Capítulo 250: Eu Esperei por um Longo Tempo (2/3)
Vulcanus, o ferreiro anão, era alguém que todo espadachim reconhecia. Seu nome também deixara uma forte impressão em Airen Farreira.
Ele não era um anão qualquer.
“Afinal, ele me escolheu como campeão mesmo quando eu ainda não tinha a chance de brandir minha espada…”, refletiu Airen.
Como poderia esquecer o anão que percebeu o homem de seus sonhos que ninguém mais conseguia sentir e que continuou se aprimorando, apesar de já ter criado nove grandes espadas cobiçadas por qualquer espadachim?
De fato, Vulcanus trabalhava o metal com uma paixão ardente como o fogo. Mas… a situação atual era ridícula.
“Eu disse que o visitaria em um ano…”, pensou Airen ao se lembrar do que aconteceu em Derinku, a cidade dos artesãos.
Vulcanus havia declarado orgulhosamente que criaria uma espada que superaria a espada de feitiçaria de Airen dentro de um ano. Qualquer outro espadachim teria ficado ansioso para ver a espada, quem dirá apenas se despedir e partir.
Mas…
“Aconteceram tantas coisas que acabei me esquecendo dessa promessa…”, pensou Airen.
De fato. Para ser justo, isso não era culpa sua. A única razão pela qual esqueceu sua promessa com Vulcanus foi porque tantas coisas impensáveis, que uma pessoa comum jamais experimentaria, aconteceram. Ele conheceu Ignet Crecensia, a mais talentosa do continente. Reencontrou Judith e Brett, que não via há cinco anos. Treinou sob Zett Frost, o 101º espadachim. Enfrentou sua querida Illia Lindsay, que eventualmente conquistou seu coração na disputa pelo campeonato da Terra da Provação. E também se tornou um mestre espadachim.
Suas aventuras não terminaram aí. Pelo contrário, aquilo foi apenas o começo. Depois, encontrou Karakhum, Tarakhan e Gurgar para aprender a Arte dos Cinco. Os segredos de sua vida passada foram finalmente revelados. O diabo bufão apareceu. Muitas outras coisas e pessoas passaram pela vida de Airen. Mais uma vez, ele sentia que era inocente.
Infelizmente, tal história não passava de uma desculpa absurda para Vulcanus, que esperara por Airen durante tanto tempo. Canalizando toda a raiva acumulada, o anão robusto se lançou contra Airen, que, surpreso, instintivamente convocou sua aura.
Clang!
— Aaargh! — gritou Vulcanus ao ser arremessado para trás. Foi como se tivesse colidido contra uma rocha maciça.
— Lorde Vulcanus! — exclamou Airen em choque ao ver o anão cair.
— Ugh… seu desgraçado!
Felizmente, Vulcanus estava bem, embora franzisse a testa de dor. Graças ao corpo resistente forjado por anos de trabalho com metal, ele parecia se recuperar após balançar a cabeça algumas vezes.
Airen observou por um momento antes de parar e lançar um olhar para Lulu e Kiril, que pareciam confusas.
— Corram! — disse.
— Ok! — respondeu Lulu.
— Correr? Você fez alguma coisa errada… — murmurou Kiril.
— Vamos só voltar para casa por enquanto! Eu explico tudo lá!
— Onde vocês pensam que estão indo?! — gritou Vulcanus, avançando novamente.
Ignorando o anão, Airen correu apressadamente em direção à porta, assim como Lulu, que tremia como uma criminosa diante de uma testemunha e desapareceu com um poof.
Kiril não teve escolha senão sair também.
— Não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas garanto que Airen voltará. Ele tem modos, sabia? — disse.
— Do que está falando?! Se ele tivesse modos, não teria me deixado assim! — gritou Vulcanus.
— Nos vemos depois — disse Kiril antes de alçar voo, decidindo que veria seus pais primeiro.
— O barão e a baronesa estão fora. Não é nada sério. O Barão Friedd os convidou, sabe. Eles voltarão em uma semana… — informou Marcus ao receber Airen e sua comitiva com seu sorriso de sempre.
— Vejo que encontrou Vulcanus, o ferreiro, jovem mestre — disse. Os olhos que antes olhavam para Airen com preocupação agora estavam cheios de orgulho.
— Ah, sim. O que diabos aconteceu? Quando ele chegou aqui? — perguntou Airen.
— Faz cerca de um mês. Tenho muitas perguntas sobre sua viagem de dois anos e todos os rumores que circulam sobre você… mas acho melhor resolver a questão de Vulcanus primeiro.
— Sim. Acho que é o melhor a se fazer — concordou Airen, assentindo com entusiasmo.
Ele também queria contar tudo a Marcus, exceto a parte sobre encontrar um diabo, sobre o que vivenciou e os amigos que fez. No entanto, a situação era urgente. Precisava entender toda a história e ir imediatamente, antes que Vulcanus fizesse algo inesperado.
Felizmente, Marcus resumiu a situação rapidamente.
— Então ele veio porque eu nunca fui a Derinku, não importava quanto tempo ele esperasse. Depois, pediu um lugar para ficar até minha chegada. E também abriu uma forja para criar diversos itens. É isso? — murmurou Airen após ouvir a explicação de Marcus.
— De fato — confirmou Marcus.
— E muitos outros vieram para nossas terras ao saber da presença de Lorde Vulcanus?
— Sim. Não apenas comerciantes, mas também muitos espadachins — embora eu duvide que todos tenham vindo só por causa de Vulcanus… — disse Marcus, olhando para Airen com preocupação. Ainda não conseguia acreditar que o manso e chamado nobre preguiçoso havia se tornado um mestre espadachim. Embora não tivesse família, talvez fosse assim que um pai se sentia.
— Obrigado, Marcus — disse Airen.
Ele sabia muito bem o que Marcus sentia por ele. Se fosse possível, gostaria de preparar um chá e conversar sobre tudo. No entanto, Vulcanus vinha primeiro.
— Vamos imediatamente. Você vem comigo, Marcus? — convidou Airen.
— Ficarei mais do que feliz. Também gostaria de ver a décima espada de Vulcanus! — respondeu Marcus.
— Certo. Lulu, não tenha medo — tranquilizou Airen.
— Ah! Mas aquele anão olhou para nós como se fosse fazer algo! — choramingou Lulu.
— Vai ficar tudo bem, pode contar comigo.
— Sim. Qual o problema? Não é gentil da parte dele continuar esperando por alguém que esqueceu sua promessa em vez de simplesmente dar a espada para outra pessoa? Quero dizer, eu teria feito isso. Esse anão deve ter um coração de ouro — disse Kiril.
— Verdade. Ele também foi inflexível em não mostrar a espada para ninguém além de você, então ninguém jamais viu sua obra, nem mesmo seus velhos amigos — explicou Marcus.
— Amigos? Ah… — murmurou Airen, assentindo lentamente.
Ele conseguia imaginar o que estava acontecendo. Aqueles caras deviam ser…
— Finalmente, vamos vê-la!
— Ugh, você foi tão teimoso. Sabia? Não precisava esconder assim!
— Certo. Você realmente precisa dar essa espada para ele? Poderia tê-la dado a qualquer outro espadachim.
— Concordo.
— Calem a boca! Isso vai contra meus princípios! Aconteça o que acontecer, esta espada foi feita por causa dele e para ele. Eu jamais poderia entregá-la a outro mestre espadachim! — rosnou Vulcanus, lançando um olhar feroz para seus amigos, que não pareciam se importar.
Eles já estavam mais do que acostumados com o mau humor do anão. Em vez disso, estavam morrendo de vontade de ver a décima espada de Vulcanus.
“Quão incrível pode ser…”, se perguntavam.
“O que poderia torná-lo tão confiante?”, pensaram.
“Ele sempre é tão crítico consigo mesmo.”
“Preciso vê-la. Simplesmente preciso!”
Dwanson, o anão, e Pablo, o humano, os dois ferreiros de Derinku, Rashid Branco, o renomado joalheiro do leste, e Jamari, o grande escultor élfico, ficaram ao lado de Vulcanus por dez meses apenas para ver sua obra-prima.
Como ferreiros e criadores, acreditavam que nada seria mais inspirador do que testemunhar o trabalho de um mestre feito com paixão. Assim, esperaram como crianças diante de doces até que a estrela principal do dia finalmente apareceu.
— Bem-vindo, seu desgraçado! — disse Vulcanus com um sorriso ao ver o rosto de Airen.
— Me desculpe. Me desculpe de verdade. Eu não te abandonei de propósito… — murmurou Airen.
— Esqueça isso! A culpa é minha. Significa apenas que minha obra não te empolgou o suficiente.
— Mas garanto que você vai se arrepender assim que ver esta espada. Você vai dizer: ‘Oh, por que não vim na hora certa?! Por que cheguei tão tarde para ver esta grandiosa espada?! Que tolo eu sou! Eu, Airen Farreira, sou um idiota! Perdão, Lorde Vulcanus!’
— Se disser isso, eu o perdoarei e aceitarei você como o dono da décima espada de Vulcanus — finalizou o anão.
“Que palhaço”, pensou Kiril, franzindo a testa.
Ela não gostava do anão. Nem um pouco. Nem pelo jeito como xingava seu irmão, nem pela forma como se gabava. No entanto, não protestou, pois estava curiosa para ver o quão incrível aquela espada poderia ser.
Quanta confiança o anão precisava ter para dizer algo tão insolente?
— Podemos ver a espada…? — perguntou Kiril.
Ela não era a única. Marcus, Lulu, Airen e os quatro amigos de Vulcanus observavam o anão ferreiro com grande expectativa.
Pouco tempo depois, os quatro criadores não conseguiram esconder sua descrença quando a décima espada foi revelada.
— Isto é…
— Isso é insano.
— Os meses de espera não foram em vão…
— Haha, com certeza — respondeu Vulcanus com um sorriso ao ouvir os comentários de Dwanson e Pablo.
Nunca em sua vida ele criara algo que o satisfizesse completamente. Mas agora, ele era diferente. Quando conheceu Airen dois anos atrás, ficou chocado. A espada de feitiçaria de Airen o encheu de admiração, e ele incorporou esse sentimento em sua mais recente criação.
“Talvez ela não seja tão resistente quanto a espada de feitiçaria do garoto…”, pensou Vulcanus.
No entanto, a resistência não era o único fator que determinava a qualidade de uma espada. Fatores como corte, equilíbrio e muitos outros também eram essenciais.
Na opinião de Vulcanus, sua décima espada superava a velha e robusta espada de feitiçaria de Airen em todos os aspectos, exceto na resistência.
— E então, Airen Farreira?! — exigiu.
— Está difícil comparar? Então vá em frente e invoque sua espada larga. Teste a minha e a sua. Então saberá qual é a melhor. Saberá qual espada está destinada a ser sua companheira! — declarou Vulcanus em voz alta, os olhos e a expressão repletos de orgulho.
Seus quatro amigos e Marcus assentiram sem perceber. De fato, tinham que concordar que a décima espada de Vulcanus era única na longa história do continente. Quase se comparava aos artefatos dos tempos antigos.
Ou assim pensaram… até que Airen Farreira invocou sua espada.
Swoosh.
Por alguma razão, ele parecia cauteloso e apologético.
Eles logo entenderam o porquê.
Dwanson e Pablo soltaram palavrões ao verem a espada de feitiçaria renovada, completamente diferente de sua antiga aparência rústica.
— Droga.
— Isso é uma loucura!
Rashid Branco, o joalheiro, e Jamari, o escultor, nem sequer conseguiram dizer uma palavra. Apenas piscaram, boquiabertos.
Os olhos de Lulu dispararam de um lado para o outro nervosamente em silêncio, enquanto Airen murmurava, sem jeito:
— Eu, hã, sinto muito em dizer…
— Minha espada… meio que evoluiu desde a última vez que nos vimos.
— Hã, Lorde Vulcanus? — perguntou Airen hesitante.
Ao contrário dos outros, Vulcanus permaneceu inexpressivo e imóvel, sem dizer uma única palavra.
Sentindo que algo estava errado, Lulu voou até ele para checar sua condição.
— Ele desmaiou — informou a gata.
Kiril balançou a cabeça e suspirou, enquanto Airen pensava:
“Eu… sinto muito por ele.”
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