Capítulo 222: Eu Preciso de um Favor (2/4)
— Ah, que dia lindo — disse Kiril Farreira enquanto observava a paisagem do alto do grifo. Sentia-se tão animada quanto o clima estava agradável.
Airen havia retornado depois de apenas uma semana. Ela não achava que ele levaria cinco anos. Afinal, Lulu garantira que isso não aconteceria. Ainda assim, estava preparada para passar alguns meses em Alcantra.
A questão era que a barreira não surgiu por causa dos desejos de Airen, mas sim da emboscada do diabo…
“Quem se importa? Airen já o derrotou duas vezes”, pensou.
E, na verdade, não era apenas um diabo. Segundo Lulu, era forte o suficiente para fazer o Reino Sagrado convocar todos os seus cavaleiros sagrados. Mas Airen já havia derrotado esse poderoso inimigo duas vezes sozinho.
Kiril virou-se para olhar Airen, que estava meditando. Seu rosto sereno transmitia uma tranquilidade maior do que qualquer coisa.
— Airen não é incrível, Lulu? — perguntou.
— Sim! Airen é sempre incrível — respondeu a gata.
Ela acariciou a cabeça de Lulu e sorriu ao abrir o mapa para verificar a proximidade do destino. Estavam quase lá. Na verdade, já haviam chegado.
Olhando para baixo, avistou uma casa no meio do campo e duas figuras brandindo espadas.
“Finalmente vou conhecê-los”, pensou, ao lembrar-se de Khun, um dos espadachins mais poderosos do continente, e Judith, sua aluna e amiga próxima de Airen.
Kiril tinha que admitir que estava mais interessada na última, graças aos rumores sobre um romance doce que ouvira na academia. Quando era jovem, nada sabia sobre o amor. Na adolescência, esteve imersa na feitiçaria, determinada a salvar seu irmão. Agora, como uma mulher adulta, começava a se interessar por romances, e Judith, que agarrara o amor com orgulho apesar de ter um mestre rigoroso, parecia admirável.
“Que tipo de pessoa ela é para conquistar um nobre orgulhoso e amá-lo com tanta paixão?”, Imagens cor-de-rosa preenchiam a mente de Kiril, até que um grito a tirou de seus devaneios.
— Airen! Eu vou te matar!!
Lulu congelou nas costas do grifo, olhando para Airen e Kiril, que estavam chocados enquanto fitavam o chão. Então não havia escutado errado.
Mas os olhos de Lulu estavam fixos em Kiril.
“Isso é um desastre…!”
A expressão de Kiril congelou enquanto seus olhos ardiam.
Embora não estivessem voltados para Lulu, a gata sentiu medo.
— Um, K-Kiril… — murmurou, tremendo.
— Silêncio — ordenou Kiril.
A gata se calou imediatamente.
Segurando Lulu nos braços, Airen tentou acalmar a irmã.
— Hm, Kiril? Eu não sei o que está acontecendo, mas a Judith… — tentou dizer.
— Está tudo bem, Airen. Eu não sou mais uma maníaca furiosa como antes — respondeu Kiril friamente, manobrando o grifo.
— Vou lhe dar uma chance de explicar por que ela te xingou — rosnou.
Airen coçou o queixo, incapaz de responder. Não podia dizer que Judith sempre fora assim, nem que merecia isso. Qualquer um que não conhecesse Judith pensaria como Kiril.
No fim, o grifo pousou sem que Airen pudesse fazer nada. Kiril, Lulu e Airen saltaram ao chão.
Então…
— Airen, seu desgraçado! — gritou Judith com um sorriso radiante, enquanto os três a encaravam em choque.
“Mas que diabos?”, pensou Kiril Farreira, a mais surpresa dos três.
Enquanto Airen e Lulu sabiam como Judith era, Kiril não fazia ideia. Mais que isso, jamais imaginou que Judith fosse o tipo de pessoa que avançaria com uma espada assim que um visitante chegasse.
Mas o que mais a surpreendeu foi isto:
Clash!
“Eu não consigo detê-los…!”
Mesmo enquanto Judith e Airen se enfrentavam, Kiril não conseguia intervir.
Ela engoliu em seco. Judith nunca olhara para ela. Os olhos da espadachim ruiva estavam fixos em Airen.
No entanto, Kiril não pôde evitar estremecer. Estava com medo. A feiticeira corajosa, que não temia nada no mundo, sentiu pela primeira vez que não podia se impor diante do espírito de luta puro que queimava nos olhos de Judith.
Crack! Crash! Crash!
Mas Judith não se importava nem um pouco se Kiril estava assustada. Tudo o que via diante de si era Airen, envolto em sua aura dourada, seu melhor amigo e o rival que ela desesperadamente queria vencer.
“Eu quero vencê-lo.”
“Quero derrotá-lo.”
“Apenas uma vez, quero superá-lo quando ele estiver em seu auge!”
A paixão ardia no coração da espadachim ruiva. O fogo renovava seu vigor e iluminava sua aura.
Sem nem perceber, Judith usou a Arte dos Cinco e brandiu sua espada vermelha.
Crash!
Então veio seu melhor golpe do dia. Rápido e poderoso, era o máximo que Judith conseguia fazer naquele momento. Até mesmo seu rigoroso mestre, Khun, teria que admitir que ela havia se saído bem.
No entanto, Judith não podia se sentir satisfeita. Ofegante, a discípula de Khun fitou com raiva o discípulo de Ian, que permanecia tão calmo como sempre. Ela estava amarga e furiosa. Não conseguia conter a ira. Mas precisava aceitar que, mesmo em seu melhor, ou até mesmo quando superava seus próprios limites, não conseguia sequer pegar Airen desprevenido.
“Eu nem sequer consigo quebrar sua compostura…”, Judith pensou, confrontando a cruel e fria realidade.
Ela engoliu em seco, sentindo o gosto de sangue na boca, enquanto encarava seu amigo, que nem sequer se deu ao trabalho de invocar sua Aura da Espada. Deixar para lá seria mais fácil. Mas ela não o fez. O gosto ardente do sangue era tão amargo quanto suas emoções. Revoltando-se contra sua própria incompetência, decidiu abraçar a amargura, o fogo interior que queimava como as próprias chamas do inferno.
Sem fôlego, Judith investiu diretamente contra seu alvo. Seu ataque não tinha nada de especial. Embora se movesse rapidamente, não carregava o mesmo vigor inicial, tampouco demonstrava a mesma agilidade. Comparado ao incrível jogo de pés que mostrara antes, era algo decepcionante.
Mas Airen Farreira não a subestimou. Ele não podia, pois simplesmente não conseguia vê-la. Judith, que talvez fosse menor que ele, mas ainda bem proporcionada para uma mulher, desapareceu como se tivesse usado feitiçaria. Em seu lugar, restava apenas sua espada, sua lâmina vermelho-sangue avançando contra Airen.
O que poderia ser mais adequado para Judith? O que poderia ser mais poderoso?
— Hah!
Woooosh!
Airen Farreira invocou sua Aura da Espada e a brandiu. Não estava se contendo.
Reunindo sua força e sua aura, lançou seu melhor ataque.
Crash!
A espada dourada colidiu com a espada vermelha. O impacto lançou a lâmina vermelha para trás. Judith finalmente reapareceu. Ela se chocou contra o chão com uma força que poderia ter matado uma pessoa comum, mas não soltou sua espada. Ainda assim, isso não significava que estivesse ilesa.
“Ah, exagerei!”, pensou Airen, chocado.
Para ser sincero, ele estava relaxado desde o início da luta repentina. Afinal, depois do que acontecera na Terra da Provação, havia crescido muito além de Judith. Mesmo que ela fosse uma especialista de alto nível, não podia ser comparada a alguém que até Quincy Meyers, um dos melhores cavaleiros sagrados, reconhecia. Judith era como uma criança enfrentando um adulto.
Mas…
“Seu último ataque era como fogo…”, pensou Airen.
De fato. Mesmo que seu oponente fosse uma criança pequena, se estivesse armada, ele precisaria ficar em alerta. E a espada de Judith era mais do que apenas uma lâmina, era fogo puro. Queimava tão intensamente que Airen sequer conseguiu ver sua forma. Por um momento, ficou petrificado de medo.
“Ah, esse não é o momento para pensar nisso!”, pensou Airen, forçando-se a voltar ao foco.
Por mais incrível que o ataque final de Judith tivesse sido, ele precisava ver como ela estava. Correu apressadamente em sua direção, ou tentou.
— Está tudo bem. Não precisa se preocupar — disse Khun, bloqueando seu caminho.
— Mas… — protestou Airen.
— Você realmente acha que minha aluna seria tão fraca assim? Ela está bem. Bem, talvez não esteja tão bem, mas logo se levantará.
— Acho que devo dar a ela uma ou duas poções… Elas funcionam como mágica, mas doem como o inferno.
— Obrigado…
— Guarde isso. Sou eu quem deveria te agradecer.
Khun sorriu. Um sorriso genuíno. Ao ver Judith enfrentando Airen, percebeu o que precisava fazer por ela. Viu uma possibilidade.
Da mesma forma que ele conseguiu alcançar Ian ao focar na velocidade, talvez Judith pudesse fazer o mesmo se focasse na força que demonstrara hoje…
“Se ela conseguir refinar uma única área, talvez tenha uma chance, mesmo que falhe em todas as outras…”
Khun abriu um sorriso largo e perguntou:
— Airen Farreira, espero que ainda esteja pronto para mais um combate. Pegue sua espada.
— Sim, senhor… — respondeu Airen.
Froosh!
A energia de Khun explodiu assim que Airen respondeu.
Enfrentando um grande espadachim, completamente diferente de Ian, Airen Farreira ergueu sua espada.
“Estou aprendendo muito hoje”, pensou, sem conseguir conter um sorriso.
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