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    Um dia após Airen Farreira se formar oficialmente na Academia de Esgrima Krono, ele e sua companhia partiram para a casa de Khun e Judith.

    — Vou ficar. Acho que não gostaria de vê-lo por enquanto — disse Ian, recusando-se a acompanhar o grupo.

    Kiril ficou um pouco decepcionada. Embora não fosse espadachim, assim como muitos outros, tinha interesse na rivalidade entre Ian e Khun. Como não podia expressar seu desejo em voz alta, juntou-se a Airen e Lulu em seu grifo.

    Confortável em seu assento, Airen fechou os olhos silenciosamente, pensando no coração da água que havia compreendido recentemente.

    “Eu estava enganado esse tempo todo”, refletiu.

    Ele buscava a espada da água para acalmar o fogo ardente dentro de si. O fogo, aceso por Ignet e reforçado por Illia, assim como por muitos outros eventos, estava lhe causando dor.

    No entanto, Airen estava tão imerso nessa dor que sequer conseguia pensar na água. Ele queria apenas obtê-la para extinguir seu fogo. Isso significava que precisava cortá-la. E assim, tornou-se obcecado por isso. Apenas quando chegou ao fim da barreira sombria percebeu que tal obsessão estava lhe fazendo mal.

    — Ufa… — suspirou Airen ao invocar seu mundo interior.

    Como de costume, foi recebido por uma espada. Ainda havia fogo ardendo ao redor, mas não tão intensamente. Graças ao poder da água, ele havia diminuído.

    Observando a água correr pelo campo de sua mente, Airen assentiu.

    “Eu estava errado ao tentar trazer a água à força.”

    Ele se lembrou do que aconteceu dentro da barreira. Sua obsessão bloqueou suas emoções, tornando-as negativas. Decepção, culpa e exaustão apodreceram dentro dele. Após muitos dias, percebeu que esse esforço não era saudável.

    “Ainda tenho emoções reprimidas”, pensou Airen. Observando o riacho fluindo livremente por sua mente, deixou seu olhar vagar.

    Embora tivesse libertado seu maior lago, ainda conseguia ver pequenos trechos de água presa, presa por ele mesmo. Estava observando esses lagos quando um som alto o puxou de volta à realidade.

    Airen abriu os olhos e olhou ao redor, vendo Lulu em sua forma de feiticeira soltando fogo.

    Crrrrr…

    — Ah! Argh! Eu não consigo fazer isso! É tão frustrante! — resmungou ela.

    — Não a incomode, Airen — advertiu Kiril.

    Airen assentiu. Não precisava de mais nada para perceber que Lulu estava de mau humor. O motivo era óbvio. Lulu estava tendo dificuldades para analisar o colar da Arte dos Cinco que pegara emprestado de Airen.

    “Lulu disse que provavelmente saí da barreira rapidamente graças ao colar…”, pensou Airen.

    Os espiritualistas viam o mundo como regido pela Arte dos Cinco. Mas até mesmo os cinco já foram um só. O Grande Universo englobava não apenas os cinco, mas tudo o mais.

    — E Gorha disse que isso inclui tempo e espaço! Eu com certeza vou encontrar algo se usar feitiçaria para analisar isso! — Lulu dissera orgulhosa.

    No momento, no entanto, Lulu estava longe de parecer orgulhosa.

    Observando-a à beira de uma explosão, Airen virou-se discretamente para Kiril.

    — Você é bem compreensiva. Achei que iria repreendê-la — comentou.

    — Quem você acha que eu sou? Você realmente pensou que eu impediria outra feiticeira de fazer pesquisas? — retrucou Kiril.

    — N-Não…

    — Mesmo? Então prove.

    Airen ficou em silêncio. Não conseguiu encontrar palavras para se defender.

    Após um momento, murmurou baixinho:

    — Pode me dar um tempo para pensar?

    — Claro que posso. Espero que consiga pensar em algo que me satisfaça — respondeu Kiril.

    Airen desviou o olhar.

    Enquanto isso, o grifo voava diligentemente, seguindo as ordens de sua mestre.


    Plop!

    Judith arfava pesadamente, suor reluzindo em sua testa como se estivesse no auge do verão, antes de colapsar no chão.

    Até mesmo ela não conseguia mais continuar. Fitando o céu sem expressão, tentava confortar seu corpo exausto. Uma brisa parecia refrescá-la.

    Qualquer professor comum a observaria com orgulho. Infelizmente, Khun não era um professor comum.

    — Sua fracote! Já está cansada? Você não tem paixão pela sua espada nem determinação para vencer? Não quer se tornar a melhor?! — ele gritou.

    — Olhe para mim! Posso ter quase cem anos, mas ainda queimo mais forte do que você. Isso é treinamento, sua perdedora! Você não cai, mesmo que sinta que está prestes a morrer! Você jura superar seu rival! É isso que significa ser minha aluna! Hah! Argh! Ha! — gritou Khun enquanto balançava sua espada de maneira insana.

    Judith ficou perplexa. Na Academia de Esgrima Krono, não sabia que aquele homem poderia ser tão infantil. Pensava que ele era alguém que compreendia o desejo de alcançar a vitória e se tornar o melhor. Pensava que ele era o único que entendia seus anseios…

    — Hah! Morra! Morra, Ian! Seu desgraçado! Careca! Você é ainda mais baixo do que eu! Morra!

    Swoosh!

    Wooosh!

    “Esse homem é mesmo um adulto?”, pensou Judith, balançando a cabeça.

    Claro, ela podia entendê-lo. Afinal, esse homem treinou a vida toda apenas para derrotar Ian. Ela também achava que sua personalidade explosiva se assemelhava à dela. Mas isso era demais. Sentia que precisava dizer algo.

    — Isso ajuda no seu treinamento? Ficar zombando do seu oponente como uma criança? — perguntou, sentando-se.

    — Claro que ajuda! Hah! Hah! — respondeu Khun enquanto brandia a espada de maneira extravagante.

    Judith ficou deslumbrada. Mesmo sendo uma especialista, seus olhos não conseguiam acompanhar os movimentos rápidos dele, o que a deixou ainda mais incrédula.

    Khun não se importou. Ainda exibindo sua espada, continuou — Sua fracote, pessoas como nós devem… hah! Hah! Temos que arder de raiva se quisermos… hah! Se quisermos sequer alcançar aqueles bastardos talentosos… Hah!

    Judith olhou para ele com desconfiança. Khun era sempre assim, dizendo que esse era o único caminho para eles. Se caras comuns como eles quisessem perseguir os talentosos, teriam que usar todo o tempo livre para treinar. Relaxar? Descansar? Ele nem sabia o que essas palavras significavam. Passava o dia inteiro pensando em como brandir melhor sua espada e treinar por mais tempo. Por isso, vivia xingando Ian. Ele queria usar sua própria raiva e inveja para nunca parar.

    “Ainda assim, como ele pode chamar o diretor de… ‘careca’?”, pensou Judith, irritada.

    Porém, apesar das reclamações, ela já estava de pé novamente. A contragosto, aceitava que, por mais infantil que Khun fosse, seus métodos funcionavam com ela.

    — Tsk — estalou a língua, imaginando várias pessoas.

    Agora, quem poderia deixá-la com mais raiva? Quem poderia fazer o fogo dentro dela queimar ainda mais? Ela hesitou por um momento antes de assentir, imaginando Airen Farreira.

    — Airen, seu desgraçado! — gritou.

    Swoosh!

    Crash!

    Sua espada vermelha, um presente de Tarakhan, disparou, destruindo uma das árvores.

    Ela não parou. Pelo contrário, enfureceu-se ainda mais, praguejando contra Airen sem cessar.

    “Seu maldito!”, pensou.

    Judith não odiava Airen, de forma alguma. Na verdade, era grata a ele. Entre todas as pessoas da academia onde passou os últimos cinco anos, nutria um carinho especial por ele, valorizando sua amizade. Quem não valorizaria, depois de ver sua personalidade gentil, humilde e altruísta?

    Wooosh!

    Swoosh!

    Ainda assim, Judith o achava incrivelmente irritante. Imaginando Airen e o talento que ela jamais teria, pensando o quão longe ele já havia chegado, ela brandia sua espada como se estivesse fora de si.

    Crash, crash, crash!

    — Hmph, nada mal. Quem você imaginou? Airen? — perguntou Khun com um sorriso.

    Ian talvez reclamasse que Judith estava exagerando, mas ele discordava. Esse tipo de raiva era o que movia pessoas comuns como ele, mesmo que o mundo tentasse negar. Para eles, apenas a rivalidade importava. Judith teve que concordar.

    Ainda balançando a espada, respondeu:

    — Sim. Hah… Estou… pensando naquele desgraçado!

    — Ótimo. De agora em diante, chame-o de ‘desgraçado’ o tempo todo! — disse Khun.

    — Sim, senhor!

    — Muito bem. Quem é Airen?

    — Um desgraçado!

    — Quem é Airen?

    — Um desgraçado!

    — E o que é um desgraçado?

    — Airen! Eu vou matá-lo!

    O grito furioso de Judith ecoou pelo ar, assustando os pássaros no céu. Khun soltou uma gargalhada alta, mas então notou algo: um grifo.

    O animal mítico despencou antes de reduzir a velocidade e pousar suavemente. De seu dorso saltaram duas pessoas e um gato. Airen, Kiril e Lulu.

    Khun franziu a testa, sem reconhecer quem eram.

    Judith, por outro lado, se iluminou ao ver o rosto familiar do jovem que queria espancar.

    — Airen, seu desgraçado! — saudou ela, apontando a espada para ele.

    Clang!

    Então, avançou ferozmente contra o jovem mestre espadachim.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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