Capítulo 231: Eu Vou Voltar (1/3)
— Sério?
— Uma epifania?
Lulu e Kiril olharam para Brett surpresas.
Uma epifania? Agora?
No entanto, a surpresa delas não durou muito.
“Bem, suponho que isso possa acontecer.”
“O coração de Airen mudou bastante recentemente, afinal.”
Como feiticeiras, elas conheciam a importância da mente de alguém. E, como irmã e amiga querida de Airen, sabiam que ele estava passando por muitas mudanças, mesmo que não deixasse transparecer.
Lulu também o viu crescer muitas vezes durante suas viagens, então não achou nada chocante nesse desenvolvimento recente.
— Não nos olhe assim, Brett — disse a gata flutuando no ar.
— O que há de errado com a minha expressão? — perguntou Brett.
— Você parece realmente irritado — respondeu Lulu.
— De fato. Esse cara aqui é muito irritante.
— Mas Airen faz isso o tempo todo.
— Isso tornaria a coisa menos irritante? Se algo é irritante, continua sendo irritante, não importa quantas vezes eu veja.
— Por favor, pare de falar mal do meu irmão — disse Kiril.
— Sim. Por que está tão rabugento, filho? — acrescentou Kaya.
— Que comportamento feio, filho. Sentir inveja não lhe trará nada — disse Phillip.
— Ninguém vai ficar do meu lado…? — perguntou Brett com um suspiro, balançando a cabeça.
Ele então olhou ao redor.
— O quê? O que está acontecendo?
— O lorde e a senhora…
— Aconteceu algo ruim com eles?
Embora o concerto tivesse terminado, o público não podia sair, preocupado com seu querido lorde e sua família.
“Deixe-me pedir desculpas ao gerente do salão de concertos primeiro…” refletiu Brett, lembrando-se do que ouvira de Ian antes.
Quando um espadachim poderoso se perde dentro da própria mente, é necessário controlar o ambiente ao redor.
Se qualquer perturbação ou choque físico interromper sua epifania… pensou Brett.
Se ele algum dia tivesse a chance de se tornar um mestre espadachim e alguém arruinasse esse momento ao perturbá-lo… provavelmente nunca perdoaria essa pessoa, a menos que fossem seus pais ou Judith.
Brett rapidamente avaliou a situação. Ele falou com o gerente para cancelar o concerto e liderou a plateia para sair do prédio em silêncio.
Apesar da curiosidade, as pessoas seguiram bem suas instruções. Graças à cooperação delas, ele e os outros puderam observar Airen em paz.
— O que devemos fazer agora? — sussurrou Phillip.
— Acho que podemos falar normalmente. Airen não reagiu à música nem aos aplausos. Ainda assim, segundo o Diretor Ian, precisamos ter muito cuidado para não perturbar seu corpo, já que tanto sua mente quanto seu corpo estão passando por uma transformação — explicou Brett.
— Entendo. Devemos protegê-lo, então?
— Vamos chamar os cavaleiros…
— Não precisaríamos chamar os cavaleiros — disse Brett antes de acrescentar: — Eu o protegerei como seu melhor amigo e o espadachim mais poderoso da propriedade.
— O que foi? — perguntou Brett.
— Estamos apenas impressionados que você consiga dizer coisas tão embaraçosas em voz alta — disse Phillip.
— Bem, estou apenas dizendo a verdade, então não há motivo para vergonha.
Phillip não retrucou, apenas olhou para seu filho com orgulho, impressionado por ele demonstrar tamanha cavalaria, mesmo que seu amigo o tivesse superado.
“Fiquei preocupado quando você era mais novo, mas vejo que cresceu bastante”, pensou Phillip.
Ele engoliu em seco, escondendo a emoção crescente e tentando não chorar. Após se acalmar, acenou silenciosamente com a cabeça, quando Lulu se manifestou.
— Eu também vou ficar — disse a gata.
— Eu também — disse Kiril.
Brett assentiu. Elas também eram tão próximas de Airen quanto ele. Portanto, não havia razão para impedir essas talentosas feiticeiras.
Mas Lulu e Kiril pareciam ter outra ideia.
— Brett, observe Airen com atenção — disse Lulu.
— Hã? Claro que vou observá-lo… — respondeu Brett.
— Não é só por ele. Observá-lo pode ajudá-lo a crescer também — explicou Lulu seriamente, enquanto Brett o encarava com dúvida.
— Feiticeiros também têm epifanias. Na verdade, temos até mais frequentemente que os espadachins, porque emoções, determinação e confiança importam muito na feitiçaria. E quando um feiticeiro atinge uma epifania, isso inspira outro feiticeiro… porque, claro, inspira. Você está vendo alguém crescer.
— Não sei muito sobre espadas. Não sou uma espadachim, afinal. Mas se você tentar perceber algo—mudanças físicas, alterações na aura, ou qualquer outra coisa—pode ser que também consiga superar a si mesmo…
Com isso, Lulu silenciou.
Ninguém disse nada. A postura de Brett mudou imediatamente após ouvir o conselho da gata.
Os que estavam ao seu redor observaram em silêncio. Nem os Lloyds nem Kiril disseram nada.
— Certo… Isso é encorajador — disse Brett com uma risada.
Para ser honesto, ele sentia inveja de Airen. Seria tolice fingir que não estava. Começava a se sentir como Judith ao ver seu amigo crescer além de sua imaginação.
Agora, esse sentimento havia mudado para empolgação.
— Você vai ficar também, certo? — perguntou ele com um aceno.
— Lance?
— Ah, desculpe. Estava pensando em outra coisa… Claro que vou ficar — respondeu Lance Patterson com um sorriso.
No entanto, apesar do sorriso, ele não se sentia tão animado. Forçando-se a sorrir, ele se perguntou: “Como isso é possível?”
Ele não conseguia entender Airen. Nunca entenderia Airen, que crescia não por meio de treinamento ou batalhas, mas descansando e ouvindo música. Também não conseguia entender Brett, Lulu e Kiril. Para Lance, eles eram tão enigmáticos quanto Airen. Afinal, como podiam não sentir inveja? Como podiam sentir empolgação ao vê-lo crescer? Eram gênios que ele jamais alcançaria.
— Claro, eu vou ficar — respondeu Lance com um sorriso ainda maior, escondendo seus verdadeiros sentimentos no fundo do peito.
Airen Farreira abriu os olhos, ou melhor, o olho de sua mente.
Despertando no meio de sua paisagem mental, ele não olhou para a espada de aço nem para o fogo ardente, mas sim para o buraco profundo e escuro.
“Que escuridão”, pensou.
O buraco estava cheio de emoções negras e pútridas. Elas não eram tão quentes nem tão deslumbrantes quanto o fogo, mas se agarravam a ele com peso.
Olhar para a escuridão quase o deixou tonto. Segurando a cabeça girando, Airen ergueu o olhar. Uma nova energia começou a fluir de fora para dentro.
Tec, tec…
Água fresca e límpida escorreu de alguém para sua mente. Ela gotejou em direção ao buraco e começou a purificar as emoções pútridas.
O corpo de Airen também começou a mudar.
Swoosh…
As emoções reprimidas após cinco anos preso na barreira mágica, o cansaço de sua jornada alegre, mas exaustiva, e a ansiedade acumulada que ele não conseguira dissipar completamente na barreira escura desapareceram.
As emoções antigas de Airen evaporaram em uma nuvem negra, embora ele próprio não percebesse. Em vez disso, concentrou-se no buraco se preenchendo e na água clareando sua mente.
Quando abriu os olhos, haviam se passado três dias desde que ele chegara ao salão de concertos.
— Você acordou? — perguntou Brett.
— Ele acordou — disse Lulu.
— Ele acordou — repetiu Kiril.
— De fato — disse Lance.
Airen olhou para cima, surpreso. Brett, Kiril, Lulu e Lance estavam todos ao seu redor. Ele estava prestes a perguntar o que estava acontecendo quando Brett o interrompeu.
— Como deve ter percebido, você teve uma epifania enquanto ouvia música — explicou ele.
— Vimos a aura emanando do seu corpo. Eram cores bem variadas. Prata, vermelho, azul… e preto. Não tinha um cheiro muito agradável, mas ficamos ao seu lado. Kiril, Lulu e Lance ficaram com você o tempo todo.
— Eu… — murmurou Airen.
— Desculpe. Só estou um pouco irritado por você ter ganhado tanto enquanto eu não aprendi nada. Perdoe minhas palavras duras — disse Brett.
— Ele tem razão. Você deveria perdoá-lo — acrescentou Lance.
Airen sorriu sem jeito, entendendo por que seus amigos ficaram com ele.
“Eles me protegeram da mesma forma que os outros fizeram quando Ignet teve sua epifania.”
— Obrigado, pessoal… — disse Airen, levantando-se.
Brett estava prestes a soltar mais uma provocação, mas se conteve ao perceber a sinceridade de Airen.
— Muito obrigado. Eu sabia o quanto vocês se importavam comigo… Eu realmente sabia… Então, eu não deveria tê-los considerado garantidos. Eu deveria ter expressado mais meus sentimentos… E-Eu sinto muito por estar divagando… — Airen começou a tagarelar.
Ele queria dizer que foi graças ao esforço deles que conseguiu superar suas emoções reprimidas. Queria prometer que se tornaria um amigo e irmão melhor. No entanto, seus pensamentos permaneceram dentro de sua mente.
— Não fique envergonhado. Eu sei o que você está tentando dizer — disse Brett, incapaz de suportar o clima constrangedor.
Ainda assim, um sorriso discreto surgiu em seu rosto, assim como nos de Kiril e Lulu. Os três observavam Airen sorrindo. Perceber que Airen os amava tanto quanto eles o amavam não era uma sensação ruim, por mais embaraçosa que fosse.
Mas não podiam ficar parados para sempre. Afinal, estavam curiosos.
— Então, o quanto mais forte você ficou? — perguntou Lulu.
— Hã? — ecoou Airen.
— Não é como se você pudesse explicar que tipo de epifania teve. Então, pelo menos nos mostre seu manuseio da espada. Ou poderia invocar sua Aura da Espada.
— Ah…
Airen assentiu. Ele também estava curioso. Sentia-se diferente. Também sentia que havia ficado mais forte, embora não soubesse o quanto. Bem, era hora de descobrir.
Woooosh!
— O quê? O que está acontecendo? — perguntou Kiril, nervosa, ao ver a expressão de Airen mudar.
Algo devia ter acontecido. O resto do grupo e alguns soldados que aguardavam olharam ao redor, apreensivos.
“Eles nem estão tentando esconder”, pensou Airen, sentindo a energia demoníaca preenchendo o espaço.
Sentindo-se mais forte do que há alguns dias, ele cerrou os punhos.
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