Capítulo 252: Nosso Filho (1/3)
— Sir Orlin Jukran… — chamou um cavaleiro.
— Sim, prossiga — respondeu Orlin.
— Hum, sobre… o jovem mestre…
— Você está perguntando se os velhos rumores são verdadeiros?
Orlin Jukran, um dos cavaleiros veteranos da Casa Farreira, olhou para o cavaleiro novato. O novato lambeu os lábios de forma desconfortável, mas não contradisse o veterano.
Nem os outros o fizeram. Aqueles que ingressaram na casa enquanto Airen estava no mundo da feitiçaria e nunca o viram como o nobre preguiçoso achavam difícil acreditar no passado do mestre espadachim.
“Bem, eu também não consigo acreditar”, pensou Orlin.
De fato, Orlin Jukran não conseguia acreditar que o fardo da família e a chacota do reino simplesmente pegou uma espada um dia e mudou.
“Alguém como eu nem consegue encará-lo diretamente…”, pensou Sir Orlin com um sorriso amargo.
Embora nunca o tivesse feito abertamente, ele estava entre aqueles que não aprovavam o nobre preguiçoso. Assim, acabava rebaixando inadvertidamente as conquistas de Airen sempre que o assunto surgia.
No entanto, nem todos eram como ele. Marcus servira ao jovem mestre por toda a vida sem reclamar. Kiril Farreira demonstrava um profundo carinho pelo meio-irmão. O barão e a baronesa Farreira cuidaram do filho, mesmo enfrentando tempos difíceis.
“O Lorde Airen deve ser como uma bênção para eles…”
— O passado não importa. O que importa é que o jovem mestre agora é um mestre espadachim — respondeu Orlin secamente, antes de lamber os lábios e se afastar. Enquanto se dirigia para seus aposentos, lançou um olhar na direção para onde os Farreira tinham ido, imaginando o quão feliz o barão devia estar por seu filho. Embora ele próprio fosse pai, não conseguia imaginar.
— Isso realmente aconteceu? — perguntou o Barão Farreira.
— Sim. Como eu poderia mentir para você, pai? Encontrei Ignet Crecensia e…
Reunidos pela primeira vez em dois anos, Harun, Amelia, Kiril e Airen conversaram por um longo tempo. O assunto em questão, é claro, eram os dois anos de viagem de Airen. Tendo vivido experiências que os outros não teriam em toda a vida, Airen nunca ficava sem histórias para contar, embora tenha omitido o incidente com o diabo.
Essa também foi a razão pela qual Lulu não foi convidada. A gata não era acostumada a mentir. Airen nem queria imaginar o quanto seus pais ficariam preocupados se a gata soltasse a história sobre o diabo bufão.
Embora a história de Airen vacilasse ocasionalmente, os Farreira não se importavam, totalmente imersos no relato, que já era interessante o suficiente mesmo sem o diabo.
— Haha. Imaginar que Dame Ignet Crecensia, o maior gênio do continente, o convidou para se juntar… E você me diz que também aprendeu a usar aura com os orcs? — riu Harun.
— Eles chamam de Arte dos Cinco — explicou Airen.
— Haha… acho que preciso de uma bebida.
Harun Farreira normalmente não bebia. Embora sua vida estivesse cheia de alegria agora, ele havia passado por muitas dificuldades no passado. Pensando que depender do álcool poderia ser sua ruína, Harun se conteve por muito tempo. No entanto, já não conseguia mais se segurar, nem precisava. Seu querido Airen Farreira finalmente saíra de sua concha e alçara voo. Uma história dessas alegraria qualquer pai.
“Hoje não quero conter meu coração neste dia de alegria!”, pensou Harun Farreira, sentindo-se feliz pela primeira vez em muito tempo e abrindo um largo sorriso.
— Lorde Phillip é realmente um bom homem — disse Amelia Farreira.
O Barão Farreira não era o único que estava radiante. Amelia também reagiu quando Airen mencionou sua conversa com Phillip Lloyd. Airen já havia feito um progresso significativo como espadachim ao derrotar o demônio do sul. Amelia não poderia esperar mais do que isso. No entanto, ser um bom espadachim não significava que Airen tivesse amadurecido mentalmente.
Amelia costumava suspirar silenciosamente ao ver seu filho ainda lutando para encontrar a si mesmo, apesar de ter derrotado um demônio. Até se preocupava que ele pudesse se perder durante a longa jornada e acabar se desviando do caminho.
“Eu não precisava me preocupar”, pensou Amelia.
Airen não era mais quem ele fora. Embora ainda tivesse um longo caminho a percorrer, possuía a coragem necessária para seguir na direção certa, além de pessoas gentis que o apoiavam sinceramente. Talvez fosse isso que chamavam de um talento tardio.
Lágrimas caíram dos olhos de Amelia enquanto ela olhava para o filho, agora crescido tanto mental quanto fisicamente, e se lembrava dos anos longos e difíceis que teve de suportar.
— Você está bem, querida? — perguntou Harun.
— Estou bem. Estou bem… — respondeu Amelia.
— Kiril, você…
— Ugh! Eu não estou chorando. Só estava bocejando… Acho que algo entrou no meu olho… Não para de escorrer — resmungou Kiril, enquanto também desabava em lágrimas.
No entanto, Harun e Airen permaneceram impassíveis. O pai queria se manter forte diante do filho, enquanto o filho apenas queria mostrar um lado alegre para sua família. Por muito tempo, ele não conseguiu. Por muito tempo, não pôde aceitar as mãos que lhe eram estendidas.
“Eu não sou mais assim”, pensou Airen.
Ele não podia apagar seus erros do passado. Afinal, já haviam acontecido. Mas não deixaria que a dor e o arrependimento o segurassem, nem os esqueceria completamente.
“Vou compensar todos os anos perdidos…”, pensou Airen ao retornar ao seu quarto após a curta, porém longa, reunião.
Toc, toc.
Kiril bateu alegremente na porta antes de entrar.
— Airen, você vai ser bom para nossos pais, certo? — ela exigiu.
— Hã? Sim, claro que vou — respondeu Airen.
— Você já pensou em algo?
— Hum, ah…
Airen já tinha pensado um pouco sobre isso. No entanto, não tinha um grande plano, apenas acreditava que deveria conversar e passar mais tempo com seus pais, já que passara a maior parte de sua vida recluso em seu próprio quarto.
— Hmm, isso não é tão ruim. Você realmente precisa passar mais tempo com nossos pais. Tenho certeza de que eles ficariam muito felizes.
— Certo? Vou compensar tudo o que nunca fiz antes…
— Algo comum assim está bom e tudo mais, mas que tal também fazer algo especial?
— Especial?
— Sim, como um evento. Seria decepcionante se nada fosse feito para marcar o retorno do nobre preguiçoso da Casa Farreira como mestre espadachim. Você precisa mostrar o quanto cresceu!
— Hum, isso é um pouco…
Airen olhou para a irmã com hesitação. Nunca fora alguém que gostasse de se exibir, nem pegara a espada por honra ou orgulho. Estava determinado a continuar seguindo seu caminho, mesmo que ninguém o reconhecesse, assim como os cavaleiros sagrados que percorriam o continente ajudando as pessoas após se aposentarem.
No entanto, o que Kiril disse a seguir o deixou em silêncio.
— Não estamos fazendo isso por você — ela disse.
— Hã? — questionou Airen.
— É claro que estamos fazendo isso pelos nossos pais.
— Digo, pense bem. As pessoas adoram exibir até mesmo um acessório bonito. Então, como poderiam não querer mostrar ao mundo o filho de quem tanto se orgulham, que se tornou um mestre espadachim antes dos vinte e cinco anos?
Airen permaneceu em silêncio por um momento, recordando os pais um a um. Nem seu pai solene nem sua mãe gentil, porém reservada, pareciam pessoas que gostavam de ostentar. No entanto…
“O mesmo vale para o Lorde Joshua Lindsay…”
E Joshua não era o único. Tanto os Lloyds quanto Karakhum, o grande guerreiro e pai de Tarakhan, demonstravam grande amor por seus filhos, apesar de suas personalidades carismáticas. Joshua, em especial, era criticado por sua superproteção.
Então, Airen lembrou-se do passado, quando era chamado de nobre preguiçoso, a vergonha dos Farreira, o inútil do reino. Ele certamente não fora o único a sofrer com os insultos. Seus pais deviam ter sofrido muito mais. Ainda assim, permaneceram ao seu lado, firmes, sem jamais demonstrar sua dor…
— Sim. Vamos fazer isso — disse ele finalmente, decidindo que o evento de Kiril poderia ser um grande presente para seus pais.
— Ótimo. Se você está de acordo, planejar será fácil. Vamos dar a eles a chance de exibir o melhor filho do continente — respondeu Kiril.
— Não acho que sou o melhor do continente…
— Você precisa mudar essa atitude! Quem você acha que, na mente de nossos pais, poderia superá-lo? Bem, suponho que eu seja muito mais adorável e tão talentosa quanto, mas…
Airen assentiu freneticamente enquanto Kiril lhe dava uma palestra sobre como deveria ter o orgulho de ser o maior filho do continente.
Então, começou a se perguntar que tipo de evento seria.
Kiril sorriu.
— Que tal uma aula especial de esgrima ministrada por um mestre espadachim na casa dos vinte anos para os moradores locais…? Acho que assim podemos exibir sem parecer tão óbvios — sugeriu ela.
A notícia do retorno do mestre espadachim Airen Farreira se espalhou rapidamente pelo Reino Heyle.
Airen tornou-se um assunto de conversa não apenas entre as seis famílias, mas em qualquer reunião da alta sociedade.
— Nosso reino finalmente tem um mestre espadachim…
— E ele se tornou um mestre espadachim antes dos vinte e cinco anos, certo? Que incrível!
— Os países vizinhos não vão mais nos incomodar tanto, não é?!
— Ouvi dizer que ele também é bastante bonito.
— Você acha que ele aceitaria um convite para uma festa?
A maioria das pessoas reagiu com elogios, admiração e respeito. No entanto, nem todos ficaram felizes com o retorno de Airen.
— Hmph.
— Não acha que falamos demais sobre Airen Farreira?
Alguns nobres que costumavam zombar do ‘nobre preguiçoso’ não conseguiam simplesmente mudar sua atitude e começar a elogiá-lo. Nem mesmo quando Airen derrotou um demônio eles foram entusiastas, preferindo minimizar seus feitos e argumentar que os rumores não eram confiáveis.
Porém, agora não podiam mais se dar ao luxo de negar. Após se tornar o campeão da Terra da Provação, Airen alcançara um nível que não deixava espaço para dúvidas. Assim, tudo o que podiam fazer era mudar de assunto, pelo menos até que a notícia sobre o evento especial dos Farreira chegasse a eles alguns dias depois.
— Você ouviu? Os Farreira vão realizar uma aula especial de esgrima!
— O quê? O próprio mestre espadachim vai ensinar?
— Sim! Será apenas por um ou dois dias, mas ainda assim é algo! Meu filho mais velho tem talento, então estou planejando enviá-lo imediatamente.
— E-Eu entendo. Meu filho também tem interesse em esgrima…
As pessoas já estavam interessadas em Airen Farreira. Também queriam uma chance de estabelecer conexões com ele, então, naturalmente, correriam para participar do evento.
— Você ouviu as notícias…?
— Sim, ouvi…
— O que você vai fazer? Nosso filho também quer ser cavaleiro.
— Vamos, diga algo! Você vai deixar essa oportunidade escapar?!
— Não, é claro que não…
— Então, peça desculpas pelo que fez de qualquer forma e tente conquistar seu favor!
— Hmph, hmph…
Até mesmo aqueles que desprezavam o chamado ‘nobre preguiçoso’ tentaram seguir a tendência. Um por um, os nobres arrogantes começaram a ceder por causa de seus filhos.
— Haha, hahaha… — riu o Barão Harun Farreira ao ver os acontecimentos se desenrolarem.
Embora se sentisse um pouco atordoado, acima de tudo, sentia orgulho.
— Então é isso que significa ter um mestre espadachim como filho… — murmurou ele, lembrando-se de seu filho, agora adulto.
O rosto e a voz do Barão Farreira transbordavam felicidade.
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