acusá-lo de negligência, o que ela realmente queria dizer era que ele deveria priorizar seu próprio bem-estar.
Ele olhou para o canto da cama, adornado com vários enfeites, um bichinho de pelúcia circense que fazia truques quando acariciado na cabeça, um boneco de neve que cantava quando tocado duas vezes e uma moldura mágica que mostrava belas paisagens…
“Não tem como eu não saber que Kiril quer meu bem, quando ela deixa um presente toda vez que vem me ver”, pensou Airen com um leve sorriso ao lembrar-se da expressão altiva de sua irmã.
Embora ele não soubesse, o fogo em seu interior havia diminuído um pouco.
Abril chegou. Embora as manhãs ainda fossem frias, estavam muito mais agradáveis do que quando Airen enfrentou o diabo bufão.
Olhando para o céu ao meio-dia, Airen sorriu. Era o céu mais bonito que ele tinha visto em muito tempo.
— Finalmente chegamos — comentou.
— Yay, Alcantra! Kiril, você sabia que eu tenho muitos amigos aqui?! — gritou Lulu.
Sob o maravilhoso céu estava Alcantra, o lar da Academia de Esgrima Krono.
Airen, Kiril e Lulu trocaram olhares antes de rirem alegremente e seguirem para a cidade.
— Ah… Airen Farreira! — gritou um homem.
— O que foi? — perguntou Airen.
— N-Nada. Hm… se não for incômodo… você poderia autografar minha manopla, por favor?
— Perdão?
— Uau, Airen, você é famoso! — aplaudiu Kiril.
— Ele é famoso! Ele é famoso! — repetiu Lulu animadamente.
— Ah! Uma gata falante… Você é… L-Lulu? — perguntou o homem.
— Sim! Isso mesmo! Eu sou a Lulu!
— H-Hum! Se não for incômodo… você poderia também deixar um autógrafo — quero dizer, uma marca de pata aqui?
— Claro! Sem problemas!
Airen Farreira, que nunca havia recebido um pedido de autógrafo, ficou surpreso. Ele já havia atraído alguma atenção nos postos de controle, mas nunca tinha sido abordado por um fã.
Mas, pensando bem, como poderia ser diferente? Atualmente, os três espadachins mais famosos do continente eram Ignet Crecensia, Illia Lindsay e Airen Farreira. E aquela era Alcantra, seu segundo lar. Portanto, não era estranho que até mesmo os guardas de segurança ficassem encantados com ele.
— É estranho — murmurou Airen.
— Por quê? Eu gosto disso — respondeu Lulu.
— Sim, Airen. Veja pelo lado bom. Além disso, agora que você é um mestre, não tem como não chamar atenção — disse Kiril.
Airen assentiu. Embora não entendesse completamente, via lógica nas palavras de Kiril. Quando retornasse ao Reino Heyle ou à sua casa, provavelmente enfrentaria uma multidão ainda maior. Só o pensamento já o deixava desconfortável, então decidiu deixar o assunto de lado.
Olhando para a Academia de Esgrima Krono, Airen engoliu em seco.
“Originalmente, eu queria saber onde Khun estava…”, ele pensou.
De fato. Sua primeira razão para visitar a academia era descobrir o paradeiro de Khun. A segunda era provar seu crescimento a Ian.
No entanto, agora sua prioridade era encontrar uma forma de domar seu fogo. Em outras palavras, queria descobrir como acolher a água.
Buscando conselhos, Airen entrou na academia, passando por seus colegas que treinavam como de costume.
Mas a notícia que recebeu momentos depois o pegou de surpresa.
— O quê? Judith se tornou aluna de Khun?! — ele exclamou.
Ele não foi o único a ficar chocado. Kiril também ficou surpresa. Embora não fosse uma espadachim, sabia bem que tipo de homem Khun era. A notícia de que um homem que empunhava sua espada apenas para si mesmo havia aceitado uma aluna a deixou atônita.
No entanto, ela não teve a chance de perguntar nada, pois um dos colegas de Airen questionou:
— Você estava com a Judith e o Brett, certo?
— Sim. Por quê? — respondeu Airen.
— O que aconteceu entre os dois?
— Sério! Conta pra gente!
— Hã? Hã?!
Airen Farreira corou, completamente chocado.
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