Capítulo 215: Decisão de Judith (2/2)
Os olhos de Brett Lloyd se arregalaram com a ação repentina de Judith. Não apenas ela agarrou sua gola, mas também pressionou seus lábios contra os dele. Ele sentiu uma pontada de dor pelo impacto, mas isso era irrelevante.
“O que? O que acabou de acontecer?”
Brett pensava enquanto tentava se lembrar do que ia dizer. Ele estava prestes a dizer a Judith que esperaria por ela. Mesmo que não a visse por dois anos ou mais, isso não seria um problema. Ele não tinha visto Airen Farreira por cinco anos, mas ainda assim tornaram-se grandes amigos no final, certo?
No entanto, no momento, ele não conseguia dizer nada, mesmo agora que Judith havia se afastado.
Brett encarou Judith sem expressão. Suas bochechas, não, seu rosto inteiro, estavam vermelhas, e não era por causa do álcool. Se ela ficasse bêbada com alguns copos, ele nem teria deixado que ela bebesse.
“Ela está mais vermelha que o cabelo. Será que estragaria o clima se eu a provocasse sobre isso?”
Brett hesitou antes de decidir, sabiamente, manter a boca fechada. Judith, atrapalhada, apesar de ter sido ela quem iniciou o beijo, finalmente se recuperou e rosnou:
— Você!
— Sim — respondeu Brett.
— Você tem que dizer sim ao que eu pedir, entendeu?
— Eu vou.
— Diga sim!
— Sim — respondeu Brett, se perguntando qual era a diferença.
Judith respirou fundo e continuou.
— Venha me ver uma vez por ano, não, duas vezes, mesmo que eu esteja longe e viajar leve um tempão, está bem? Entendido?
— Sim — respondeu Brett.
— Você não vai ter nada para fazer além de treinar comigo. Nem pense em sair por aí, beber ou assistir a algo. Considere isso como um encontro na academia, entendeu?
— Sim — assentiu Brett.
— Por último, treine sperio quando estiver em casa. Se você não mostrar nenhum progresso quando vier, eu não vou ter desculpas para o Khun. Mostre a ele que, hum… namorar comigo… traz benefícios para o meu treinamento…
— Se não, eu não vou saber o que dizer para o Khun, entendeu?
— P-Por quê? Por que você não está respondendo? — exigiu Judith, sua voz e seus olhos tremendo de ansiedade.
Ela não podia evitar. Afinal, tinha sido verdadeiramente egoísta. Não havia razão para que Brett, tão impecável quanto era, exceto por ser um pouco convencido, a escutasse. O coração de Judith disparava.
Mas, um momento depois, ele bateria ainda mais rápido.
Brett se levantou e segurou o rosto de Judith com ambas as mãos. Sua boca fez um biquinho engraçado. Claro, para Brett, ela parecia tão encantadora quanto sempre. Com um leve sorriso, Brett pressionou seus lábios contra os dela, mais suavemente do que ela havia feito um momento antes.
Muito tempo depois, os dois se separaram.
Vendo o rosto corado de Judith, Brett Lloyd respondeu:
— Sim, eu vou.
— Uau, que romântico! Brett! — gritou Lulu enquanto voava de um lado para o outro, repetindo os nomes de Brett e Judith, enquanto Airen observava seus colegas atônito.
A empolgação de Lulu foi breve, pois Kiril Farreira a encarou, ordenando silenciosamente que se acalmasse, antes de perguntar ao amigo de Airen:
— Então, o que aconteceu? O Khun realmente deixou ela fazer o que queria?
— Hã? Ah… — murmurou o jovem, parecendo um pouco nervoso.
Ele havia passado muito tempo na academia, cercado principalmente por homens, exceto por Judith. Sendo um jovem, estava muito interessado em romance. E Kiril, bastante atraente, o deixava nervoso.
“Se eu pedir ao Airen para me apresentar a ela, ele deixaria?”, sonhou.
Independentemente disso, não custava causar uma boa impressão. O jovem assentiu e começou a explicar gentilmente:
— Bem…
Claro, Kiril não tinha nenhum interesse nele, focando apenas no conteúdo da história. O relato se estendeu, mas o ponto principal era este: Judith e Brett conquistaram a aprovação de Khun e poderiam continuar seu relacionamento durante o treinamento dela.
Ouvindo a história, Kiril se voltou para Airen.
— Alguma opinião? — ela perguntou.
— Hã? O que você quer dizer? — perguntou Airen.
— Airen! Aconteceu também algo com você?
— Você também encontrou uma namorada? É…
— N-Não! O que você está falando? Nada disso aconteceu — gaguejou Airen.
— O quê? — retrucou Kiril.
— Hã?
— Nada? Tem certeza disso?
“O que está acontecendo com ela?”, pensou Airen, nervoso, enquanto Kiril o encurralava.
Ele estava sendo honesto. Quem ele poderia ter encontrado, afinal, quando passou toda a viagem treinando, cercado apenas por Khubaru, Lulu, Judith, Brett e Illia…
“Illia…?”
Os pensamentos de Airen pararam imediatamente. Ele não sabia por quê, mas seu coração parou por um segundo ao pensar em Illia.
Kiril não perdeu aquela hesitação.
— Em quem você estava pensando? — ela perguntou.
— Hã? — repetiu Airen.
— Agora mesmo, você estava pensando em alguém. Vamos, me diga.
— Eu estava pensando em várias pessoas.
— Mesmo? Quem?
— Por que todo mundo…
Airen olhou ao redor e viu seus colegas o encarando com suspeita, enquanto sua irmã o observava de forma enigmática. Lulu, por outro lado, estava se limpando, como se não estivesse interessada.
Mas eles não eram os únicos. Ao se virar e ver Ian, o diretor da Krono, Airen exclamou:
— Diretor!
— Ah! Diretor!
— Quando você chegou…? — reagiram os colegas de Airen.
— Haha, acabei de chegar. Vocês estavam falando sobre coisas tão emocionantes que decidi escutar. Mas… — disse Ian.
— Tenho que admitir que é um caso perdido. Parece que é impossível fazer ele se expressar. Tsk, tsk… — Ian murmurou, balançando a cabeça. Kiril acenou concordando, enquanto Lulu olhava para o lado, ainda focada em se limpar.
Os colegas de Airen se entreolharam antes de se retirarem discretamente, temendo que pudessem ser repreendidos pelo diretor. Eles não estavam treinando com tanta dedicação ultimamente.
Airen, é claro, não recuou. Não tinha motivo para fugir de Ian. Na verdade, estava bastante animado para encontrá-lo.
— Boa tarde, diretor — cumprimentou Airen com uma reverência.
— Sim, Airen. Faz tempo — respondeu Ian, olhando para Airen, que não via há quase dois anos.
Ao erguer o olhar, Ian pôde ver a paixão ardente queimando dentro dele, algo que não havia percebido antes.
“Ele mudou muito”, pensou Ian com carinho.
No entanto, ele não deixou sua satisfação transparecer. Após um momento, virou-se e disse:
— Siga-me.
— Não precisa ver minha espada? — perguntou Airen, lembrando-se da última vez em que visitou a academia.
Naquela ocasião, Ian exigiu que ele mostrasse sua espada primeiro. Mas agora, Ian apenas riu gentilmente.
— Já vi que sua espada foi forjada. Não preciso vê-la de novo. Você parece dividido. Vamos conversar sobre isso.
O quarto do diretor era tão modesto quanto sempre, vazio, exceto por alguns móveis essenciais, apesar de ser o espaço do melhor espadachim do continente. Para Kiril, que gostava de decoração, o quarto parecia quase desolado. Claro, Airen e Lulu não se importaram, e o mesmo valia para o diretor.
Ian observou seu aluno em silêncio enquanto Airen contava sua história calmamente. Não, isso não seria exato. Airen praticamente desabafava, despejando seus sentimentos com rapidez. Como um dragão exalando fogo, Airen contou a Ian sobre os problemas que o atormentavam desde Lavaat até Alcantra.
Ian permaneceu em silêncio depois de ouvir a história de Airen.
Airen olhou para cima, nervoso, tentando adivinhar se Ian estava formulando um conselho. Essa seria sua primeira suposição, mas, por algum motivo, ele tinha a sensação de que hoje era diferente. Quanto mais o silêncio se prolongava, mais ansioso Airen ficava. Lulu e Kiril também estavam inquietas, observando Airen.
Finalmente, o diretor abriu a boca. Sorvendo o chá, agora frio, ele respondeu. — Não vejo nenhum problema.
— Perdão…? — perguntou Airen.
— Não é algo com o qual você deva se preocupar. Você disse que tem medo de que o fogo possa consumi-lo? Consigo ver isso. Consigo perceber o que você está sentindo. De fato, rivalidades intensas podem se transformar em ódio próprio e em um complexo de inferioridade… Isso já arruinou muitas pessoas no passado. E também aconteceu com alguns da nossa academia.
— Mas você não é esse tipo de pessoa. Mesmo agora, olhe para si. Você está se protegendo disso. Isso deveria ser suficiente — terminado o chá, Ian continuou. — Diria que você esteve em maior perigo no passado. Comparado ao seu antigo eu, que vivia cada dia sem sonhos, esperança ou paixão, como um recipiente de metal vazio… você está muito melhor agora. Você se esforçou muito. Gostaria de parabenizá-lo.
— Mas também sei que essa não é a resposta que você quer.
Ian fechou os olhos, como se algo grave o preocupasse. Airen sentiu sua ansiedade crescer ainda mais.
Mas…
“Não vou recuar só porque o diretor me elogiou”, ele pensou.
Os olhos de Airen brilharam como na primeira vez que encontrou Ignet ou pediu a Joshua Lindsay que o treinasse. Ele olhou para Ian com intensidade. Era até irônico para alguém que queria aprender o caminho da água, mas Airen não percebeu isso.
Após algum tempo, Ian finalmente abriu os olhos e se voltou para Kiril.
— Você disse que seu nome é Kiril, certo…? — perguntou ele.
— S-sim, senhor — gaguejou Kiril.
Era estranho. Apesar de sempre ser confiante, ela se viu cautelosa diante daquele velho homem. E ela não era a única. Até mesmo Lulu, geralmente tão brincalhona, sentia a pressão. Ian parecia diferente hoje. Airen, embora perdido em seus próprios problemas, também notou.
Ian, no entanto, agia como se não soubesse de nada.
— Ouvi dizer que você é uma feiticeira talentosa. Dizem que consegue até invocar um grifo lendário… — disse Ian.
— Consigo, senhor — respondeu Kiril.
— Então acha que poderíamos pegar uma carona? Não é muito longe, mas não dá para ir a pé.
— Claro.
— Muito bem, vamos nos preparar.
Ian levantou-se e saiu do prédio rapidamente. Confusos pela mudança repentina de ritmo, Airen e sua companhia o seguiram. Então, subiram no grifo, que parecia muito maior do que antes.
— Uau!
— Ooh…!
Os aprendizes da academia gritaram do chão. Kiril ignorou-os enquanto guiava o grifo seguindo as direções de Ian até chegarem a um lago fora do castelo. Eles pousaram com cautela. Ian desceu rapidamente e olhou para Airen.
— O que você acha que precisa entender sobre o caminho da água para forjar a lâmina da água? — perguntou ele.
— Uma pergunta difícil, de fato. Também não sabia como colocá-la em palavras. Por isso decidi que devo mostrar a você. Airen, está pronto?
— Estou…
Airen assentiu. Ian retribuiu o gesto. Caminhando em direção ao lago, ele sacou sua espada com naturalidade e a balançou na superfície.
Swoosh!
Splat!
Kiril observava, curiosa. Para um dos três maiores espadachins do continente, era um movimento lamentável. Embora ela mesma não fosse espadachim, sabia o suficiente para se decepcionar com a lâmina batendo na água sem impacto algum.
Foi então que algo inesperado aconteceu.
Slice!
Com um som sutil, a água se dividiu. Mas a água não havia apenas respingado com a força do golpe. O lago em si se partiu em dois, como se fosse um cubo de gelo, sem explosões ou alardes.
Com a mesma tranquilidade de sempre, Ian se voltou para Airen.
— Acha que entende agora? — perguntou ele.
— Não, senhor… — respondeu Airen.
— Pelo menos viu o que eu cortei?
— Você cortou… água…
— É mesmo?
Ian acariciou o queixo, pensativo. Enquanto isso, as águas do lago voltaram a se unir.
Splat!
Nem Kiril, nem Lulu, nem Airen conseguiram dizer uma palavra.
Virando-se do lago agora turbulento, Ian abriu a boca.
— Então, precisa tentar mais.
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