Capítulo 235: Provando a Si (2/5)

— Temos que pegá-lo! — gritou Brett ao invocar sua Aura da Espada.

Wooosh!

Sem olhar para trás, ele começou a perseguir o diabo, ou o que restava dele. De forma alguma estava orgulhoso por fazê-lo fugir.

“Quem sabe o que pode acontecer se o deixarmos escapar?!”, pensou.

Ele e os outros ali talvez fossem fortes o bastante, física e mentalmente, para resistir à maldição do diabo, mas as pessoas comuns não eram. Por mais enfraquecido que o diabo estivesse, ele ainda poderia causar um grande estrago entre as pessoas comuns. Ele precisava impedi-lo de entrar em qualquer vila dentro dos domínios dos Lloyd.

Brett correu ansiosamente.

— Temos que ir também! — disse Kiril.

— Sim! — respondeu Lulu, juntando-se a Kiril e Brett. Os dois também pareciam apreensivos. No entanto, Airen Farreira não se moveu.

Ele estava focado na direção para onde o diabo ia, ou talvez em algo ainda mais distante.

Os sentidos aguçados de Airen lhe diziam que tinham um recém-chegado. Foi então que ele percebeu que nem ele nem Brett tinham motivos para se preocupar. O diabo seria purificado.

Frosh!

Snap!

Frosh!

Uma enorme rede apareceu do nada. Mas não era uma rede comum. Feita de poder sagrado, a teia branca não permitia que nem mesmo um vestígio da energia demoníaca escapasse. Raspando cada partícula de energia maligna, começou a purificar.

— Aaaaaargh! Aaaaargh! — gritou o remanescente do diabo, agonizante.

Mesmo seus gritos não duraram muito. Envolvido por faíscas sagradas e chamas purificadoras, ele foi reduzido ao nada. Brett, Kiril e Lulu engoliram seco ao ver o diabo ser completamente erradicado.

Aquilo era magia sagrada, um poder que apenas os sumos sacerdotes do Reino Sagrado de Arvilius podiam empregar.

“O grupo de extermínio de diabos chegou!”, pensaram, ao verem os homens de vestes brancas sagradas se aproximando.

O silêncio caiu.

Afinal, os cavaleiros sagrados não os olhavam com bons olhos. Brett acreditava saber o motivo. Incapaz até mesmo de saudar seu pai, que estava entre os sacerdotes de Arvilius, ele tentava desesperadamente encontrar uma justificativa.

“É verdade que derrotamos o diabo, mas também ignoramos as diretrizes do reino sagrado…”

De fato, não havia muito que pudesse dizer. Eles também não tinham sido perfeitos, deixando que o remanescente do diabo fosse tratado pelos cavaleiros sagrados.

O rosto de Brett lentamente se fechou. Até mesmo a sempre orgulhosa Kiril e a animada Lulu lançaram olhares discretos aos cavaleiros.

Tap.

Airen foi quem rompeu o clima tenso. Todos se viraram ao vê-lo dar um leve passo à frente. Tanto aqueles que o conheciam quanto os que não o conheciam ficaram hipnotizados por seus movimentos.

Outro silêncio se instalou.

Então, Quincy Meyers, o ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, em sua armadura vermelho-sangue, avançou. Após encarar Airen em silêncio, chamou:

— Airen.

— Sim, senhor — respondeu Airen.

— Você sabe o que estou prestes a dizer?

— Sei, senhor.

— Você está indiscutivelmente cheio de orgulho. Que insolência.

— Apenas acreditei que seria melhor exterminar o diabo o mais rápido possível, já que eu era capaz.

— Sério?

— Sim, senhor.

— Entendo.

— Sim, senhor.

Imediatamente, uma poderosa energia emanou de Quincy. Lulu, agora em sua forma de garota mágica, recuou, enquanto Kiril sacou seu escudo com uma expressão séria. Brett também ativou sua aura para resistir à pressão. Mas o que eles sentiam era apenas uma fração da energia de Quincy.

Os cavaleiros sagrados observavam o jovem herói com admiração enquanto ele permanecia firme diante da imensa força de Quincy. O ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos e líder da Segunda Divisão do Grupo de Extermínio de Diabos desembainhou sua espada.

— Então prove para mim. Mostre que é tão capaz quanto diz ser — exigiu.

— Entendido… — respondeu Airen, no instante em que Quincy bateu o pé no chão.

O solo começou a tremer como se fosse feito de água.

Boom! Boom! Boom!

A cada batida de Quincy, o chão vibrava assustadoramente, como se estivesse prestes a se liquefazer.

Kiril e Lulu buscaram refúgio no ar, enquanto Brett abaixou o corpo para manter o equilíbrio. Airen, por outro lado, permaneceu tranquilo, apesar de estar no centro daquele súbito tumulto.

Os olhos de Quincy brilharam. De fato, Airen não estava apenas mantendo o equilíbrio, mas se portando com serenidade, como se pudesse andar sobre a água sem esforço algum.

Quincy estava prestes a desferir um golpe ainda mais forte quando Airen se moveu.

Thud!

Swish…

E não só isso, ele balançou sua espada imbuída com aura.

Quincy ficou surpreso. Nem mesmo os mais experientes mestres da espada conseguiam lançar aura daquela forma. Era um movimento difícil e extremamente exigente.

No entanto, Airen não parecia minimamente afetado.

Quincy sequer conseguiu focar na expressão de Airen, pois a aura dourada lentamente se espalhou, bloqueando sua visão.

— Hmph! — resmungou Quincy ao rapidamente assumir posição e balançar sua espada.

Com um golpe firme, ele invocou uma tempestade, dissipando a aura de Airen. Parecia que a estratégia do jovem havia falhado. No entanto, ele ainda tinha mais para mostrar.

Boom!

Ele chutou o chão com força, avançando com sua aura como uma onda. Assim como Quincy, o movimento de Airen fez todo o solo tremer, quase derrubando alguns dos sacerdotes.

Airen não prestou atenção a nada além de reunir sua energia, sua aura, sua espada e seu coração. Então, desferiu o golpe vertical mais poderoso contra seu oponente.

Crack!

Crack, craaack!

Quincy Meyers encolheu, ou pelo menos assim pareceu. O chão afundou sob os pés do velho cavaleiro, enquanto seus olhos brilharam.

No entanto, Airen ainda não havia terminado. Cerrando os dentes, ele começou a balançar sua espada incessantemente, como se fosse um porrete. Mas seus golpes estavam longe de serem descontrolados. Livre de obsessões e ansiedades, sua mente estava completamente focada no duelo. Sem desperdiçar nenhuma energia, cada um de seus golpes era poderoso e ao mesmo tempo refinado, forte e ao mesmo tempo fluido. A espada larga do jovem espadachim avançava ferozmente, como se estivesse tentando esmagar uma rocha maciça.

Clang!

Porém, Quincy Meyers não deixou Airen tomar a liderança. Dando um passo para o lado, ele abaixou sua espada, fazendo-a deslizar pela lâmina de Airen e quebrando seu equilíbrio.

Virando o jogo com um movimento astuto, Quincy exalou e começou a atacar incansavelmente, como se estivesse revidando.

Crash! Craaack! Crash!

Golpes pesados caíam como uma rajada branca. Embora branco não fosse exatamente a cor do ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, Airen não podia se dar ao luxo de pensar nisso enquanto se ocupava em bloquear os ataques impiedosos de Quincy.

“Isso não é fácil”, pensou Airen, franzindo a testa.

‘Não é fácil’, era um eufemismo. A lâmina de Quincy o cortaria no menor deslize. E, embora soubesse que Quincy não o machucaria de verdade, os golpes do ex-capitão estavam longe de serem inofensivos. Por isso, Airen desistiu da ideia de apenas resistir e atacar com força bruta.

A energia firme e rochosa de Airen começou a se dissolver como água.

Crash!

Quincy atacou. Embora seu golpe fosse forte, a energia fluida de Airen suavizou o impacto.

Crack!

Outro golpe veio da direção oposta. A espada de Quincy desceu do alto, vinda da esquerda, como se fosse atingir a cabeça de Airen.

No entanto, Airen saltou para trás com agilidade, como a própria água. Ele não estava mais resistindo à força, mas seguindo o fluxo. Enquanto recuava, um sorriso se formou em seu rosto.

Quincy Meyers, no entanto, manteve-se impassível e intensificou seus ataques.

Airen não recuou mais. Com um sorriso, defendeu os golpes de Quincy como se estivesse em transe.

— Haa, haa… — arfou Airen.

Apesar de ter evoluído muito durante sua estadia na propriedade dos Lloyd e no treinamento no covil do diabo-estátua, ele ainda não podia se comparar às habilidades e à aura de Quincy. De fato, havia golpes de Quincy que Airen sequer compreendia. Qualquer um que não soubesse que Quincy era um cavaleiro sagrado poderia acusá-lo de estar trapaceando.

“Se Quincy não tivesse pegado leve comigo, eu teria caído há muito tempo. Ainda tenho um longo caminho a percorrer, não tenho?”, pensou Airen.

Ao sentir a grande disparidade entre ele e um dos dez homens mais poderosos do continente, uma paixão ardente cresceu dentro dele. No entanto, esse fogo não o consumia, sua água interior o protegia.

Quincy Meyers, Capitão da Segunda Divisão do Grupo de Extermínio de Diabos, percebeu que Airen possuía um equilíbrio entre a paixão ardente da juventude e a serenidade madura. Sempre calmo, ele recolheu sua espada e chamou:

— Airen Farreira.

— Haa… whew… Sim, senhor — respondeu Airen.

— Junte-se ao grupo de extermínio — disse Quincy.

Os amigos de Airen e os membros do grupo olharam surpresos.

Porém, o choque não durou muito. Os anciãos começaram a assentir em compreensão. A missão de Julius Hule ou a aprovação de Khun não importavam mais. Eles e Quincy Meyers haviam visto com seus próprios olhos do que Airen era capaz. Aquele não era um jovem buscando se tornar um herói, era um herói de fato. Então, quem poderia dizer que ele não deveria se juntar ao grupo?

Porém…

— Obrigado. E… me desculpe — disse Airen Farreira, contrariando as expectativas de todos.