Índice de Capítulo

    — Deixem-me perguntar novamente. Por que começaram a usar a espada? Por que escolheram trilhar esse caminho difícil?

    Ninguém conseguiu responder à pergunta de Airen Farreira. Para começo de conversa, era difícil se pronunciar e responder a uma questão tão abstrata em público, ainda mais uma sem resposta certa.

    Alguns espadachins inclinaram a cabeça, se perguntando por que um mestre espadachim encerraria a aula com um discurso vago sobre determinação depois de dar uma aula tão prática.

    No entanto…

    “Eu sempre quis fazer essa pergunta pelo menos uma vez…”, pensou Airen, lembrando-se do que o Diretor Ian lhe disse há mais de sete anos.

    — Você seguiu o caminho de outra pessoa sem sua própria vontade… e chegou até aqui, a este lugar. Mas não vou perguntar mais do que isso.

    — Mas se decidir continuar treinando na esgrima, precisa começar a pensar seriamente sobre isso.

    Airen se tornou mais forte porque buscou o motivo para empunhar sua espada e se tornar um espadachim. Ele procurou sua própria lâmina, sua própria vontade e determinação, até finalmente encarar seu próprio caminho e encontrar uma nova motivação.

    Swish!

    Saindo de seus pensamentos, ele ergueu sua espada, sua imensa espada, tão resistente quanto sua determinação passada e tão ardente quanto sua convicção atual.

    Então, Airen a empunhou.

    Wooosh!

    Swoosh!

    Pesada e poderosa, sua lâmina se movia com ferocidade, mas também suavidade. O público sentiu um arrepio na espinha e, ao mesmo tempo, ficou maravilhado com a fluidez sofisticada e a beleza de seus movimentos.

    Porém, não era isso que os deixava sem palavras. Da espada de Airen emanava uma aura dourada, tão quente e esperançosa quanto o nascer do sol. A bondade e a determinação para enfrentar as trevas tocaram o coração dos espectadores.

    Woosh!

    Woooosh!

    A espada de Airen não inspirava as pessoas como a de Ian, quando este fazia suas demonstrações para os alunos. Afinal, comparado a Ian, que possuía anos de experiência, Airen ainda era apenas um jovem de vinte e três anos. No entanto, de forma alguma Airen era superficial. Sua espada não vacilava, mas fluía como um rio com uma vontade de aço, incorporando o espírito de Airen, o espadachim.

    Meia hora se passou.

    — Uff…

    Crack!

    Airen Farreira finalmente terminou sua dança da espada e fincou sua grande lâmina no chão. Ele poderia tê-la desinvocado, mas sentia que não deveria.

    Sentindo-se revigorado, olhou para sua plateia e viu os espadachins o encarando com olhos atônitos.

    O astro do dia, Airen Farreira, sorriu antes de continuar:

    — Alguns de vocês podem ter empunhado a espada porque foram forçados. Outros talvez tenham desistido do treinamento por exaustão, mesmo depois de anos de prática. Outros ainda podem estar treinando com mais paixão do que eu.

    — Não mostrei a dança da espada esperando ensinar… todos vocês. Apenas me lembrei das lições que recebi anos atrás, as quais formaram a base da minha identidade como espadachim… — Airen continuou, percebendo os diversos olhares sobre ele.

    Alguns olhavam com admiração, outros pareciam inspirados. Alguns renovavam sua determinação. Até mesmo aqueles que inicialmente pareceram indiferentes se esforçavam para guardar aquele momento na memória.

    “Suponho que este seja um resultado decente para uma aula…”, pensou Airen.

    Embora não pudesse se chamar de mentor, achou que sua aula de um dia tinha sido bem-sucedida.

    Satisfeito, Airen se curvou.

    — Isso encerra a aula. Obrigado.

    Clap, clap.

    Clap, clap, clap.

    Por um momento, o silêncio reinou antes que uma salva de palmas preenchesse o campo de treinamento. As pessoas bateram palmas por um longo tempo. Embora cada um tivesse tirado algo diferente da experiência, todos estavam satisfeitos. Não era preciso um feiticeiro para perceber isso.

    O Barão Harun Farreira caiu em lágrimas.

    — Querido, enxugue essas lágrimas — alertou sua esposa.

    — Hmph, eu nunca chorei — protestou Harun.

    — Então, suponho que não precise do meu lenço.

    — …Meus perdões.

    Harun aceitou o lenço da Baronesa Amelia, envergonhado. Enquanto ele enxugava as lágrimas, Kiril Farreira se aproximou com Lulu, seguidas por Marcus.

    — Haa… finalmente posso relaxar. Eu fui bem? Céus, estou tão nervoso que estou até gaguejando — disse Airen.

    — Hum… eu fiz algo errado?

    Airen Farreira olhou nervosamente para sua família, que permaneceu em silêncio. Harun Farreira, então, soltou uma gargalhada. Apesar de ter crescido tanto, seu filho ainda era seu filho.

    — De jeito nenhum. Você foi incrível! — disse ele.

    — Bom trabalho, meu filho — disse Amelia.

    — Você é o melhor, Airen! Eu não sabia que se sairia tão bem! — exclamou Kiril.

    — Ela está certa! Airen, você é o melhor! Hehehe… — disse Lulu.

    — O senhor foi maravilhoso, jovem mestre!

    Embora parecesse um pouco atordoado com a enxurrada de elogios, Airen logo sorriu radiante enquanto dizia, com lágrimas nos olhos:

    — Mãe, pai, tudo isso é graças a vocês… — e então apressou-se a continuar, ao ver Kiril lançar-lhe um olhar fulminante — A vocês também, Kiril, Lulu e Marcus!

    Ainda mais alegria se estampou no rosto de Airen.


    — Fomos tocados. Ficamos realmente, realmente tocados. Já aprendi com muitos cavaleiros, mas nunca aprendi tanto quanto hoje. Só queria que soubesse!

    — Eu também! Pode parecer bobo… mas vou me esforçar ao máximo para me tornar um grande cavaleiro como você, Lorde Airen Farreira!

    — Vou dar o meu melhor!

    — Haha, os jovens lordes não se cansam de você. Estão ainda mais empolgados agora do que quando chegaram.

    — Bem… como culpá-los? Até eu quero voltar para casa e começar a treinar minha espada imediatamente. Nunca imaginei que poderia reacender minha paixão assim, aos cinquenta anos…

    — De fato, ele foi impressionante. Não é fácil conduzir uma aula que satisfaça a todos quando os níveis de habilidade variam tanto.

    — Sem dúvida.

    Quando a aula da tarde chegou ao fim, os Farreira ofereceram um suntuoso banquete para os nobres. Enquanto músicos habilidosos teciam belas melodias, tanto os jovens lordes quanto os cavaleiros mais velhos elogiaram Airen Farreira. Ele não apenas realizou uma aula que satisfez desde os novatos até os especialistas, como também cativou seu público com seu carisma e uma dança da espada inspiradora. De fato, a aula de Airen havia sido impecável.

    “Só de observar sua espada, comecei a refletir sobre de onde vim e para onde devo ir como espadachim.”

    “Esse poder que faz as pessoas enxergarem o que normalmente é abstrato… Todos os mestres espadachins são assim?”

    “Os mestres espadachins são realmente mais grandiosos do que eu imaginava…”

    Graças à aula de Airen, os espadachins do Reino Heyle passaram a ter ainda mais respeito pelos mestres espadachins.

    No entanto, nem todos estavam apenas impressionados.

    “Não… Airen Farreira é maior do que qualquer outro mestre espadachim que conheço. Ele tem um poder inexplicável!”, pensou um homem.

    O Reino Heyle era um dos reinos mais fracos do continente. Comparado às nações ocidentais conhecidas por sua esgrima, os espadachins de Heyle careciam de perspectiva. Isso era verdade para todos, exceto um homem de meia-idade que observava Airen com olhos afiados.

    Oswaldo Odone, Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo e o maior espadachim de Heyle, superando até Hill Burnett, o Capitão Tenente, conseguia discernir o verdadeiro poder de Airen melhor do que qualquer outro.

    “Não, isso não é verdade”, pensou Oswaldo, balançando a cabeça.

    Infelizmente, nem mesmo ele conseguia compreender a real extensão da força de Airen. Afinal, não possuía a percepção necessária para enxergar o verdadeiro valor de alguém que estava além dos mestres espadachins comuns. Mesmo sendo o cavaleiro mais forte do Reino Heyle, ele ainda era apenas um dos muitos espadachins do continente. No entanto, a aula lhe mostrou que tipo de pessoa Airen Farreira era.

    “Não vi nele a arrogância típica dos jovens gênios. Isso me traz certo alívio”, pensou Oswaldo.

    Ele estava bastante apreensivo ao chegar à propriedade Farreira. Afinal, um mestre espadachim com laços próximos à Casa Lindsay, de Adan, e à Casa Lloyd, de Gaveirra, tinha uma influência muito maior do que o próprio rei de um pequeno reino. Por mais triste que fosse, essa era uma verdade inegável.

    “Se Airen fosse arrogante, ele sequer daria ouvidos ao rei.”

    Felizmente, Oswaldo não teve essa impressão. Airen Farreira se mostrou respeitoso o tempo todo. Ao contrário da expectativa de que o jovem estivesse apenas se exibindo, ele conduziu sua aula com sinceridade e humildade.

    “Pensar que temos um jovem assim no Reino Heyle…”, refletiu Oswaldo, sentindo-se emocionado ao lembrar-se da dança da espada de Airen.

    É claro que ele não podia baixar a guarda, mesmo que Airen parecesse um jovem íntegro. Era evidente quem tinha a vantagem. Por isso, precisava continuar observando e realmente conhecer o jovem mestre espadachim se quisesse que ele ouvisse o rei.

    Foi então que Airen Farreira, que sorria à distância, caminhou em sua direção.

    — Com licença, está tudo bem? — perguntou Airen.

    — Você me conhece…? — respondeu o Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo, surpreso, quase gritando.

    No entanto, Airen permaneceu tranquilo.

    — Não, é só que… o senhor não parece pertencer a este tipo de classe. Além disso, parece que deseja dizer algo — disse Airen calmamente.

    Oswaldo Odone engoliu em seco.

    “Ele pode ser um mestre espadachim, mas nunca imaginei que fosse tão perspicaz…”, pensou.

    No entanto, o faro aguçado de Airen não se devia apenas ao fato de ser um mestre espadachim. Ele percebeu que algo estava errado não porque possuía os olhos do Diretor Ian, de Julius Hule ou de Quincy Meyers. Se não fosse pela capacidade de Airen de ver a aura, o Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo poderia ter observado o jovem gênio sem ser notado, mas isso já não fazia diferença.

    Ele suspirou discretamente antes de falar com cautela, mas honestidade, preocupado que alguém pudesse ouvi-lo.

    — Serei franco, pois não acho que qualquer engano funcionaria, nem que importaria. Eu sou Oswaldo Odone, Capitão da Ordem dos Cavaleiros do Crepúsculo…

    — Quero deixar claro que não me disfarcei para incomodá-lo. Apenas queria observá-lo porque estava curioso sobre quem você era.

    — Entendo. Posso perguntar por que preferiu me observar discretamente, em vez de me abordar normalmente como Capitão dos Cavaleiros?

    — Posso explicar depois? Há muitas pessoas nos observando…

    Airen olhou ao redor e notou vários olhares curiosos. Ele assentiu.

    — Entendido. Falaremos depois do banquete. Afinal…

    — Afinal?

    — Parece que tem algo importante a dizer. Acredito que esse tipo de assunto deva ser tratado diante dos meus pais. Vejo você mais tarde.

    Airen Farreira fez uma leve reverência respeitosa antes de se afastar.

    “Que jovem piedoso…”, pensou Oswaldo, observando as costas de Airen.


    Ao mesmo tempo, um visitante chegava à residência de Iphrain Slick, o segundo no poder da Casa Slick, uma das três grandes famílias de Runetell, e um dos oito grandes magos do continente.

    Um pequeno gesto, um grande impacto.

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