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    O vento soprou. Mas não foi o suficiente para esfriar a tensão ardente entre Airen Farreira e Khun. A tensão era tão rígida quanto uma corda esticada, mas o duelo não começou imediatamente.

    Kiril Farreira caminhou entre os dois espadachins, seu rosto calmo e livre de medo.

    — O que foi? — perguntou Khun, ligeiramente intrigado.

    — Só quero ver Judith — respondeu Kiril.

    — Como eu disse, ela está bem…

    — Isso não significa que não precise de tratamento, certo? Espere um momento. Vou ajudá-la a se deitar e prestar os primeiros socorros.

    — Você é uma curandeira? Uma sacerdotisa, talvez?

    — Sou uma feiticeira, mas sei o básico de cura.

    — Ah, só não comecem sem mim. Quero ver Airen lutar.

    — Entendido?

    — Hah! Veja só essa garota — riu Khun.

    Como irmã do renomado Airen Farreira, Kiril parecia estar longe de ser comum. Khun sentiu-se ligeiramente intrigado com sua postura orgulhosa.

    — Certo. Seja rápida — assentiu ele.

    — Sim, claro. Lulu, me ajude — respondeu Kiril.

    — Certo.

    Poof!

    Mudando para sua forma de garota feiticeira, Lulu ergueu sua varinha, levantando Judith suavemente do chão.

    Quando Kiril e os outros entraram na casa, Khun voltou-se para Airen.

    — Ela parece bem diferente de você — comentou.

    — De fato — respondeu Airen.

    — Sua irmã já conhecia Judith? Não parece… mas mesmo assim, está sendo tão gentil.

    — Elas nunca se viram antes — explicou Airen com um sorriso.

    Ele também não entendia completamente as ações de Kiril, mas conseguia perceber o que a motivava.

    Kiril deve ter sentido algo no coração de Judith.

    “Não sei o quê, mas, graças aos céus, tudo deu certo”, pensou.

    Um momento depois, a porta rangeu ao se abrir, revelando Lulu, agora de volta à forma de gata, e Kiril, com sua expressão de sempre, cheia de orgulho.

    — Podem continuar — disse ela.

    — Hah! Preciso dizer que normalmente não sou do tipo que segue ordens de alguém… — respondeu Khun com um resmungo. Mas ele não parecia ofendido. Kiril tinha um talento peculiar para atrair pessoas extraordinárias.

    Airen ajustou sua postura com seriedade.

    — Estou pronto — anunciou.

    — Certo — respondeu Khun.

    Wooosh!

    Woosh!

    Ambos reuniram suas auras. Simultaneamente, suas espadas brilharam em ouro e branco. Surpreendentemente, os tamanhos eram quase os mesmos.

    Airen ficou ligeiramente chocado ao ver que Khun, um dos melhores do continente, havia invocado uma Aura da Espada que não parecia muito diferente da dele. Talvez Khun não estivesse dando tudo de si, mas ainda assim, foi uma surpresa.

    Mas algo logo o pegou ainda mais desprevenido.

    Khun desapareceu.

    Swish!

    Crash!

    — Ugh… — Airen gemeu, surpreso, ao bloquear o ataque repentino.

    Por pouco não perdeu imediatamente. A espada de Khun era tão rápida que Airen só conseguiu erguer sua lâmina de forma desajeitada, quase sendo atingido no rosto.

    Boom!

    Bam!

    Crash!

    Os ataques de Khun vieram, implacáveis. Airen elevou seus sentidos para desviar e bloquear a investida enquanto tentava encontrar seu ritmo. A energia metálica fortalecia Airen e dava peso a seus movimentos enquanto seus olhos brilhavam, buscando uma oportunidade.

    Foi inútil. Ao enfrentar os ataques incessantes de Khun, Airen percebeu a enorme diferença entre ele e um dos três maiores espadachins do continente.

    “Não posso usar um ataque pesado”, pensou.

    Pesado não significava lento. Na verdade, ele tentava pressionar o oponente enquanto avançava com firmeza. Infelizmente, sequer podia tentar tal abordagem. Sempre que queria se mover, Khun já estava lá primeiro, sua espada chegando antes da de Airen.

    E não era só isso. Khun estava sempre em uma postura perfeita, pronto para agir. Mesmo que a espada de Airen fosse incomparável em combate, ele não conseguia conquistar uma posição vantajosa contra alguém que se movia três vezes mais rápido.

    Ainda assim…

    “Não posso desistir”, pensou Airen, soltando uma risada involuntária.

    Era estranho. Há poucas semanas, quando viajava de Lavaat para Alcantra, teria sido completamente pego de surpresa se algo assim acontecesse. Teria tentado movimentos arriscados só para obter o reconhecimento de Khun. Mas agora, sem sequer perceber, a água dentro de sua mente o mantinha calmo.

    Ainda assim, Airen não estava sem emoções. Continuava jovem e ardendo de paixão, diferente dos espadachins mais velhos que já haviam experimentado tudo o que o mundo tinha a oferecer. A água não apagava o fogo. Apenas o temperava.

    Thud!

    Usando o elemento metal, Airen bloqueou o ataque de Khun. O espadachim veterano abriu um sorriso divertido ao sentir um peso incrível que não esperava.

    Sem perder a chance, Airen mirou no peito de Khun, sua espada ardendo como fogo encontrando o aço.

    “Ele é mais do que eu imaginava”, pensou Khun, seus olhos brilhando de interesse.

    Para ser sincero, estava impressionado. Esperava que o jovem se encolhesse como uma tartaruga. Mas Airen, de alguma forma, encontrou uma chance de contra-atacar. E não estava apenas golpeando aleatoriamente. Khun conseguia ver a determinação e a ferocidade incansável dentro de sua lâmina. Se Airen estivesse em um nível próximo ao dele, talvez até se assustasse.

    Mas, é claro, Khun estava muito acima em habilidade. Com um resmungo, acelerou seus movimentos, elevando sua força, aura e coração ao limite.

    A arma do grande espadachim caiu pesadamente.

    Clash!

    E caiu novamente.

    Claash!

    O ataque de Khun prosseguiu.

    Após sete golpes consecutivos, Khun recuou lentamente.

    — Isso foi bem interessante — comentou.

    Airen não teve tempo para olhá-lo. Seus olhos estavam fixos em sua própria espada. Os ataques incessantes de Khun evaporaram todo o calor de sua lâmina.

    Ele jamais alcançaria Khun com uma espada fria.

    — Hm… — murmurou Airen, assentindo.

    — Apenas me chame de Khun. Não ligo para títulos — respondeu Khun.

    — Khun… Poderia me dar um momento? — pediu Airen.

    — Hmph.

    Khun o observou. Normalmente, teria descartado um pedido assim como absurdo, dizendo que batalhas reais não esperavam ninguém e que Airen deveria se esforçar mais. Mas não o fez. Assim como Ian não entendia sua espada, ele próprio não conseguia acompanhar a de Ian.

    Os espadachins mais jovens provavelmente sentiam o mesmo. Não podia tratar Airen da mesma forma que tratava Judith.

    “Eu realmente mudei”, refletiu Khun.

    Até agora, sempre treinou, pensou e se moveu para lutar contra seu rival. Agora, percebia que estava tratando Airen como um aluno.

    “Hah… Não posso me chamar de professor dele… Vamos apenas dizer que estou dando conselhos como um veterano…”

    Khun assentiu solenemente.

    Airen retribuiu o gesto com uma expressão mista.

    O jovem mestre espadachim, que era tão resistente quanto o aço e tão ardente quanto o fogo, se assemelhava a Ian. Mas não era o mesmo.

    Enquanto Khun o observava, Airen finalizou sua concentração.

    — Ufa… — respirou calmamente.

    Os olhos de Khun brilharam ao sentir a aura pesada de Airen em seus pés.

    “É como água…”, refletiu.

    Não. Era mais do que isso.

    Crash!

    A energia suave tornou-se turbulenta, transformando-se em granizo, uma tempestade. A energia de Airen queimava quente demais para ser apenas água.

    Wooosh!

    Então, o elemento metal se juntou.

    Khun assentiu ao encarar o ataque pesado de seu oponente. Seus olhos e lábios sorriram.

    “De fato, vejo o seu poder”, murmurou silenciosamente.

    E então tomou a mesma decisão que tomou antes ao bloquear o ataque de Airen.

    Crash!

    Avançou.

    Boom!

    Avançou novamente.

    Boom!

    Crash!

    Craash!

    Crash!

    Craaaash!

    Lançou-se mais rápido do que qualquer um poderia imaginar.

    Craaaash!

    Khun não era Ian. Não possuía o maior talento ou potencial. Ao contrário de seu rival, que alcançara feitos extraordinários em várias áreas, ele só tinha uma arma. A espada da água? Não sabia o que era, nem queria saber.

    Isso seria o suficiente para derrubar a tempestade.

    Os olhos de Airen brilharam ao sentir os ataques implacáveis de Khun atingindo suas ondas. Embora os golpes de Khun não fossem tão inspiradores quanto os de Ian, sua sequência incessante de ataques rápidos era suficiente para dissipar a tempestade.

    A água se partiu. Antes que pudesse se reunir novamente, a espada a empurrava para trás continuamente. No fim, a água foi dividida em duas. Entre as paredes líquidas, permaneceu um jovem espadachim.

    Isso era o bastante para Khun. Com um sorriso, desferiu seu ataque final, sua lâmina roçando o oponente desarmado, um final perfeito.

    Kiril e Lulu, que assistiam ao duelo, não conseguiram dizer nada. Nem Airen. Atordoado, ele olhou para Khun, que dissipara sua água com um movimento inesperado. Então, sorriu.

    — Obrigado. Aprendi muito — disse.

    — Que nada… Você não vai conseguir copiar isso — respondeu Khun, mal-humorado, enquanto recolhia sua espada.

    Sentia-se satisfeito e irritado ao mesmo tempo. Lançando um olhar para sua casa, lembrou-se de Judith.

    “Você tem potencial… Mas seu caminho pode ser ainda mais espinhoso do que o meu…”, pensou, soltando um suspiro.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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