Capítulo 248: Você Precisa Aceitá-lo (5/5)
O baile de aniversário de Joshua Lindsay chegou ao fim, e a Casa Lindsay voltou a mergulhar em silêncio. Claro, nem todos partiram. Alguns convidados próximos a Joshua permaneceram por mais alguns dias, conversando, enquanto os nobres de alto escalão trocavam informações secretamente sobre os demônios.
Naturalmente, Airen Farreira e seu grupo estavam entre os que ficaram. Kiril e Lulu passaram os dias pacificamente, explorando diversas partes da propriedade, enquanto Airen…
— Hah!
— Hah!
Clash!
Clang!
Airen continuava a treinar incansavelmente com Illia Lindsay desde o fim do baile.
“Ela parece muito mais forte…”, pensou Airen, recuando um passo para recuperar o fôlego.
Nos últimos meses, ele havia crescido de maneira inacreditável. O que aprendeu ao conhecer Joshua Lindsay, o Diretor Ian e Khun começou a florescer, com um pouco de sorte e a ajuda de Phillip Lloyd, e desabrochou quando encontrou Quincy Meyers para aprender os caminhos do Reino Sagrado.
Embora Airen ainda não tivesse dominado tudo o que aprendera, já era excepcional entre seus pares. Illia, em teoria, não deveria ter chance contra ele, mas a realidade era diferente. Para sua surpresa, ela também havia feito progressos, e avanços extraordinários. Se qualquer outro visse sua técnica com a espada, talvez nem a reconhecesse.
Será que algo inesperado aconteceu, ou Illia esteve escondendo suas habilidades esse tempo todo? Nenhuma das opções era verdadeira.
“Bem, isso era inevitável”, pensou Airen.
Embora hoje fosse amplamente elogiado por seu talento, diferente de antes, Airen sempre acreditou que os mais dotados eram Ignet e Illia. O único motivo pelo qual Illia havia estagnado era porque estava perdida. Isso agora havia mudado.
“Ela deve ter superado tudo depois que nos separamos em Lavaat”, pensou Airen, sentindo-se aliviado.
Mas seus sentimentos iam além. O que sentia por Illia não era apenas a alegria de ver uma amiga superando suas dificuldades.
Airen avançou rapidamente contra Illia, empunhando sua espada e desferindo golpes poderosos de cima para baixo, como se estivesse determinado a derrubar sua oponente.
Crash! Crack! Craaack!
Era pura força, sem truques. No entanto, Illia não recuou. Sorrindo como seu adversário, ela girou suavemente e deu alguns passos para se reposicionar antes de revidar com a graça de uma rajada de vento. Aquela era a Espada dos Céus, mas não o ataque incompleto que Airen conhecia. O vento, reminiscente da lâmina do herói ancestral, preencheu o espaço.
Não, Illia não estava apenas copiando seu antepassado. Embora canalizasse aquele poder antigo, também acrescentava suas próprias experiências. Airen podia perceber isso, pois a acompanhou em sua jornada. Illia era um gênio que superava seus próprios limites, uma verdadeira prodígio que avançava para além deles.
Airen apertou sua empunhadura e desferiu golpes ainda mais poderosos, sentindo-se humilde diante de seu incrível talento.
Crash!
— Que tal terminarmos por hoje…? — disse Airen, saltando para trás e recolhendo sua espada.
— Hã? Por quê? Já está cansado? Você nem parece — disse Illia, curiosa.
Curiosidade à parte, ela queria aquilo. Desde que ouvira as palavras de Airen no jardim, sentia-se feliz por duelar com ele.
— Hm, me desculpe. Só preciso pensar em algumas coisas — disse Airen.
— Hmm… Tudo bem. Podemos continuar amanhã. Vá descansar — respondeu Illia.
Sem que Airen percebesse, Illia o observou se afastar com um olhar de preocupação e um leve desapontamento.
Ele acenou de volta enquanto caminhava para longe, lançando olhares para trás a cada poucos passos, até finalmente sair de sua vista.
“O que eu devo fazer?”, pensou Airen, observando sua velha amiga, não, alguém ainda mais especial para ele, continuar treinando após o duelo.
“O que eu devo fazer?”
Dias de reflexão tornaram algumas coisas claras. Primeiro, ele gostava de Illia Lindsay como mulher. Segundo, seus sentimentos nunca voltariam a ser como antes. Terceiro, ele gostava de cruzar espadas com ela, mas não era só isso que queria fazer. Queria passar mais tempo ao lado dela e conhecê-la melhor.
No entanto…
“O que eu devo fazer?”
Apenas perceber seus próprios sentimentos não resolvia nada. Ele precisava se esforçar, dar um passo à frente. Precisava fazer com que Illia soubesse como ele se sentia.
— Haa… — suspirou Airen.
Esforço. Essa palavra nunca o traiu antes. Afinal, foi o esforço que o transformou de um aprendiz desesperançoso em um mestre espadachim, de um solitário em alguém cercado de amigos. Ele conquistou tudo porque tentou, sem desistir. Mas isso era diferente. Ao contrário de suas batalhas, onde bastava se esforçar ao máximo para vencer, agora ele temia falhar mesmo uma única vez.
“E se eu cometer um erro e ela disser não…?”, pensou Airen, virando-se após observar Illia por um longo tempo.
Na verdade, ele hesitava em confessar seus sentimentos porque temia que Illia não sentisse o mesmo. Se ela não compartilhasse seus sentimentos, ele poderia perder o que tinham agora.
Resumindo, Airen não estava confiante. Nunca havia pensado se era atraente, o que significava ser atraente ou como poderia se tornar alguém desejável.
Airen suspirou novamente.
— Hah…
Ele não conseguia fazer nada. Mas, ao mesmo tempo, não podia agir precipitadamente. Os dias passaram, apesar de suas preocupações, até que dez dias se completaram desde sua chegada à Casa Lindsay. Embora não fosse um período curto, não era nem de longe suficiente para que ele entendesse completamente seus próprios sentimentos.
Airen continuou lutando consigo mesmo até que o dia da partida se aproximou. Foi na véspera da despedida que Airen Farreira finalmente tomou sua decisão.
Com um buquê que Kiril conjurou por meio de feitiçaria em suas mãos, ele esperou por Illia, que saía para mais um duelo, ainda sorrindo.
— Isto é… um… um presente — murmurou.
— Hã? Ah… — respondeu Illia, surpresa.
Ela havia aproveitado cada dia ao lado de Airen. Embora estivesse triste por sua partida no dia seguinte, sentia-se satisfeita com o quanto haviam se aproximado. Mas então, Airen lhe entregou um lindo buquê de flores bordadas em ouro e prata. Illia corou ao segurar o inesperado presente.
— Isso, uh… — murmurou.
Naturalmente, Airen não percebeu o que estava acontecendo, de tão nervoso que estava. Seu coração martelava dentro do peito, mesmo sem estar confessando diretamente seus sentimentos. O discurso que preparara cuidadosamente sumiu de sua mente.
Mas tudo bem.
Pelo menos, conseguiu dizer a Illia o quanto lamentava não ter conseguido preparar um presente no primeiro dia, explicou que alguém precisaria usar feitiçaria regularmente para manter o brilho das flores e que ele viria visitá-la com mais frequência para garantir que não se apagassem.
“Isso é ridículo”, pensou Airen. O suor escorria por suas costas.
Sua desculpa parecia terrível até mesmo para ele. Talvez tivesse sido melhor ser honesto e simplesmente perguntar se poderia visitá-la mais vezes. Mas, ao mesmo tempo, ser tão direto poderia ter colocado Illia em uma situação desconfortável. O que poderia fazer agora, quando já havia bagunçado tudo com suas palavras? O tempo parecia desacelerar enquanto ele esperava pela resposta de Illia. Ela permaneceu imóvel, como se o tempo tivesse congelado.
Na realidade, respondeu em questão de segundos.
Airen ficou perplexo ao sentir Illia abraçá-lo brevemente. Depois daquele momento inesquecível, ela se afastou rapidamente e disse:
— Eu posso ficar brava com você.
— Se me fizer esperar por tempo demais, é claro — disse antes de sair apressada.
Airen ficou parado, encarando o espaço onde ela estivera. A luz dourada e prateada do buquê cintilava suavemente, mas ele não se sentia triste.
Sentindo os resquícios do toque, do cheiro e do calor de Illia, o jovem de vinte e três anos ficou em silêncio sob a noite de verão.
— Da próxima vez, eu farei melhor — prometeu baixinho, momentos depois.
Naquela noite, Airen Farreira se tornou um homem.
Na manhã de um quente dia de junho, Airen Farreira e seu grupo partiram da Casa Lindsay. Poucos foram vê-los partir, apenas o Conde e a Condessa Lindsay, Emma Garcia e alguns cavaleiros.
Mas isso, de forma alguma, significava que a Casa Lindsay o tratara mal. Na verdade, poderia-se dizer que Airen recebeu um tratamento especial, sendo acompanhado apenas pelos membros mais importantes da família.
“Bem, é provável que ele se torne o genro do Lorde Lindsay…”
“Precisamos tratá-lo bem.”
Alguns cavaleiros mais velhos lançaram olhares afetuosos para Illia antes de desviarem o olhar para Joshua Lindsay com uma expressão temerosa.
— Hmph — murmuraram.
— Hmph… Voltaremos às nossas funções, senhor — disseram.
O chefe da Casa Lindsay estalou a língua ao ver os cavaleiros se afastarem. Mas seus pensamentos não estavam neles. A única pessoa que ocupava sua mente era Airen.
Ele não conseguia esquecer as palavras que o jovem lhe dissera em segredo, poucos dias antes de partir.
— Da próxima vez que eu vier, virei como um homem melhor — disse Airen.
— O quê? Um homem melhor? — questionou Joshua.
— Vou garantir que o senhor não se decepcione.
— Seu tolo, o que você…
Com isso, Airen subiu no grifo e partiu, deixando Joshua Lindsay pasmo.
“Um homem melhor? Para que eu não me decepcione?”, Joshua sentiu-se tanto chocado quanto irritado com a confiança de Airen, que parecia sugerir que já planejava se casar com Illia.
“Seu bastardo convencido. Você ainda não tem minha aprovação!”, pensou Joshua.
Infelizmente, era o único que pensava assim.
A Condessa Elisa Lindsay sorriu suavemente ao imaginar o futuro brilhante de sua filha e de seu futuro genro.
Enquanto isso, Illia Lindsay olhava para o céu.
“Eu só devo esperá-lo? Eu preferiria…”, ela pensou.
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