Capítulo 214: Decisão de Judith (1/2)
Quando Airen Farreira entrou na academia, tudo em que pensava era em encontrar o diretor. Judith sequer estava em sua lista de prioridades.
No entanto, após ouvir seus colegas falando sobre ela, sua curiosidade começou a crescer. Judith? Aluna de Khun? Airen ficou surpreso ao saber que o homem, que nunca teve filhos e viveu uma vida um tanto separada de sua esposa para se dedicar a superar Ian, havia decidido mentorar um aluno. Isso também significava que Judith concordou com o acordo.
“Por que ela deixou a Academia de Esgrima Krono para treinar com Khun?”, pensou Airen.
Ele não conseguia entender. Queria perguntar o que havia acontecido. Talvez algo extraordinário tenha ocorrido enquanto ele estava ausente.
Infelizmente, Airen não teve a chance, pois seus empolgados colegas só pareciam interessados no romance entre Judith e Brett.
— Vamos lá! Conta pra gente!
— Ugh, isso é frustrante! Você não pode simplesmente contar? Ficamos realmente chocados, sabia?
— Sério! Quero dizer, eles viviam brigando… e então! Deve ter havido sinais. Você deve saber de algo, Airen. Conta logo!
— Hum… — murmurou Airen.
Bem, ele sabia de algo. Lembrou-se do que aconteceu em Drukali. Brett havia confessado seus sentimentos corajosamente. Judith reagiu de forma irritada, mas nunca o rejeitou de fato. Depois, os dois retornaram à academia sozinhos. Então algo certamente aconteceu.
Airen explicou o que tinha visto e ouvido até aquele momento. Ele se perguntou brevemente se deveria falar sobre os assuntos de seus amigos, mas cedeu, decidindo que todos na academia já sabiam sobre eles, de qualquer forma.
“Quer dizer, parece que sou o único que não sabe de nada. O que diabos aconteceu?”
Olhando para os olhos brilhantes de seus colegas e de sua irmã, Airen ficou cada vez mais curioso. Não parecia que Brett havia confessado como uma brincadeira e que Judith o havia dispensado como de costume.
Algo mais havia acontecido!
— Eu contei tudo. Agora é a vez de vocês — disse Airen, assentindo.
— Nossa vez? — ecoaram seus colegas.
— O que aconteceu depois que os dois voltaram para a academia? Quero saber tudo sobre Khun e esses dois. Então, vamos lá! — insistiu Airen.
— Ah…
— Hm…
Vendo a surpresa de seus colegas, Airen perguntou novamente:
— O quê? Por que estão me olhando assim?
— Nada…
— Só que…
Os alunos se entreolharam como se estivessem de acordo.
Justo quando Airen ficou ainda mais confuso, um deles falou:
— Achei que você nunca se interessasse por coisas assim — disse.
— Hã? — respondeu Airen.
— Quer dizer… Acho que também treinamos esgrima todos os dias, mas você meio que vai além…
— Então é meio surpreendente ver você se interessar por histórias de relacionamentos dos outros.
— Bem, acho que você também é mais velho que a gente. Então já era hora de se interessar.
Airen olhou ao redor, vendo seus colegas, sua irmã e até Lulu acenando com a cabeça, concordando.
Ele ficou em silêncio por um momento antes de decidir que não valia a pena tentar explicar nada e insistir com seus colegas.
— Então, o que aconteceu? — exigiu.
— Hmm… Como deveríamos explicar isso… — começou um dos colegas.
Algum tempo antes de Airen Farreira e seu grupo chegarem à academia, Judith estava em um campo abandonado à noite, refletindo seriamente sobre seu futuro.
Ela não estava prestes a recusar Khun, embora tivesse que admitir que a oferta surgiu do nada. Afinal, embora tivesse ouvido muito sobre ele, não o conhecia pessoalmente. Também sentia uma certa ansiedade em deixar Ian, o maior professor do continente, por esse homem.
Mas…
“Aqueles olhos…”
Judith se lembrou de como Khun a olhou. Sua voz e paixão haviam mexido com ela, assim como naquele dia em que seu futuro mudou.
Ela vivia como uma mendiga em um cortiço quando um espadachim desconhecido a encontrou. Então, Judith decidiu que, embora sempre fosse uma espadachim de Krono, treinaria com Khun.
O que a incomodava eram seus colegas da Academia de Esgrima Krono. Diferente de antes, quando não tinha amigos, agora conhecia muitos colegas queridos, incluindo Farsis, a quem respeitava muito, o diretor Ian, que era como um avô, e a subdiretora Keira Finn, que era tão gentil quanto rigorosa.
Ela também se lembrou de outros colegas talentosos que a ensinavam e desafiavam. E o que dizer de Airen Farreira, o amigo irritante, mas inocente? Ou de Illia Lindsay, que causou uma má impressão no início, mas acabou se tornando uma de suas amigas?
E…
— Brett Lloyd… — murmurou Judith, chutando uma pedra irritada.
De fato. Ela podia suportar a separação de todos os outros, mesmo que isso significasse não vê-los por dois ou mais anos. Afinal, era uma mulher egoísta.
Mas Brett era diferente.
— Hah.
Era ridículo. Brett era tudo o que ela odiava reunido em uma pessoa só. Ele não era apenas de uma família rica e prestigiosa, mas também talentoso, e ele sabia disso.
“Ele não é meu tipo. Esse cara é um pouco demais”, pensou Judith, melancolicamente.
Mas ela ainda gostava dele.
Não importava quem confessasse primeiro ou quem expressasse mais seus sentimentos. A verdade era que Judith sentia falta de Brett e queria estar com ele. Infelizmente, isso não seria possível.
Judith suspirou ao lembrar de Khun, seu novo professor.
“Ele disse que eu não deveria pensar em sair por pelo menos dois anos…”
Ela sabia que ele não estava brincando. Afinal, esse era um homem que havia abandonado sua vida, família e tudo mais apenas para enfrentar Ian, seu rival. Não havia como ele não levar o ensino a sério. Para ser honesta, Judith não conseguia entender por que ele se deu ao trabalho de aceitá-la. Se não fosse pelo olhar sincero que ele lhe deu, ela teria pensado que ele estava zombando dela.
Mas, claro, isso nunca aconteceu. Khun era um homem que honrava suas palavras. Isso significava que Judith tinha apenas alguns dias para passar com Brett antes de deixar a academia…
“Suponho que teremos pelo menos um encontro”, pensou Judith com um sorriso cínico.
Com a mesma atitude despreocupada de sempre, Brett havia a convidado hoje, dizendo que não aceitaria um não como resposta. Mas Judith sabia que ele também estava se sentindo confuso.
— Eu recuso sua recusa.
Embora tivesse passado incontáveis dias com ele antes de retornar à academia, estava bastante animada, pois essa era a primeira vez que ele a convidava oficialmente para sair. Para ser honesta, sentia-se bastante empolgada, e foi por isso que ficou tão deprimida.
A realização de que essa poderia ser sua última oportunidade de transmitir seus sentimentos, especialmente porque ela só recentemente os reconhecera e ainda não os havia expressado, a deixou desanimada.
— Acho que vou dormir… — murmurou Judith, chutando o chão enquanto voltava para seus aposentos.
Já fazia um tempo desde que ela dormira tão cedo sem treinar. Aquela noite, não dormiu muito bem.
Então, o dia seguinte chegou.
— Então, é isso que você gosta? — perguntou Brett, com um tom áspero.
— Sim. Não é agradável? O clima está ótimo. Seria um desperdício passar o dia dentro de um teatro assistindo a uma peça. Não faz meu estilo, sabe — respondeu Judith.
— Como o clima está agradável? Está frio.
Como de costume, Brett reclamava enquanto Judith retrucava. No entanto, algo estava diferente. Diferente de quando saíram pela primeira vez da Academia de Esgrima Krono, agora os dois caminhavam pelas ruas de Alcantra de mãos dadas.
Mas essa não era a única mudança. Sempre tão diferentes em tudo, seja na forma como empunhavam suas espadas ou em qualquer outra coisa, eles costumavam brigar frequentemente no início.
Agora, no entanto, eles nunca realmente entravam em conflito, embora ainda discutissem. Brett seguia obedientemente quando Judith o convidava para um circo de rua, e Judith cedia quando Brett queria ver esculturas de gelo.
Embora os dois se provocassem sem parar sobre seus respectivos gostos, passaram o dia sem brigas ou discussões. Afinal, ambos sabiam. O dia era curto demais para ser desperdiçado com desentendimentos.
Logo, a noite caiu. Depois de jantarem, os dois se olharam com a mesa entre eles. No centro, havia uma garrafa de licor pela metade que nem Judith nem Brett pareciam ligar.
Os dois sentaram-se em silêncio no restaurante barulhento. Observando o rosto calmo de Brett, Judith se perguntou o que deveria dizer para confortá-lo o máximo possível. Mas não conseguia pensar em nada. Judith nunca foi do tipo que pensava antes de agir. Pensar era coisa do Airen ou da Illia.
“Esse cara provavelmente também é como eles”, pensou Judith, enquanto encarava a boca de Brett, que se contorcia como se ele tivesse algo a dizer.
Ele devia estar escolhendo as palavras. Ela sentia uma mistura de curiosidade e receio. O que ele estava pensando? Por que estava demorando tanto? Era insuportável. Judith se perguntou se queria ouvir o que Brett tinha a dizer. Independentemente do que ele dissesse, e do que ela respondesse, o dia chegaria ao fim. E o mesmo aconteceria com o relacionamento deles.
Judith refletiu, não sobre Brett, mas sobre o próprio coração.
“Estou bem com isso…?”, ela pensou.
Ela remexeu desajeitadamente em sua mente enferrujada o melhor que podia. Queria se destacar na arte da espada. Queria ser mais forte que Airen, Ignet ou qualquer outra pessoa. Foi por isso que escolheu ser aluna de Khun. Mas isso não era tudo para ela. Agora, um segundo desejo estava crescendo em sua mente. O que era? O que, afinal, era isso? Ela não conseguia nomeá-lo.
Bem, para ser honesta, ela sabia. Mas era tímida demais para dizer em voz alta.
— Eu… — começou ela.
E foi por isso.
A boca de Brett se moveu antes que Judith decidisse o que dizer. Isso não podia ser permitido. Brett tinha que esperar até que ela decidisse. Foi então que a mão de Judith se moveu rapidamente para agarrar Brett pela gola.
Olhando para sua expressão surpresa, olhos arregalados e boca silenciosa, Judith agiu antes de pensar.
Puxando-o para si, ela pressionou seus lábios contra os dele, com um olhar severo, como se o estivesse silenciando.
— Ah!
— Uh, hã?
— Aaaaah!
Os membros da academia, que estavam escondidos em cantos para observá-los, gritaram surpresos.
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