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    Boom!

    Incapaz de bloquear o segundo ataque de Airen, o diabo estátua deslizou pelo chão antes de colidir contra a parede, deixando um rastro profundo na terra.

    Boom!

    O estrondo ensurdecedor e a vibração pareciam sacudir toda a caverna. Sob a nuvem de poeira, magma vermelho-sangue escorria lentamente.

    Apesar dos danos extremos, o diabo estátua estava ileso, tinha outra oportunidade de vencer.

    Woosh…

    Como os outros diabos antigos, o diabo estátua construiu seu covil para acumular poder. No entanto, o labirinto meticulosamente projetado para induzir desespero nos humanos havia sido reduzido a escombros. Esses destroços eventualmente se dissolveram em energia demoníaca e retornaram ao corpo do diabo.

    Crack, crrack…

    Em questão de segundos, o diabo estátua retornou à sua forma original. Mas sua expressão havia mudado.

    “O que diabos está acontecendo?”, pensou, encarando o espadachim loiro, incrédulo.

    Embora não fossem humanos, os diabos tinham grande interesse nos humanos. Assim, o diabo estátua percebeu facilmente que o espadachim era bastante jovem. Apesar de pertencer a uma raça diferente, uma criatura demoníaca podia discernir a idade humana apenas observando o corpo.

    “Ele tem, no máximo, trinta anos… Eu diria que está na casa dos vinte e poucos…”, refletiu o diabo.

    — Hah — bufou.

    Isso não podia ser real. Por mais rápido que os humanos envelhecessem, não havia como um humano tão jovem possuir tamanho poder, ou assim pensava.

    Agora, diante do jovem loiro, portador de uma espada larga que brilhava como seu cabelo, o diabo sentiu seu senso comum ruir.

    — Whew… — suspirou.

    Crack, crrrack…!

    Dentre as muitas maneiras de torturar humanos, sua favorita era o combate.

    Esvaziando a mente, respirou fundo. Com cada inspiração e expiração, seu corpo se tornava mais denso, mais feroz.

    Airen observou em silêncio e, ao sentir que seu oponente estava pronto, avançou como um raio.

    Rrrrrip!

    Com um som horrível de rasgo, Airen avançou e cortou sua espada horizontalmente. Embora o movimento o fizesse perder o equilíbrio, ele não se importou. Afinal, era seu oponente quem precisava se preocupar.

    Crash!

    — Argh! — gemeu o diabo quando seu enorme braço negro trincou como uma teia de rachaduras.

    Mas aquilo era apenas o começo.

    Prendendo a respiração, Airen deu um passo firme. Enraizado ao solo, atacou sem piedade.

    Crash! Boom! Boom!

    — Ugh…! — Ah, aargh…

    Direita, esquerda, esquerda, direita, cima, baixo…

    Airen atacava com tamanha ferocidade que quase parecia desajeitado. Seus movimentos usuais, precisos e controlados, haviam desaparecido. No entanto, sua estratégia funcionava com perfeição.

    Espancando o indefeso diabo estátua, Airen teve uma realização.

    “Meu corpo está diferente.”

    Apenas três dias atrás, ele acreditava que seu corpo havia atingido o limite. Qualquer crescimento adicional dependeria apenas de sua espada e sua aura, ou assim pensava.

    Agora, percebia que isso não era verdade. Parecia que os resíduos em seus músculos e articulações haviam derretido. Sentia-se tão renovado quanto um recém-nascido, mas sem perder sua técnica refinada. Sentia-se perfeito.

    Com a sensação de renascimento, Airen balançou sua espada e seu braço, testando os limites de seu novo corpo.

    Boom!

    — Ugh!

    Queimando de determinação, Airen desferiu outro golpe.

    O diabo estátua, que até então conseguia se manter de pé, cuspiu magma enquanto recuava. Mas Airen não lhe deu trégua.

    Crack!

    Avançando com força, ele desferiu outro golpe pesado.

    Boom!

    Ele não estava atacando apenas com seus músculos. Cada movimento de Airen estava impregnado com seu conhecimento da espada e com a aura que cultivara ao longo dos anos. Sem obstáculos físicos ou mentais, desferiu mais dois golpes ainda mais poderosos.

    Um som diferente ecoou.

    Craaaack!

    Não era o som de metal se chocando contra pedra, mas sim cortando através dela.

    Puxando sua espada para trás, Airen ergueu o olhar e viu o diabo estátua—duas vezes maior que ele, partido ao meio. No entanto, não baixou a guarda.

    Diabos eram diferentes dos humanos. Embora fossem influenciados e até lembrassem os humanos, não morriam apenas por serem cortados ao meio.

    Decidindo que cortaria o diabo em pedaços minúsculos se fosse necessário, Airen avançou novamente.

    Apesar de seus longos pensamentos, quase nenhum tempo havia se passado. O torso do diabo ainda caía no ar quando Airen o chutou bem no centro.

    Crack!

    Crack, crack…

    Pssss…!

    No instante em que o pé de Airen pousou sobre o torso do diabo, ele se desfez em pó.

    Franzindo a testa, Airen se virou apenas para ver que a parte inferior do corpo do diabo também havia se desintegrado em questão de segundos. Até mesmo o magma se dissolvera no solo. A ansiedade desagradável persistiu enquanto Airen aguçava seus sentidos, preparando-se para um possível contra-ataque.

    Foi então que o diabo reapareceu, não ao seu lado, mas junto a Brett Lloyd, que estava mais afastado.

    Airen chutou o chão com força ao ver o inimigo avançar contra Brett.

    Crack!

    Movendo-se como o próprio espírito do vento, Airen atravessou o espaço. Infelizmente, o diabo foi um instante mais rápido. Aproveitando a fração de momento em que Airen perdeu o foco, ele se transformou em névoa. Ele sorriu.

    Não tomaria o espadachim de cabelos azuis como refém. O diabo podia ver em seus olhos que não havia barganha possível. Em vez disso, o mataria de forma cruel.

    O diabo estendeu suas garras malignas em direção ao espadachim quando…

    Swoosh!

    Brett Lloyd não era tolo. Ele sabia perfeitamente que era o calcanhar de Aquiles do grupo. Também sabia que não poderia ajudar Airen a derrotar o diabo. Ainda assim, insistiu e não recuou. Apesar de sempre ter sido calmo e racional, escolheu voltar a esse covil perigoso.

    Primeiro, porque sabia que nunca superaria seus próprios limites se sua vida não estivesse em perigo.

    Pssss…

    Segundo, porque tinha certeza de que não perderia essa batalha.

    “Vamos confiar em mim mesmo”, pensou Brett, erguendo sua espada da mesma forma que fizera milhares, talvez milhões de vezes.

    Dessa vez, no entanto, foi perfeito.

    Com seus cabelos azuis esvoaçando atrás dele, pensou: “Venha”, convidando simultaneamente o diabo que avançava e encorajando seu próprio eu interior.

    Ao mesmo tempo, rezava pelo poder que ainda lhe escapava. Quando o desejo de Brett encontrou seu desespero, a situação se inverteu.

    Woooosh!

    Não era tão brilhante quanto o de Airen, nem tão elegante quanto o de Illia, nem tão feroz quanto o de Ignet. Mas Brett não se importou ao desenhar sua Aura da Espada, uma energia azul cintilante como a água.

    Crash!

    A onda se chocou.

    — Mas que diabos… — gritou o diabo em sua forma de névoa.

    Mas não conseguiu terminar a frase, pois a implacável aura azul o lançou para trás.

    Isso, é claro, não foi suficiente para derrotá-lo. O diabo se preparou, tentando encontrar o momento certo para romper a aura e cravar suas presas no pescoço de Brett. No entanto, seus planos foram em vão.

    Woosh!

    Kiril Farreira, a prodígio de Cezar, invocou seu escudo de feitiçaria e empurrou o diabo para longe.

    Diring!

    Lulu, a feiticeira travessa, criou uma barreira e o afastou novamente.

    O diabo não desistiu, lutando para tirar a vida de Brett até seu último momento. Se debatia e se debatia em vão até que a espada larga de Airen o dissipou junto com a névoa.

    K-ssshhh…!

    — Aaaaargh! — gritou o diabo.

    Embora Airen tivesse compreendido a espada da água, sua lâmina ainda sólida queimava mais ferozmente do que nunca. Afinal, ele não buscara a água para extinguir tudo. O fogo servia para forjar o metal. A água servia para resfriar o fogo.

    Recuperando o equilíbrio, Airen Farreira abaixou sua espada larga.

    Woosh!

    A espada radiante do herói desapareceu, assim como o escudo prateado de feitiçaria que obstruía o diabo e a intricada barreira em forma de rede conjurada por Lulu… junto ao diabo estátua.

    No entanto, a arma de Brett permaneceu.

    — Haa… haa… — ofegou ele, antes de olhar para o cabo e a lâmina de sua espada.

    Ergueu o olhar mais alto, contemplando o que buscara desesperadamente: a aura azul suave e fluida, o símbolo de um mestre espadachim. Brett engoliu em seco e voltou-se para Kiril. Ela parecia diferente, não lançava provocações nem respostas afiadas. Lulu, a brincalhona, também parecia diferente. Assim como Airen Farreira, seu amigo e rival.

    Com orgulho e afeto, ele disse:

    — Parabéns.

    — Você agora é Brett Lloyd, o mestre espadachim — disse Airen, enquanto uma lágrima escorria dos olhos de Brett.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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