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    — Precisamos dar-lhe uma advertência severa e garantir que ele nunca aja sozinho novamente, mesmo que precisemos ser duros.

    Darin Holten, membro da Segunda Divisão do Grupo de Extermínio de Diabos e um dos maiores usuários de magia sagrada, recordou-se de suas palavras antes de vir até ali.

    Naquele momento, não tinha escolha. Afinal, estavam falando de um jovem espadachim que ainda nem tinha chegado aos vinte e cinco anos. Mesmo que fosse um mestre da espada, não poderia enfrentar diabos poderosos, embora pudesse eliminar alguns demônios.

    Agora, sua opinião havia mudado completamente.

    Um diabo! Não, um remanescente do diabo!

    Alguém já derrotou o diabo!

    O remanescente do diabo está fugindo! Como isso é possível…?

    O diabo em questão não era fraco. Sua energia demoníaca era suficiente para transformar a água azul sagrada em um vermelho escuro. A maioria dos mestres sequer teria uma chance contra ele. No entanto, ali estava um jovem que não apenas exterminou tal diabo, mas o fez fugir de medo.

    Darin logo compreendeu o motivo ao testemunhar o duelo entre Quincy Meyers e Airen Farreira. Ele não teve escolha senão admitir que o jovem espadachim estava certo. O rapaz não estava agindo de forma imprudente, mas confiante.

    “Ele está pronto”, pensou Darin ao olhar ao redor, observando os cavaleiros sagrados já avançados em idade. Apesar de terem se aposentado há tempos, pareciam tão poderosos quanto sempre foram. Seus corpos podiam estar envelhecidos, mas sua incrível aura e poder sagrado compensavam qualquer deficiência. Cada um deles era tão forte quanto um herói lendário.

    No entanto, Airen não ficava atrás. Sua energia era tão estável e equilibrada quanto a dos veteranos.

    — Obrigado. E… devo pedir desculpas — disse Airen.

    — O que quer dizer? — perguntou Quincy.

    — Gostaria de adiar minha entrada no grupo de extermínio.

    — Por quê?

    — Porque percebi minhas próprias deficiências.

    Darin Holten, o sumo sacerdote, duvidou de seus ouvidos. “Deficiências? Quem poderia dizer que esse jovem carecia de algo?”

    “O que diabos…?”, pensou, incrédulo, enquanto avançava com o cenho franzido.

    Claro, ele conseguia entender de onde Airen vinha. Todos os cavaleiros sagrados presentes eram algumas das figuras mais poderosas e respeitadas do continente. Era natural que o jovem quisesse demonstrar humildade.

    “Mas humildade em excesso pode ser prejudicial”, pensou Darin, balançando a cabeça.

    O mundo estava mergulhado na escuridão, enfrentando um caos sem precedentes. Eles não tinham tempo para lidar com palavras. Darin estava prestes a repreender Airen e exigir que ele se juntasse ao grupo quando Quincy ergueu a mão, interrompendo-o.

    — O que lhe falta? — perguntou o ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos, num tom seco, enquanto Darin tentava conter sua irritação.

    Por mais impassível que fosse, Quincy ainda era uma figura imponente. Ele precisava saber o motivo. Afinal, aquele era o mesmo jovem que, meses atrás, suplicava para se juntar ao grupo. Alguns poderiam acusá-lo de não levar Quincy ou o reino sagrado a sério.

    No entanto, Airen manteve-se firme. Depois de conversar com Phillip Lloyd, percebeu que vinha negligenciando aqueles que lhe eram mais próximos. Não havia prestado atenção às pessoas mais preciosas de sua vida.

    “Ideais são grandiosos, mas devo ser mais fiel àqueles ao meu redor”, pensou.

    Antes de se tornar um herói que salvaria o continente, queria ser um bom filho. Antes de exterminar o diabo, queria ser um bom irmão para Kiril. Queria ser um bom amigo e um estudante dedicado. Airen percebeu que, apenas depois de cumprir seus deveres para com aqueles que amava, teria o direito de se juntar ao Grupo de Extermínio de Diabos.

    “Não, ainda não é tarde demais”, pensou, enquanto explicava tudo a Quincy e relembrava seu passado.

    Ele era um desastre. Mas nunca era tarde demais para mudar. Encontrou uma oportunidade mesmo após desperdiçar dez anos de sua vida deitado em uma cama, assim como conseguiu restaurar seus laços com seus entes queridos depois de passar cinco anos preso em uma barreira mágica. Isso não era diferente.

    Airen olhou para o capitão do grupo de extermínio com determinação.

    — Mais uma vez, me desculpe. Mas não acredito que possa me juntar ao grupo por esse motivo… — disse.

    — Em troca, retornarei como um homem mais forte.

    Crash!

    Cravando sua espada larga no chão, Airen jurou lealdade enquanto Quincy Meyers e os outros observavam em silêncio.

    Nem os cavaleiros sagrados, muitos com quase cem anos de idade, nem Darin Holten, em seus setenta, conseguiram refutar as palavras do jovem. No entanto, nenhum deles se sentia incomodado com sua resposta.

    — Que tal descansarmos em minha propriedade, já que o diabo foi derrotado? Lá, podemos continuar esta conversa — sugeriu Phillip, quebrando o silêncio.

    O capitão hesitou por um momento antes de assentir. Embora sua expressão continuasse impassível, era evidente que havia suavizado.

    A expedição contra o diabo terminou assim, com uma nota esperançosa.


    — Subestimei Airen — murmurou Quincy Meyers, enquanto saboreava seu chá e observava os membros do grupo.

    Os outros concordaram. Os anciãos assentiram, recordando as palavras de Airen Farreira.

    “Passamos pela mesma coisa”, refletiram.

    Um dia, também viveram em constante autoflagelação, convencidos de que deveriam seguir as palavras divinas e sustentar a ordem sagrada. Mas, eventualmente, perceberam que não podiam se perder em ideais grandiosos ao ponto de negligenciar o presente. Afinal, o divino não queria que os humanos passassem seus dias em sofrimento.

    Por isso, a resposta de Airen os surpreendeu. O jovem não apenas decidiu perseguir um ideal maior do que ele próprio, mas também compreendeu a importância de focar no presente.

    Era como se ele já tivesse vivido outra vida antes.

    — Uma pena, mas o que podemos fazer? Teremos que nos esforçar um pouco mais — murmurou um velho.

    — De fato. Também não estamos em uma situação tão desesperadora a ponto de precisar da ajuda de um jovem tão cedo — respondeu outro.

    Claro, ainda sentiam um pouco de desapontamento. A situação não era tão esperançosa quanto tentavam fazer parecer. Investigações minuciosas e relatórios recentes indicavam que o diabo bufão possuía mais subordinados do que jamais imaginaram. Esses asseclas estavam espalhados por todo o continente, assim como diversos demônios sem ligação direta.

    Até agora, nada sério havia acontecido. A menos que todos esses demônios despertassem ao mesmo tempo e causassem o caos, os três grupos de extermínio poderiam lidar com a situação com o apoio dos reinos.

    É claro que Airen Farreira seria de grande ajuda, mas…

    “O jovem que carrega o futuro do continente sobre os ombros está pedindo mais tempo para crescer…”

    “Não há como reclamarmos disso como seus anciãos…”

    Os velhos sorriram. No início, realmente acreditavam que Airen não poderia melhorar muito mais. Ele já havia atingido um nível altíssimo considerando sua idade. Se fosse crescer ainda mais, levaria pelo menos uma década. Afinal, o progresso só se tornava mais difícil com o tempo.

    No entanto, estavam enganados. Airen ainda estava crescendo. Ninguém conhecia o limite de seu potencial.

    Os veteranos da Segunda Divisão estavam imersos em pensamentos esperançosos quando alguém bateu à porta.

    — Posso entrar? — perguntou uma voz.

    — Entre — respondeu Quincy.

    Mesmo antes de o jovem entrar, Quincy sabia quem era: Brett Lloyd, uma das promessas da Academia de Esgrima Krono e filho do respeitado Phillip Lloyd.

    Os velhos ergueram os olhos, curiosos. O jovem de cabelos azuis fez uma reverência respeitosa antes de se voltar para o ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos.

    — Se me permite, gostaria de pedir para duelar com o senhor — disse Brett.

    — Sei o quão insolente isso pode parecer, já que está prestes a partir após uma noite de descanso. Também sei que ainda sou insuficiente, mas…

    O futuro lorde da Casa Lloyd não podia deixar aquela oportunidade escapar. Respirando fundo, Brett explicou-se. Um diabo havia aparecido em sua propriedade. Apesar de sempre ter acreditado que poderia enfrentar qualquer um de cabeça erguida, sentiu um desespero avassalador. Embora conseguisse esconder seus sentimentos, seu coração vacilava como nos dias do exame final da academia.

    Mas ele não cedeu. Entrou no covil do diabo-estátua ao lado de Airen, mesmo conhecendo suas próprias limitações, e finalmente rompeu seus limites. Desde então, podia sentir-se ficando mais forte a cada dia.

    No entanto, Brett não estava satisfeito.

    — Não ouso pedir para me juntar ao grupo — disse Brett.

    — Mas quero ser forte o suficiente para proteger meu povo contra qualquer diabo até que a ajuda do Reino Sagrado chegue. Então, por favor…

    Brett ergueu o rosto e encarou o líder dos cavaleiros sagrados com olhos ardentes. Não havia desafio ou ansiedade em seu olhar. Quincy reconheceu imediatamente a dignidade de um nobre — algo que muitos outros haviam esquecido.

    — Hmm — Darin Holten gemeu, desconfortável.

    Airen Farreira era uma exceção. Mas o que um jovem poderia aprender duelando contra o ex-Capitão dos Cavaleiros Vermelhos? Seria como se um mestre tentasse ensinar um bebê a brandir uma espada.

    No entanto, a resposta de Quincy silenciou imediatamente seus pensamentos.

    — Há quanto tempo você se tornou um mestre? — perguntou o ex-capitão.

    — Faz menos de um mês — respondeu Brett.

    — Nada mal. Siga-me — convidou Quincy.

    — Sim, senhor — respondeu Brett.

    Darin e os outros sumo sacerdotes observaram, atônitos. “Mestre da espada? Aquele jovem de vinte e um anos?!”

    Enquanto os sacerdotes estavam perplexos, os cavaleiros veteranos dos Inquisidores abriram sorrisos e seguiram Quincy Meyers. Mas não pararam por aí.

    — Nada mal… — sussurrou um dos velhos cavaleiros ao líder.

    Com um leve aceno, o Capitão da Segunda Divisão voltou-se para Brett.

    — Estarei esperando por você no maior campo de treinamento. Venha com Airen — convidou.

    — Sim, senhor — respondeu Brett.

    Mas Quincy ainda não havia terminado.

    — Eu lhe ensinarei a espada do Reino Sagrado — declarou o velho cavaleiro.

    Brett mal podia acreditar no que ouvia.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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