Índice de Capítulo

    — Venha comigo — disse Brett Lloyd ao interromper a conversa entre Airen, Lulu e Kiril. Ele parecia bastante animado, então Airen não se preocupou em fazer perguntas e apenas o seguiu. Kiril também deixou os dois irem sem muitas reclamações.

    Então, Quincy Meyers e os membros dos Inquisidores apareceram diante deles, todos sorrindo com suas espadas desembainhadas. Antes que Airen pudesse perguntar qualquer coisa, Quincy falou:

    — Não precisam pensar nisso como uma aula sobre a esgrima do Reino Sagrado — disse ele.

    — Isso só os deixaria nervosos. Apenas encarem isso como… cinco velhos mostrando seus caminhos aos mais jovens. Ambos devem ter seus próprios estilos como mestres. Portanto, não precisam se prender ao nosso modo de fazer as coisas. Absorvam o que precisarem. Isso é tudo.

    Percebendo o que estava prestes a acontecer, Airen encarou Brett em silêncio. Ele havia pensado que seu amigo estava sendo misterioso. Então era isso que estava acontecendo.

    “Os cavaleiros sagrados já ensinaram suas técnicas a um forasteiro?”, perguntou-se Airen.

    Embora não pudesse afirmar que isso nunca tivesse ocorrido, certamente era uma oportunidade rara.

    Agora, ele tinha a chance de aprender. O coração de Airen disparou. Ele havia recusado participar do grupo de ataque para poder focar em seus entes queridos em vez de seus objetivos. No entanto, isso não significava que não quisesse treinar. Afinal, ser um bom filho e amigo não significava que tinha que abrir mão de ser um bom espadachim.

    “Na verdade, preciso focar no treinamento se quiser ser um bom aluno”, pensou Airen, sorrindo involuntariamente ao perceber sua própria paixão pela espada.

    — Obrigado, senhor! — gritaram Airen e Brett. Quincy assentiu e puxou sua Aura da Espada branca.

    — Os cavaleiros do Reino Sagrado possuem mais aura do que os espadachins de outros reinos. Sabiam disso? — perguntou ele.

    — Sim, senhor — respondeu Brett.

    Para ser exato, os cavaleiros sagrados não possuíam mais aura. Em vez disso, conseguiam usar seu poder sagrado como se fosse aura. Por isso, os cavaleiros de Arvilius frequentemente tinham vantagem contra espadachins do mesmo nível.

    No entanto…

    — Embora essa vantagem ajude no nível de especialista, é inegavelmente poderosa no nível de mestre. O que os Inquisidores e eu mostraremos agora são estilos de espada desenvolvidos especificamente para espadas de aura — explicou Quincy.

    — Como é? — perguntou Brett, surpreso.

    “Existe um estilo de espada que exige ser um mestre para ser usado… e estamos prestes a aprendê-lo?” — pensou ele.

    Mas não teve tempo para se recompor, pois a Aura da Espada de Quincy começou a vibrar exatamente como a de Ignet no covil do diabo bufão.

    Airen engoliu em seco, recordando o ocorrido, quando Quincy disse calmamente:

    — Absorvam isso em seus corações, mesmo que não consigam reproduzi-lo agora.


    A esgrima do Reino Sagrado era única. Airen podia entender por que ser um mestre era o requisito mínimo. Cada movimento era impossível para alguém que não conseguisse invocar uma Aura da Espada. Os cavaleiros sagrados comprimiam ainda mais suas espadas de aura até transformá-las em uma esfera antes de dispará-las. Isso já era difícil por si só, mas eles ainda aceleravam o ritmo, as faziam explodir ou até lançavam golpes curvados. Airen não conseguia imaginar-se executando tais movimentos.

    Os cavaleiros não estavam apenas espalhando sua aura. Estavam espalhando uma aura concentrada tão densa quanto uma Aura da Espada.

    “Eles usam uma quantidade absurda de aura! Se eu desperdiçar até mesmo um pouco da minha energia, ficarei esgotado depois de alguns golpes”, pensou Airen.

    Mas quando os cavaleiros mostraram como criar uma barreira de aura girando suas espadas, Airen sentiu que havia chegado ao seu limite. Ele não conseguia executar aquele movimento mais do que duas vezes.

    “Preencher toda a área com aura concentrada! Que técnica brutal!”

    No entanto, essa técnica poderia virar o jogo em batalha, então ele não podia simplesmente descartá-la como algo desperdiçador. Airen se viu completamente imerso na forma como o Reino Sagrado utilizava a aura e as espadas.

    É claro que, por não possuir tanta aura quanto os cavaleiros idosos, ele precisou fazer muitas pausas.

    — Haa, haa, haa…

    Porém, Airen ainda se saía muito melhor do que Brett Lloyd, que havia se tornado mestre há apenas um mês. Nascido em uma família prestigiada, Brett tomara muitos elixires. No entanto, ficava atrás de outros mestres espadachins comuns. Ele sequer conseguia concentrar sua aura na ponta da espada, muito menos tentar criar uma barreira de aura. Airen olhou para seu amigo com preocupação, temendo que Brett estivesse se sentindo mal com seu próprio desempenho.

    — Não precisa me olhar desse jeito — disse Brett.

    — Hã? — Airen piscou, confuso.

    — Sou a terceira pessoa mais jovem a se tornar um mestre espadachim no continente. Além disso, preciso lembrá-lo de que me tornei mestre muito mais rápido do que você — disse Brett.

    — Suponho que entenda como se sente ao me ver aprender a esgrima do Reino Sagrado tão rápido, mas… hahaha.

    Airen percebeu que não precisava se preocupar com Brett. Pensando bem, Brett Lloyd era muito mais resiliente do que ele.

    Airen riu e se sentou. Brett acomodou-se ao seu lado. Os Inquisidores já haviam se retirado para seus aposentos após a demonstração.

    — Que sorte a nossa — murmurou Airen no campo de treinamento vazio.

    — O que quer dizer? — perguntou Brett.

    — Quero dizer, pense nisso. Temos tantas oportunidades que os outros nem sequer podem sonhar em ter…

    De fato. Airen teve muitas oportunidades incomuns. Entrou na reverenciada Academia de Esgrima Krono, aprendeu a Arte dos Cinco com os orcs de Drukali, que geralmente desconfiavam de forasteiros, e treinou a Espada da Mente com Ignet, o grande prodígio do continente. Agora, ali estava ele, praticando técnicas de aura do Reino Sagrado. Chamá-lo apenas de ‘sortudo’ não fazia jus à realidade.

    No entanto, Brett parecia discordar. Ele balançou a cabeça lentamente.

    — Não acho que seja esse o caso — disse ele.

    — Hã? — Airen ergueu as sobrancelhas.

    — Você não teve essas oportunidades por sorte. Eu, Illia, Judith e você tivemos essas oportunidades porque as merecemos…

    — Você realmente acredita que aqueles que o ensinaram fizeram isso apenas por bondade, Airen? Isso não é verdade. Você deveria sentir mais orgulho de si mesmo.

    De fato, Brett acreditava que, se Airen não fosse tão diligente, talentoso e gentil, os outros não teriam mostrado tanta generosidade com ele.

    O mesmo valia para Brett. No início, ele quase sentiu irritação ao ver a espada de Quincy Meyers. Por que um cavaleiro perderia tempo mostrando truques tão difíceis para alguém que acabara de se tornar um mestre e que, claramente, não conseguiria replicá-los? Quincy estava zombando dele? Mas, ao refletir melhor, Brett percebeu que não era isso. Quincy acreditava que Brett tinha potencial para aprender aqueles movimentos, mesmo que não conseguisse dominá-los agora. Além disso, confiava que Brett não abusaria desse conhecimento.

    — Então, pode se orgulhar mais. Não encare isso como sorte. Vamos nos dar o crédito por termos conquistado essas oportunidades — disse Brett.

    — Claro, isso não significa que não devemos agradecer aos nossos mestres que nos guiaram. Mas tudo o que precisamos fazer é retribuir o que recebemos.

    — Você tem razão. Vamos agradecer aos cavaleiros sagrados amanhã…

    — Isso também seria bom. Mas… — disse Brett, olhando para Airen e depois para o céu.

    — Acredito que os cavaleiros ficariam mais gratos se retribuíssemos a quem realmente precisa.

    — Se quer saber, acho que essa é minha… não, nossa responsabilidade.

    Airen imediatamente se lembrou de como Brett era quando ainda era um aprendiz. De fato, mesmo naquela época, Brett sempre foi Brett. Por mais orgulhoso que fosse, nunca abusou de seu poder ou status. Pelo contrário, sempre focava mais em suas responsabilidades do que em seus direitos. Se algo havia mudado, era isso.

    “Ele já não é tão preconceituoso com status social quanto antes…”, pensou Airen, ainda surpreso pelo fato de Brett estar namorando Judith.

    — Você está certo — disse ele.

    — Eu sei. Só digo coisas certas — respondeu Brett, assentindo.

    Os dois ficaram em silêncio por um tempo.

    No entanto, a ausência de palavras não incomodava nenhum dos dois, pois ambos sabiam o quão profunda era sua amizade.

    — Ufa… Acho que já descansamos o suficiente. Vamos voltar? — disse Airen.

    — Vou com você… — disse Brett.

    Os dois se levantaram energicamente e voltaram a tentar os movimentos avançados de Quincy. Não era fácil. Até mesmo Airen falhou várias vezes. Brett falhou ainda mais. Depois de apenas cinco minutos, os dois foram forçados a se sentar novamente. No entanto, não se deixaram abater. Permaneceram no campo de treinamento por um longo tempo.


    Enquanto Airen e Brett se concentravam no treinamento, Lance Patterson bebia pesadamente em um bar deserto.

    “Não deixe a inferioridade consumi-lo.”

    “Ao invés disso, use-a para crescer.”

    Por mais que Lance repetisse as palavras de Keira Finn, não conseguia se animar. Seu rosto refletia a mesma angústia que enchia seu coração de escuridão.

    Algo no canto do bar o observava de longe enquanto ele sofria.

    Algo tão silencioso que nem mesmo os cavaleiros sagrados perceberam sua presença.

    Algo ainda mais obsessivo do que o terrível diabo bufão.

    A coisa se aproximou lentamente de Lance Patterson.

    Creak.

    Plop.

    — Posso me juntar a você?

    Lance olhou para cima, aturdido, para o estranho.

    Era um orc de pele verde-escura, grande estatura e uma tatuagem que cobria metade de seu rosto.

    Pelo domínio que demonstrava da linguagem humana, provavelmente era um oráculo.

    — Não estou interessado no meu destino — disse Lance, balançando a cabeça.

    — Não sou um oráculo. Prefiro me chamar de conselheiro — disse o orc.

    Justo quando os olhos de Lance se encheram de curiosidade e irritação, a escuridão que se aproximava parou para observá-los.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota