Capítulo 228: O Ritmo de uma Longa Caminhada (1/3)
— Ufa… — suspirou Airen Farreira, que estava treinando como de costume no campo de treinamento da propriedade Lloyd.
Não era por causa do clima quente. Afinal, Airen havia praticado sua espada incansavelmente no auge do verão escaldante quando tinha quinze anos e estava muito menos preparado fisicamente do que agora. Ele suspirou porque ainda se sentia frustrado. Para ser justo, não esperava alcançar uma epifania logo após o combate e a conversa com Brett.
No momento, Airen sequer sabia em que estado se encontrava. Tinha apenas uma sensação abstrata de falta e desorientação. Portanto, seria tolice exigir que alguém simplesmente lhe entregasse a resposta.
“Vamos ter paciência”, disse a si mesmo.
Felizmente, ele não estava consumido pela impaciência como quando se separou de Ignet. Apesar do conselho de Joshua Lindsay, sentia-se ansioso e frustrado por não conseguir alcançar seu objetivo. Seu desespero foi tão grave que até Kiril e Lulu ficaram preocupadas. Agora, porém, era diferente. A energia da água o acalmava e trazia paz à sua mente. Embora seu maior problema permanecesse sem solução, ele sabia que não podia exigir respostas imediatas depois de tudo o que aconteceu.
Então Airen decidiu fazer uma pausa. Seu corpo não estava exausto de forma alguma. Afinal, eram apenas cinco horas. Mas sua mente estava esgotada.
Decidindo acalmar a mente com a paisagem esplêndida e o céu brilhante, Airen saiu para uma caminhada, lembrando-se da lição da barreira: deixar ir também fazia parte do esforço.
Porém…
Algo chamou sua atenção. Diferente do campo de treinamento principal, onde os soldados da Casa de Lloyd treinavam, a área menor que ele usava era reservada para Brett ou convidados. Assim, era relativamente deserta, exceto por alguns servos idosos. O servo de hoje, no entanto, parecia estranho. Para começar, eram dois, e agiam de maneira elegante. Tanto o homem quanto a mulher tinham uma certa postura nobre que suas roupas surradas não conseguiam esconder. O que incomodava Airen era o fato de que o misterioso casal continuava a encará-lo.
“Por quê…?”
Mesmo agora, os olhos da dupla não se desviavam enquanto ele olhava vagamente para o céu, concentrado em cada pequeno movimento de seu corpo. E eles não o olhavam de forma amigável. Se não tivesse percebido a ínfima quantidade de aura, poderia ter acreditado que aqueles dois eram assassinos em missão para cortar sua cabeça.
Swish!
Airen virou-se bruscamente para encará-los sem disfarçar, apenas para vê-los desviarem o olhar com naturalidade e fingirem varrer o chão. Infelizmente, por mais incomodado que estivesse, não ousava se aproximar desses dois servos assustadores.
— Airen, aquelas pessoas estão olhando para você… — disse Lulu.
— Eu sei — respondeu Airen.
— Eles parecem assustadores. Não deveríamos correr?
Airen não conseguia negar, embora soubesse que não havia como alguém mal-intencionado vagar livremente pelo castelo Lloyd ou que aqueles dois pudessem realmente lhe causar algum mal.
— Não faça contato visual — disse baixinho.
— Sério? — perguntou Lulu.
— Sim. Não, acho melhor simplesmente parar com isso e perguntar ao Brett…
— Perguntar o quê? — disse uma voz.
— Oh, Brett — cumprimentou Airen ao vê-lo se aproximar.
Ainda assustada, Lulu voou para perto dele enquanto Airen tentava disfarçar e sair como se nada tivesse acontecido.
Ele estava prestes a perguntar a Brett o que estava acontecendo quando o amigo chamou:
— Mãe, pai, o que estão fazendo?
— O quê? Por que está me olhando assim? — perguntou Brett.
Airen não respondeu. Ele olhou atentamente para Brett antes de voltar-se para as pessoas que pensara serem apenas servos. Então assentiu, compreendendo. De fato, agora conseguia ver. Se pegasse o olhar frio e indiferente que Brett às vezes tinha e o amplificasse dez vezes, talvez chegasse àquele par.
— Achei que estivessem apenas cuidando do campo de treinamento. Eles estão me observando desde esta manhã — disse Airen em voz baixa.
— Que tipo de servos ficariam apenas parados assim? — zombou Brett.
— Também achei um pouco estranho…
— Então deveria ter perguntado.
— Ah, sobre isso…
Airen estava prestes a explicar que ficou assustado com os olhares deles, mas desistiu da ideia, sentindo que isso insultaria os pais de Brett. Felizmente, Brett não perguntou mais nada. Ele se aproximou dos pais e disse algo. Os dois finalmente abriram a boca para falar.
Depois disso, Brett e seus pais se aproximaram de Airen.
— Pai, mãe, permitam-me apresentar um colega da academia de esgrima e meu melhor amigo, Airen Farreira — anunciou o filho mais velho da família Lloyd.
— Hm.
— Hmph.
— Olá… Sou Airen Farreira, o filho mais velho da família Farreira — cumprimentou Airen com uma reverência, sentindo-se grato por Brett chamá-lo de seu melhor amigo, uma expressão que alguns poderiam considerar embaraçosa.
Infelizmente, Phillip e Kaya Lloyd continuavam tão frios quanto antes.
O silêncio pairou por um momento até ser quebrado por um soluço de Lulu. Incapaz de suportar a pressão da situação, a gata preta cobriu a boca e se esgueirou para longe. Brett assentiu, compreendendo.
— Espero que entenda. Meus pais são um tanto tímidos — explicou.
— Ele está certo — disse Phillip.
— De fato. Por favor, não leve a mal — disse Kaya.
— Entendo… — murmurou Airen.
— Devem ter ficado curiosos sobre você. Eu falei bastante sobre você — disse Brett.
— Isso é verdade.
— De fato.
— Ah, entendi…
Infelizmente, a tensão no ar não se dissipou, mesmo depois que o casal Lloyd se explicou.
“O que devo fazer?”, pensou Airen desesperadamente enquanto conversavam de maneira estranhamente desconfortável.
Ele veio não apenas para entregar a carta de Judith e discutir sobre esgrima com Brett, mas também para conversar com os pais do amigo, pensando que falar sobre a alegria que via na propriedade o ajudaria a refletir sobre seus próprios objetivos. No entanto, não conseguia imaginar uma maneira de trazer esse assunto à tona nessa situação.
Airen se considerava uma pessoa tímida, mas aqueles dois o superavam com facilidade. Isso não era algo que Brett pudesse resolver, nem Airen via Lance, Kiril ou Lulu ajudando de alguma forma.
Ele se esforçou para pensar em uma solução até que teve uma ideia.
— Hã… Logo será hora do jantar… que tal tomarmos uma bebida e conversarmos um pouco? — sugeriu.
Os Lloyds permaneceram tão silenciosos quanto antes. No entanto, sua resposta foi clara. Seus olhos ainda brilhavam severamente, mas seus lábios se esticaram em um sorriso radiante.
Airen suspirou aliviado.
“Ah, não”, pensou Brett em silêncio.
Uma celebração modesta aconteceu. Os participantes incluíam os Lloyds, seu filho, os irmãos Farreira, Lulu e Lance. A mesa elegante estava repleta de bebidas valiosas. O problema era que não havia mais nada sobre ela.
— Hã… Se me permitem perguntar, há alguma comida? — perguntou Kiril corajosamente, voltando-se para Phillip Lloyd, que continuava tão sério quanto sempre. Até mesmo a orgulhosa Kiril ficou nervosa diante do Senhor Lloyd, com seu olhar afiado.
— Este é um coquetel feito de ovo, amêndoa e rum — disse ele, apontando para o copo à sua frente.
— Como é? — ecoou Kiril.
— É um ótimo prato, eu diria.
— Hã, e quanto à água? — perguntou Lance, valente, em meio ao silêncio.
— Acho que cerveja serviria — respondeu Kaya Lloyd.
— Eu estava brincando… — disse ela, acenando timidamente para uma criada.
Os servos então finalmente trouxeram pratos de comida. Lulu, Kiril e Lance suspiraram aliviados.
— Meus pais costumam fazer essa brincadeira quando querem se aproximar de alguém — sussurrou Brett enquanto Airen também relaxava.
— Já basta, Brett. Você está me envergonhando — disse Phillip sem demonstrar um pingo de vergonha.
— Sim, pai — respondeu Brett com um aceno.
Com um leve sorriso, o senhor da propriedade ergueu seu copo cheio de uma bebida alcoólica tão forte que poderia derrubar uma pessoa comum.
— Lance, Airen, ouvi muito sobre vocês pelo meu filho. Também dou as boas-vindas aos outros convidados… incluindo a gata. Por favor, sirvam-se de comida e bebida. Ah, e não precisam se forçar a beber, a propósito — anunciou.
Apesar de suas palavras, ninguém ousou recusar a primeira taça. Todos, exceto Lulu, beberam assim que Phillip terminou de falar.
“Quão forte é essa coisa…?”, pensou Airen.
— É bom, não é? Tem trinta anos. Graças a isso, é bem suave, apesar de ter 58% de teor alcoólico. Qualquer um que não saiba pensaria que tem apenas 30% — disse Phillip calorosamente.
— Entendo… — murmurou Airen.
Era muito mais forte do que ele imaginava. Enquanto sorria, sentindo o fogo em suas entranhas, algo surpreendente aconteceu. Ao erguer os olhos, viu que o copo de Phillip já estava cheio novamente.
E não era só o dele. Tanto a Condessa Kaya Lloyd quanto seu filho, Brett Lloyd, já tinham seus copos reabastecidos. Em um piscar de olhos, os Lloyds haviam enchido suas taças outra vez. Nem mesmo um mestre espadachim conseguiria acompanhar aquele ritmo.
— Sempre quis conhecê-lo… — disse Phillip Lloyd ao virar mais um gole, parecendo mais gentil do que quando Airen o conheceu. Se era por causa do álcool ou da festividade, ele não sabia dizer.
— Como eu disse, não precisam acompanhar meu ritmo. Apenas bebam o que puderem — assegurou Phillip.
— Entendido… — respondeu Airen respeitosamente antes de olhar ao redor rapidamente.
Os olhos de Phillip e Kaya Lloyd estavam fixos nele, como se não tivessem interesse em mais ninguém. Kiril, Lance e Lulu conversavam entre si, como se não quisessem nada com Airen e os Lloyds. Brett manteve-se neutro, mas não parecia disposto a ajudá-lo, enquanto virava seu terceiro copo.
“Preciso ficar atento”, pensou Airen, forçando um sorriso para os Lloyds, justo quando seus copos eram reabastecidos mais uma vez.
Duas horas depois, Airen Farreira estava mais bêbado do que em qualquer outro momento daquele ano.
Fiel às suas palavras, os Lloyds não o forçaram a beber, ocupados demais virando suas próprias bebidas. Infelizmente, tanto eles quanto Airen eram bastante tímidos. Embora tivessem algo a dizer, não conseguiam chegar diretamente ao ponto. Incapaz de suportar a estranheza da situação, Airen acabava pegando seu copo. Depois de aceitar tudo o que lhe foi oferecido, ficou completamente embriagado, apesar de ser um mestre espadachim.
— Vou pegar um pouco de ar — disse.
Felizmente, ainda estava consciente. Sentindo que realmente poderia se perder se bebesse mais, Airen se levantou.
— Vou acompanhá-lo. Está quente, e gostaria de sentir o ar da noite — disse Phillip.
— Acho que vou me retirar. Ainda estou um pouco cansada da viagem. Vocês, jovens, aproveitem a noite — disse a condessa ao também se levantar.
Lulu também se esgueirou para fora, dizendo que queria brincar com outros gatos, deixando Brett, Lance e Kiril por conta própria.
— Ufa, estou bêbada. Talvez eu devesse ir também — disse Kiril.
— Mas acho que antes vou dar uma caminhada para refrescar a mente…
— Lance — chamou Kiril repentinamente.
— Hã? — respondeu Lance, ainda atordoado pelo álcool.
— Que tal darmos uma volta juntos? — perguntou Kiril com um sorriso.
— Hã? Eu…
Lance nem teve chance de responder direito, mas Kiril não pareceu se importar.
Enquanto ela guiava o corpulento Lance para longe, Brett murmurou:
— Cara, estou sozinho.
Alguns servos trocaram olhares, se perguntando se deveriam dizer algo para consolá-lo ou se juntar a ele na bebida. Ou talvez fosse melhor apenas ficarem quietos.
— Deixem-me, por favor. Quero ficar sozinho — disse Brett.
— Entendido, senhor.
— Tenha uma boa noite…
Agora completamente sozinho, Brett tirou algo do bolso: a carta de Judith. Com medo de amassá-la, abriu-a com cuidado. Embora Judith não tivesse escrito com finesse nem sutileza, isso não o incomodava.
Depois de ler a carta três vezes, guardou-a novamente no bolso.
Glug, glug, glug.
O licor forte desceu pela garganta de Brett sem nem mesmo gelo.
— Sinto sua falta, Judith… — murmurou enquanto olhava para fora.
Nem mesmo a lua apareceu naquela noite.
Ao mesmo tempo, Airen Farreira e Phillip Lloyd deixaram o castelo para caminhar pelas ruas da cidade.
Passando pelas ruas bem cuidadas, pela praça organizada e pela multidão feliz, eles finalmente chegaram a um lugar inesperado, os cortiços, um local escuro e desconfortável que Airen nunca tinha sequer pensado em visitar.
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